Dona Eva -, moradora da comunidade formiga - zona rural de Anapurus, convidava os companheiros do STTR de Urbano Santos para participar de uma reunião sobre Direitos Humanos. Dona Eva, o Izaias e a Francisca fazem o "Curso de Formação de Agentes Populares de Direitos", eles convidariam o José Antonio Basto, militante social para ajudar na transmissão das informações burocráticas sobre o que é "Direito Humano". Os três concluíram o “II Módulo do Curso”, este que é organizado pela SMDH - Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos. A Associação preparou o ambiente com símbolos ligados à luta da comunidade pela posse da terra, materiais importantes como: coco babaçú, palhas, cofos, cabaça, fruto do buriti, linho do buriti e muitas frases coladas no painel sob o fundo de um banner com o nome do evento.
A Comunidade Formiga é um dos povoados mais isolados de Anapurus, por ficar exatamente numa linha de transição entre dois municípios – Urbano Santos e Anapurus, seguindo o nível do rio que passa pelo Povoado Bom Fim. Ali se desenvolveu o patriarcado de famílias influentes que tinha como poderio o domínio das terras e o comercio local. Durante toda história, os agregados levavam uma vida de servidão e consideravam comum.
O Coronel e/ou fazendeiro, proprietário dominava seus agregados que viviam humilhados e trabalhando em situações análogas à escravidão. Formiga compõe o conjunto de fazendas do século XIX, "Ciclo das Fazendas", assim como as fazendas vizinhas Bom Fim, Boa União e Palmira. Alguns posseiros e pequenos proprietários das heranças se vê hoje acusados pelo programa do agronegócio. São proibidos de exercer suas atividades rurais e de colher os frutos da chapada. A terra está em questão e existe um processo jurídico tramitando na justiça envolvendo famílias camponesas a Empresa Suzano Papel e Celulose. Os agricultores pretendem construir um
campo agrícola dentro da área para melhorar a produção, mas estão com medo da Suzano barrar o serviço. Nesse caso somente eles devem manter a resistência, assim como fez a vizinha Comunidade Bracinho em 2011.
Preparação antes do Seminário. |
Ornamentação do Seminário. |
Pequizeiro do Pov. Bela Vista. |
Os moradores da Formiga são desprovidos de uma série de direitos mínimos, como educação e saúde, a comunidade já teve um caso de despejo de famílias. Eles trabalham na agricultura, criam gado e pequenos animais. O interessante é que quase todas as famílias produzem o linho do buriti, extraem dos brejais, secam no sol, armazenam e vendem para compradores de Barreirinhas. Eles ajudam no comércio sustentável do artesanato que movimenta uma grande renda no setor de turismo na região dos lençois, no país e no exterior. Talvez, os tiradores de linhos de buriti nem sabem disso, pois a maioria são analfabetos e vendem um quilo de linho no valor de R$ 8,00 reais. Durante a roda de conversa discutia-se os pormenores principais do entendimento sobre o que é "Direitos Humanos": partindo para os assuntos da Declaração Universal dos Direitos Humanos que completou 70 anos em 2018, Constituição Federal de 1988, Direitos e Deveres dos cidadãos, Reforma Agrária, Direitos Coletivos, Direitos Individuais, Pedagogia da Proteção e Direitos Socioambientais. Uma injeção de ânimo na luta camponesa que durante séculos conquistara seus direitos,
hoje ameaçados pelas reformas trabalhista e da previdência. Foi feito uma reflexão sobre a luta dos primeiros líderes nesta região, a exemplo dos Balaios liderados pelo vaqueiro Raimundo Gomes, o agricultor Francisco Manoel dos Anjos (Balaio) e o quilombola Negro Cosme Bento das Chagas. Estes que diga-se de passagem, deram os primeiros passos em busca da Reforma Agrária, conquista de direitos fundamentais para os sertanejos do interior do Maranhão e sobretudo a liberdade.
J. A. Basto, Sr. Calixto e Dona Maria - "Pov. Bebedouro". |
A reunião terminava meio dia. Um almoço fora oferecido pelos donos da casa: porco caipira, com sobremesa de jaca tirada fresquinha do pé no quintal. Nós ainda tínhamos um compromisso de ir buscar um
bode no “Assentamento Bebedouro” que ficava do outro lado do rio. Nos despedimos e seguimos caminho, uma chuva tinha caído naquela madrugada daí as estradas estragava o diferencial da caminhonete. Cortamos as chapadas voltando pelo Bom Fim, passava em Centro Velho, Bela Vista, Bacaba, São Cosme, Cajazeiras, Todos os Santos até o Bebedouro. Visitava os amigos de luta: Dona Raimundinha - Delegada Sindical, seus filhos que lhe ajudam na luta e o Velho Calixto - patriarca da comunidade. Negociava-se o preço do bode, depois de muita conversa com o Seu Ananias decidimos comprar o animal.
Que vai dá fruto a um "artigo" em prosa mais na frente. Já estava anoitecendo e tínhamos que voltar para casa e, ainda mais pelos caminhos aplainados da Suzano, mas os campos de eucaliptos estão passando pelo corte e os caminhos ficam invisíveis, facilitando a desorientação e até em alguns casos os viajantes se perderem. Voltamos pela estrada do Quilombo Bom Sucesso, Pedra Grande, Lambuso, Surrão, Raiz, Santa Maria e Fortaleza até chegar em nossas residências. Mais um dever cumprido.
"P. A Bebedouro dos Calixtos". |
Zé do Bebedouro, alimentando seus animais. |
José Antonio Basto