quarta-feira, 16 de outubro de 2024
deus fez o mundo
E Deus fez o mundo em seis dias; no sétimo dia descansou. Imaginando que Deus não se mede pelo tempo dos homens, o que significa um dia no tempo de Deus? E por que Deus descansou já que por ser Deus não precisava? O que representa a Torre de Babel ? Milhares de homens almejavam chegar aos céus e a Deus. O que fez Deus? Onde havia só uma língua criou várias e os homens se desentenderam e abandonaram a construção da torre. Por que Deus se irritou, afinal os homens nunca chegariam aos céus ? A hipótese é que os homens tentaram ser Deus e a tentativa foi em vão. O homem sempre tentou ser Deus e quando não consegue a linguagem se mediocriza. A linguagem dos grandes empreendimentos que querem se instalar no Maranhão, ora é, uma linguagem violenta, ora é, uma linguagem que quer deslumbrar. A Eneva enviou um documento a várias comunidades solicitando a permissão de comunidades quilombolas em Anajatuba para realizar vários serviços com fins de obter o licenciamento de um gasoduto que deve passar pelos territórios dessa comunidade ( gás natural que vai abastecer a Vale). Os caras chegam como se as comunidades tivessem por obrigação assinar a solicitação. Assina a solicitação e espera pelo que vem pela frente. E o que vem pela frente e destruição dos recursos naturais.
o tempo se dissolve
O tempo se dissolve e nada a de se fazer quanto a isso. Andava seguro por entre as ladeiras e as vielas que rodeavam a liberdade e o monte castelo. Ladeiras compridas. Ladeiras curtas. A história de São Luís requer um capítulo exclusivo para o assunto ladeiras e vielas. Fora um dia um exímio conhecedor desses imprevisíveis caminhos. Por eles, ia a igreja, ao mercado, a banca de revista, parada de ônibus, a casa inglesa, a eucaristia e etc. Se o ônibus deixava de passar pelo bairro, restava se deslocar de sua casa para a avenida Getúlio Vargas, onde pegaria um ônibus para o centro. Esse ponto de ônibus se chamava casa inglesa. Ninguém mais evocou esse nome. A casa inglesa ficara para trás. Nem parada de ônibus e mais. A liberdade as vezes tem o poder de reverter esse esquecimento. O esquecimento dos que se mudaram e do que mudou por fora. Na estrada da Vitória, por onde passava o trem são Luís Teresina, disparou o número de barbearias e galeterias. Sinal de modernidade. Gente fazendo a barba. Gente comprando galeto. Gente carregando compra. Gente vendendo cerveja. E gente. O bairro da liberdade não para. Nem tudo a modernidade abarca. Menos de espera alguém se expressa como se o tempo se mantivesse igual aos anos 70 e 80. Uma senhora abre o verbo de uma casa fechada: " o de come está vindo para come". A liberdade cresceu e se modernizou por fora. Por dentro o inexplicável a define.
A distopia da reforma agrária
A existência humana imprescinde de determinadas construções sejam elas físicas filosóficas históricas políticas utópicas. A utopia é uma construção humana pois a realidade que se apresenta quase sempre destrói os anseios individuais e coletivos. A utopia é o ideal onde se quer chegar. A utopia socialista, a utopia comunista. O próprio capitalismo produz suas utópias. Por muito tempo escutou se que fazer a reforma agrária era essencial para o Brasil se tornar um país capitalista desenvolvido. Aula básica de história de economia e política. Fortalece o mercado interno distribui renda. O Brasil não fez a reforma agrária e nem vai fazer a reforma agrária que se espera. A sociedade paga um preço alto por essa desfeita da parte da classe política e de suas elites. A comunidade do Araçá, município de Buriti, e uma comunidade tradicional extrativistas do bacuri indígena e negra que sobrevive em quase duzentos hectares cercada por soja. Ela experiencia o pesadelo que virou a utopia da reforma agrária no Maranhão nos últimos anos em que o cerrado maranhense vem sendo devastado pelo agronegócio. Faz quase dez anos que a comunidade enfrenta a família introvini pela posse da chapada do Brejão que abrange dois mil hectares. Chapada que os introvini compraram de maneira irregular do grupo João Santos. Tendo em vista ser a última grande área de Chapada em Buriti, a comunidade do Araçá pretendia reverter a compra da terra e regulariza em seu nome. Ela tentou todos os meios possíveis. A vara agrária entrou em cena e promoveu um acordo entre a comunidade e os introvini em que estes abriam mão de uma outra área em proveito da comunidade. Parece que o acordo finalmente vai ser cumprido. Uma área de 400 hectares na região da Cacimba será georreferenciada pela comunidade. Uma área rica em bacuri e água. Falando assim pensa se que tudo correu as mil maravilhas. Que nada. Do começo da luta da comunidade até os dias atuais, os moradores do Araçá foram bombardeados por agrotóxicos, receberam ameaças dos plantadores de soja e de seus seguranças e viram seus animais serem assassinados a bala. O assassinato de animais criados pelos agricultores familiares e uma prática recorrente dos plantadores de soja visando a intimidação e a vingança.
massa e poder
Não passa um dia que não ressurja uma velha questão que assola a humanidade desde o princípio dos tempos. Por que sabendo dos perigos o homem se sente atraído pelo fogo ? As respostas só têm aumentado e vão na linha da história da religião, da cultura, da economia, do prazer da guerra, da construção das artes, da alimentação e do tempo. O livro "Massa e poder" do escritor Judeu húngaro, Elias Canetti tenta responder essa e outras questões. O homem ao descobrir o fogo ou recebê-lo das mãos de Prometeu pode enxergar na escuridão, espantar animais, limpar a área para agricultura, preparar comida, construir moradias duradouras. O problema é que o fogo interfere diretamente no clima. Os combustíveis fósseis aumentariam essa interferência exponencialmente milhares de anos mais tarde. A história da humanidade é a história da interferência no clima para que o planeta ficasse um pouco mais quente. Só que a interferência tornou o planeta mais seco, e seco muito rápido, mesmo pros padrões humanos. A ação humana não precisa ser destrutiva. Há vários exemplos de agricultores familiares cujas propriedades o fogo não entrou neste ano e nem nos anos anteriores. A noite faz frio, um frio que relembra o frio de décadas passadas quando o cerrado maranhense ainda não fora destruído pelo agronegócio.
comunidade viva deus
A comunidade de Viva Deus trouxe o café para as pessoas que participaram da manifestação em frente a fábrica da Suzano papel e celulose no município de Imperatriz. Um dos componentes do café era o cuscuz de arroz. Uns preferem o cuscuz de milho. Outros preferem o cuscuz de arroz. O cuscuz de arroz liberado para ser consumido pela comunidade fez ressoar na memória os cuscuz de arroz cozinhado pela avó e pela bisavó. Por isso fotografou o cuscuz e enviou a foto para um monte de gente. A namorada perguntou se ele foi feito no pano. Ele achava que sim mas como não havia certeza melhor responder que não sabia. É* bom não saber as vezes porque quanto menos se sabe mais se quer saber. Como por exemplo a situação das comunidades de viva Deus Cannaa Angical eldorado e outras que vivem sob ameaça da Suzano papel e celulose e seus funcionários que intimidam os agricultores e impedem eles de trabalhar. Poucos sabem disso ou quase ninguém sabe disso porque há um controle de informações por parte da empresa. Os poucos que sabiam agora serão muitos depois da visita do Fórum Carajás da Fase Espírito santo dos indígenas Pataxó do sul da Bahia dos quilombolas do Sape do Norte e da CPT Campos do Goytacazes estado do rio de janeiro porque tudo que acontecer contra os moradores será divulgado.
O caso da fazenda eldorado em Imperatriz
Logo após a visita que realizou a comunidade Viva Deus situada a beira da estrada do Arroz entre Imperatriz e Cidelândia e pertencente a família Eldorado, o jornalista Adalberto Franklin escrevia um artigo datado de vinte e um de janeiro de 2015 cujo título era "Má: Reforma agrária e o fim de uma infâmia". No caso a palavra infâmia se referia a situação crítica do ponto de vista social que mais de 100 famílias viviam a beira da estrada há quase uma década e que seriam beneficiadas pelo decreto de desapropriação de mais de três mil hectares assinado pela então presidente Dilma Roussef no final de 2014. Com a assinatura do decreto prévia se que a situação das famílias sairia do crítico para tempos melhores. Passados quase dez anos do artigo de Adalberto Franklin, a situação das comunidades que vivem na fazenda Eldorado piorou consideravelmente e o processo de desapropriação não foi resolvido. E essa não resolução ficou se sabendo em recente visita de ongs e movimentos sociais as várias comunidades que residem dentro da fazenda Eldorado. O pedido de visyoria inicialmente era para doze mil hectares e houve perícia que identificou a área como improdutiva. A vale que se apresentava como proprietária questionou a vistoria e pediu uma nova. Com o projeto da Suzano em construir uma fábrica de celulose em Imperatriz a vale repassa a área para a Suzano que desmata parte da área e planta eucalipto. Sai uma decisão que determina uma nova vistoria e e claro a área e considerada produtiva. A história dessa área remete ao projeto Celmar nos anos 90 em que a Vale em joint venture com capital japonês planejava uma fábrica de celulose para a região. O projeto não deu certo, a ferro gusa carajás empresa da vale assumiu a área que agora pertence a Suzano. A fazenda Eldorado e a última grande área que pode ser aproveitada pela agricultura famíliar no município de imperatriz porque o plantio de eucalipto não está consolidado. Então a presença de mais de mil famílias pleiteando a desapropriação de mais de doze mil hectares e o resultado inequívoco e inevitável da própria ação da Suzano que concentrou milhares de hectares em seu projeto de produção de celulose. Claro que a Suzano não vê desse modo e acha natural agir de forma arbitrária e autoritária como vem agindo com as comunidades. Jogando veneno em riachos, queimando barracos, tocando fogo em roças, tocando fogo em áreas de eucalipto e de mata e acusando moradores, aplicando muitas ambientais , apreendendo veículos dos trabalhadores, utilizando as polícias para intimidar trabalhadores e etc.
os habitos
O hábito em quilombos era, de manhãzinha, tomar café somente acompanhado por farinha d'água e algum pedaço de carne de porco ou gado. O açúcar excedia o orçamento das comunidades quilombolas como também de qualquer comunidade ou família da zona rural. Da mesma forma, no consumo de juçara ou açaí nas comunidades quilombolas ou outras comunidades pobres da zona rural do Maranhão evitava se o consumo de açúcar. Privilegiava-se como acompanhamento peixe frito e uma farinha seca. Quando o assunto é juçara ou açaí, sempre vem à tona quem é mais "puro" na hora de consumir. "Puro" no sentido de que a questão étnica se sobrepõe a qualquer outra forma de ver e tomar a juçara ou açaí. Em Bom Jesus, comunidade quilombola do município de Cândido Mendes, litoral noroeste maranhense, na casa de dona Raimunda, liderança da comunidade, serviu-se um almoço para visitas. Estavam lá para averiguar o problema dos búfalos nos campos naturais. Muita fartura no almoço: peixe, galinha caipira e arroz. Adquiriu se juçara na casa de um parente para completar o banquete. No Maranhão, quando um não tem vai na casa do outro para conseguir. E no Maranhão é bastante normal se fartar de carne e arroz no almoço e na sobremesa bebericar uma uma pratada de juçara ou açaí. Almoçaram bem. Veio a juçara. A comunidade possui açaizais. Como foi escrito anteriormente, os quilombolas tomam juçara do seu jeito. Pronto e acabou se. Estranham quem vem de fora e mistura juçara com açúcar e leite ninho. "Você é maranhense?". Cândido Mendes, como várias cidades do noroeste maranhense, mantém relações históricas com Belém do para. Dá muito trabalho vir para são Luís. Dona Raimunda perguntou sobre se ele era maranhense, mas o sentimento remete aos paraenses "os defensores do verdadeiro açaí". E também é um sentimento que amplifica questões étnicas culturais e históricas que vivem esquecidas.
As fotos de Che Guevara, comunidades quilombolas e o Porto de Alcântara
O escritor e crítico literário argentino Ricardo Piglia publicou em 2006 o livro "Último leitor", uma seleção de ensaios sobre o hábito da leitura cuja capa se refere a uma foto de Ernesto Che Guevara que subira numa árvore no meio da Bolívia para ler um livro. Um dos ensaios escritos por Ricardo Piglia trata justamente desse aspecto de Che Guevara que procurava o "melhor" local para suas leituras. Essa foto data de um pouco antes do assassinato de Che Guevara. Uma foto mais recente de Che pode ser vista no Instagram de Jorge Du Peixe, vocalista da banda Nação Zumbi. Uma réplica de uma foto original de Che Guevara líder da bem sucedida revolução cubana exposta na casa de uma família cubana em 1999. As pessoas que tiraram as fotos certamente não esperavam que as fotos ficassem para a posteridade nem pelo lado da crítica nem pelo lado da reverência. Essas fotos traduzem um sentimento de coletividade, em plena época do individualismo. Uma foto recente que contradiz o momento atual de individualismo,narcisismo,egoísmo e outros ismos foi tirada no quilombo Rio Grande, Bequimão. Se tudo der certo, vai ficar para a posteridade. Uma foto de uma conversa sugerida, organizada e convocada por setores da igreja católica com participação do @moqbeq para debater o projeto do Porto de Alcântara e a ferrovia que ligará Alcântara à Açailândia. O quilombo Rio Grande, aparentemente não será atingido diretamente pela ferrovia e tampouco pelo Porto, mas os impactos promovidos pelos dois empreendimentos serão sentidos de diversas formas e algumas dessas formas com certeza serao sentidas no âmbito da coletividade e no âmbito da sociabilidade. O @forumcarajas esteve presente nessa reunião a convite, por ter sido um dos primeiros a iniciar o debate em 2019, junto com outras organizações como o @ongartemojo de Paço do Lumiar. As fotos da reunião organizada pela igreja e comunidades são um importante registro também porque revelam anonimato. O anonimato sendo revelado e contraditório, mas tirando uma ou outra pessoa, a grande maioria era formada por pessoas anônimas. Sendo importante que os anônimos apareçam
bons ventos
Bons ventos o trazem. O mar encostava nas casas das baixas se São Luís. A água salobra aflorava pelos quintais. Água que não se bebia, que não cozinhava, que não se banhava. Um dia, o mar invadia a cidade com suas forças inigualáveis. A cidade era mar, mangue, matas, palafitas, entulhos, barcos de pesca e barcos de transporte, Portos, caranguejos, camarões, sururu, pescado, sarnambi, siri. Foi assim por muitos anos. Veio a modernização econômica e social. O estado e o grande indutor da modernização. A sociedade parou e e preciso remove la do atraso. São Luís foi palco nos anos 70 de uma das faces da modernização no Maranhão. A construção da avenida beira mar pelo então prefeito Haroldo Tavares. O modernizador, um visionário, segundo quem esteve presente. O trânsito pesado saiu das ruas espremidas do centro de são Luís e passou a circundar ao redor. Teve um custo simbólico alto. A cidade perdeu contato com o oceano. O oceano não encosta mais fisicamente mas encosta de forma simbólica. O mercado central tão visto e tão mal falado recebe consumidores vindos de tudo quanto é lado. Chico Discos almoçava um peixe pedra que comprara no mercado central pela manhã. Comprara as mãos de um fornecedor certo que jurou que sua procedência era Alcântara.
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