sexta-feira, 31 de dezembro de 2021
Os rios de outrora
A memoria não é real. Ela pode ser sentida ou imaginada. A chuva e o tempo encoberto favorecem a que insights memorialístico se desprendam do interior da memoria para que a realidade ao redor seja redescoberta. A chuva desperta a memoria ou a memoria se permite levar pela chuva? A chuva tem seu ritmo. As vezes terrível, outras vezes manso. “A chuva vem de mansinho para nos pegar no colinho”. A memoria se sente atraída por esse ritmo com o qual a Chuva empurra as águas dos rios para as margens que outrora lhes pertenciam. Outrora pode parecer um tempo longiquo, mas não é. Outrora os ludovicenses banhavam em rios de agua pura. Para quem conhece São Luís e os municípios vizinhos o tempo dos rios de outrora vagueia pelos anos setenta e oitenta. Outrora passava um rio pela rua dezenove de março no Monte Castelo que provavelmente nascia e crescia nas partes altas e descia em direção aos manguezais. Será preciso reivindicar o outrora para rever o que fora esse rio?
segunda-feira, 27 de dezembro de 2021
O almoço desconsolado
Um grupo de amigos decidiu se reunir num restaurante para almoçarem e entabularem conversas dos mais variados campos de conhecimento. Quem diria que os amigos almoçariam num restaurante á beira da praia como se fossem excelentíssimos representantes da burguesia local. A escolha do prato recaiu sobre carne. O restaurante se especializara em carne, embora a sua localização passasse a ideia de um restaurante dedicado a pratoscom peixes e mariscos. Se você pretende ascender socialmente, deve abdicar do seu passado baixadeiro comedor de peixe e galinha caipira e assumir o seu pendor por carne de gado. A carne servida veio em grande quantidade, como tudo que esse restaurante serve, mas passava uma sensação de desconsolo. Ascender socialmente em alguns casos significa abundancia e ao mesmo tempo desconsolo. Tem decisões que não dá para voltar atrás nem no sentido politico e nem no sentido temporal. Felizmente, o grupo de amigos provou um prato com um tira gosto de isca de peixe como prévia do prato principal. Se não fosse por isso, o desconsolo calaria todo o grupo.
domingo, 26 de dezembro de 2021
O jantar
Com pouca gene à rua, a cidade se volta para dentro de si. Passa a chave à porta e fecha as janelas. Ela se sente solitária. Acha melhor permanecer deitada a manhã toda. A chuva a chama para debaixo dos lençóis. A despensa se esvaziou e na geladeira o que praticamente resta congelou. A cidade cresce como erva daninha que toma conta do quintal. A cidade parou em cima da faixa. Troca-se de carro com ele em movimento. O carro bateu no poste e o socorro demorou a chegar. A cidade perdeu o rumo e caiu com a cara no asfalto do meio-dia. o motorista adormeceu ao volante e a carona acordou com o pedido de divorcio nas mãos. Acautelem-se, pois o padre abençoa o almoço. Peçam a Deus que venha logo para o janar não esfriar.
quinta-feira, 23 de dezembro de 2021
Aversão e retrocesso pelas praças e ruas de São Luis
Dá pra ver pelas praças de São luis que os governantes e seus auxiliares não morrem de amores pelo assunto arborização e paisagismo. A espécie mais escolhida para arborizar a cidade é a Palmeira imperial. Quando não é palmeira imperial, o que a prefeitura planta nas praças parece mais um capim ressecado. O mau trato com relação as praças e as vias publicas de São Luis é um assunto que vem de longe. Contam uma historia que determinado prefeito cortou as árvores de uma praça que davam sombra apenas porque os cidadãos ficavam a debater politica embaixo delas. Cortar é bem mais simples do que plantar e conservar as árvores que se enraízam pelos espaços públicos. Do ponto de visa mental e emocional, é claro. Pra que ter trabalho com plantas e árvores, não é verdade? os governantes nem querem ter trabalho com os cidadãos. A aversão com que os governantes e a população tratam seu patrimônio natural condiz com os despropósitos com que cuidam do patrimônio histórico e artístico de São Luis. Em algum momento da Historia, escritores moravam em casarões erguidos nas várias ruas abertas no centro de São Luis. Gonçalves Dias, poeta romântico, passou boa parte de sua vida em um casarão à rua de Santana. Só se acessa essa informação na hipótese de você andar ao lado de alguém que a tenha e que se predisponha a auxilia-lo em seu crescimento intelectual e social. não sendo assim, melhor esquecer porque a antiga casa de Gonçalves Dias virou uma casa comercial como outra qualquer. Habitua-se tanto ao retrocesso que o retrocesso se torna rotina
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021
Plantios de eucalipto entre Urbano Santos e Barreirinhas
A região limítrofe entre Barreirinhas e Urbano Santos se se coloca numa situação de limbo fundiário e territorial. Devido a essa situação incerta em que se desconhece a que município pertence determinada área, as empresas de reflorestamento se aproveitam para desmatar e plantar eucalipto em milhares de hectares com a presunção de que os seus plantios se encontram no município de Urbano Santos que não possui legislação ambiental impeditiva ao plantio de eucalipto. Diversas partes do município de Urbano Santos foram tomadas por empresas de eucalipto como a Suzano Papel Celulose e a Margusa. Os plantios de eucalipto nas bordas dos municípios de Urbano Santos e Barreirinhas tinham como destino a produção de carvão vegetal o qual seria levado a planta da Margusa em Bacabeira. O transito Urbano Santos e Barreirinhas se dava por essa estrada em que quase não vê comunidades porque elas se localizam mais adentro. Quem passa pela estrada e vê somente eucalipto nem imagina o quanto de comunidades que residem nas partes baixas próximas ao rio jacu, afluente do rio Preguiças, cujas cabeceiras foram desmatadas. Vez ou outra, as empresas de eucalipto tentm avançar sobre as áreas de Chapada do município de Barreirinhas com a desculpa que na verdade pensam estar em Urbano Santos. As comunidades de Buritizinho, Anajás dos Grces e Tabocas por diversas vezes impediram a ação dessas empresas que mantem o olho gordo voltado para essas Chapadas na esperança que as comunidades desistam delas.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2021
Proposta para melhorar a estrutura ambiental do governo do Maranhão
Um governo qualquer que seja a sua matiz ideológica deve procurar sempre aprimorar os seus objetivos de curto médio e longo prazo pensando em melhorar a prestação de serviços para a sociedade. Tendo em vista essa premissa, o governo do Maranhão deveria reorganizar a sua estrutura administrativa que em alguns pontos deixa muito a desejar. Pronuncie deixa a desejar e deixa muito a desejar e sinta a diferença entre uma expressão e outra. A estrutura administrativa do governo do Maranhão deixa muito a desejar em alguns pontos. Que pontos são esses? Bem, explicitar que pontos são esses é uma tarefa delicada. Não é de bom tom criticar os outros sem que esses outros peçam sua opinião e o governo do Maranhão, por alguma razão, se mostra refratário a aceitar criticas, justas e injustas, construtivas e destrutivas, com propósito e fora de propósito e etc. Para o governo do Maranhão é inaceitável receber criticas. Entende-se essa dificuldade. Um governante sempre vai acreditar que o seu governo é o melhor de todos os governos. Por essa razão e por outras, uma critica bem fundamentada e bem direcionada não vai mal. Alguns pontos que o governo do Maranhão ao fazer mudanças melhoraria e muito a imagem do seu governo dizem respeito aos tratamentos que as suas secretarias dão as comunidades tradicionais e quilombolas que vivem na zona rural e nas periferias do estado do Maranhão. A Secretaria do meio ambiente do Maranhão quando cobrada a sua presença pelas comunidades afetadas por um grande empreendimento responde que não tem recurso para combustível, para as diárias, para a hospedagem e etc. a desculpa esfarrapada avorita da SEMA foi dada inúmeras vezes e a função da SEMA que é cuidar dos biomas do estado nunca é cumprida. Para que a sociedade maranhense não mais se decepcione com essas desculpas esfarrapadas propõe-se que a SEMA reivindique a criação de um departamento estritamente voltado para as demandas das comunidades tradicionais e quilombolas. A única despesa do governo do Maranhão seria criar uns cargos comissionados e uma sala espaçosa no prédio da SEMA. Caso alguma liderança ligue ou mande um e-mail para a SEMA a resposta automática será encaminharemos sua demanda para o departamento de comunidades tradicionais e quilombolas e aguarde o retorno.
domingo, 19 de dezembro de 2021
Bacuri
Bacuri, em tupi, o fruto que “cai logo”. Começa a amadurecer em julho e com as primeiras chuvas de dezembro e janeiro cai. Em São Luis, nesse mês de dezembro de 2021 se nota o bacuri em certa quantidade pelo mercado do João Paulo. Nos demais mercados, é quase certo ver o bacuri pelas bancas dos feirantes. O bacuri se faz presente em quase todo o Maranhão, mas nessa época do ano o bacuri que se consome vem do centro sul do estado onde o período chuvoso se inicia em outubro. O consumidor vai a feira comprar tomate, cebola, vinagreira entre outros legumes e folhas para o almoço e surpreende-se com a visão de carradas de bacuri. Quebra-me ou não me devoras. Quem quiser comer bscuri terá o trabalho de quebrar a casca que mescla cores das mais variadas e uma não suplanta a outra diferente da manga. Um amarelo meio esverdeado ou um verde meio amarelado? O bacuri é indecifrável e inclassificável. Precisa-se quebrar a casca sem muito esforço ou com um pouco de esforço porque o conteúdo do fruto recompensará quem se dispôs a quebra-lo. De todas as frutas do Cerrado, arrisca-se a dizer que o bacuri é o mais nobre se bem que em termos de nobreza as demais frutas do Cerrado não deixam a desejar. A nobreza no caso do Cerrado não é uma questão de estilo e sim uma questão de existência afinal é o bioma mais antigo em todo o Brasil e dele dependem os outros biomas. E o Cerrado é tão nobre que acolhe sem grandes exigências o bacuri, uma espécie amazônica, em suas florestas de baixa estatura e de cabeça pra baixo. Entender como o bacuri se insinuou pelo Cerrado do Maranhão, do Piaui e do Tocantins e em que época isso ocorreu auxiliaria a compreensão de como se deu a entrada e a fixação de populações nesses estados. Auxiliaria tambem a entender as consequências que advirão ao emio ambiente e a vida dessas populações com os desmatamentos de grandes porções do Cerrado nesses estados.
sábado, 18 de dezembro de 2021
A vida é curta
Dar-se por satisfeito. Um ato de consciência individual. A vida é curta. Concluiu ao ver a vassoura que a empregada varria a casa. a vida é curta e o que restava a fazer era comprar uma vassoura nova. por que as vassouras duravam tão pouco? Comprara aquela vassoura num mercadinho da Liberdade porque as vassouras da Casa do tempero vizinha a sua casa mal duravam uma semana. A vida é curta. O comércio de vassouras deve ser muito ativo porque elas duram muito pouco. Quem fabricava as vassouras? Algum empresário inescrupuloso que escravizava imigrantes? Em algum casarão abandonado no centro de São Luis? A vida é curta e se dê por satisfeito.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2021
A família que toma terra dos outros
Uma estratégia bastante utilizada pelos plantadores de soja no Baixo Parnaiba para obter terras sem que provem comprovar a posse são os pedidos de reintegração de posse que movem contra os agricultores familiares reais detentores da posse dessas terras. Os plantadores de soja agem como um consórcio em que um auxilia o outro na obtenção dessas terras. A advogada Fátima Kerber entrou om um pedido de reintegração de posse contra o senhor Zacarias por uma área de mais de 80 hectares no município de Mata Roma. No seu pedido de liminar, ela alega que recebeu a área em questão de sua avó a qual comprou do senhor Zacarias em 2003, e que arrendou a área para um plantador de soja. Para sua surpresa, na versão apresentada por ela, o senhor Zacarias e sua mulher, dois velhinhos de mais de 80 anos, invadiram esse terreno e tomaram cinco hectares. para comprovar a sua tese de invasão ela inscreve no processo como testemunha a mesma pessoa para quem ela rarrendou a terra. é preciso analisar a versão da senhora Fátima Kerber. A sua avo, que Deus a tenha onde estiver, comprou um terreno do senhor Zacarias, o qual garante que nunca vendeu, e presenteou a sua neta que na impossibilidade de trabalhar pois não planta soja arrendou para outra pessoa que sim planta soja e vive desse plantio. Foi um presente de avó para neta que pobre coitada precisou arrendar esse terreno e assim garantir algum dinheiro para si. A avó devia ter uma grana sobrando e resolveu fazer essa compra pensando em sua neta. A senhora Fátima Kerber então arrenda essa terra para um plantador de soja que a utiliza por vários anos e quando não vê cinco hectares serem ocupados por dois velhinhos de mais de 80 anos que venderam esse terreno em 2003. E aí a senhora Fátima Kerber entra com uma ação de reintegração de posse na qual a sua principal testemunha é aquele para quem arrendou o terreno para plantar soja. Para começo de conversa, a família Kerber não é uma família de agricultores familiares do sul que vieram para o Maranhão com recursos contados para comprarem uma propriedade e assim exercerem a atividade agrícola. A família Kerber negocia terras em boa parte do Baixo Parnaiba e uma forma de negociar terras é tomar terras de pessoas idosas como o senhor Zacarias em Mata Roma do senhor Vicente de Paulo no povoado Carrancas e do senhor Manoel Carlos, povoado Coruja, os dois do município de Buriti e ou as arrendam para os seus companheiros do consorcio da soja ou sua família planta.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2021
O preço do peixe nas praias de São Luis
Ir a praia com intuito de comer peixe talvez decorra de um dos grandes processos de apropriação cultural da sociedade moderna e ela nem se dá conta disso. Sem exageros, a vida que a sociedade moderna experimenta é um grande processo de apropriação cultural com relação aos antepassados dessa mesma sociedade. A apropriação cultural no caso de comer peixe a beira da praia se refere aos povos indígenas que viviam no litoral brasileiro bem antes da chegada dos europeus. Quer dizer, não é só uma apropriação cultural como tambem é uma apropriação econômica, social e ambiental de práticas alimentares e sociais de povos indígenas que, infelizmente, a construção histórica não consegue alcançar pela falta de documentos históricos e dados precisos que permitam apreender essas práticas de acordo com os povos indígenas aos quais elas pertencem. Uma forma de capturar essas práticas sem viajar ao passado fisicamente seria analisar as práticas atuais que mantem em seu cerne resíduos da historia social que se passou ou que ainda não passou por completo. Veja bem o caso de uma senhora que certamente herdou elementos da cultura indígena e como tal, em tese, herdaria o gosto pelo consumo de peixe de qualquer procedência e de qualquer natureza. O marido desmente essa visão ao expor que sua mulher come somente peixe pescada, um peixe de agua salgada. Quem em boa memória, deve lembrar que nos anos 80 e 90 o discurso e as práticas sociais nas praias de São Luis eram que dia de domingo combinava com praia e praia combinava com sol, futebol, cerveja e tira gosto (pescada frita, caranguejo, ostra e etc). Então, o dia de domingo para boa parte das famílias ludovicenses servia como uma exceção a regra semanal de trabalho. O consumo de peixe água salgada, segundo esse discurso e essas práticas, virou uma exceção para aqueles que podiam pagar o preço de uma pescada a beira da praia. Por qualquer restaurante que se passe na orla de São Luis o preço de uma pescada chega as altura, mais de 100 reais. Em São Jose de Ribamar, município da região metropolitana de São Luis, quem quiser comer uma pescada paga bem mais barato, 70 reais.
conversa entre professores
Luís Felipe de Alencastro, historiador e autor do livro "Trato dos Viventes" e personagem dessa história. Professor da UFMA recebe uma ligação em seu telefone fixo. Do outro lado da linha, falava Paulo Arantes, filósofo. Conversa vai, conversa vem, Paulo Arantes pergunta ao professor se ele lera Trato dos Viventes. Pergunta esta que o professor respondeu que não e nem que tinha interesse. Esse diálogo aconteceu no começo dos anos dois mil. O professor da UFMA em questão não morria de amores por esse tipo de produção intelectual. A tentativa de explicar o Brasil e sua formação por meio de grandes narrativas. Ele desconfiava de teses como a de Alencastro que tentavam dar uma resposta definitiva ao problema Brasil. Desconfiava também de qualquer música que não fosse experimental. O mangue beat não lhe dizia nada porque remetia a uma modernidade que nunca se completava no Brasil. O máximo de concessão que fazia era escutar Nação Zumbi cujos discos dialogavam com o tropicalismo rock dos anos 80 e manifestações folclóricas do nordeste brasileiro. Ele dizia ao fim e aí cabo que vivíamos o simulacro da coisa e do real, citando Baudrillard, pensador francês.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
As memorias inquietas
Um amigo, proprietário de um sebo, prometera explicar o porque do nome rua do sol. Desenvolvera um desapreço por aquele nome porque no final das contas não dizia muita coisa e ele detestava o sol. Dar o nome de sol a uma rua só porque nela os raios solares batem e refletem com mais força, por favor, é de uma falta de criatividade tremenda. Com certeza, haveria outros nomes a serem dados por razões historicas e sociais. O assunto principal deste se deteve à rua do Sol numa tarde de quinta feira. Nada incomum se esquivar de carros e pedestres ao andar pelo asfalto e pelas calçadas anuladas de tantas rachaduras e tantas vãos. Ou você escolhe o asfalto ou você escolhe o cimento. Ele pressentia que a rua do Sol definhava pelo súbito esvaziamento que ela vivia há algum tempo. A tarde começava e poucos vivente s transitavam pela rua como se todos estivessem em suas casas tirando um cochilo após o almoço. Os poucos a se postarem a beira da calçada carregavam a fisionomia e o falar dos guardadores de carro e dos vendedores de bombons. Podia-se ter certeza que naquelas casas poucas pessoas ainda moravam. A maioria dos casarões se transformara em lanchonetes, restaurantes, óticas, livrarias e sebos. A sua memoria literária desembarcava na rua do sol a partir dos anos noventa. A livraria Espaço Aberto, do compositor Joaias Sobrinho, quebrava um pouco a monotonia secularda rua. Antes de prosseguir no sentido da praça João Lisboa, parava por alguns breves minutos na livraria. Nada de comprar livros, se bem que nada naquela junção de conhecimento significava muita coisa. Será que se lembrava com exatidão qual era a casa da Espaço aberto? As andanças constantes pela rua do Sol consolidavam as particularidades daquele terreno em sua mente. Se ele queria particularidades, outros desejavam generalidades. O filho do proprietário de uma lanchonete perguntou se era maranhense. Respondeu que sim. Pela sua cara de branco podia se pensar um europeu recém chegado. O rapaz se adiantou. Os homens que ele atendera conversavam a respeito do casarão quase em frente que pertencera a família de Aluisio Asevedo. Os dois senhores alugram a casa e preparavam a elaboração de um documento histórico. “E o bar que funcionava na casa, cade?”, quis saber. “Fechou”, respondeu. O rapaz do casarão dos Asevedo passou para o casarão ao lado que pertencera aos Duailibe. “Antigamente a cidade de São Luis se resumia a essas ruas, a Madre Deus, o Reviver, a região Baixo meretricio, o Monte Castelo e o João Paulo. Eu morava na rua dos Afogados e na casa em frente morava o politico Henrique de laroque. Essas ruas tem nome de politico ou poeta”.
terça-feira, 7 de dezembro de 2021
Toca o tambor na Chapada
A destruição provocada pelo agronegócio não se limita ao meio ambiente. A sua destruição pela memoria coletiva. Ele necessita alterar a memoria em seu amago para que as pessoas não resistam aos seus discursos. O discurso Agro é pop Agro é tudo tenta subjugar todas as formas de produção agrícola e ambiental. Como é possível que uma expressão tenha tamanha pretensão. Os publicitários são pretensiosos e seu projeto é dominar o mundo através de poucas palavras. Uma hora quem sabe aparecerá o Agro é bumba meu boi, tambor de crioula, tambor de mina e etc. Esse dia talvez demore a chegar tendo em vista a reação que um grileiro teve ao ver a comunidade quilombola Buriti dos Boi tocar tambor na Chapada. Várias vezes o grileiro passou de caminhonete tentando entender a muvuca de gente que se aglomerava em volta dos bacurizeiros para celebrar o dia de Santa Bárbara. A escolha do dia de Santa Barbara, dia 04 de dezembro, para a realização da atividade em que se denunciaria a grilagem de terras nas Chapadas do município de Chapadinha foi uma feliz coincidência. O Chico da Cohab estimulou a comunidade do Buriti dos Boi a fabricar os tambores que ecoariam pela Chapada durante o encontro. O resultado da fabricação não saiu conforme o previsto porque um dos tambores queimou. Esqueceram de desligar a fogueira. Brincadeira. Um tambor precisa passar um tempo ao fogo para o couro ficar no ponto para o tocador enfiar as mãos. Sobrou um tambor que deu pro gasto. Um dos gastos era justamente assustar o grileiro que pretende se apossar de e desmatar mais de quatrocentos hectares de Chapada rica em bacuri. O outro gasto foi que Chico da Cohab despontou como poeta popular “eu tava lá no alto da floresta quando o tambor me chamou/toca o tambor/toca o tambor/ que os extrativistas do bacuri já chegou”.
terça-feira, 30 de novembro de 2021
O mocotó ensina
Os amigos conversavam sobre a possibilidade de um deles viajar a Porto Alegre em fevereiro para fazer uma visita a cidade e ao amigo. Este pedira que marcasse sua ida para depois do di a 10 de fevereiro porque se ocuparia antes desse dia. O maranhense para fechar a conversa brincou com uma frase celebre de Nietzsche que escutara no programa de musica clássica da radio universidade “A vida sem música seria um erro”. Ele trouxe a frase para a realidade maranhense “A vida sem mocotó seria um erro”. O amigo porto alegrense comentou “Aqui em Porto Alegre mocotó é comida de inverno, mas em fevereiro é capaz de achar nos mercados”. Em São Luis, mocotó se come qualquer hora do dia, especialmente de madrugada na saída dos botecos ou de bebedeiras na periferia ou nos subúrbios ludovicenses. A madrugada é o melhor horário para se conhecer uma cidade. Poucas pessoas pelas ruas a não ser claro os insones que batem ponto nos bares que ficam abertos até altas horas. Das vezes que comera mocotó a noite, uma fora no Bairro de Fátima, subúrbio de São Luis, depois de beber algumas cervejas com amigos pela noite adentro. O local do mocotó tão bem falado ficava a alguns metros da feira do BF que nessa hora fechava suas portas, menos claro para o vigia responsável pela segurança do prédio. Quem vendia o mocotó era uma senhora negra (da qual naum se lembrava o nome nem se a vaca tossisse) de extensa idade que passava a noite em claro para atender aqueles que não abriam mão de terminar a noite saboreando a iguaria. Na hora de comer, poucos paravam para pensar o trabalho que dava cozinhar um mocotó, transporta-lo em panelas e vende-lo por toda noite. Perder sono não é fácil e não é para qualquer um. O mocotó ensina que boa comida pode ser servida em qualquer lugar, a qualquer hora (em termos) e por e para qualquer um.
segunda-feira, 29 de novembro de 2021
os desterrados
Sob certo ponto de vista, as comunidades quilombolas cumprem uma pena de prisão em seus próprios territórios, pena determinada pelo Estado que a qualquer hora pode aumentar o numero de anos da pena, nunca diminuir o numero de anos ou abolir a pena. Os negros foram desterrados para o Brasil, vindos da Africa, e o desterramento nunca desapareceu das suas vidas tanto físicas como espirituais. Vide o caso das comunidades quilombolas de Santa Rita, Itapecuru e Anajatuba que vivem á beira dos campos naturais banhados pelo rio Mearim. Numa analogia superficial, os campos naturais seriam como o sertão que Guimarães Rosa escreveu em “Grande Sertão Veredas”: “O Sertão está em toda parte.” Os campos naturais estão por toda parte. Precisa só pegar a estrada e seguir por entre comunidades quilombolas e tradicionais para poder visualizar. À primeira vista, não há nada, nem uma construção, nem um barco navegando, nem um ser vivente, um automóvel. Nada que se possa tocar e ninguém com quem se possa falar. Entretanto, foram nos campos naturais que inúmeras comunidades quilombolas resolveram se desterrar para escapar das perseguições dos fazendeiros e de políticos em outros tempos. Os quilombolas não eram criminosos, mas era como se fossem. E eles foram para bem longe das ameaças achando que nos campos naturais nada poderia ameaça-los. Nem a fome. Recentemente, alguns fatos fizeram com que mudassem essa opinião. A empresa sino portuguesa EDP aterrou vários quilômetros de campos naturais a fim de erguer uma linha de transmissão vinda desde de um complexo eólico no sul do Piaui a fim de distribuir energia para os portos da baia de São Marcos, nove portos para serem construídos ou ampliados. As obras realizadas pelas empresas contratadas pela EDP afugentaram os peixes da beira dos campos naturais e com isso várias comunidades quilombolas e comunidades brancas pobres não pescam mais nenhum peixe em seus açudes. O senhor Raimundo, filho de santo e liderança do quilombo Monge Belo, município de Itapecuru, sinalizou para a importância do peixe para as comunidades quilombolas: “Os peixes nos alimentam e tambem podemos vende-los gerando renda. Por conta do linhão da EDP, as pessoas que antes pescavam 11 quilos não pescam nada.” Dá pra dizer que as comunidades quilombolas foram desterradas em seu próprio território por causa da obra da EDP e com a conivência da Secretaria de Meio ambiente do Estado do Maranhão.
quinta-feira, 25 de novembro de 2021
Caxias, a cidade negra
A vida é uma comédia. Essa assertiva se propagou por anos a fios. Luis Fernando Verissimo, escritor porto alegrense, porto alegrense fica bem melhor que gaúcho, publicou “comédia da Vida Privada que aprimora essa ideia da vida ser uma comedia dentro de uma perspectiva pequeno burguesa. O compositor não chega a ser um Luis Fernando Verissimo mas suas musicas são uma verdadeira comédia. O jornalista Cassio Bezerra, que escuta e toca rock, que fique bem claro, classificou as musicas como comedia. Ele citou “Craqudo”, cuja pronuncia leva a pensar na palavra craque. Que engano. “Cracudo” se origina da palavra crack, droga muito consumida nas cidades de todo o Brasil. É bom não entrar em detalhes a respeito da musica. Pode parecer apologia as drogas. Importa a narrativa que depois de escutar a musica a pessoa começa a ver determinados ritmos sob outros pontos de vista. O ponto de vista da comédia do qual o compositor se vale para conquistar o publico. As musicas cujas letras apresentam um conteúdo politico social tendem a afastar o ouvinte que quer se divertir sob qualquer pretexto. O disco “Da lama ao Caos”, da banda pernambucana Chico Science e Nação Zumbi, lançado em 1994, retratava a cidade de Recife como a “cidade do mangue/onde a lama é a insurreição/onde estão os homens caranguejos” com uma base rítmica que variava do maracatu ao rock e a musica eletrônica. As musicas que Chico Science canta não explicitam mas se prestar atenção no conteúdo e no ritmo, a cidade que surge nas letras e na sonoridade é uma cidade negra. Essa definição pode ser replicada para várias cidades brasileiras entre elas a cidade de Caxias, a “princesa do sertão”, município da região dos Cocais maranhense. Cassio Bezerra conversava com Francisca, vice presidente do Inasa, ONG que trabalha com meio ambiente, antes da abertura do encontro de comunidades quilombolas, quando alguém perguntou de onde eram os tambores nos quais eles se encostaram. Os tambores, segundo Francisca, eram provenientes da comunidade quilombola de Zacarias e os quilombolas os tocariam em algum momento do evento. Francisca também falou da dança do Lili que superava qualquer dança em todo o Maranhão. Com essa defesa ardorosa da cultura negra e quilombola, pode-se concluir que Caxias e ciddes vizinhas são cidades negras. Só precisa vasculhar um pouco para que as raízes historicas emerjam.
terça-feira, 23 de novembro de 2021
As casas despedaçadas
A cena vista a beira da estrada faz recordar outras cenas vistas em outras estradas. Um carro corria pelo acostamento. Parecia mais uma estrada de chão do que um acostamento de uma estrada asfaltada. De onde aquele carro viera, pensara de imediato. E para onde o carro iria, pensou em seguida. De certo que o carro provinha de alguma cidade nas redondezas, mas qual cidade, ele se questionava. E para qual cidade iria. No sertão cearense, pouco provável uma pessoa sair ou mais de uma pessoa saírem de suas casas e pegarem a estrada em direção a um povoado. As casas á beira da estrada se despedaçam sob os efeitos do clima seco da Caatinga. As famílias que moravam nessas casas se mudaram para Fortaleza ou para cidades menores do sertão. Eles adiaram o máximo que puderam, mas com o clima não se brinca e nem ele quer brincadeira. Uma criança que quiser brincar não pode. Um homem que quiser plantar não pode. Uma mãe que quiser cozinhar não pode. Uma família conviver sozinha com a caatinga requer esforços físicos e emocionais que nem todo mundo tem condição de suportar. É bem mais razoável desistir daquela terra e partir para outra.
segunda-feira, 22 de novembro de 2021
O sertão nordestino
A verdade é o que importa. A verdade é o que menos importa. Cada frase corresponde a um lugar, uma hora e um determinado dia. Decide-se uma a outra. E assim a vida foi levando pelo sinal da santa cruz. O dia estava aceso e no caso de certas regiões do nordeste é quase uma redundância. O dia estava aceso e ninguém se lembrou de diminuir a intensidade da luz. “Tu és sócio da empresa de energia?”. O mundo está perto de um apagão energetico e nunca gastou tanta energia. Tudo bem, energia sobra pra tudo quanto é lado. O negócio é saber aproveita-la, reaproveita-la e mais lá o que. O sol estava aceso no sertão nordestino, um pouco pro lado leste piauiense e centro oeste cearense. Uma coisa leva a outra e aoutra não leva a lugar algum. Se você não entendeu, é melhor ficar sem entender. No sertão nordestino a distancia não se mede em quilômetros. Não se mede e a verdade pouco importa e a verdade se desmede. Esse texto talvez seja sobre a verdade talvez seja uma mentira deslavada. Uma em cima a outra por debaixo dos panos. Uma coisa remete a um cigarro aceso. Verdade pos morte. Verdade e mentira. Cesar escreveu “Fui, Vi e Venci”. Incontáveis anos se passaram até essa frase virar historia. Via de regra. Quem venceu o que na luta pelo sertão nordestino? Sobral é uma cidade aconchegante. Um lugar bom de passar alguns minutos. Quem sabe, numa outra oportunidade, passe mais tempo. Olhar por cima e as igrejas solapam a sua verdade interior. Deus está entre nós e o vosso reino será feito A elite cearense, em parte, veio de Sobral. Os Dias Gomes. Não, Dias Gomes foi um escritor de novelas. Os Gomes, Ciro Gomes e irmãos. Eles ansiavam pela modernização do Ceará e do Brasil. Modernizaram o abastecimento de água de Fortaleza. O sertão quase não se fala. Só se vê. Segue-se devendo ao sertão, ano após ano, seca após seca, e quem deve não paga e nem quer pagar. O sertão não cobra. Ele tira.
terça-feira, 16 de novembro de 2021
Os paus ameaçadores da comunidade de Gameleira, municipio de Brejo, Baixo Parnaiba maranhense
A comunidade Gameleira, município de Brejo, Baixo Parnaiba maranhsense, convidou o Padre Chagas para participar de uma conversa que juntaria a comunidade, a diocese de Brejo e o STTR de Brejo. Nos primeiros anos do avanço do agronegócio da soja sobre a região do Baixo Parnaiba maranhense, o município de Brejo foi um dos que mais sofreu impactos advindos desse avanço. Um outro município tão ou mais impactado pela monocultura s asoja na região do Baixo Parnaiba se trata de Buriti, que fica na transição da floresta Amazonica, Cerrado, Caatinga e Babaçual. O edivan, membro da coordenação estadual do MST no Maranhão e morador do povoado Belem, assentamento do Iterma, acredita que entre os municípios de Buriti, Anapurus, Mata Roma e Chapadinha a soja apagou a presença de Cerrado porque a maioria das Chapadas e Baixões foram ocupados, devastados e plantados. Os rios que ziguezagueiam pelo município de Buriti compõe as bacias do rio Munim e do rio Parnaiba. No caso da bacia do rio Munim, o rio Preto e o riacho Feio nascem r crescem por todo o município de Buriti. Cresciam, melhor escrevendo, porque se aterrou a maior parte das nascentes desses afluentes do rio Munim. O Edivan lembrou uma fala da educadora ambiental Delva em que ela insistia que dentro doo planto de soja havia uma nascente. “É o contrário Delva, contraísse edivan”. “Dentro da nascente apareceu um plantio de soja que a devorou ao ponto de faze-la desaparecer”. O que sobrou de Chapada e Baixões intactos no município de Buriti podem ser encontrados nos territórios de comunidades tradicionais e comunidades quilombolas. Esse é o caso da comunidade de Gameleira que assistiu parte da sua Chapada ser devastada pelo sojicultor Gilmar da Masul. Essa devastação é parte do resultado de uma cordo firmado entre a comunidade e o sojicultor que liberou duzentos hectares para os moradores. O acordo favoreceu mais o gaúcho sojicultor que se apropriou de uma Chapada quase toda enquanto a comunidade se contentou com dois décimos dela. Acordo feito de boca Gaucho sojicultor não respeita e foi isso que aconteceu. Gilmar da Masull quis devastar a Chapada restante imaginando que a comunidade não se atreveria a impedir. Os moradores impediram e expulsaram os funcionários do gaúcho sojicultor. A historia da destruição do Cerrado no Baixo Parnaiba é um eterno retorno. Plantadores de soja, grileiros, empresas de eucalipto e advogados atazanam a vida das comunidades ofertando o melhor dos mundos para que elas permitam que ocorra o desmatamento. Na reunião da comunidade de Gameleira com o padre Chagas, o gaúcho sojicultor apareceu e enfeitou a realidade com propostas de projeto e por ai vai. Os moradores de Gameleira se armaram de pau e afinal as mulheres perderam a paciência. “O senhor não é bem-vindo. Tem dez minutos para ir embora, senão...” O gaúcho sojicultor se fez de desentendido e mandou mais enfeites para a comunidade. As mulheres voltaram a carga “Qual parte doa viso o senhor não entendeu? Restam cinco minutos pro senhor ir embora”. Sentindo que a barra pesou, o gaúcho sojicultor disparou pro lado de fora da casa esquecendo documentos sobre a cadeira onde se sentara.
segunda-feira, 15 de novembro de 2021
A roça de mandioca e a chuva vista de longe
O jornalista Ed Wilson pediu a Vicente de Paulo que mostrasse sua roça, afinal não era tão longe que não desse de ir a pé. O Vicente fora a frente e mais atrás iam Ed Wilson e Mayron Régis. O Vicente de Paulo roçara uma pequena área perto de sua casa e nela plantara mandioca que demorava um ano e meio para colher. Ele e e sua família roçavam em áreas próximas porque eles disputavam uma área no fundo de sua propriedade com o Andre Introvini, plantador, que alegava ter comprado essa área. Os três, em sua caminhada, penetravam uma mata de paus pombons em fase de crescimento. O pau pómbo é uma espécie típica do Cerrado que brota assim que se derruba a floresta primária. O que se v~e, então, é o puro pau pombo e aqui e acolá outras espécies como fava danta. O pau pombo serve tanto par virar carvão como serve de madeira de construção. A roça de Vicene de Paulo se incrustara numa Chapada de imensa fertilidade. Depois da colheita de mandioca, os paus pombos se regeneram em três anos ou três anos e meio dando possibilidade do agricultor retornar a essa área caso necessite. Vicente de Paulo mostrava a roça de mandioca a Ed Wilson e mayron Régis com uma ponta de satisfação. Sem roça, ele e a família não produziriam farinha e comprariam mais farinha de outros lugares o que fica mais difícil a cada dia visto que as famílias de Carrnacas e outros povoados de Buriti abandonaram o serviço de plantar colher e tratar a mandioca. Os posseiros e os pequenos proprietários venderam suas Chapadas para os plantadores de soja e não possuem mais áreas para roçar e plantar mandioca e nem criar gado. Vicente de Paulo é um dos poucos que mantiveram a tradição de roçar e plantar mandioca. Nuvens de chuva se preparavam para cair aonde eles estavam, assim parecia a Mayron Régis. ”Vicente, essa chuva tá com cara de que vai cair sobre nós. Exatamente, onde ela se localiza, nesse momento?” ”Ela ultrapassa Duque Bacelar”. Longe. Elas davam a sensação de que um desavisado tocaria nelas com as mãos caso quisesse.
domingo, 14 de novembro de 2021
A intimação tosca da policia civil de Buriti
Uma coisa que a pessoa aprende ao longo da vida é que nem tudo que ela deseja pode ter. não obstante essa assertiva, algumas pessoas creem que o mundo real é um anexo das suas subjetividades. Então, bastariam desejar que o mundo se renderia aos seus anseios. Um mundo que existe apenas para a satisfação de um ou de outro aos poucos mergulha na realidade de algo que existe somente na subjetividade e cada pessoa vive a sua subjetividade porque uma subjetividade não é igual a outra. A existência humana é desigual tanto n materialidade quanto na subjetividade. Se uma materialidade ou uma subjetividade prepondera em relação a outra materialidade ou outra subjetividade a sociedade viverá o exagero da desigualdade só que no caso da subjetividade não há parâmetros para tornar essa desigualdade menos desigual. No mundo capitalista onde a desigualdade econômica e social é premissa para o desenvolvimento da economia, a desigualdade na subjetividade é vista com normalidade. O meu desejo é maior que o seu portanto farei o possível e o impossível para torna-lo real e aprisionar as demais realidades. Alguém pode desativar uma estrada consolidada há anos e que atende várias coletividades e muda-la de lugar com intuito de favorecer os seus empreendimentos empresariais? Alguém pode impedir um agricultor familiar de roçar algo que ele pratica por várias décadas e que é fundamental pra garantir a sua alimentação e de sua familia? Alguém pode usar o aparato policial para intimidar um agricultor familiar que não quer mais nada a não ser roçar um terreno de um hectare? Todas as três perguntas partem da hipótese de que alguém não especificado pode intervir na realidade e na sociedade de uma forma capaz de mudar a realidade concreta e histórica para satisfazer a sua subjetividade. O alguém não especificado atende pelo nome de Andre Introvini e ele simplesmente desativou a estrada por onde a comunidade de Brejão se movimentava e construiu uma estrada nova que passa por uma área onde pretende plantar soja. As duas ultimas perguntas se cruzam: o Andre Introvini quer impedir que o senhor Ferrerionha plante sua roça numa área próxima a sua casa e como ele pretende conseguir isso? Ele pediu a policia de Buriti que intimasse o senhor Ferreirinha a delegacia de policia e respondesse as perguntas feitas pelo delegado. O Andre Introvini com isso quer inviabilizar a vida do seu Ferreirinha e de sua família de um jeito que eles se mudarão do seu terreno no povoado Brejão. A intimação feita pela policia de Buriti foi tão tosca que erraram o nome do povoado, Brejinho no lugar de Brejão, e escreveram Ferreirinha na parte que escreve o nome completo. O seu Ferreirinha poderia nem ir visto a tamanha barbeiragem policial. Ele para não parecer desrespeitoso atendeu a intimação e levou junto as comunidades de Araça, Belem e Brejinho. Se fosse sozinho, o senhor Ferreirinha seria presa fácil para a policia de Buriti.
terça-feira, 9 de novembro de 2021
Jabiraca
Incontáveis vezes escutara o nome jabiraca. Coincidência ou não, o termo parecia vinculado a região da baixada maranhense. Sempre que viajava com um amigo este ia aos mercados dos municípios onde dormiam para descobrir um comerciante que vendesse jabiraca. Para não passar vergonha, fingia saber o que era jabiraca. Algo relacionado com peixe e peixe de água doce, presumia. Toda a vez que o amigo entrava em algum mercado, ele matutava o que diabo vinha a ser jabiraca. A baixada ocidental maranhense, diferente de outras regiões do Maranhão, excetuando a baixada oriental maranhense, parece um reino aquático de tanta água que se vê. Ou se sentir. A água pode ser invisível aos olhares desatentos, mas ela passeia por debaixo do solo a grandes distancias. As comunidades quilombolas e indígenas mataram sua fome graças aos peixes de água doce que pescavam nos campos naturais que ocupam parte do relevo da baixada. Em tantas viagens, um dia pararam na comunidade quilombola de Ramal, município de Bequimão, e pediram qualquer coisa para comer no bar do João, quilombola e jovem agricultor. A mãe trouxe de entrada um sarrabulho, que são as vísceras do porco cozidas envoltas em um molho bem grosso. O que realmente abriu o apetite: peixe traira seco conservado em sal. O peixe de água doce que os pais de João pescavam nos campos naturais localizados na comunidade quilombola vizinha, Mafra. Não se envergonharam e comeram bem as trairas secas e salgadas. Finalmente provou a jabiraca e pode expressar o sentido da palavra: peixe de agua doce seco e salgado. Em quantos momentos da vida dos familiares de João, essa era a única comida a se botar na mesa para almoçar ou, quem sabe, botar em cima da mesa para as visitas provarem? E pensar que por conta do processo de urbanização e de aglomeração que arrebata as comunidades quilombolas, os mais jovens evitam comer os peixes de agua doce e passam a comer mais carne de gado, porco e frango. As pessoas que comem menos peixe de agua doce e mais carne de outros animais tendem a perder seus vínculos com a água e com os espaços físicos onde os peixes podem ser encontrados e pescados. Projetos como a construção da rodovia e de uma ponte que ligarão Bequimão a Central do Maranhão causam impactos ambientais mas causam impactos sobretudo ao modo de vida das comunidades quilombolas que por décadas sobreviveram comendo peixe, farinha, arroz e babaçu.
segunda-feira, 8 de novembro de 2021
Dois medrosos e um governo descomprometido
O que contar primeiro? Para cativar o leitor, melhor contar primeiro o caso engraçado porque em seguida vem o susto. Quem lê engraçado vai logo pensar em comédia e quem lê susto pode pensar em um suspense ou uma historia de terror. O leitor entende como bem quiser. Cabe ao escritor escolher as palavras e enquadra-las da melhor forma. A primeira historia não é uma comédia e sim uma mescla de historia de valorização da cultura em que se pode rir. A comunidade quilombola de Ariquipa, município de Bequimão, recebeu uma das etapas do projeto desenvolvido pelo Moqbeq, movimento quilombola de Bequimão, com apoio do Fundo Socio Ambiental Casa. A abertura da atividade seria feita por dona Beatriz, mãe de santo de um terreiro de tambor de crioula. O convite da organização prestigiava dona Beatriz pe4la posição que ocupava dentro da comunidade de Ariquipa e prestigiava as religiões de matriz afro que sofrem discriminações da parte de setores religiosos conservadores. A convivência com o diferente requer sensibilidade e desprendimento, qualidades que faltam em momentos cruciais. Dona Beatriz saudava os participantes do evento como boa anfitriã. Ao finalizar sua saudação, Dona Beatriz incorpora uma entidade. Nada mais natural, afinal ela é uma mãe santa. A entidade se comunicou com a organização através de Dona Beatriz: “Quem são vocês e o que fazem aqui?” Um disse: “Vai la.””Vai tu”. Os dois ficaram empurrando a obrigação um para outro até que uma hora um deles teve coragem e respondeu a entidade. Bem, eles esqueceram de pedir permissão as entidades presentes no terreiro de mãe Beatriz para a realização da atividade e a cobrança veio alto e bom som. Se você responder direito e quem sabe lhes dar algo que seja agradável, elas se aquietam. As entidades desconfiam daqueles que desrespeitam as tradições que a mãe Beatriz é uma das responsáveis por mante. Deve ter sido difícil para os participantes do evento ouvirem a voz da entidade que difere e muito da voz da mãe de santo. Não é só a voz dos espíritos, é a voz da mata, das águas e do ar, ou seja, da natureza que os espíritos lutam para que se preserve. O governo do Maranhão, nos últimos meses, faz um esforço considerável para acordar as entidades que vivem nas matas das comunidades de Ramal de Quindiua, Santa Rita, Mafra e São Sebastião por conta da construção de uma estrada e de uma ponte que facilitarão o tráfego entre Bequimão e Cedral. Do ponto de vista legal, a obra está completamente irregular porque antes do inicio da obra o governo do Maranhão não consultou as comunidades quilombolas cujos territórios foram impactados pelas obras da rodovia. Só depois que os quilombolas impediram o acesso dos trabalhadores aos canteiros de obras foi que o governo do Maranhão, através da secretaria de direitos humanos e da secretaria de igualdade racial, sentou com os quilombolas para ouvir suas reivindicações. E uma dessas reivindicações e a regularização fundiária das comunidades afetadas pela rodovia e pela ponte. O governo se comprometeu com as demandas para atender rapidamente. Os quilombolas aguardaram o máximo que puderam sem que o governo atendesse o acordado. Não tiveram outra escolha: fecharam outra vez o ramal. As secretarias de direitos humanos e de igualdade racial se viram obrigadas a retornarem as conversações com as comunidades quilombolas para que o cronograma das duas obras não atrasasse o maior temor dos políticos. Parece que dessa vez a regularização fundiária das comunidades quilombolas de Ramal de Quindiua, Santa Rita e Mafra se desenroscca porque compõem um pacote anunciado pelo governo de regularizar os territorios de 30 comunidades quilombolas de todo o Maranhão. Será que vai?
sexta-feira, 5 de novembro de 2021
A Curica e a Onça
Dava vontade de pegar tudo o que via pela frente. Não tinha como, claro. As mãos mal conseguiam carregar um lápis e uma borracha. Ora, se não é possível carregar com as mãos, pode-se, entretanto, escreve-las e escrever sobre elas. O senhor Edivaldo, presidente da associação de moradores do povoado quilombola de Jacarezinho, propôs que eles fizessem uma visita a comunidade Curica. “Para chegar lá, vai pelo Jacarezinho?”. ”Fica muito longe. O senhor conhece a comunidade Alegre que fica na beira da pista?”. “Sim, conheço.”. “Da comunidade Alegre para a comunidade Curica é perto”. “Podemos fazer assim. O senhor nos espera no Alegre e de lá vamos juntos para o Curica”. O senhor Edivaldo assessora a comunidade de Curica e tratou com a direção desta associação dos projetos que o Fórum Carajás tinha a oferecer a comunidade como projetos de criação de animais. “O senhor não deve andar sozinho por aí, seu Edivaldo”. “Sim. Eu sei disso. Informaram-me que um grupo está de olho em mim”. “um grupo ligado aos plantadores de soja paraguaios?”. “ Não só. Um grupo misturado que visa me eliminar”. O senhor Edivaldo, enquanto presidente da associação de Jacarezinho, luta para q eu os moradores não aceitem acordos com plantadores de soja. Terminada essa parte da conversa com o seu Edivaldo, ele refletiu sobre o nome Curica da comunidade que visitaria. Curica tanto pode ser o nome de uma ave da fauna nativa como o nome dado a uma brincadeira em que crianças, jovens e adultos empinam um artefato feito de papel. No dia da visita, ele resistiria a tentação de perguntar a razão daquele nome. Bastava que ele visse uma curiosidade zanzando a sua frente para correr determinado e pronto no seu objetivo de desvendar a historia por detrás do nome. Enfiar-se pelos meandros históricos das comunidades traz suas satisfações como também traz suas insatisfações. Lembrava da vez que perguntara a moradores da comunidade Barra da Onça, município de Santa Quiteria, se era comum ver onça por perto. “Não”, foi a resposta.
segunda-feira, 1 de novembro de 2021
Cem anos de solidão
Ele era presunçoso. Partia da presunção de que faltava algo a todos os textos que lia. Ou quase todos. É mal de quem lê muito acreditar que pode corrigir o texto ou o livro do outro. A leitura desvenda o grande segredo que o escritor teme revelar. A função da literatura é despistar e afastar o leitor do seu verdadeiro significado. Aqui a escolha da palavra é crucial. Pensou em “verdadeiro objetivo” só que objetivo não é bem a palavra adequada para se referir a literatura porque ela concebe obras em desacordo com a precisão. “Verdadeiro significado” cai bem melhor a internalidade da literatura cujo centro se descobre com muito escavação. Qual é o centro ou qual é o verdadeiro significado de “Cem anos de Solidão?”, escrita pelo colombiano Gabriel Garcia Marques?
quinta-feira, 28 de outubro de 2021
O ponto
Esse é o ponto. De vista. O ponto. Inicial. O ponto. Final. O Ponto. De exclamação. O ponto de interrogação. O ponto em cima. O ponto embaixo. Um ponto qualquer. Da cidade. O ponto. Central. O ponto. De venda. A ponto de pedir um prato de comida. O ponto de revenda de cerveja. O ponto. Cego. Eles viajavam as cegas. Uma esmola pelo amor de Deus. Deus lhe abençoe meu filho. Um filho é uma benção. Abraão abençoou Izsaac. O ponto de chegada. O ponto de partida. A comida está no ponto. Quem quer provar? Um ponto aumenta a nota da prova. Esse trabalho vale um ponto. Esse corte precisa de um ponto. Ele bateu o ponto. O ponto. De luz. O ponto. Cego. A luz cega. A escuridão amedronta. A que ponto eles chegaram? Um ponto. Dois pontos. Três pontoz. Reticencia.
quarta-feira, 27 de outubro de 2021
O inicio da noite na região dos Cocais
O inicio da noite se traduz por aquele momento em que as pessoas terminam seus afazeres pela rua e chegam em casa pedindo um bom banho e uma comida quente. A esposa do seu Edivaldo, presidente da associação quilombola de Jacarezinho, acabava de chegar da sua roça de mandioca. Um pouco depois dela chegar, parou um carro em frente a sua casa e uma das pessoas perguntou pelo seu esposo que rodava pela vizinhança. Os povoados que formam o território quilombola de Jacarezinho contabilizam menos de cem famílias que residem em seu interior cuja área corresponde a mais de cinco mil hectares de Cerrado, Floresta Amazonica, Caatinga e Babaçual. O seu Edivaldo escutou o barulho do carro e pensou que advogados dos plantadores de soja que admoestam a comunidade poderiam estar dentro dele e que vieram mais uma vez pressiona-lo para que a comunidade abrisse mão de seu território. Na verdade, dentro do carro não havia um advogado e sim um jornalista e uma psicóloga do Fórum Carajás, um assessor da diocese de Caxias e o motorista. Eles partiram de São Luis pela manhã bem cedo e o proposito da viagem era saber a quantas andava o conflito da comunidade com os grileiros e com os plantadores de soja. A ideia da viagem partira do jornalista do Fórum Carajás que por descuido não avisara o seu Edivaldo. O seu Edivaldo nascera e criara-se no quilombo do Jacarezinho e viveu os anos em que por muito pouco o quilombo quase se extinguira, resultado de muits pressões de fazendeiros da região de Caxias. Na fase adulta de sua vida, trabalhara com fotografia, atividade que abandonou porque ninguém queria mais fotografias do jeito tradicional. A Fotografia perdeu um fotografo e a comunidade ganhou uma liderança que enfrenta o agronegócio na região dos Cocais.
terça-feira, 26 de outubro de 2021
a ilusão da literatura
A literatura se coloca entre as maiores ilusões vividas pelo ser humano. Quem garante que o que você escreve alguém lerá? A mulher a quem aquele poema é dedicado pode ser que não leia o poema ou pode ser que o ache uma tremenda bobagem. Ele escreve sem parar porque se parar talvez descubra a invalidade do que escreve e do que escreveu. O grande assunto da literatura, no fundo, chama-se tempo. O que fazer com o tempo e com o tempo que lhe é dado? Quando não se tinha nada pra fazer, pedia-se a mãe um papel para desenha historias em quadrinhos ou simplesmente bonequinhos. Desenhar uma grande historia em quadrinhos e faze-la real, o ideal de uma criança. O ato de desenhar antecede o ato de escrever. O homem chegou a crer que ao desenhar na parede os animais que precisava caçar, esses animais se deixariam matar. Denota-se nessa atitude que o homem mantinha uma relação espanto/mágica com o mundo. Uma pequena inclusão: o desenho veio antes da escrita, mas anterior aos dois, de qualquer forma, o homem precisa ler, pois só com a leitura o homem desperta da sua inconsciência. O ato de ler leva ao ato de desenhar e ao ato de escrever. Ele leu quase duzentos livros em pouco mais de um ano. Quantos livros escreverá despertado por esses livros todos? E que gráfica imprimirá esses livros? A Gráfica Santa Clara, localizada no Canto da Fabril, próxima a Camboa, subúrbio de São Luis, fechou suas portas. E era uma das mais antigas gráficas em funcionamento. A cidade de São Luis perdeu suas bancas, livrarias e jornais e agora perde suas gráficas. Pelo visto, ele continuará escrevendo poemas para a mulher que ama, inseguro por não saber se ela gostou ou não.
segunda-feira, 25 de outubro de 2021
A região dos Cocais
Por mais que demore, a viagem custa a terminar. O que eles são perto de quem os aguarda? Eles foram para bem longe. Olhar para trás? Só enxergavam a frente da estrada com sua vegetação de transição. Tudo no Maranhão beirava o transitório ou beirava o precipício. A transição ou o precipício, o que escolher? Nãos sabiam ao certo. Tem que saber transitar pelas quebradas generosas do Maranhão. Os povoados se calavam perante o avanço do agronegócio por sobre as Chapadas daque4la região cujo nome expressa a sua condição: região dos Cocais. O nome deriva das florestas de babaçuais que derrubam seus os cachos de coco babaçu sobre a terra. Pode sr que haja outras espécies florestais, mas os babaçuais dominam o ambiente tano em escala de abrangência quanto em escala de quantidade. Os babaçuais dominam também o ambiente onde os quilombolas residem, pois cobrem suas casas com palha de babaçu. A palha de babaçu é uma matéria prima abundante que para populações pobres como as comunidades quilombolas permite que se cubra as casas com pouco custo financeiro e pouco impacto ambiental. A historia de convivência das comunidades quilombolas com o meio ambiente é uma historia de pouco impacto ambiental. Os proprietários proibiam os negros escravizados de fazerem qualquer coisa e os negros respeitavam essa proibição temendo o pior. A decadência e a saída dos proprietários não incutiu um desejo nos negros de apropriação e destruição dos recursos naturais como geralmente acontece. Eles ficaram numa boa e ponto final. A relação equilibrada dos negros com o meio ambiente fez com que os territórios quilombolas se tornassem as reservas ambientais de vários municípios no Maranhão, o que, claro, atrai olhares cobiçosos de plantadores de soja, empresas de reflorestamento com eucalipto e empresas de infra estrutura( estradas, portos e energia).
domingo, 24 de outubro de 2021
Sobre amizade
A historia que escreveria devia ser a mais simples possível. Uma historia de como se formam amizades. Umas curtas e outras mais duradouras. Qual vem em primeiro lugar e qual a que vem depois? Tudo a seu tempo. Foram os discos e os livros que fizeram com que perdesse a sua timidez natural e com um colega batesse a porta de alguém ao qual nunca fora apresentado. A sua casa e a do seu amigo se dispunham na parte alta do bairro. Os livros e os discos o motivavam a ver mais do que se via a frente. Para chegar aonde desejavam, teriam que atravessar a avenida central da cidade, cujo nome homenageava a maior liderança politica do pais. Tal qual o nome d avenida, o nome do bairro onde moravam remontava a uma batalha na europa. Os cidadãos de sua cidade se esmeravam em homenagear figuras ilustres e com os quais pouco tiveram contato e fatos históricos dos quais pouco tiveram participação. Ele e o colega ansiavam por outros contatos e por outras formas de participação e o contato que fariam na parte baixa do bairro poderia providenciar isso. A mãe do contato os recepcionou em sua modesta casa numa rua com pouca infra estrutura. O contato finalmente apareceu e a conversa transcorreu em torno de literatura e rock. Eles não se demoraram muito, mas ele ficou de prontidão para quem sabe retornar aquela casa. E de fato ele retornou mais tarde sozinho. O contato, que não o esperava, acolheu-o e a conversa voltou a girar em torno de literatura e rock (Jim Morrison do The Doors e Renato Russo da Legião Urbana. A noite não poderia encerrar tão cedo. O contato propôs que fossem de ônibus a um bairro vizinho. Neste bairro um musico e graduando em direito o esperava para comerem uma pizza e aumentarem os seus conhecimentos musicais e literários. E assim terminou a noite: três colegas comendo pizza e conversando sobre The Doors e Legião Urbana.
sábado, 23 de outubro de 2021
A viagem e a comunidade quilombola
Os nomes de comunidades a beira da estrada se sucediam. Planejara o almoço para um restaurante no município de Peritoro. Almoçariam rápido. Cem quilômetros separavam a cidde de Peritoro da cidade de Caxias. Estimava em quase duas horas o tempo para cobrir a distancia. Tantas vezes viajara de ônibus por essa estrada nas férias de julho. Gravara na memoria somente os nomes das cidades que margeavam a pista. Gravara sobretudo a rodoviária de Peritoro, local de parada que antecedia os municípios da região do vale do Mearim e do vale do Itapecuru. Ele não descia mais na rodoviária de Peritoro com o pensamento voltado a um possível transporte que o transportaria e transportaria a sua família. Um possível transporte que sabe lá Deus que horas estacionaria na rodoviária. Descolou-se dessas memórias e descobriu a vantagem de disparar num carro. Com um carro, ele e seus colegas paravam onde quisessem. Aceleravam e desaceleravam de acordo com o ritmo desejado para a viagem. A velocidade que um carro imprime numa estrada federal não é a mesma que um carro imprime numa estrada vicinal. Os cuidados que se tem numa não são os mesmos que se tem em outra. Engana-se quem iguala os propósitos da viagem ao proposito das comunidades. Por mais que o carro acelere e chegue a tempo, a comunidade vê a vida de outro jeito.. A comunidade recebe a visita com toda educação o que pode mudar caso a conversa enverede por propostas indesejáveis. Um grupo de plantadores de soja vindos do Paraguai enviavam propostas de acordo para o senhor Edivaldo, presidente da associação do quilombo de Jacarezinho, município de São João do Soter. As propostas chegavam ao seu Edivaldo pelas bocas dos advogados que representam os plantadores de soja e o resumo das propostas era que se a associação abdicasse dos cinco mil hectares do seu território, ela receberia 120 hectares e o presidente receberia uma bela soma em dinheiro. Foram várias ofertas e todas elas a associação repeliu.
sexta-feira, 22 de outubro de 2021
A praça da forca
Deram-lhe o nome de Praça da Alegria. Das inúmeras vezes que passeara por essa praça, em nenhuma delas dava presumir o porque da praça ter recebido esse nome. só mais recentemente soube que antes a praça atendia pelo nome de Praça da forca relativo ao fato de que nela ocorreram vários enforcamentos durante o século XIX e talvez por isso quando os enforcamentos cessaram a municipalidade de São Luis resolvera altear a designação da praça. Cometeu-se tantos enforcamentos e não lera nenhum comentário a esse respeito em quase toda sua vida. Lera recentemente uma matéria no jornal “O Estado do Maranhão” cujo cerne era a Praça da Alegria. Uma das ultimas matérias produzidas no jornal visto que ele fechou as portas e desligou as máquinas. A cidade de São Luis que surge no século XIX ainda é uma cidade muito rural, com muitos terrenos baldios muitas quintas. Os enforcamentos aconteciam num terreno baldio que anos mais tarde viraria a Praça da Forca. Aqueles que assistiam um enforcamento ou mais certamente se sentiam incomodados pelo evento ainda mais acontecendo tão perto de casas. Quanto mais distante do centro de São Luis mais inconstante a presença de casas na paisagem e bem possível que fossem casas de pessoas humildes. Essas pessoas se sentiam incomodadas pelos enforcamentos mas deviam pensar que não podiam fazer nada, pois os enforcamentos partiam de uma decisão das autoridades locais. Essa mescla de incomodo e impotência perante aos enforcamentos tornou as pessoas indiferentes aos fatos que se desenrolavam a olhos vistos.
segunda-feira, 18 de outubro de 2021
O senhor negro
De uma hora para outra, ele passou a descer sozinho a rua. Ocasionalmente, um amigo o acompanhava. Nem sempre o amigo estava desocupado e nessas ocasiões ele hesitava em descer. Não entrava em lugar nenhum sem antes pedir licença e fazer amigos era uma forma de pedir licença ao entrar em determinados lugares. Objetivava ao descer a rua um pequeno bar/restaurante que vendia mocotó aos dias de domingo pela manhã. O bar de dona Elisabeth, maranhense, nascida no município da Matinha, baixada ocidental, carregava suas sutilezas e excepcionalidade, o que atraia mais consumidores do que as demais mulheres que também cozinhavam mocotó na rua para garantir um trocado. A principal delas era o fato de que a pessoa ao comer o mocotó podia também tomar uma cerveja ou várias cervejas, dependendo do mocotó e do papo. Ele sempre andava atrás de um bom papo para aplacar a rotina ou o calor do dia. As circunstancias em que conheceu o bar de dona Elisabeth foram bem típicas disso: sozinho em casa. sem fazer nada, convidou o amigo para caminharem pelas ruas próximas e quem sabe comer alguma coisa. A fisionomia do bar era bem simples e pouco destoava da vizinhança. Quem frequenta são os moradores ou ex-moradores que veem no bar um espaço para reviver as amizades. O amigo o apresentara ao bar no momento em que moradores e ex-moradores reinavam no ambiente. Todo o tempo alguém entrava para comprar mocotó, cerveja ou cachaça. Ele provou e aprovou o mocotó. Quis repetir mais vezes. Sem sucesso. Ou o mocot[o terminara cedo ou a dona Elisabeth não cozinhara como no dia em que faltara água no bairro todo. Não se deu por vencido. Arriscou num domingo. Por sorte, a cozinha se atrasara um pouco. Esperou mais de vinte minutos enquanto a cozinheira concluía o serviço. Nesse interim, adentrou um senhor negro que se sentou a sua frente. Calado sentou, calado ficou. Poderia ter ficado mais tempo para ver se o senhor negro lhe concedia uma palavra. Saber como era a voz dele. Ficaria pra próxima.
sexta-feira, 15 de outubro de 2021
os caminhos irrefletidos da alma humana
Olha só os campos naturais. Nada de espetacular a olhares frios e superficiais. Até onde a vista alcança, quer dizer, uns poucos metros a sua frente. Dificil andar pelos campos naturais para quem pisa em terreno seguro. Olhando de longe, pensa logo que é moleza andar por essas terras. Dá até pra dizer vou bem ali e volto já. Tamanha a facilidade porque nos campos naturais não se vê obstáculos visíveis. Os obstáculos oferecidos pelos campos naturais ficam um pouco mais embaixo. Basta escavar que aparece. Muita água no subsolo e que nos meses de inverno bom e esplendoroso se ergue e sobrepõe-se ao solo. Nos meses de verão, o horizonte cabe num olhar: o mangue, as ilhas, o capim e o fogo. Nos meses de inverno, não se pensa no horizonte como a distancia a ser vencida. O barco a motor vence a distancia em poucos minutos com seu vagar solene sonolento. Poucos sabem quais são e onde ficam os portos onde embarcam e desembarcam aqueles que navegam por esses caminhos irrefletidos da alma humana.
terça-feira, 12 de outubro de 2021
Lendas e Mitos nos campos naturais de Anajatuba
Bem no fundo da sua alma, bem lá no fundo, ele ambicionava conhecer a foz do rio Mearim, no município de Arari, e as margens do rio em toda a extensão desde a foz até a baia de São Marcos. Trazia esse desejo tão expressivo. Um desejo que datava de pouco tempo e que não sabia bem como expressa-lo porque podia parecer algo de outro mundo. Afinal, o que há de tão significativo em um rio? As cidades, na maioria das vezes, originam-se dos rios porque elas se erguem sobre suas margens. A relação da cidade e seus moradores com a água doce se reflete na memória coletiva e na memória individual. A região dos campos naturais do rio Mearim, uma região acochada de água por seis meses, convive com a lenda de bolas de fogo que se transformam em uma mulher, a Cangapara. A lenda da Cangapara é uma forma de afastar visitas indesejáveis e proteger o território de quem possa vir a ameaça-lo com projetos de ganhar dinheiro fácil. A Eliane, presidente da União das comunidades quilombolas de Anajtuba, foi convidada para viajar a ilha dos Caranguejos por um pesquisador. Ao ouvir o nome ilha dos Caranguejos, ela se retraiu. “Vou nada. É um lugar encantado. Ninguem dorme lá”. Lendas e mitos de forte elemento hídrico que se contrapõe ao e complementam o espaço das cidades. As cidades não vivem sem água doce, mas, ao mesmo tempo, tem grandes dificuldades de convivência com esse elemento. Para resolver o dilema da convivência, as cidades constroem portos, estruturas de captação de água, estruturas de tratamento de esgoto e etc. nem tudo, porem, resolve-se com construções metálicas. As construções imemoriais (lendas, mitos) provam justamente esse ponto
domingo, 10 de outubro de 2021
Reintegração de posse nos campos naturais de Anajatuba
Amanheceu . Não saberia dizer a hora certa. Amanheceu onde mora como deve ter amanhecido em outros lugares. Um dia, quem sabe, veria o minuto exato em que a escuridão da noite some para dar lugar a claridade do dia. O dia começa cedo com as pessoas despertas e prontas para tocarem a vida, com o comerciante levantando as portas do comércio e com a fervura da água do café. Um dia normal começa assim e para terminar normal não precisa mais do que isso. Caso falte alguma coisa para completar o dia, é só ir ao comércio perto da casa. o dia oito de outubro de 2021, para a comunidade de Afoga, municipio de Anajatuba, provavelmente, transcorreria da maneira usual. Contudo, não foi bem assim. As horas passaram e carros da policia militar chegaram a comunidade para cumprir uma liminar de reintegração de posse expedida pelo Juiz de Anajtuba em favor do senhor José Mauricio Dias Barroso. Os moradores de Afoga se surpreenderam com o aparato policial. Moveu-se uma verdadeira operação de guerra para cumprir uma decisão judicial contra uma comunidade tradicional de mais de cem anos situada a beira dos campos naturais. A questão judicial envolve os campos Naturais onde os moradores do Afoga soltam seus animais e criam seus peixes. Os campos naturais não tem dono pois é uma área da união. Essa compreensão de não haver um dono perdurou por décadas. Bem, esssa compreensão vem mudando e ação de reintegração de posse do senhor José Mauricio Dias Bezerra prova essa tese. Os campos naturais são uma área rica em água, solo e capim. O senhor Jose Mauricio com essa ação pretende se apossar desse espaço para criar gado. O que originou a ação de reintegração de posse foi a compra de dois hectarespor parte do senhor Jose Mauricio. A partir dessa compra, ele quis esticar mais a sua propriedade para um total de 34 hectares. Entrou coma ação contra a comunidade alegando que os moradores invadiram seu terreno. O advogado dos moradores não se pronunciava no processo o que levou o juiz decidir a favor do Jose Mauricio. Como sempre, o judiciário toma decisões sem tomar os devidos cuidados com referencia ao processo.
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terça-feira, 5 de outubro de 2021
A ausência de regularização fundiária dos territórios quilombolas no Maranhão
Numa situação de total ou parcial ausencia do Estado, as comunidades quilombolas do Maranhão se sentem completamente a mercê do avanço do agronegócio e a implantação de grandes empreendimentos sobre seus territórios. A comunidade quilombola de Jacarezinho, município de São João do Soter, leste maranhense, certificada pela Fundação Palmares e com processo de regularização fundiária aberto no Incra, nega-se a aceitar as propostas de acordo vindos de um plantador de soja paraguaio que deseja desmatar parte do território de Jacarezinho. Foram várias investidas através de mensagens de Zap e das visitas de advogados contratados pelo plantador de soja. O território de Jacarezinho é objeto de cobiça por grileiros de todos os lugares que não vão parar quietos até conseguirem concretizar o negócio com a derrubada da floresta. A vista mais recente de um advogado a mando do paraguaio aconteceu há alguns dias atrás . a advogada atende pelo nome de Carla e antes de prestar serviços para plantador de soja e grileiros auxiliava a comunidade de Jacarezinho no seu processo de regularização fundiária. Ela conhece a comunidade e usa esse conhecimento a favor do seu patrão despudoramente. Em todas as suas visitas, a comunidade lhe bateu as portas. A demora em regularizar os territórios quilombolas por parte dos órgãos fundiários para os plantadores de soja e grileiros é um sinal que está tudo bem para que possam forjar um documento no cartório e pedir uma licença de desmatamento na Secretria de Meio Ambiente que autorizará na hora. A vagareza no processo de regularização fundiária é um dos problemas que mais aflige as comunidades quilombolas porque é nesse vácuo que as empresas entram para ocupar os territórios tradicionais. O caso da EDP que instalou uma linha de transmissão nos campos naturais de Santa Rita, Anajatuba e Itapecuru contextualiza bem os problemas advindos com a desregularização fundiária praticada pelo Incra, Iterma e DPU no estado do Maranhão. Como a empresa sabe que as comunidades quilombolas não tem documentação definitiva dos seus territórios e que os campos naturais não são vsitos como espaço ambiental de relevante importância para a sociedade, ela detona com o que ela vê pela frente. A sua segurança de que não vai acontecer nada fica por conta do escritório de advocacia que a representa e da justiça que atende os seus pedidos de liminar na mesma hora.
domingo, 3 de outubro de 2021
O abandono dos rios
Ia a praia com os outros. Os outros o levavam. Se pudesse escolher, escolheria ir para um rio qualquer de sua cidade. Que pena, essa sua cidade não comporta nenhum rio. Outrora havia rios que cruzavam a cidade por todos os lados. Chegou a ve-los em suas versões esquálidas. Via-os de longe porque ou os via de dentro de um carro ou os via de dentro de um ônibus. Longe e do alto. O rio espera ser visto de perto e de suas margens. As pessoas chegavam perto dos rios e banhavam-se neles. Presumiam que dentro deles sentiriam tranquilidade. A cidade cresceu e as pessoas abandonaram os rios e os seus hábitos de lavarem-se e de lavarem suas roupas e louças neles. Os rios que as pessoas faziam questão de mergulharem foram trocados pelas praias. O que motivou a troca? A longa faixa de areia que vai de uma ponta a outra da cidade? A impressão de que as vidas das pessoas a beira da praia independem umas das outras? Bom lembrar o quanto as pessoas mantinham distancia do mar séculos atrás. O mar era visto como uma via de transporte. Banhos de mar viraram recomendação no século XIX. Aventava-se a possibilidade de que com os banhos de mar a saúde das pessoas melhoraria. Foi um pulo para que as pessoas adotassem o banho de mar como pratica social de saúde física e mental. Isso tudo significou o abandono dos rios e quem é abandonado estampa na cara o que sente. No caso dos rios, a principal estampa é a degradação ambiental.
sábado, 2 de outubro de 2021
Refazenda
Por quase setenta anos, quem queria fazer musica no Brasil tinha uma certeza: antes de qualquer coisa o musico devia gostar de samba. O samba se tornou a maior expressão cultural do pais graças ao governo Getulio Vargas que viu no gênero possibilidades de controle ideológico e social da sociedade brasileira. Em alguns momentos, essa certeza de que o samba era a maior expressão artística cultural foi contestada por movimentos modernistas como a Bossa Nova, Jovem Guarda e tropicalismo. Movimentos que em suas genéticas apresentavam elementos oriundos do samba por mais que defendessem a modernização do gênero com a inclusão de samba, rock e outros gêneros musicais em sua composição. O que esses movimentos criticavam era que devido as transformações econômicas sociais e culturais pelas quais o Brasil passava a musica não podia ficar limitada a padrões estéticos consagrados nos anos da republica velha e ditadura varguista. O samba se formata na ditadura de Getulio Vargas mas suas raízes aparecem no começo da republica período que ficará conhecido como republica velha. Afirmar que quem cantava samba trazia consigo um forte tom emocional que transmitia uma sensação de saudade não seria nenhum exagero. O titulo do primeiro disco de João Gilberto “Chega de Saudade” investe contra a emotividade do gênero. Como foi escrito, os genros musicais modernistas criticavam o samba não com a inenção de depo-lo e sim com a intenção de reinventa-lo. Um pouco dentro das discussões que se travavam nos anos 60 de reinventar o Brasil e assim por diante. Reinventar o Brasil seria superar o modelo de desenvolvimento social e econômico que imperava desde a colônia. Superarem todos os setores. O golpe de 64 e o golpe dentro do golpe de 68 visavam manter as estruturas do jeito que elas estavam. E mantiveram. Os gêneros musicais modernistas que cobravam a atualização do samba em termos estéticos e políticos ou foram abafados ou foram acondicionados no sistema de produção de informações. Gilberto Gil em 1975 grava o disco Refazenda cuja musica principal tem o mesmo nome. A musica cantada por Gilberto, e que a Nação Zumbi regravou no álbum “Radiola” em, tem como base o verbo “refazer” e brinca com seus sentidos e um desses sentidos é a palavra refazenda. A economia brasileira ficou conhecida por ser uma grande fazenda de cana, café, gado e etc. e os primórdios do samba vem das batucadas dos negros na fazenda. O que Gilberto coloca é que para ele se refazer deve dar alguns passos para trás como aconteceu com a sociedade brasileira pós golpes de 64 e 68. Isso inclui aceitar que o Brasil é uma refazenda em que o que pode ser cantado é tamarindo, abacate, namorar e etc. Gilberto Gil, discretamente, rele o samba tradicional e faz uma critica politica tanto ao samba como o Brasil arcaico. Era possível ainda elaborar processos estéticos que confrontassem a realidade e esses processos estéticos passavam pelo samba e suas tradições. Se a pretensão dos modernistas dos anos 60 era reinventar o Brasil, as produções de final dos anos 70 em diante partiram do premissa de que o Brasil é essa refazenda conservadora e temos que lidar com isso. O Mangue Beat, movimento modernista dos anos 90, é o ultimo grande suspiro dessa linhagem de releitura do samba e a critica a sociedade a partir dessa leitura. Depois desse ultimo suspiro, o que se escuta é a negação completa do samba e da historia de suas relações com a sociedade.
musica sertaneja
Simplesmente, ele detestava determinadas músicas sertanejas. Não saberia dizer o quanto. as músicas retratavam um país pelo qual passou ao largo toda a sua vida. Conhecia seu pais de narrativas e imagens que apreendia ao abrir um livro ou uma televisão ou um computador. As musicas sertanejas transbordavam em emoções pouco usuais para um ser urbano como ele. quer dizer, pouco usuais para ele porque seus vizinhos escutavam essas e outras musicas de volume alto. Quer se queira ou não, ter vizinhança pressupõe viver surpresas. Naquele dia, porem, a surpresa viria da sua própria casa. A empregada deixara o rádio ligado no quintal. Tocava uma música sertaneja. Reconhecia a dupla sertaneja. Os nomes ele esqueceu. Nada grave esquecer os nomes daqueles dois. Ah sim!!1 Chitãozinho e Xororo cantavam Galopeira. Relembrar os nomes o satisfez e provocou um debater interno. Porque os intelectuais brasileiros não conseguiam elevar o debate em torno de uma determinada musica sertaneja? Uma determinada musica sertaneja que alimenta diversos comportamentos sociais e econômicos da sociedade brasileira.
quarta-feira, 29 de setembro de 2021
A carta escondida
Quase não dava pra ler as imagens que o seu amigo enviara pelo celular. O amigo vasculhara os arquivos da família e topara com aquelas folhas esmaecidas. Passados mais de cem anos, as folhas se mantinham intactas se bem que ofereciam uma certa dificuldade para quem as quisesse ler. No teor da mensagem, beves palavras explicativas. Tratava-se de uma reza que a bisavó passara para avó e que por fim fora entregue a mãe daquele seu amigo. Ora, aquilo era um documento histórico. As mulheres da família dele transmitiam através de uma carta palavras que procuravam curar os doentes, as grávidas e etc. Carecia de conhecimento cientifico? Pode até se, mas transbordava de conhecimentos e sentimentos humanos. A carta também era uma prova de que a comunidade quilombola de Peixe residia naquela terra há mais de cem anos. O conhecimento histórico é uma das vertentes do conhecimento humano e quanto mais historias como essa forem restituídas as populações quilombolas mais elas se fortalecem no seu dia a dia.
terça-feira, 28 de setembro de 2021
A cobiça pela florestada dos quilombolas
A cobiça pela floresta dos quilombolas
Ela pediu o direito a fala. Sentia-se tocada pelas falas anteriores. Moradora do povoado Centro da Floresta, munciipio de Colinas, se ressentia do individualismo que seus vizinhos experimentavam. “ A pessoa se tranca em casa e sai de moto. É assim o dia todo”. Quase dá pra dizer que ninguém põe freio no fenômeno das motos pelo interior. Quem adquiri uma moto quer ficar por dentro das novidades e por dentro da velocidade, essa é a verdade. O dinheiro que se compra uma moto vem de onde? No caso da comunidade dessa senhora pode ser que venha da venda de lotes no território quilombola de Centro da Floresta que faz parte de um assentamento da reforma agrária Jaguarana de responsabilidade do Incra. O incra desapropriou a fazenda da Jaguarana como uma forma de garantir o modo de vida de três comunidades negras que residiam no território. A discussão a respeito do que vinha a ser quilombola mal começava. Não resta dúvida que muitos evitam se identificar como quilombolas. alguns elementos que subjazem a identidade quilombola são aa sensações de pertencimento a um grupo familiar e a um território físico. Ela se recordava das matas que circundavam o território quilombola de Peixe e que os fazenderios desmataram quase tudo para criar gado e plantar soja. Anos antes desses desmatamentos, montada num jumento e acompanhada de um pequeno grupo, ela pegou chuva forte na estrada vicinal que a levava de volta a sua comunidade. A mata sombreava o caminho e esse fato certamente atraiu tamanha chuva. Uma floresta em pé desperta a cobiça de desmatadores. A fazenda Colina Verde, que planta soja, comprou a posse de vários moradores do Centro da Floresta e pretende desmatar a área conhecida por Perdido que é justamente a reserva legal da comunidade.
segunda-feira, 27 de setembro de 2021
Empresa EDP ameaça comunidades quilombolas em Itapecuru Mirim
A experiência ensina que a humildade nunca foi um item em que as empresas se apegassem com o devido cuidado. Em compensação, arrogância e desprezo afloram com facilidade assim que a empresa se encontra num beco sem saída ou numa grande enrascada. A empresa de energia EDP se encontra numa enrascada daquelas. Ela comprou os direitos da implantação de uma linha de transmissão cujo trajeto vem desde um complexo eólico no Piaui até a região projetada como portuária na baia de São Marcos. O cronograma de entrega da linha de transmissão se atrasou nos últimos dias em função dos inúmeros problemas que a instalação dessa linha de transmissão ocasioou e ainda ocasiona na vida de milhares de famílias que retiram seu sustento dos campos naturais que interligam o rio Mearim as áreas de terra firme onde residem diversas comunidades de Santa Rita, Anajatuba e Itapécuru Mirim. O impacto mais direto diz respeito ao fato que os cardumes de peixes que subiam o rio para chegarem a aos campos naturais onde procriavam com tranquilidade desapareceram dos campos e dos tanques abertos pelos moradores locais porque a EDP com pressa de ganhar dinheiro na bolsa de valores meteu suas maquinas em pleno inverno e em plena época de piracema. Quem não sabe que a piracema é um momento crucial para a reprodução dos peixes e que deve ser respeitada de acordo com as normas interpostas pelos órgãos ambientais ? Os funcionários da EDP desfizeram a lição de casa no quesito biologia e provocaram barulho e poluição nos campos em plena piracema. Os peixes simplesmente sumiram e nenhum recado de quando retornam foi deixado. A empresa argumenta que os impactos se restringiram a região do Sitio do Meio, município de Santa Rita. As comunidades da região do Papagaio, mais abaixo, contestam essa argumentação e exigem que a empresa indenize os prejuízos que tiveram ao não pescarem nos seus tanques. Os advogados da comunidade de Papagaio apresentaram representações em todos os órgãos que porventura tenham alguma ligação com a obra e com os impactos que ela causou. A empresa procura nos últimos dias terminar a obra na região da comunidade quilombola Monge Belo, município de Itapecuru Mirim , onde faltam poucos detalhes. Como das vezes anteriores, a empresa entra nos campos naturais com desrespeito, um desrespeito ao mesmo tempo social, ambiental, econômico e cultural. Por conta desse desrespeito, as máquinas da EDP atolaram diversas vezes e a empresa continua muda em relação as cobranças das comunidades que resolveram interditar por completo o canteiro de obras da empresa. Com mais de três dias de ocupação, finalmente a EDP se pronuncia em tom de ameaça. Ou as comunidades aceitam um acordo em que a empresa se compromete a doar cestas báscias referentes aos prejuízos causados pela obra ou a empresa retira a doação e entra com uma ação na justiça para a desintrusão.
A secretaria de meio ambiente que atende o agronegocio
A comunidade quilombola de Peixe, município de Colinas, tem a maior parte do seu território devastado pelo agronegócio comandado pelos políticos da região. Os quilombolas para retomarem seu território tradicional ocupado por monoculturas insistem em fazer suas roças de mandioca e arroz ( o que inclui destocar queimar plantar e etc) porque sem plantar as suas resistências diminuiriam a cada dia o que seria indesejável para aqueles que acreditam no direito da comunidade a seu território. A decisão de manter a roça representa um desafio perante as forças politico econômicas de Colinas já que essas forças sustentam o avanço do agronegócio no município e nos territórios quilombolas e nas áreas de reforma agrária. A secretaria de meio ambiente do município cobrou explicações da associação de Peixe porque os quilombolas roçaram uma pequena área do seu território. A mesma secretaria não cobra explicações dos fazendeiros e plantadores de soja que desmatam centenas de hectares de Cerrado e mata de babaçuais. Caso alguém pergunte porque essa diferenciação, a secretaria certamente responderia que quem licencia desmatamentos com vistas a plantio de monoculturas atende pelo nome de Secretaria Estadual de Meio Ambiente. O órgão responsável pelo licenciamento atende por esse nome, mas o órgão se nega a atender as solicitações/pedidos de comunidades tradicionais, associações e organizações da sociedade civil que denunciam desmatamentos irregulares. As comunidades esperam que suas solicitações sejam atendidas ou pelo menos que o órgão responda alguma coisa. O que se vê é o contrario. O órgão ambiental do município atendeu uma solicitação do fazendeiro que disputa com a comunidade quilombola de Peixe parte dos mais de mil hectares do território.
segunda-feira, 20 de setembro de 2021
o plano da imaginação infantil
Ele crê que o melhor aniversario ainda está por vir. Os adultos parabenizavam pela sua data festiva. E o presente? Se todos os convidados de seus pais além de parabéns lhe dessem presentes, com certeza, o seu dia ficaria mais reluzente. Pode um dia superar os demais dias do ano só pelo simples fato de comemorar o nascimento de uma pessoa? Ele comemorava o aniversario mais pelos outros do que por si mesmo. A sua única felicidade transparecia na hora que ganhava presente de alguém. Um presente inesperado era fatal para sua sensibilidade de criança suburbana. Um tio trouxera uma revista do Fantasma para ele ler. Não fazia a menor ideia do que representava o Fantasma para a historia dos quadrinhos. Deu de ombros e leu rapidamente. Contou com um pouco de sorte. O tio militar veio de férias; por um acaso, entrou numa banca de revista, lembrou dele e comprou a revista. Comprar uma revista em quadrinhos para uns pode sugerir pouco. Para ele, cujo arsenal literário se resumia a uma ou outra revista, não. Adoraria chegar em sua casa ou na casa de sua avó e encontrar um tio ou tia vindos de férias com uma dúzia de revistas que lhe presenteariam. Todos os dias, se fosse possível. Imaginem um quarto tomado de revistas em quadrinhos. Amontoados e espalhados que nem a cara do seu dono. Infelizmente, a injustiça literária prevaleceu e as revistas que ansiava ficaram para trás em segundo plano. O plano dos presentes guardados no mapa da imaginação infantil.
Vitória histórica da agricultura familiar em Buriti
Um conflito socioambiental se iniciou em 2016 no município de Buriti, baixo parnaiba maranhense. Um conflito a mais ou a menos não faria a menor diferença para a região, pois o baixo parnaiba se configura como uma das regiões do estado do Maranhão com mais conflitos socioambientais. No entanto, o conflito ganhou uma dimensão regional visto que ele afetava comunidades tradicionais que fincaram suas raízes nas Chapadas e Baixões de Buriti há quase cem anos. As comunidades tradicionais do Araça e do Brejão brigaram por quase cinco anos com a empresa João Santos e a família Introvini para que reconhecessem os direitos das comunidades a Chapada do Brejão, uma área de mais de cinco hectares. O grupo João Santos vendeu a Chapada para os Introvini num processo de liquidação de propriedades e ativos com vistas a arrecadar recursos para os herdeiros antes que a justiça decretasse falecnia da empresa e as propriedades fossem hipotecadas. Os dois grupos econômicos negociairam a Chapada mas esqueceram de incluir as comunidades que usufruíam da Chapada e do Baixão. As comunidades se rebelaram contra os propósitos das empresas de fecharem negocio o que acarretaria a expulsão da comunidade do Brejão e o desmatamento do Cerrado com consequências terríveis para o meio ambiente e para a vida das pessoas. As comunidades questionaram a negociação pois duvidavam que o grupo João Santos era realmente proprietário de cinco mil hectares. Em seguida, questionaram o processo de licenciamento aberto pela família Introvini e confirmado pela Secretria do Meio Ambiente do Maranhão. Os questionamentos do licenciamento sugeriam que o estudo de impacto ambiental omitia diversas informações sobre o meio físico e o meio social. As omissões de praxe que a SEMA não investiga. A secretaria licenciou o empree3ndimento que desmatou mais de dois mil hectares sem responder os questionamentos das comunidades e da sociedade civil. Os recentes fatos relacionados com o conflito foram o despejo de agrotóxico sobre a comunidade do Araça e os moradores desta comunidade terem impedido os trabalhos dos funcionários dos Introvini na Chapada. O conflito parou na Vara Agrária porque os Introvini entraram com um interdito proibirotio contra a comunidade do Araça e os caos de conflito agrário não fica mais na comarca e sobem para São Luis. No dia 14 de setembro de 2021 a vara agraria vistoriou a área em conflito e constatou que as comunidades residem do lado desta área o que indica a posse dessa terra e constatou crimes ambientais cometidos pelos Introvini. Para cessar o conflito entre as partes, a vara agraria perguntou se haveria possibilidade de acordo. As partes concordaram. Os introvini continuam com o empreendimento mas abrem mão de várias áreas de Chapada ricas em bacuri que foram desmatadas mas não foram plantadas.
quarta-feira, 15 de setembro de 2021
Dupla identidade
Na segunda semana de setembro de 2021, a comunidade quilombola de Tanque da Rodagem fechou a rodovia que liga a cidade de Matões ao restante do estado e que passa pelo seu território. Os quilombolas respondiam, dessa forma, a presença de jagunços armados e tratores que derrubavam casas tudo a mando de fazendeiros/plantadores de soja paranaenses que planejam expulsar os quilombolas e despeja-los em algum pedaço de terra qualquer. Os quilombolas de Tanque da Rodagem não reconhecem o acordo aceito pela direção da associação que aceitou uma área de 120 hectares doado pelos fazendeiros enquanto abrem mão de uma área de mais de dez mil hectares. Algumas famílias aceitaram o acordo em que não só abriam mão de suas posses no território quilombola como também assumiam que invadiram a terra a partir de 2010. O agronegócio para desmobilizar as comunidades tradicionais defende e apregoa a tese que essas comunidades invadem terras que se destinam ao plantio de monoculturas como soja e eucalipto. Quem primeiro chegou com essa conversa em Tanque da Rodagem foi a Suzano papel e Celulose que entrou com uma ação de reintegração de posse. Uma empresa que sai sabe Deus de onde ameaça a comunidade de remanejamento para se apossar de seu território e plantar milhares de eucalipto para sua fábrica de celulose planejada em Palmeirais do Piaui. O planejamento da empresa desprovia a comunidade de seu território e comunidade tradicional sem seu território ancestral não se configura como comunidade tradicional porque uma não vive sem a outra. É justo perguntar as famílias que assinaram o acordo: que identidade repousa na terra que os plantadores de soja lhes doaram? Ela equivale a mesma identidade construída por décadas em Tanque da Rodagem? Ou ela terá que se reconstruída com bases sociais vinculadas ao agronegócio?
terça-feira, 7 de setembro de 2021
Os agregados de Buriti do Boi
Os agregados de Buriti do Boi
Em que momento a classe de proprietários do Baixo Parnaiba maranhense passou a negar suas relações historicas com os agricultores familiares que para sobreviverem se agregaram como tábua de salvação as suas propriedades? Essa é uma pergunta recorrente com relação ao Baixo Parnaiba tendo em vista o papel que cabe aos proprietários tradicionais no tocante a expansão da fronteira agrícola. O papel dos proprietários tradicionais foi o de facilitar a entrada dos plantadores de soja no Baixo Parnaiba maranhense a partir do final dos anos 90. A característica dessa região nunca foi de grandes propriedades a não ser as clássicas famílias despudoramente latifunidarias como os Lyra, os Leite e os Barcelar. Os pequenos e médios proprietários se atinham a terrenos que começavam no Baixo, perto de cursos de água, e terminavam no topo da Chapada. A propriedade é sempre uma extensão do seu proprietário e de seus projetos econômico e sociais. No máximo, um proprietário anseia com uma casa grande um curral, algumas cabeças de gado e moradores para vigiar a criação. O tamanho médio de uma propriedade dava conta desse anseio. Entretanto, em qualquer conta, entra um senão. No caso das propriedades em questão, o senão é relacionado com o fornecimento de alimento para o gado. A chapada analisando a mentalidade dos proprietários, seria esse ativo econômico ambiental capaz de gerar e fornecer alimentos (capim) as suas criações. E os agregados funcionariam como seus empregados/vigias informais. Esse é o panorama da formação de parte da classe proprietária do Baixo Parnaiba maranhense no século XX. No avançar do século, os proprietários ou envelheceram ou morreram. Em qualquer um dos casos, quem herdou a administração da propriedade não tem os mesmos vínculos nem com a terra e nem com os agregados. No Maranhão, a figura do agregado ainda é uma figura que persiste e essa persistência dificulta o avanço do agronegócio sobre o Cerrado do Baixo Parnaiba porque o agregado é visto como alguém da família do proprietário e assim por diante. Quando o proprietário ou alguém ligado a ele decide vender a propriedade tem que observar os direitos do agregado. Muito difícil isso acontecer. As filhas do proprietário de Buriti do Boi, comunidade tradicional de Chapadinha, vendeu quinhentos hectares de Chapada para um gaúcho chamado Mirto. O documento oirignal da propriedade se refere a uma área de 200 hectares no Baixo e não na Chapada. O Mirto foi fazer os marcos na Chapada referente a sua pretensa propriedade. Os agregados de Buriti do Boi não permitiram porque o gaucho quer desmatar a Chapada para plantar soja e é a área rica em Bacuri. È uma área riquíssima em bacuri e da qual os agregados coletam o fruto e vendem para compradores de Chapadinha e Teresina. Na hora de vender a Chapada para o gaúcho, as herdeiras de Buriti do Boi não pensaram por esse prisma e sim pelo prisma de lucrar em cima de algo que nem é delas.
domingo, 5 de setembro de 2021
Um nome negro/indigena para um igarapé
O jornalista perguntou ao Valber o nome que ele e sua mulher davam ao igarapé que escorria pela sua propriedade de cinco hectares. Valber respondeu uma vez. E mais uma vez. O jornalista desconfiava se mais tarde se lembraria do nome certo. Pediu papel e caneta. O nome soava diferente. A mulher de Valber se sentara a sua frente para conversar e direcionar as pessoas que giravam a sua volta. “Quero lhe fazer uma pergunta”. “Se eu puder responder...”. “ Fora dos limites da nossa propriedade cresceram um bacurizeiro e um pequizeiro. Tenho medo que alguém os derrube para pranchar”. “ Tem alguma forma de impedir que isso aconteça? Quero ir a secrearia de meio ambiente de Santa Rita para que eles me orientem”. O jornalista explicou que não há uma legislação especifica que proteja nem o bacurizeiro e nem o pequizeiro da mata. Para quem não sabe há o pequizeiro da mata e o pequizeiro da Chapada. Este sim é protegido. A inexistência de uma legislação que proteja essas espécies não quer dizer que o cidadão esteja de mãos amarradas. Os bacurizeiros e os pequizeiros são espécies de vital importância para as populações pobres do Maranhão que vendem os frutos em natura ou as polpas de fruta. Os seus frutos carreiam dividendos para a população pobre de Santa Rita ou de qualquer município maranhense. Os frutos dão lucros sem cobrar nada em troca. Assim como o bacuri e o pequi, é a juçara. O Valber e dona Josely, mulher dele, são proprietários de um terreno de cinco hectares, o que daria um certificado de proprietários para eles, mas no fundo, no fundo os dois pertencem ao reino dos extrativistas, pois as juçareiras se encarregam de vicejar por todo o ambiente. Sem o extrativismo da juçara, a renda de Valber e sua mulher despencaria nos primeiros meses do ano. O jornalista insistiu em perguntar o nome dado ao rigarapé para que anotasse no papel e não pudesse esquecer. Valber respondeu: “Nambuquim”. “O que significa?”. “Não sei. O nome vem desde os tempos do avô da minha esposa”. O avô morrera com quase cem anos portanto o nome vinha de muito antes deles chegarem ali. Com quase 1005 de certeza, afirmar-se-ia que o nome possuía raízes indígenas e negras.
sábado, 4 de setembro de 2021
O turismo redutor
O ludovicense bem ou mal sabe direitinho o nome da sua rua e se por acaso alguém perguntar ele responderá com o maior gosto como se fosse a questão de prova que lhe dará um dez graúdo que nem um outro aluno conseguirá. Agora, pergunte se ele conhece rua tal, perpendicular a sua. Nunca ouviu falar. “è por aqui ?”. Constatar esse fato é curioso visto que sendo São Luis uma cidade reconhecida como patrimônio da humanidade pela Unesco os seus moradores deveriam se esmerar em aprender tudo em quanto sobre sua cidade. Não é o que se vê e não é o que se ouve. O ludovicense organiza seu interesse e seu conhecimento de acordo com os pontos turísticos. Antes do turismo virar moda e virar uma indústria em São Luis, o máximo de conhecimento histórico-artistico que um cidadão apresentava a um turista se resumia ao teatro Arthur Azevedo. Para a grande maioria da população fazer turismo combinava com praia e as praias de Sao Luis, pelo menos no quesito visual, conquistavam a atenção de qualquer um que pusesse os pés nela. Com os devidos investimentos em infra estrutura e recursos humanos , passou a se vislumbrar um turismo em que se disponibilizavam riquezas arquitetônicas urbanísticas e sociais através de grandes investimentos nas reformas de espaços públicos e construções historicas e na promoção de grandes eventos artísticos. Em alguns (a)casos, grandes mais na auto promoção do que outra coisa. O turismo, repetindo a mesma experiência de muitas cidades do nordeste, tornou-se a maior indústria da economia ludovicense. Ainda assim, cometendo os mesmos equívocos do turismo praieiro que privilegiava uma visão meramente degustativa da realidade e desinvestindo em setores econômicos capazes de alavancar o próprio turismo. Não se investe em educação voltada para a preservação do patrimônio histórico, não se investe em arqueologia, não se investe em cursos com foco em ecologia, produção de alimentos agroecoloicos e etc. A aplicação dos preceitos do turismo em São Luis reduz os potenciais da cidade a uns meros espaços físicos e umas meras narrativas que os turistas esquecem rapidamente. Como o discurso do turismo seja ele qual for foi montado para atender um publico especifico, a maior parte da população de São Luis o vislumbra em situações especiais. No restante do ano a rotina do empobrecimento intelectual prevalece
quinta-feira, 2 de setembro de 2021
Máquinas pesadas atolam nos campos naturais de Anajatuba
Depois de muito tempo que ele entendeu para onde aqueles dois homens, uma mulher e uma criança se dirigiam. Aquela pequena comitiva tinha por direção as ilhas que se formavam nos campos naturais de Anajatuba quando as águas do rio Mearim subiam. Um dos homens retornava as ilhas para conferir a situação dos seus porcos que soltava no começo do inverno e que buscaria quando o rio baixasse. Programara-se para permanecer longe de casa por dois ou três dias no máximo. Sobre os ocupantes do outro barco (um homem, uma mulher e duas crianças) não prestou muita atenção. Dali onde partiam, podia-se navegar para Arari, Santa Rita, Bacabeira ou quem sabe São Luis. Nas ilhas dos Campos naturais, residem várias comunidades quilombolas que para se deslocarem em tempos de rio cheio navegam em pequenas embarcações a motor e em tempos de rio baixo se deslocam a cavalo ou a pé. Caminhar pelos campos naturais requer uma certa dose de experiência; por mais seco que os campos estejam quem anda pela primeira vez é capaz de atolar com bota e tudo. Os quilombolas que fugiam para essas ilhas pelas razões de sempre (escravidão, briga por terras, ameaças de morte e etc) nos séculos passados deviam passar por sérios apertos ao andarem pelos campos descalços. Eles andavam com pressa e descalços agilizavam os passos para que os seus perseguidores não os alcançassem no meio do caminho. Na pressa, os quilombolas largavam tudo que juntaram na antiga moradia, onde cresceram e formaram família. Os fugitivos escolheram as ilhas como refugio pelos fazendeiros ignorarem esses ambientes. Estes tambem podem ter concluído que os negros não dariam mais trabalho indo para lá. Provável que a ignorância/preguiça dos fazendeiros prevalecera porque difícil enumerar o tanto de ilhas que despontam nos campos e os quilombolas se espalharam por todas elas fundando núcleos. Praticamente impensável para os ignorantes/preguiçosos proprietários devassarem os campos atrás de quilombolas. Os fazendeiros/escravocratas foram espertos em deixar os quilombolas em paz nas ilhas pois temiam ou se perderem ou afundarem nos campos. A historia e a arqueologia dos campos naturais de Anajatuba, Santa Rita e Bacabeira é pouco estudada porque se fosse bem estudada a empresa EDP empresa sino portuguesa de energia tinha aprendido alguma lição com seus antecessores fazendeiros/escravocratas e evitado enviar suas maquinas pesadas revolverem os campos numa época em que ainda há bastante água por debaixo do solo. Deu no que deu, as máquinas atolaram, vazou óleo e peixes morreram.
quarta-feira, 1 de setembro de 2021
Os embusteiros
Uma vez ele perguntou o que caracterizava os argentinos. Quem se dispôs a responder, não entendeu a brincadeira. Os argentinos eram exímios embusteiros porque vendiam uma imagem que não condizia com a realidade. Articulava essa ideia em torno da literatura argentina pela qual passara a ter um apreço. Até brincava que Jorge Luis Borges era um tio seu. Se quisesse, podia citar vários parentes seus perdidos pela literatura e pelas ruas de São Luis, cidade onde nascera em 1973. Pois bem, a literatura argentina permite que se brinque com as suas pretensões. A literatura brasileira, ao contrario, é mais séria. Essa vaga ideia de que os escritores argentino tendem ao embuste se alicerça na leitura de vários escritos de Borges em que se depreende um escritor cuja originalidade se baseia nos comentários das obras alheias. Diferente de outros casos, Borges escreve comentários não como critica literária e sim como ficção literária.
terça-feira, 31 de agosto de 2021
Nao te faz de doido
O linguajar e sempre uma forma de expressar uma faceta do dia a dia da pessoa ou de um grupo social. Nao se deve observar o linguajar como algo fechado em si como alguns pretendem com relacao a linguagem. Ele resulta das varias interacoes e conexoes que os povos que viveram e os que ainda vivem num espaco geografico e social praticam ou praticaram delibradamene e inconscientemene para melhor compreender grupos sociais diferentes do seu. Nao te faz de doido e uma expressao utilizada pelo ludovicense da periferia em circunstancias especificas. Quem fala essa expressao, e bastante improvavel que se escreva, nao quer chamar o outro de doido e sim quer chama-lo para uma razao social, quer dizer, voce se insere num contexto, sabe das relacoes presentes em determinado lugar e quer fazer o outro de abestado. Nao te faz de doido carrega um sensacao de defender o que e seu independente de quem seja o interlocutor. A maioria da parcela de pessoas que integram as classes sociais mais pobres no Maranhao procuram se expressar de forma educada e solicita ainda mais na presen;a de pessoas provnientes das classes mais altas e das elites. O linguajar se torna entao uma protecao contra possiveis reacoes em contrario. As elites maranhenses se acostumaram a ver a grande maioria dos maranhenses como abestados e que qualquer desculpa esfarrapada ou trocado os convence de que est[a tudo bem obrigado. O deputado estadual Cesar Pires se coloca como um grande defensor dos campos naturais de Santa Rita e um dos campos de luta em que ele se destacou foi a luta contra o projeto de carcinicultura que pretendia se instalar nos campos, causando muitos impactos socioambientais pela dimensao do projeto que se estirava de Santa Rita a Anajatuba. O deputado se posiconou contra o projeto e como num passe de magica virou defensor dos campos contra quaisquer projetos que pretendessem se instalar sem o consentimento da populacao rribeirinha. Ao que parece, essa defesa tao honrosa exclui as comunidades quilombolas porque a possibilidade iminente da instalacao da carcinicultura expulsou diversas familias de quilombolas de Ilha das pedras e expulsaria a comunidade inteira de Mucura ou Cedro caso o Centro de Cultura Negra nao interviesse na ocasiiao. Sabe-se muito bem que a defesa dp meio ambiente e inutil sem a defesa das populacoes tradicionais que interagem com esse terriorio. A defesa do bioma ou do sistema ambiental deve vir junto com a defesa das comunidades. Se nao casos como os da retroescavadeiras que atolaram nos campos de Anajatuba enquanto prestavam servi;o para a empresa sin o portuguesa EDP se repetirao porque os orgaos ambientais e os legislativos n’ao fiscalizam o que as empresas fazem e quando as comunidades cobram compensacao ambiental os funcionarios desconversam, isso nao existe. Bem que um dos quilombolas que escutou tal aberracao poderia ter respondido Nao te faz de doido.
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