terça-feira, 30 de março de 2010

Baixo Parnaiba: chão das vozes e das árvores

Artesanato em São João dos Pilões ( foto: arquivo Fórum Carajás)


De estatura mediana, certos pequenos proprietários e agricultores familiares do Baixo Parnaíba maranhense retardam ao máximo as saídas das suas vozes – o Cerrado, augustamente, sonoriza o pé ante-pé da gente – na reserva de que elas não se evaporarão e na esguelha de uma má-interpretação quando saírem. Um casal de São João dos Pilões, povoado de artesãos, no município de Brejo, envelhecera e empobrecera muito pouco esculturando peças em madeira, madeira velha e seca do Cerrado, que, porventura, tinham boa aceitação e tinham boa paga. Acumulou-se um recurso – para não se aperrear nas épocas de vacas magras – daria para o casal e para os poucos filhos que os ajudavam a vender as peças numa palhoça à beira da estrada e a plantar mandioca, arroz e feijão nas terras que possuíam. Preparavam as peças, no chão da casa, em silêncio, só vazado pela voz de um ou de outro.

Elevar as vozes acima do aceitável – suplício – o Cerrado facultou para o homem a que altura podia se elevar – o que se presencia pelos chãos das chapadas são os homens imprimindo suas passadas e vociferando as suas ordens. Elevar-se acima das chapadas: governar os homens sem contestações e sem pudores – a uma altura superior que os mortais aqui embaixo se resignam e não questionam, por não quererem castigar as suas vozes, que negócios são esses que varrem para fora das chapadas as plantas, os animais e o homem – este que sincroniza o seu tempo de vaguear de acordo com as frutas que se descuidam e caem das árvores.

Intitularíamos aquele casal, além de artesãos, de agro-extrativistas e de pequenos comerciantes. Eles extraem da madeira as culturas de comunidade e do bioma Cerrado que foram legadas e delegadas a eles por razões de muitos séculos de convivência e de descendência. Se saíssem das suas terras talvez esse legado tivesse empedrado e as suas mãos doessem ao menor toque com a madeira e com os seus equipamentos de trabalho. Preferiram não sair e assim a madeira se tornou a segunda pele e a segunda mente de seus corpos. Abdicaram do direito de derrubar árvores, o que os diferencia de outros artesãos, só entalhando aquelas já mortas. A legislação ambiental autoriza os proprietários de terra que a mata nativa derrubada para o plantio de grãos seja carbonizada em fornos de carvoaria – se pudesse, o casal encheria o peito e o último resquício de suas vozes se lançaria às chapadas e desferiria golpes de sons de cigarra nos ouvidos dos ditos donos e estes abandonariam as carvoarias ao exercício do tempo. Contudo, mesmo para o Cerrado e para as suas populações tradicionais a passagem do tempo, que, antes, deixava-se estar em pleno bioma, não perdoa – enganchado em práticas seculares – a roça de toco e o aproveitamento parcial de espécies nativas para consumo imediato – o pequeno agricultor, como as árvores, viu o seu espaço físico e mítico sendo recolhido e compartimentado para dar passagem e dar vez e voz a novas tecnologias de preparação do solo e a espécies exóticas que, como um decreto, vigoram sobre a terra a partir do exato momento em que são plantadas, mesmo que para experimentos.

No despreparo das tecnologias rudimentares, o pequeno agricultor intuía, deleitoso – o baixão se plantava e o chão das chapadas se desplantava – nesse desvão, as novas tecnologias e as monoculturas de espécies exóticas se afundaram e nesse afundar a água de baixo veio para cima – mais de vinte anos – de experimento e de comércio – domesticando-se e domesticando. A penetração na estrutura agrária do Baixo Parnaíba pelo agronegócio se efetuou pelos despojos da agropecuária tradicional que decaíra para mínimos registros produtivos década após década – a agricultura familiar margeava esse processo de decadência sobrevivendo a duras penas – qualquer acusação de que a agricultura familiar é culpada pela diminuição das chuvas deve levar em conta a absoluta exclusão por que passam os agricultores no Baixo Parnaíba – e a responsabilidade do agronegócio está no uso intensivo de recursos naturais – restam dúvidas a serem conferidas – antes de desmatar uma área para o plantio de soja ou para outra cultura foi medido o lençol freático – quanto será consumido deste lençol – e como será a recuperação do mesmo ?

Mayron Régis

domingo, 28 de março de 2010

OS POLEIROS E OS EUCALIPTOS DA SUZANO NO MARANHÃO E NO PIAUI

Cerrado Maranhense (Foto: Fórum Carajás)

Segundo informes da assessoria da Suzano Papel e Celulose, em março de 2010, a empresa, até o final de 2009, comprara 133 mil hectares nos estados do Maranhão e do Piaui. Informações prestadas à mídia, perto do fim do ano, adjudicavam que o projeto do Piaui já havia resolvido 60% das áreas necessárias para o empreendimento que engloba a região próxima à Teresina e a região próxima ao município de Caxias, no estado do Maranhão. O percentual quanto ao projeto das regiões oeste e centro-sul maranhenses atarantava os 80%, quer dizer, praticamente encerrada a fase de compra de terras.

O último informe dado pela assessoria pauta a mídia na resolução em 100% das áreas do projeto do Piaui e 75% das áreas do projeto no Maranhão. Em sua grande maioria, essas são áreas de Cerrado e a escolha delas se deve em função do percentual de 20% a 35% de reserva legal que a legislação determina a manutenção. Em cima e embaixo dos estados do Maranhão, Piaui e Tocantins as equipes da Suzano cansaram um mundão de gente com informações imprecisas sobre as áreas que pretendiam comprar. Pelo que foi divulgado nessas reuniões e pela mídia, a empresa compraria um carretel de propriedades e que eles preferiam fazendas de gado que apresentassem indícios de degradação ambiental.

Em alguns dos municípios maranhenses a Suzano comprou terras como em Estreito, região tocantina, cerca de sete propriedades, e em Matões, região dos cocais, onde a propriedade ascende sobre parte da área urbana do município. Os outros municípios seriam meros coadjuvantes para o projeto. A média de compra de terras que a empresa adquiriu no segundo semestre de 2009, de 20 mil hectares por mês, permite afirmar que nos dois primeiros meses de 2010 ela magoou um pouco ou um pouco menos de 40 mil hectares nos dois estados o que totalizaria menos de 200 mil hectares.

Quem quiser e quem puder refrescar a memória a respeito e a despeito dos projetos da Suzano para os estados do Maranhão e do Piaui se confessará inadimplente quanto ao que se creditaram como grandes somas para a expansão da monocultura de eucalipto nas bacias do rio Tocantins e do rio Parnaiba. A Suzano, com essa barafunda de numerais e de pontos cardeais, cativa a realidade local do Cerrado com outra realidade como se os seus números devolvessem, mesmo que no papel ou na mera declaração, a singularidade dos fatos. As pessoas confiam mais em números, mas o que eles representam senão uma abstração. Nos estudos de impacto ambiental, a empresa sustenta que as áreas em que ele pretende plantar eucalipto representam 3% da área total do estado do Piaui. Os seus braços informais no Maranhão sustentam a mesma continência verbal;
O que os números mentem diz respeito ao fato de que essas áreas estão emborcadas nos formadores das bacias do rio Tocantins e do Parnaíba. Afinal, os quase 10% de Cerrado, de Caatinga e de Amazônia podem representar muito mais dos que os milhões que a Suzano botará em seus poleiros.

Por: Mayron Régis (Fórum Carajás)
www.forumcarajas.org.br

terça-feira, 23 de março de 2010

Segurança alimentar no Baixo Parnaiba

A segurança alimentar conta pouco porque o senso comum subestima o valor dos alimentos para a saúde humana tanto física como emocional. Causam invejas uma pessoa como o senhor Onésio, do povoado Carrancas, município de Nuriti de Inácia Vaz, Baixo Parnaiba maranhense, e sua esposa. Até à hora da partida eles saudavam as visitas de São Luis para que relevassem o almoço. Para eles um almoço só com arroz, feijão e ovos não era caprichado. Se fossem avisados de antemão matariam uma galinha da terra. Diferente do que pensava o casal, aquele grupo que tangenciará chapadas comera um feijão delicioso em sua casa. Esse é o verdadeiro feião, arregaçava o motorista do carro, o senhor Nonato que de tantas viagens feitas aos rincões do Baixa Parnaiba também ali se detivera anteriormente. Terminado o almoço, o senhor Onésio os levou à casa da sua cunhada cuja família possui alguns hectares na chapada encabrestados por bacurizeiros. Para alguns proprietários de Buriti de Inácia Vaz, posse da terra e segurança alimentar se condicionam.

Mayron Régis

Engordar o saco com bacuris em Buriti de Inácia Vaz

A verossimilhança entre os campos de soja nas bacias do rio Buriti e rio Preto, municípios de Brejo, Buriti e Santa Quitéria, as mortes de peixes e a proliferação dos casos de câncer. A área de chapada do senhor Onésio protege uma das nascentes principais do rio Preto, uma chapada que antecede os projetos de monoculturas em muitos bacurizeiros e é tanto que a sua esposa sai todos os dias para engordar seu saco com os bacuris que caem no chão. O senhor Onésio vende a polpa de bacuri a dez reais o quilo, um preço salgado para uma polpa de muito boa qualidade. O povo da Matinha, vizinho das Carrancas, povoado do senhor Onésio, muda-se para a chapada nos primeiros meses do ano e aperta os bacuris antes de pô-los nos sacos de estopa. Uma mulher da Matinha ignora os termos da noite para se aventurar na chapada. Algumas áreas de bacurizeiros na mata só o senhor Onésio e a sua mulher conhecem.

Mayron Régis

segunda-feira, 22 de março de 2010

As posses de terras nas chapadas de Buriti

As posses de terras dos agroextrativistas na chapada de Buriti de Inácia Vaz e a posse do senhor Onésio,senhor de setenta anos, que recusou propostas de um plantador de soja para vender seus 160 hectares. O André, cujas áreas de soja ultrapassam mais de 3.000 hectares, perturbou tanto a vida de seu Adão, vizinho e compadre do senhor Onésio, para grilar sua posse de terra que o sindicato de trabalhadores rurais e a comunidade de Matinha se aglomeraram num grande grupo para impedir o desmatamento. O André desistiu, mas propôs ao seu Adão trocar a sua posse na chapada por outra área e o seu Adão concordou. Para o senhor Onésio quaisquer que sejam as ofertas pelo seu baluarte de bacurizeiros ele as espantará para bem longe.

Mayron Régis

quarta-feira, 17 de março de 2010

Suzano inicia destruição ambiental no Maranhão

Foto: Fórum Carajás


A Empresa Suzano Papel e Celulose começa a se instalar no Baixo Parnaíba, no leste do Maranhão, e já atinge mais de 300 famílias de trabalhadores rurais da região.

De acordo com entidades que atuam no Fórum de Defesa do Baixo Parnaíba, a Comercial Agrícola Paineiras, empresa do Grupo Suzano Papel e Celulose, se intitula proprietária de mais de 84 mil hectares de terras no município de Santa Quitéria. Elas se concentram em uma região onde cerca de 300 famílias de agricultores vivem há quase um século. As entidades alertam ainda que 95% das famílias não possuem título de propriedade, e reivindicam que o governo do estado retome as terras devolutas que estão incorporadas ao patrimônio do Grupo Suzano.

A Suzano pretende, de início, desmatar 10 mil hectares para o plantio de eucalipto. O empreendimento necessita de licenciamento por parte do Ibama, mas a empresa, por sua vez, fez o pedido apenas à Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Nenhuma audiência pública foi realizada para debater o assunto, nem mesmo junto ao poder público. Enquanto isso, mais de 5 mil bacurizeiros já foram derrubados. A região é rica ainda em pequi, babaçu, buriti, culturas nativas que ajudam no sustento de uma população média de 10 mil famílias, distribuídas em cinco municípios.

Conflitos

O Baixo Parnaíba Maranhense está localizado no leste do estado e é banhado pelo Rio Parnaíba. Há muitos anos, conflitos de todas as ordens vêm acontecendo na região. As comunidades tentam mostrar que a terra não significa apenas a “terra-solo”, mas a “terra-mãe”: terra como direito a um modo de vida, a uma relação de solidariedade e irmandade com a natureza e os recursos naturais.

As entidades do Fórum denunciam que as famílias de agricultores sofrem constante humilhação, agressões e ameaças de morte por parte das empresas do agronegócio. "Se nada for feito, os trabalhadores rurais se 'desenraizarão' - assim como as árvores - para ceder lugar à soja, ao eucalipto e à cana".

www.mst.org.br

terça-feira, 16 de março de 2010

Seminário sovre incremento das cadeias produtivas do bacuri, babaçu e buriti

Foto: Fórum Carajás


São Luís(MA), 17 a 19/03/2010

As comunidades agroextrativistas da Chapada Limpa e a comunidade extrativista de São Raimundo, respectivamente, municípios de Chapadinha e de Urbano Santos, aos poucos descobrem que o seu modo tradicional de produzir alimentos e de coletar frutos como o bacuri, o babaçu e o buriti não significa pobreza como muitos estão cansados de repetir a respeito das comunidades interioranas do Maranhão. O momento atual propicia para essas comunidades e para outras que vivem do agroextrativismo o granjear de novas técnicas de beneficiamento e de produção que possibilitem o incremento das suas rendas de um jeito que elas possam ser esticadas dentro e fora de suas casas para que as pessoas se esparramem sobre elas por quanto tempo quiserem. Entre os dias 17 e 19 de março, ocorrerá no prédio do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente um seminário envolvendo as comunidades da Chapada Limpa e de São Raimundo, o Fórum Carajás, a Coospat, o Instituto Chico Mendes e a Naturais da Amazônia.

A Naturais da Amazônia incentiva a produção artesanal de sementes em comunidades amazônicas, porém com planejamento técnico. Esse seminário resulta de várias conversas e de uma visita ao Baixo Parnaíba entre o final de 2008 e final de 2009 do Fórum Carajás e da Naturais da Amazônia na pessoa do seu dirigente-geral o senhor Arnoldo Lutchtenberg. Surgirá durante o seminário uma proposta de projeto com os diversos atores cujo objetivo é promover o incremento de renda na economia das famílias da comunidade da Resex Chapada Limpa e São Raimundo com a agregação de valor através da coleta e beneficiamento de sementes e óleos vegetais, com ênfase nas espécies de Bacuri, Buriti e Babaçu.

Por: Mayron Régis, assessor Fórum Carajás

http://territorioslivresdobaixoparnaiba.blogspot.com/

sexta-feira, 12 de março de 2010

APA Morros Garapenses

Processo de formação do Conselho Deliberativo da àrea de proteção Ambiental dos Morros Garapenses a ser realizado entre os dias 18 e 19 de março no Centro de Formação Pedagógica em Buriti de Inácia Vaz.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Arte e Meio Ambiente: I Oficina em Bonsucesso Mata Roma (MA)


 Atividades do projeto Arte e Meio Ambiente: estratégia de fortalecimento para jovens rurais no Cerrado Maranhense com o apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos.

Algumas fotos da Oficina ocorrida nos dias 06 e 07 de março de 2010 na Comunidade Quilombola de Bonsucesso .
 
Foto: Fórum Carajás




Trabalho em Grupo: "conhecendo a dinâmica da minha comunidade"
Foto: Fórum Carajás


 
Foto: Fórum Carajás


 
Dinâmica organizada por membro da APREMA
Foto: Fórum Carajás

 

Apresentação interativa dos grupos
Foto: Fórum Carajás

 

Foto: Fórum Carajás


Foto: Fórum Carajás


 

Tambor de Criola de Bonsucesso
Foto: Fórum Carajás

 

Brincante da Comunidade "Esquentando o tambor"
Foto: Fórum Carajás


Entrega do material de apoio aos participantes 
Foto: Fórum Carajás

 

Foto: Fórum Carajás


 

Reinicio dos trabalhos no segundo dia
Foto: Fórum Carajás

 

Dinâmica   para maior integração dos participantes
Foto: Fórum Carajás

 

Rio Preto em Bonsucesso (Mata Roma/MA)
Foto: Fórum Carajás

 
 
Bacurizal na Chapada,  Comunidade de Bonsucesso
Foto: Fórum Carajás




Por: Edmilson Pinheiro
www.forumcarajas.org.br

Assembleia da Comunidade de Bonsucesso (Mata Roma/MA)

Em Bonsucesso no dia 07 de março (sábado) foi apresentado e discutido em Assembleia a implantação de um Centro de Capacitação e Resgate da Cultura Quilombola no Território do Baixo Parnaíba.

 
Assembleia para discussão sobre a  implantação do centro de capacitação
Foto: Fórum Carajás


Nesta reunião além da comunidade local várias comunidades quilombolas do municipio estavam representadas. A coordenação dos trabalhos coube ao Núcleo Diretivo do Território da Cidadania do Baixo Parnaíba.
 
Foto: Fórum Carajás


Entre as organizações presentes: Aprema, Fórum Carajás, Ethos e Associações locais




 
Foto: Fórum Carajás

Esta Assembleia contou com apoio do Fórum Carajás através do Programa Baixo Parnaíba Território Livre em parceria com ICCO.


Por: Edmilson Pinheiro
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