quinta-feira, 28 de outubro de 2021
O ponto
Esse é o ponto. De vista. O ponto. Inicial. O ponto. Final. O Ponto. De exclamação. O ponto de interrogação. O ponto em cima. O ponto embaixo. Um ponto qualquer. Da cidade. O ponto. Central. O ponto. De venda. A ponto de pedir um prato de comida. O ponto de revenda de cerveja. O ponto. Cego. Eles viajavam as cegas. Uma esmola pelo amor de Deus. Deus lhe abençoe meu filho. Um filho é uma benção. Abraão abençoou Izsaac. O ponto de chegada. O ponto de partida. A comida está no ponto. Quem quer provar? Um ponto aumenta a nota da prova. Esse trabalho vale um ponto. Esse corte precisa de um ponto. Ele bateu o ponto. O ponto. De luz. O ponto. Cego. A luz cega. A escuridão amedronta. A que ponto eles chegaram? Um ponto. Dois pontos. Três pontoz. Reticencia.
quarta-feira, 27 de outubro de 2021
O inicio da noite na região dos Cocais
O inicio da noite se traduz por aquele momento em que as pessoas terminam seus afazeres pela rua e chegam em casa pedindo um bom banho e uma comida quente. A esposa do seu Edivaldo, presidente da associação quilombola de Jacarezinho, acabava de chegar da sua roça de mandioca. Um pouco depois dela chegar, parou um carro em frente a sua casa e uma das pessoas perguntou pelo seu esposo que rodava pela vizinhança. Os povoados que formam o território quilombola de Jacarezinho contabilizam menos de cem famílias que residem em seu interior cuja área corresponde a mais de cinco mil hectares de Cerrado, Floresta Amazonica, Caatinga e Babaçual. O seu Edivaldo escutou o barulho do carro e pensou que advogados dos plantadores de soja que admoestam a comunidade poderiam estar dentro dele e que vieram mais uma vez pressiona-lo para que a comunidade abrisse mão de seu território. Na verdade, dentro do carro não havia um advogado e sim um jornalista e uma psicóloga do Fórum Carajás, um assessor da diocese de Caxias e o motorista. Eles partiram de São Luis pela manhã bem cedo e o proposito da viagem era saber a quantas andava o conflito da comunidade com os grileiros e com os plantadores de soja. A ideia da viagem partira do jornalista do Fórum Carajás que por descuido não avisara o seu Edivaldo. O seu Edivaldo nascera e criara-se no quilombo do Jacarezinho e viveu os anos em que por muito pouco o quilombo quase se extinguira, resultado de muits pressões de fazendeiros da região de Caxias. Na fase adulta de sua vida, trabalhara com fotografia, atividade que abandonou porque ninguém queria mais fotografias do jeito tradicional. A Fotografia perdeu um fotografo e a comunidade ganhou uma liderança que enfrenta o agronegócio na região dos Cocais.
terça-feira, 26 de outubro de 2021
a ilusão da literatura
A literatura se coloca entre as maiores ilusões vividas pelo ser humano. Quem garante que o que você escreve alguém lerá? A mulher a quem aquele poema é dedicado pode ser que não leia o poema ou pode ser que o ache uma tremenda bobagem. Ele escreve sem parar porque se parar talvez descubra a invalidade do que escreve e do que escreveu. O grande assunto da literatura, no fundo, chama-se tempo. O que fazer com o tempo e com o tempo que lhe é dado? Quando não se tinha nada pra fazer, pedia-se a mãe um papel para desenha historias em quadrinhos ou simplesmente bonequinhos. Desenhar uma grande historia em quadrinhos e faze-la real, o ideal de uma criança. O ato de desenhar antecede o ato de escrever. O homem chegou a crer que ao desenhar na parede os animais que precisava caçar, esses animais se deixariam matar. Denota-se nessa atitude que o homem mantinha uma relação espanto/mágica com o mundo. Uma pequena inclusão: o desenho veio antes da escrita, mas anterior aos dois, de qualquer forma, o homem precisa ler, pois só com a leitura o homem desperta da sua inconsciência. O ato de ler leva ao ato de desenhar e ao ato de escrever. Ele leu quase duzentos livros em pouco mais de um ano. Quantos livros escreverá despertado por esses livros todos? E que gráfica imprimirá esses livros? A Gráfica Santa Clara, localizada no Canto da Fabril, próxima a Camboa, subúrbio de São Luis, fechou suas portas. E era uma das mais antigas gráficas em funcionamento. A cidade de São Luis perdeu suas bancas, livrarias e jornais e agora perde suas gráficas. Pelo visto, ele continuará escrevendo poemas para a mulher que ama, inseguro por não saber se ela gostou ou não.
segunda-feira, 25 de outubro de 2021
A região dos Cocais
Por mais que demore, a viagem custa a terminar. O que eles são perto de quem os aguarda? Eles foram para bem longe. Olhar para trás? Só enxergavam a frente da estrada com sua vegetação de transição. Tudo no Maranhão beirava o transitório ou beirava o precipício. A transição ou o precipício, o que escolher? Nãos sabiam ao certo. Tem que saber transitar pelas quebradas generosas do Maranhão. Os povoados se calavam perante o avanço do agronegócio por sobre as Chapadas daque4la região cujo nome expressa a sua condição: região dos Cocais. O nome deriva das florestas de babaçuais que derrubam seus os cachos de coco babaçu sobre a terra. Pode sr que haja outras espécies florestais, mas os babaçuais dominam o ambiente tano em escala de abrangência quanto em escala de quantidade. Os babaçuais dominam também o ambiente onde os quilombolas residem, pois cobrem suas casas com palha de babaçu. A palha de babaçu é uma matéria prima abundante que para populações pobres como as comunidades quilombolas permite que se cubra as casas com pouco custo financeiro e pouco impacto ambiental. A historia de convivência das comunidades quilombolas com o meio ambiente é uma historia de pouco impacto ambiental. Os proprietários proibiam os negros escravizados de fazerem qualquer coisa e os negros respeitavam essa proibição temendo o pior. A decadência e a saída dos proprietários não incutiu um desejo nos negros de apropriação e destruição dos recursos naturais como geralmente acontece. Eles ficaram numa boa e ponto final. A relação equilibrada dos negros com o meio ambiente fez com que os territórios quilombolas se tornassem as reservas ambientais de vários municípios no Maranhão, o que, claro, atrai olhares cobiçosos de plantadores de soja, empresas de reflorestamento com eucalipto e empresas de infra estrutura( estradas, portos e energia).
domingo, 24 de outubro de 2021
Sobre amizade
A historia que escreveria devia ser a mais simples possível. Uma historia de como se formam amizades. Umas curtas e outras mais duradouras. Qual vem em primeiro lugar e qual a que vem depois? Tudo a seu tempo. Foram os discos e os livros que fizeram com que perdesse a sua timidez natural e com um colega batesse a porta de alguém ao qual nunca fora apresentado. A sua casa e a do seu amigo se dispunham na parte alta do bairro. Os livros e os discos o motivavam a ver mais do que se via a frente. Para chegar aonde desejavam, teriam que atravessar a avenida central da cidade, cujo nome homenageava a maior liderança politica do pais. Tal qual o nome d avenida, o nome do bairro onde moravam remontava a uma batalha na europa. Os cidadãos de sua cidade se esmeravam em homenagear figuras ilustres e com os quais pouco tiveram contato e fatos históricos dos quais pouco tiveram participação. Ele e o colega ansiavam por outros contatos e por outras formas de participação e o contato que fariam na parte baixa do bairro poderia providenciar isso. A mãe do contato os recepcionou em sua modesta casa numa rua com pouca infra estrutura. O contato finalmente apareceu e a conversa transcorreu em torno de literatura e rock. Eles não se demoraram muito, mas ele ficou de prontidão para quem sabe retornar aquela casa. E de fato ele retornou mais tarde sozinho. O contato, que não o esperava, acolheu-o e a conversa voltou a girar em torno de literatura e rock (Jim Morrison do The Doors e Renato Russo da Legião Urbana. A noite não poderia encerrar tão cedo. O contato propôs que fossem de ônibus a um bairro vizinho. Neste bairro um musico e graduando em direito o esperava para comerem uma pizza e aumentarem os seus conhecimentos musicais e literários. E assim terminou a noite: três colegas comendo pizza e conversando sobre The Doors e Legião Urbana.
sábado, 23 de outubro de 2021
A viagem e a comunidade quilombola
Os nomes de comunidades a beira da estrada se sucediam. Planejara o almoço para um restaurante no município de Peritoro. Almoçariam rápido. Cem quilômetros separavam a cidde de Peritoro da cidade de Caxias. Estimava em quase duas horas o tempo para cobrir a distancia. Tantas vezes viajara de ônibus por essa estrada nas férias de julho. Gravara na memoria somente os nomes das cidades que margeavam a pista. Gravara sobretudo a rodoviária de Peritoro, local de parada que antecedia os municípios da região do vale do Mearim e do vale do Itapecuru. Ele não descia mais na rodoviária de Peritoro com o pensamento voltado a um possível transporte que o transportaria e transportaria a sua família. Um possível transporte que sabe lá Deus que horas estacionaria na rodoviária. Descolou-se dessas memórias e descobriu a vantagem de disparar num carro. Com um carro, ele e seus colegas paravam onde quisessem. Aceleravam e desaceleravam de acordo com o ritmo desejado para a viagem. A velocidade que um carro imprime numa estrada federal não é a mesma que um carro imprime numa estrada vicinal. Os cuidados que se tem numa não são os mesmos que se tem em outra. Engana-se quem iguala os propósitos da viagem ao proposito das comunidades. Por mais que o carro acelere e chegue a tempo, a comunidade vê a vida de outro jeito.. A comunidade recebe a visita com toda educação o que pode mudar caso a conversa enverede por propostas indesejáveis. Um grupo de plantadores de soja vindos do Paraguai enviavam propostas de acordo para o senhor Edivaldo, presidente da associação do quilombo de Jacarezinho, município de São João do Soter. As propostas chegavam ao seu Edivaldo pelas bocas dos advogados que representam os plantadores de soja e o resumo das propostas era que se a associação abdicasse dos cinco mil hectares do seu território, ela receberia 120 hectares e o presidente receberia uma bela soma em dinheiro. Foram várias ofertas e todas elas a associação repeliu.
sexta-feira, 22 de outubro de 2021
A praça da forca
Deram-lhe o nome de Praça da Alegria. Das inúmeras vezes que passeara por essa praça, em nenhuma delas dava presumir o porque da praça ter recebido esse nome. só mais recentemente soube que antes a praça atendia pelo nome de Praça da forca relativo ao fato de que nela ocorreram vários enforcamentos durante o século XIX e talvez por isso quando os enforcamentos cessaram a municipalidade de São Luis resolvera altear a designação da praça. Cometeu-se tantos enforcamentos e não lera nenhum comentário a esse respeito em quase toda sua vida. Lera recentemente uma matéria no jornal “O Estado do Maranhão” cujo cerne era a Praça da Alegria. Uma das ultimas matérias produzidas no jornal visto que ele fechou as portas e desligou as máquinas. A cidade de São Luis que surge no século XIX ainda é uma cidade muito rural, com muitos terrenos baldios muitas quintas. Os enforcamentos aconteciam num terreno baldio que anos mais tarde viraria a Praça da Forca. Aqueles que assistiam um enforcamento ou mais certamente se sentiam incomodados pelo evento ainda mais acontecendo tão perto de casas. Quanto mais distante do centro de São Luis mais inconstante a presença de casas na paisagem e bem possível que fossem casas de pessoas humildes. Essas pessoas se sentiam incomodadas pelos enforcamentos mas deviam pensar que não podiam fazer nada, pois os enforcamentos partiam de uma decisão das autoridades locais. Essa mescla de incomodo e impotência perante aos enforcamentos tornou as pessoas indiferentes aos fatos que se desenrolavam a olhos vistos.
segunda-feira, 18 de outubro de 2021
O senhor negro
De uma hora para outra, ele passou a descer sozinho a rua. Ocasionalmente, um amigo o acompanhava. Nem sempre o amigo estava desocupado e nessas ocasiões ele hesitava em descer. Não entrava em lugar nenhum sem antes pedir licença e fazer amigos era uma forma de pedir licença ao entrar em determinados lugares. Objetivava ao descer a rua um pequeno bar/restaurante que vendia mocotó aos dias de domingo pela manhã. O bar de dona Elisabeth, maranhense, nascida no município da Matinha, baixada ocidental, carregava suas sutilezas e excepcionalidade, o que atraia mais consumidores do que as demais mulheres que também cozinhavam mocotó na rua para garantir um trocado. A principal delas era o fato de que a pessoa ao comer o mocotó podia também tomar uma cerveja ou várias cervejas, dependendo do mocotó e do papo. Ele sempre andava atrás de um bom papo para aplacar a rotina ou o calor do dia. As circunstancias em que conheceu o bar de dona Elisabeth foram bem típicas disso: sozinho em casa. sem fazer nada, convidou o amigo para caminharem pelas ruas próximas e quem sabe comer alguma coisa. A fisionomia do bar era bem simples e pouco destoava da vizinhança. Quem frequenta são os moradores ou ex-moradores que veem no bar um espaço para reviver as amizades. O amigo o apresentara ao bar no momento em que moradores e ex-moradores reinavam no ambiente. Todo o tempo alguém entrava para comprar mocotó, cerveja ou cachaça. Ele provou e aprovou o mocotó. Quis repetir mais vezes. Sem sucesso. Ou o mocot[o terminara cedo ou a dona Elisabeth não cozinhara como no dia em que faltara água no bairro todo. Não se deu por vencido. Arriscou num domingo. Por sorte, a cozinha se atrasara um pouco. Esperou mais de vinte minutos enquanto a cozinheira concluía o serviço. Nesse interim, adentrou um senhor negro que se sentou a sua frente. Calado sentou, calado ficou. Poderia ter ficado mais tempo para ver se o senhor negro lhe concedia uma palavra. Saber como era a voz dele. Ficaria pra próxima.
sexta-feira, 15 de outubro de 2021
os caminhos irrefletidos da alma humana
Olha só os campos naturais. Nada de espetacular a olhares frios e superficiais. Até onde a vista alcança, quer dizer, uns poucos metros a sua frente. Dificil andar pelos campos naturais para quem pisa em terreno seguro. Olhando de longe, pensa logo que é moleza andar por essas terras. Dá até pra dizer vou bem ali e volto já. Tamanha a facilidade porque nos campos naturais não se vê obstáculos visíveis. Os obstáculos oferecidos pelos campos naturais ficam um pouco mais embaixo. Basta escavar que aparece. Muita água no subsolo e que nos meses de inverno bom e esplendoroso se ergue e sobrepõe-se ao solo. Nos meses de verão, o horizonte cabe num olhar: o mangue, as ilhas, o capim e o fogo. Nos meses de inverno, não se pensa no horizonte como a distancia a ser vencida. O barco a motor vence a distancia em poucos minutos com seu vagar solene sonolento. Poucos sabem quais são e onde ficam os portos onde embarcam e desembarcam aqueles que navegam por esses caminhos irrefletidos da alma humana.
terça-feira, 12 de outubro de 2021
Lendas e Mitos nos campos naturais de Anajatuba
Bem no fundo da sua alma, bem lá no fundo, ele ambicionava conhecer a foz do rio Mearim, no município de Arari, e as margens do rio em toda a extensão desde a foz até a baia de São Marcos. Trazia esse desejo tão expressivo. Um desejo que datava de pouco tempo e que não sabia bem como expressa-lo porque podia parecer algo de outro mundo. Afinal, o que há de tão significativo em um rio? As cidades, na maioria das vezes, originam-se dos rios porque elas se erguem sobre suas margens. A relação da cidade e seus moradores com a água doce se reflete na memória coletiva e na memória individual. A região dos campos naturais do rio Mearim, uma região acochada de água por seis meses, convive com a lenda de bolas de fogo que se transformam em uma mulher, a Cangapara. A lenda da Cangapara é uma forma de afastar visitas indesejáveis e proteger o território de quem possa vir a ameaça-lo com projetos de ganhar dinheiro fácil. A Eliane, presidente da União das comunidades quilombolas de Anajtuba, foi convidada para viajar a ilha dos Caranguejos por um pesquisador. Ao ouvir o nome ilha dos Caranguejos, ela se retraiu. “Vou nada. É um lugar encantado. Ninguem dorme lá”. Lendas e mitos de forte elemento hídrico que se contrapõe ao e complementam o espaço das cidades. As cidades não vivem sem água doce, mas, ao mesmo tempo, tem grandes dificuldades de convivência com esse elemento. Para resolver o dilema da convivência, as cidades constroem portos, estruturas de captação de água, estruturas de tratamento de esgoto e etc. nem tudo, porem, resolve-se com construções metálicas. As construções imemoriais (lendas, mitos) provam justamente esse ponto
domingo, 10 de outubro de 2021
Reintegração de posse nos campos naturais de Anajatuba
Amanheceu . Não saberia dizer a hora certa. Amanheceu onde mora como deve ter amanhecido em outros lugares. Um dia, quem sabe, veria o minuto exato em que a escuridão da noite some para dar lugar a claridade do dia. O dia começa cedo com as pessoas despertas e prontas para tocarem a vida, com o comerciante levantando as portas do comércio e com a fervura da água do café. Um dia normal começa assim e para terminar normal não precisa mais do que isso. Caso falte alguma coisa para completar o dia, é só ir ao comércio perto da casa. o dia oito de outubro de 2021, para a comunidade de Afoga, municipio de Anajatuba, provavelmente, transcorreria da maneira usual. Contudo, não foi bem assim. As horas passaram e carros da policia militar chegaram a comunidade para cumprir uma liminar de reintegração de posse expedida pelo Juiz de Anajtuba em favor do senhor José Mauricio Dias Barroso. Os moradores de Afoga se surpreenderam com o aparato policial. Moveu-se uma verdadeira operação de guerra para cumprir uma decisão judicial contra uma comunidade tradicional de mais de cem anos situada a beira dos campos naturais. A questão judicial envolve os campos Naturais onde os moradores do Afoga soltam seus animais e criam seus peixes. Os campos naturais não tem dono pois é uma área da união. Essa compreensão de não haver um dono perdurou por décadas. Bem, esssa compreensão vem mudando e ação de reintegração de posse do senhor José Mauricio Dias Bezerra prova essa tese. Os campos naturais são uma área rica em água, solo e capim. O senhor Jose Mauricio com essa ação pretende se apossar desse espaço para criar gado. O que originou a ação de reintegração de posse foi a compra de dois hectarespor parte do senhor Jose Mauricio. A partir dessa compra, ele quis esticar mais a sua propriedade para um total de 34 hectares. Entrou coma ação contra a comunidade alegando que os moradores invadiram seu terreno. O advogado dos moradores não se pronunciava no processo o que levou o juiz decidir a favor do Jose Mauricio. Como sempre, o judiciário toma decisões sem tomar os devidos cuidados com referencia ao processo.
0 comentário
terça-feira, 5 de outubro de 2021
A ausência de regularização fundiária dos territórios quilombolas no Maranhão
Numa situação de total ou parcial ausencia do Estado, as comunidades quilombolas do Maranhão se sentem completamente a mercê do avanço do agronegócio e a implantação de grandes empreendimentos sobre seus territórios. A comunidade quilombola de Jacarezinho, município de São João do Soter, leste maranhense, certificada pela Fundação Palmares e com processo de regularização fundiária aberto no Incra, nega-se a aceitar as propostas de acordo vindos de um plantador de soja paraguaio que deseja desmatar parte do território de Jacarezinho. Foram várias investidas através de mensagens de Zap e das visitas de advogados contratados pelo plantador de soja. O território de Jacarezinho é objeto de cobiça por grileiros de todos os lugares que não vão parar quietos até conseguirem concretizar o negócio com a derrubada da floresta. A vista mais recente de um advogado a mando do paraguaio aconteceu há alguns dias atrás . a advogada atende pelo nome de Carla e antes de prestar serviços para plantador de soja e grileiros auxiliava a comunidade de Jacarezinho no seu processo de regularização fundiária. Ela conhece a comunidade e usa esse conhecimento a favor do seu patrão despudoramente. Em todas as suas visitas, a comunidade lhe bateu as portas. A demora em regularizar os territórios quilombolas por parte dos órgãos fundiários para os plantadores de soja e grileiros é um sinal que está tudo bem para que possam forjar um documento no cartório e pedir uma licença de desmatamento na Secretria de Meio Ambiente que autorizará na hora. A vagareza no processo de regularização fundiária é um dos problemas que mais aflige as comunidades quilombolas porque é nesse vácuo que as empresas entram para ocupar os territórios tradicionais. O caso da EDP que instalou uma linha de transmissão nos campos naturais de Santa Rita, Anajatuba e Itapecuru contextualiza bem os problemas advindos com a desregularização fundiária praticada pelo Incra, Iterma e DPU no estado do Maranhão. Como a empresa sabe que as comunidades quilombolas não tem documentação definitiva dos seus territórios e que os campos naturais não são vsitos como espaço ambiental de relevante importância para a sociedade, ela detona com o que ela vê pela frente. A sua segurança de que não vai acontecer nada fica por conta do escritório de advocacia que a representa e da justiça que atende os seus pedidos de liminar na mesma hora.
domingo, 3 de outubro de 2021
O abandono dos rios
Ia a praia com os outros. Os outros o levavam. Se pudesse escolher, escolheria ir para um rio qualquer de sua cidade. Que pena, essa sua cidade não comporta nenhum rio. Outrora havia rios que cruzavam a cidade por todos os lados. Chegou a ve-los em suas versões esquálidas. Via-os de longe porque ou os via de dentro de um carro ou os via de dentro de um ônibus. Longe e do alto. O rio espera ser visto de perto e de suas margens. As pessoas chegavam perto dos rios e banhavam-se neles. Presumiam que dentro deles sentiriam tranquilidade. A cidade cresceu e as pessoas abandonaram os rios e os seus hábitos de lavarem-se e de lavarem suas roupas e louças neles. Os rios que as pessoas faziam questão de mergulharem foram trocados pelas praias. O que motivou a troca? A longa faixa de areia que vai de uma ponta a outra da cidade? A impressão de que as vidas das pessoas a beira da praia independem umas das outras? Bom lembrar o quanto as pessoas mantinham distancia do mar séculos atrás. O mar era visto como uma via de transporte. Banhos de mar viraram recomendação no século XIX. Aventava-se a possibilidade de que com os banhos de mar a saúde das pessoas melhoraria. Foi um pulo para que as pessoas adotassem o banho de mar como pratica social de saúde física e mental. Isso tudo significou o abandono dos rios e quem é abandonado estampa na cara o que sente. No caso dos rios, a principal estampa é a degradação ambiental.
sábado, 2 de outubro de 2021
Refazenda
Por quase setenta anos, quem queria fazer musica no Brasil tinha uma certeza: antes de qualquer coisa o musico devia gostar de samba. O samba se tornou a maior expressão cultural do pais graças ao governo Getulio Vargas que viu no gênero possibilidades de controle ideológico e social da sociedade brasileira. Em alguns momentos, essa certeza de que o samba era a maior expressão artística cultural foi contestada por movimentos modernistas como a Bossa Nova, Jovem Guarda e tropicalismo. Movimentos que em suas genéticas apresentavam elementos oriundos do samba por mais que defendessem a modernização do gênero com a inclusão de samba, rock e outros gêneros musicais em sua composição. O que esses movimentos criticavam era que devido as transformações econômicas sociais e culturais pelas quais o Brasil passava a musica não podia ficar limitada a padrões estéticos consagrados nos anos da republica velha e ditadura varguista. O samba se formata na ditadura de Getulio Vargas mas suas raízes aparecem no começo da republica período que ficará conhecido como republica velha. Afirmar que quem cantava samba trazia consigo um forte tom emocional que transmitia uma sensação de saudade não seria nenhum exagero. O titulo do primeiro disco de João Gilberto “Chega de Saudade” investe contra a emotividade do gênero. Como foi escrito, os genros musicais modernistas criticavam o samba não com a inenção de depo-lo e sim com a intenção de reinventa-lo. Um pouco dentro das discussões que se travavam nos anos 60 de reinventar o Brasil e assim por diante. Reinventar o Brasil seria superar o modelo de desenvolvimento social e econômico que imperava desde a colônia. Superarem todos os setores. O golpe de 64 e o golpe dentro do golpe de 68 visavam manter as estruturas do jeito que elas estavam. E mantiveram. Os gêneros musicais modernistas que cobravam a atualização do samba em termos estéticos e políticos ou foram abafados ou foram acondicionados no sistema de produção de informações. Gilberto Gil em 1975 grava o disco Refazenda cuja musica principal tem o mesmo nome. A musica cantada por Gilberto, e que a Nação Zumbi regravou no álbum “Radiola” em, tem como base o verbo “refazer” e brinca com seus sentidos e um desses sentidos é a palavra refazenda. A economia brasileira ficou conhecida por ser uma grande fazenda de cana, café, gado e etc. e os primórdios do samba vem das batucadas dos negros na fazenda. O que Gilberto coloca é que para ele se refazer deve dar alguns passos para trás como aconteceu com a sociedade brasileira pós golpes de 64 e 68. Isso inclui aceitar que o Brasil é uma refazenda em que o que pode ser cantado é tamarindo, abacate, namorar e etc. Gilberto Gil, discretamente, rele o samba tradicional e faz uma critica politica tanto ao samba como o Brasil arcaico. Era possível ainda elaborar processos estéticos que confrontassem a realidade e esses processos estéticos passavam pelo samba e suas tradições. Se a pretensão dos modernistas dos anos 60 era reinventar o Brasil, as produções de final dos anos 70 em diante partiram do premissa de que o Brasil é essa refazenda conservadora e temos que lidar com isso. O Mangue Beat, movimento modernista dos anos 90, é o ultimo grande suspiro dessa linhagem de releitura do samba e a critica a sociedade a partir dessa leitura. Depois desse ultimo suspiro, o que se escuta é a negação completa do samba e da historia de suas relações com a sociedade.
musica sertaneja
Simplesmente, ele detestava determinadas músicas sertanejas. Não saberia dizer o quanto. as músicas retratavam um país pelo qual passou ao largo toda a sua vida. Conhecia seu pais de narrativas e imagens que apreendia ao abrir um livro ou uma televisão ou um computador. As musicas sertanejas transbordavam em emoções pouco usuais para um ser urbano como ele. quer dizer, pouco usuais para ele porque seus vizinhos escutavam essas e outras musicas de volume alto. Quer se queira ou não, ter vizinhança pressupõe viver surpresas. Naquele dia, porem, a surpresa viria da sua própria casa. A empregada deixara o rádio ligado no quintal. Tocava uma música sertaneja. Reconhecia a dupla sertaneja. Os nomes ele esqueceu. Nada grave esquecer os nomes daqueles dois. Ah sim!!1 Chitãozinho e Xororo cantavam Galopeira. Relembrar os nomes o satisfez e provocou um debater interno. Porque os intelectuais brasileiros não conseguiam elevar o debate em torno de uma determinada musica sertaneja? Uma determinada musica sertaneja que alimenta diversos comportamentos sociais e econômicos da sociedade brasileira.
Assinar:
Postagens (Atom)