terça-feira, 31 de agosto de 2021
Nao te faz de doido
O linguajar e sempre uma forma de expressar uma faceta do dia a dia da pessoa ou de um grupo social. Nao se deve observar o linguajar como algo fechado em si como alguns pretendem com relacao a linguagem. Ele resulta das varias interacoes e conexoes que os povos que viveram e os que ainda vivem num espaco geografico e social praticam ou praticaram delibradamene e inconscientemene para melhor compreender grupos sociais diferentes do seu. Nao te faz de doido e uma expressao utilizada pelo ludovicense da periferia em circunstancias especificas. Quem fala essa expressao, e bastante improvavel que se escreva, nao quer chamar o outro de doido e sim quer chama-lo para uma razao social, quer dizer, voce se insere num contexto, sabe das relacoes presentes em determinado lugar e quer fazer o outro de abestado. Nao te faz de doido carrega um sensacao de defender o que e seu independente de quem seja o interlocutor. A maioria da parcela de pessoas que integram as classes sociais mais pobres no Maranhao procuram se expressar de forma educada e solicita ainda mais na presen;a de pessoas provnientes das classes mais altas e das elites. O linguajar se torna entao uma protecao contra possiveis reacoes em contrario. As elites maranhenses se acostumaram a ver a grande maioria dos maranhenses como abestados e que qualquer desculpa esfarrapada ou trocado os convence de que est[a tudo bem obrigado. O deputado estadual Cesar Pires se coloca como um grande defensor dos campos naturais de Santa Rita e um dos campos de luta em que ele se destacou foi a luta contra o projeto de carcinicultura que pretendia se instalar nos campos, causando muitos impactos socioambientais pela dimensao do projeto que se estirava de Santa Rita a Anajatuba. O deputado se posiconou contra o projeto e como num passe de magica virou defensor dos campos contra quaisquer projetos que pretendessem se instalar sem o consentimento da populacao rribeirinha. Ao que parece, essa defesa tao honrosa exclui as comunidades quilombolas porque a possibilidade iminente da instalacao da carcinicultura expulsou diversas familias de quilombolas de Ilha das pedras e expulsaria a comunidade inteira de Mucura ou Cedro caso o Centro de Cultura Negra nao interviesse na ocasiiao. Sabe-se muito bem que a defesa dp meio ambiente e inutil sem a defesa das populacoes tradicionais que interagem com esse terriorio. A defesa do bioma ou do sistema ambiental deve vir junto com a defesa das comunidades. Se nao casos como os da retroescavadeiras que atolaram nos campos de Anajatuba enquanto prestavam servi;o para a empresa sin o portuguesa EDP se repetirao porque os orgaos ambientais e os legislativos n’ao fiscalizam o que as empresas fazem e quando as comunidades cobram compensacao ambiental os funcionarios desconversam, isso nao existe. Bem que um dos quilombolas que escutou tal aberracao poderia ter respondido Nao te faz de doido.
A rua quieta
A noite, foi a casa do amigo numa rua perpendicular a sua. Dormir cedo nem pensar. Dormia algumas horas das quais acordava pensando o quanto dormira. Por volta das sete horas, subira a ladeira. Trocaria breves palavras. O amigo se aprontava para sair. O cão na antiga casa de seu pai o aguardava faminto. Pediu que o seguisse pois se sentia melhor em companhia de alguém. Ele estranhava as ruas em que as pessoas desdenhavam do mundo. Para não fazer desfeita, fez-lhe companhia. Contava com a rapidez do amigo em colocar comida para o cachorro, obrigação que ele cumpria religiosamente nos dias em que o irmão passaria foras. Alguém deveria se ocupar do cachorro que chegara aos quinze anos. O seu pai morara naquela casa por décadas. Por alguma razão, não perguntou ao amigo o nome da rua, a ultima rua do bairro. Se prestasse atenção, veria que se mantinha pouco informado do que rolava no bairro. Dias mais tarde, descobriria o nome com o auxilio de um amigo geografo. O nome era Viveiro de Castro. No entanto, para si, o nome da rua pouco lhe importava. Pensava mais nas pessoas que moravam na rua por décadas e dificilmente punham a cabeça e os pés para fora de casa a nãos ser que fosse estritamente necessário. Parece que as pessoas assim que chegavam ali só queriam mexer naquilo que lhes diziam respeito. A senhora Madalena que chegou no bairro quando este se chamava Areal deve ser desse tipo de gente que se interessa apenas por suas coisas. A frente e a estrutura da sua casa permanecem as mesmas de sempre. Pois sim, a rua e as casas não abrem mão de suas quietudes.
segunda-feira, 30 de agosto de 2021
os campos encantados
Os campos naturais seriam um elo de ligação dos recursos hídricos com a terra firme. Adriano Almeid, advogado e fotografo, acredita que os campos se comportam como seres encantados e que para trafegar por eles só com permissão antecipada. A empresa sino portuguesa EDP de energia nos últimos meses tem enfrentado dificuldades para concluir os serviços da linha de transmissão que interliga Miranda a São luis e que passa pelos campos naturais de Anajatuba e Santa Rita. A empresa não pediu permissão as comunidades que moram perto dos campos e que vivem economicamente desse espaço ambiental. Os estudos de impacto ambiental solenemente ignoram os campos como berçários de inúmeras espécies de peixes de água doce e água salgada. Por conta dessa ignorância, a empresa terceirizada da EDP entrou nos campos naturais para erguer as torres de transmissão em plena piracema e em pleno regime de chuvas quando o rio Mearim sobe e encosta na terra firme propriamente dita. Essa ação irrefletida fez com que os peixes não executassem os seus planos de procriação nos campos naturais de Santa Rita e Anajatuba e o resultado mais devastador foi que os moradores que pescam ou tem açudes na região não viram peixes de 2020 para 2021. A empresa EDP argumenta que todo impacto se resume a um maquinário que atolou próximo a comunidade de Sitio do meio, município de Santa Rital, impacto que ela reconhece e pelo qual pagou indenizações de três mil reais aos donos de açudes. A maior parte do serviço de erguer as torres foi finalizado em Santa Rita e talvez por isso ela se esquive de negociar com as comunidades de papagaio e redondezas, mas falta terminar os serviços em Anajtuba. E o problema do maquinário atolado se repetiu no campos de Anajatuba e as comunidades impactadas pela linha de transmissão avisaram que o maquinário fica atolado até o dia de São nunca de tarde. Os campos naturais são ou não são encantados?
domingo, 29 de agosto de 2021
Mateus Enter
Por trás do discurso político e referências tecnologias em suas músicas e discos , as letras escritas e gravadas por Chico Science e Nação Zumbi revelam uma questão aparentemente esquecida na trágica história dos povos negros e indígenas no Brasil: a dificuldade de acessar informações técnicas e tecnológicas por parte desses setores. O acesso a essas informações possibilitaria a superação do processo histórico de exclusão social a que esses setores foram relegados. A música "Mateus Enter" que abre o cd "Afrociberdelia" gravado em 1996 e a junção de duas palavras que se opõe em termos históricos, culturais e temporais. "Mateus" e um brincante de folguedo das ruas de Recife e Olinda. "Enter" e uma tecla de computador que ao ser teclada abre espaço. "Mateus Enter" seria uma forma das classes populares acessarem tecnologia sem pedir permissão e de maneira subversiva.
quarta-feira, 25 de agosto de 2021
O romance de Cesar Teixeira
Cesar Teixeira, compositor e interprete de musica popular maranhense, quer escrever um romance cuja narrativa se basearia na historia do município de Cajapio, Baixada maranhense, onde nasceu sua mãe no começo do século XX. Para isso, ele pretende retornar a cidade algo que só fez uma vez em sua vida, na sua infância quando viajou com sua mãe de barco pela baia de São Marcos. Chegaram a noite em Cajapió, numa noite iluminada pelas estrelas e pela qual se moveram a cavalo. Pelo que conta, eram os anos quarenta e pouca gente vivia nos municípios da Baixada maranhense, contava-se uma casa aqui e para chegar a outra mais adiante caminhava-se por areal. Perguntado se mantem alguma ligação com Cajapio, Cesar Teixeira respondeu que sim devido a sua mãe.
A mãe de Cesar Teixeira migrara cedo para São Luis. Com mais ou menos treze anos. Um parente a levara para morar em sua casa e cuidar de sua filha da mesma idade. As pessoas acreditavam que uma menina do interior tinha as melhores condições para cuidar de uma criança. A infância de Cesar transcorreu na rua de São Pantaleão. Ele e sua mãe moravam do lado da Casa das Minas, casa de culto afro. Sofria costumeiramente de insônia e as vezes só conseguia dormir ao escutar os tambores africanos que soavam madrugada adentro. Os tambores acalmavam os seus sentidos ou os preparavam para o futuro ainda inerte? Se chorasse, Cesar buscava a Casa das Minas para chorar com mais emoção. As pretas velhas lhe pediam favores. Vá comprar farinha seca. Vá comprar querosene. Para ver o quão difícil era se manter em São Luis nos anos quarenta e cinquenta. Abastecer uma casa dependia muita das vezes de relações sociais e econômicas.
A sua mãe costurava pra fora e Cesar carregava sobre a cabeça os tecidos costurados para poder entrega-los. O dinheiro obtido dava pra alguma coisa. Um parente de Cajapio ajudava com o envio de mantimentos por barcos que saiam de Cajapio em direção a São luis, onde desembarcavam no Cais da Sagração. Junto com os mantimentos, vinha alguém todo embecado, mas descalço, que tomava de conta para que não se perdesse ou alguém furtasse. Era enviado jabiraca (peixe seco), tamarindo e bacuri. Por um bom tempo, esses mantimentos garantiram a segurança alimentar da família de Cesar Teixeira.
A fisionomia de Cesar Teixeira indica uma ascendência indígena. Ele reconhece que descende dos Guajajaras que habitaram a região de Cajapio e que foram exterminados ou integrados com o passar do tempo. O seu primeiro trabalho foi na TVE nos anos setenta, um trabalho que durou três meses. Do lado da TVE, havia um comercio que vendia pão e cachaça. Antes de entrar na televisão, Ubiratan Teixeira parava para tomar umas doses e sugeria que Cesar Teixeira bebesse uma com ele. E lá ia Cesar Teixeira, bebeu cachaça e não assinou o ponto nenhuma vez. Descobriu anos mais tarde que Ubiratan era seu parente. De vez em quando, ele o mal-diz em alguma mesa de bar como forma de lembra-lo
Governar pra quem ?
Um governante e eleito para administrar bem o Estado ou para atender as reinvidicações da sociedade? Nem sempre os interesses do Estado e os interesses da população convergem. No caso do Brasil o Estado e uma construção recente, do começo do século XIX quando da vinda de D João Vi para o Brasil. A comitiva real veio fugida da invasão de Napoleão Bonaparte e com ela veio a burocracia dos funcionários públicos e da nobreza. Quem mandava no Brasil realmente ? Quem mandava no Brasil era quem exercia cargos na burocracia. Não eram os indígenas, os negros e os brancos pobres que nem liam e nem comoreendiam as leis. Governar o Maranhão em pleno século XXI e tão diferente de governar o Maranhão de décadas atrás? O atual governo escolheu governar aliado ao agronegócio e há quem acredite e defenda que as práticas de governar com esse setor se modificaram em relação aos governos ungidos pelo Sarneysismo. Há quem acredite e defenda que o agronegócio e capaz de aumentar a capacidade de produzir e dividir a riqueza em proveito da maioria da população.
Riqueza tem seu valor absoluto como também tem seu valor simbólico. O que se viu até hoje foi que a expansão do agronegócio com as bençãos dos governos concentrou riquezas nas mãos de poucos. Essa e sua natureza pois para poder lucrar esse setor da economia não abre mao da concentração de recursos humanos e econômicos. Ele não divide espaço com a agricultura familiar. Não adianta que o atual governo do Maranhão propale a ideia que o estado ganha com o agronegócio a não ser que seja um outro Estado um estado burocrático um estado de poucas famílias e um estado de poucos grupos econômicos.
Porto para exportação em Alcântara
O projeto da construção de um porto na ilha do Cajual município de Alcântara infiltra se devagarinho nos ramos da sociedade maranhense sem que setores da sociedade civil se dêem conta. Sem informações do projeto não há como interpelar o governo do Maranhão principal interessado no projeto. A fronteira agrícola no Maranhão se desloca do cerrado sul maranhense para o oeste do estado. Esse deslocamento decorre das mudanças climáticas que ocasionam a diminuição nas chuvas. Os plantadores de soja correm para áreas onde chove melhor e a amazônia maranhense e esse lugar. Eles arrendaram fazendas de gado sub aproveitadas, arrendaram lotes em assentamentos da reforma agrária como aconteceu em Açailândia e disputaram terras com a Suzano Papel e Celulose. Os plantios de soja se aproximaram das terras indígenas sem respeitar zonas de amortecimento. O projeto da construção do porto em Cajual, rica em biodiversidade e artefatos arqueológicos, vem no bojo da expansão da fronteira agrícola. E como o projeto do porto de Cajueiro se encontra parado o governo do Maranhão precisa de uma carta na manga. Essa carta e o porto se Cajual. Tem um pequeno grande problema no planejamento estatal. As comunidades Quilombolas que vivem em Alcântara e nas vizinhanças. Por onde se anda, topa se com comunidades Quilombolas e os governos e os empresários as vêem como entrave. Vide o caso do centro de lançamento aeroespacial de Alcântara. Mas nada que aliciamento de lideranças Quilombolas e desinformação não resolva.
a tarde de sabado
A tarde de sábado se encerrou com uma reunião no povoado Papagaio município de Santa Rita com os donos de açude que não produzem mais peixes por conta da linha de transmissao de energia que a empresa portuguesa EDP instalou nos campos próximos a Santa Rita e Anajatuba o que inviabilizou a produção de mais de oitocentos açudes. A maior parte desses açudes pertence a famílias pobres que escavaram sozinhas com suas mãos. Uma dessas famílias foi a de uma quilombola da ilha das Pedras na Foz do rio Mearim. Essas famílias Quilombolas correm o risco de passarem fome porque não há mais peixes nos açudes. Pelos cálculos do escritório de advocacia que representa as famílias proprietárias dia acudes, a produção de peixe só em Santa Rita chegava a quase mil toneladas. Essa situação mudou drasticamente e quem vai pescar nos campos retorna sem um peixe sequer. A besteira foi que as empresas terceirizadas da EDP entraram nos campos na época do inverno e da piracema. Muito barulho e muita movimentação afugenta os peixes. E o caso da pirapema peixe migrador que desce o alto mar em direção aos campos para procriar. E um dos peixes que desapareceram. E a empresa EDP não quer se responsabilizar pelos impactos que suas obras causaram.
Quem define o que é civilização e o que é barbarie?
O centro leste maranhense entre tantas regiões do estado pouco comparece na memória do Maranhão. Apesar dessa afirmação um tanto quanto falaciosa, planejava-se um périplo por essa região tão deslocada no mapa. A razão desse périplo se explicava pelas noticias de que a Suzano papel e Celulose plantara milhares de eucaliptos sobre o Cerrado daquela região desavisada. A empresa aportara por Chapadas inequívocas com a (des)graça dos governos que viam com bons olhos os projetos de plantar mais de 600 mil hectares de eucalipto no Maranhã, Pará, Tocantins e Piaui par alimentar três fábricas de celulose no ano de 2010. Os donos verdadeiros dessas Chapadas atendiam pelo nome de quilombolas e em cada uma delas uma comunidade quilombola se sobressaia ano após ano. Os quilombolas se antecederam a quaisquer pretensos proprietários que se rotulem como tais. Eles antecederam em séculos e séculos demoram a fechar. Os séculos nas comunidades quilombolas nem chegam a fechar. As manifestações culturais, folclóricas e religiosas celebram seus antepassados que morreram há muito tempo. Acender uma vela no chão da casa ilumina o ambiente e também é uma promessa/divida de reza. A comunidade de Guerreiro em uma data incerta de 2021 celebrava uma santa de seus muitos santos. Uma comitiva andava pela comunidade bem cedo ao som de instrumentos de corda e de tambores. Essa comunidade de Parnarama se fortalece dessa forma contra as investidas da Suzano e de plantadores de soja que reclamam quase todo o seu território com o fim de desmata-lo. Um dos membros da comitiva era um senhor da comunidade de cocalinho que se especializou em fabricar artesanato com a cara do sertanejo e que saia pelas comunidades festejando a santa. Os moradores da região se identificam como quilombolas, mas a ideia do sertão se difunde por aquelas Chapadas e por essa gente quebradora de coco babaçu, coletora de buriti e comedora de caça. Os negros foram escravizados por criadores de gado numa logica de ocupação do sertão, espaço a ser desbravado e civilizado. A civilização nesses lugares atendia pelos nomes de Estado, igreja e proprietários rurais. Fora disso, a barbárie. Quem define o que é civilização e o que é barbárie no sertão de Parnarama, Matões, Caxias e outros municípios do centro leste maranhense
terça-feira, 24 de agosto de 2021
As ilhas e o casarão
A solidariedade se constitui num artigo em desuso. A comunidade de Papagaio se constituiu em torno de um nucleo da família Dias. Quem olha de fora imagina o quanto deve ser difícil viver no Papagaio distante de tudo e de todos . Impressão equivocada por certo. Dificuldade houve e ainda há mas a vida social e familiar que os moradores de Papagaio construíram fez com que se mantivessem fiéis a si e aos campos de onde tiram seus sustentos. Num lugar em que a luz foi instalada apenas em 2002 por intermédio do programa Luz para todos, restava a eles para sobreviverem do ponto de vista econômico pescarem e plantarem roça. Do ponto de vista simbólico, eles sobreviveram através dos seus discursos e das suas práticas diárias. As pessoas ainda cobram histórias de visagem, de vaquejadas, de açudes abertos com as maos, de caçadas, de cobras retiradas os couros e de lagoas. Há também histórias das ilhas que compõem o Horizonte e que mal se vê. Não e pra qualquer um distinguir o que e ilha e o que e campo. O Augusto da família Dias tem prática. Ali e ilha tal. Acolá e ilha tal e qual. Morava muita gente nessas ilhas. A empresa Bomar, do ramo da carcinicultura queria expulsar os Quilombolas da ilha das Pedras e dos Cedros para instalar um grande projeto de camarão em cativeiro. Felizmente, o projeto se encontra parado e as comunidades permanecem em seus Territórios. Outra ilha que Augusto contou a história foi a ilha das Berlengas onde um italiano construiu um casarão.
comunidaade quilombola se reconhece
A comunidade Quilombola antes de ser reconhecida ela se reconhece. Quer dizer o reconhecimento para se configura de início não precisa de alguém de fora e sim daqueles se dentro. A Suzano Papel e Celulose e os plantadores de soja no Maranhense estabelecem processos de reintegração de posse contra as comunidades Quilombolas defendendo a tese de que elas não existem. A Suzano fez isso diversas vezes e os plantadores de soja também pelo Maranhão todo. São setores que pintam modernidade mas no íntimo cultivam o racismo. A Suzano por conta do fracasso de seu projeto de produção de celulose no Piauí quer se desfazer de mais de 150.000 hectares no centro Leste maranhense o que significa vender para os plantadores de soja que chegaram a essa região. Uma dessas áreas e da comunidade quilombola de Tanque da Rodagem que sofreu vários processos de reintegração de posse por parte da Suzano. Para os Quilombolas a empresa nunca teve pena se pudesse expulsava era mesmo. Como o projeto de celulose não deu certo ela nao prosseguiu com as ações. A empresa vendeu a área da comunidade quilombola para um plantador de soja que propôs um acordo nefasto. A comunidade aceita 120 hectares e entrega o território de mão beijada para o plantador de soja. Esse tipo de acordo e ilegal porque e um território tradicional. Portanto foi necessário que setores da comunidade quilombola propusse o acordo para parecer que os Quilombolas invadiram a terra e o sojicultor e um cara decente. Porque os Quilombolas de Matões aceitaram esse tipo de acordo em que eles perdem mais do que ganham? A integração dos quilombolas no estado do Maranhão se dará pela cooptação financeira.
O enigma das comunidades tradicionais
Kaspar Hauser e a história de um adolescente alemão que passou a maior parte do tempo trancado. Ao ser descoberto e liberto, teve que aprender a pronunciar a língua materna e a se socializar com outras pessoas. Quem primeiro desenvolveu essa história foi o escritor alemão Jacob Wasserman que a escreveu no começo do século XX e na qual o cineasta Werner Herzog se baseou para filmar "O enigma de Kaspar Hauser" de 1974. Por alguma razão, esse breve resumo traz alguma sintonia com a situação problemática em que vivem os povos tradicionais no Brasil. Em algum momento, quem lê ou assiste Kaspar Hauser se pergunta quem e Kaspar e quem o deixou nessa situação. A constituição federal do Brasil reconhece o direito das comunidades tradicionais a um território onde elas possam expressar seus modos de vida e suas ancestralidades. A verdade e que antes da constituição ninguém dava a mínima pros povos tradicionais ou nem queriam saber. A constituição federal desfez parte dessa vedação que impedia que as populações tradicionais fossem conhecidas. Com isso, parte da sociedade se pergunta "Quilombolas existem?", "Os indígenas precisam de tanta terra?", "Eles são brasileiros?". Perguntas que não levam a nada a não ser a mais preconceitos que se cobrem com o discurso do processo civilizatório que pretende civilizar e integrar os povos tradicionais ao modelo de consumo e produção capitalista vigente.
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segunda-feira, 9 de agosto de 2021
Um sonho de bacuri
Dona Maria Rita disse na bucha: “Seu Mayron hoje não fiz jantar pro senhor. Tantas vezes deixei janta pronta e o senhor chegava de bucho cheio”. Ele não fez nenhuma objeção a sua fala. Ela tinha razão mesmo. Por sorte, ele e os outros dois que o acompanhavam pararam no bar social um misto de bar e restaurante familiar construído as margens da rodovia por onde eles trafegariam a noite saindo de Palestina no sentido-municipio de Buriti. O dono do bar estava recolhido por conta de um mal estar e a sua mulher os recepcionou. Na descida do carro, perguntaram se havia algo para comer. Optou-se por pasteis com queijo, mas a senhora veio com uma surpresa. “Todos vocês comem galinha caipira?”. “Ora não.”, foi a resposta. Ela cozinhara a galinha caipira para o marido que não quis comer. Vendo-os no salão de seu bar, resolveu oferecer como refeição. E não cobraria nada. A vida tem dessas coisas inesperadas. Na casa de dona Rita, pediram a dormida cedo em duas redes e em uma cama. Embrulharam-se com esperança de sentirem o frio característico do mês de agosto sobre a Chapada. O Vicente de Paulo, marido de Dona Rita, explicou, no dia seguinte, que a sua família comera boa parte das suas criações de frango caipira. Os donos do gado que abasteciam a zona rural demoraram a abater seus animais o que encareceu ainda mais a carne. A dificuldade em obter carne se espalhara por todo Buriti, só que no caso da família de Vicente e Dona Rita os frangos apareceram como alternativa. Eles não correram risco de passar necessidade ou fome. Os frangos que eles comeram eram, em parte, resultado de projetos apoiados pelo Fundo Casa e pela agencia de cooperação alemã ASW que vem aportando recursos na região do Baixo Parnaiba desde o ano de 2007. As instituições também financiaram a compra de bolas de arame que cercaram áreas de extrativismo de bacuri na propriedade da família do Vicente. Com os recentes desmatamentos em Buriti executados pela famila Introvini de produtores de soja, as comunidades pobres ficaram sem áreas de bacuri para coletar e quem sabe vender a polpa ou comer. O Vicente mantem em sua propriedade vários pequenos núcleos de bacuri como prova que essa fruta existiu realmente em Buriti antes dos desmatamentos ocasionados pela soja e pelo eucalipto.
domingo, 8 de agosto de 2021
O direito a ver sua historia contada de forma digna
O senhor Santinho riu um pouco. Achou curioso o titulo do livro. “De tudo quase nada”. O autor do livro presenteara ele e o marido da sua tia com um livro para cada um. Eles, por seu lado, o presentearam com melancias da lavoura do seu Santinho. É claro, as melancias não se destinavam apenas a ele. Elas também se destinavam ao senhor edmilson, agrônomo, e ao senhor Fabio Silva, ativista social, ambos secretários da prefeitura municipal de Bequimão. Sempre lhe pareceu que os agricultores familiares ao presentearem uma pessoa e sua família com frutas, legumes, frango caipira entre outras coisas davam demonstração de gratidão por algo que não decifrava. E não podia decifrar tão subitamente já que os códigos de convivência entre agricultores familiares e os poderosos foram estabelecidos muito antes do seu nascimento. No caso de Santinho, as melancias provavam o carinho que ele transparecia por Fabio Silva que passara três anos sem por os pes no território quilombola Cruzeiro, município de Palmeirandia. Os dois foram militantes da Comissão Pastoral da terra e dedicaram-se a mobilizar comunidades tradicionais de todo o Maranhão. Os dois deixaram a CPT e continuaram as lutas do melhor jeito que podiam aferir. Santinho virou liderança de Cruzeiro e desempenha um papel ativo no processo de regularização dos mais de 700 hectares e Fabio Silva foi nomeado secretario de igualdade racial de Bequimão. Nesse momento, em Palmeirandia, a Fundação Palmares reconheceu somente três comunidades como remanescentes de quilombos sendo que ao todo existem mais de 40 comunidades passiveis de reconhecimento. Reconhecer essas quarenta comunidades como quilombolas despertaria o município de palmeirandia para os direitos dos povos quilombolas que foram negados por séculos. Um desses direitos é o de ver sua historia ser contada de maneira seria e digna. As casas grandes, onde moravam os latifundiários escravocratas e suas famílias, perigam serem derrubadas porque empresários de fora compram os territórios quilombolas em toda palmeirandia. Essas casas grandes não foram tombadas e precisaria ter uma legislação para impedir as suas derrubadas.
A baixada
Antes de chegar a cidade de São Bento vindo de Viana enxerga se os campos inundaveis. Os campos se estendem por vários quilômetros e compreendem uma área incomensurável e inestimável chegando ao município de Bequimao. Para saber mais desses campos fez uma pergunta meio idiota : "Nessa região nunca houve projeto de carcinicultura?" Carcinicultura e criação de camarão exótico em cativeiro. "Aqui nessa região não porque esses campos são de água doce e a carcinicultura precisa de apicuns". A região da baixada registra um isolamento inexorável. Chegava se a região de canoa porque não havia estradas de terra. Os rios e as lagoas cumpriam o papel de estradas e de campo de extração de alimentos. Os antigos moradores provavelmente indígenas coletavam e caçavam alimentos. A agricultura era reduzida. Os moradores viviam sem expectativas econômico sociais e na história da humanidade a agricultura e a primeira grande atividade de impacto econômico social desenvolvida pelo ser humano. Primordialmente pescadores, os primeiros moradores transitavam pela baixada a vontade e em muitos casos solitários. A pescaria e uma atividade de poucas pessoas e que leva um tempo a espera. Qualquer atividade humana exige espera mas no caso da pesca a ansiedade da espera aumenta ainda mais por não se ver abaixo da água. Tem vezes que se pesca bem e tem vezes que se pesca mal. A carcinicultura como todo grande projeto econômico pensava em substituir a ansiedade da espera humana pela certeza da produção industrial em larga escala. Felizmente, organizações da sociedade civil entre os anos de 2003 e 2004 realizaram várias iniciativas questionando os impactos da carcinicultura ao meio ambiente e a segurança alimentar das comunidades ribeirinhas e das populações pobres das cidades do litoral maranhense.
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segunda-feira, 2 de agosto de 2021
Comunidade quilombola sem roça e agronegócio de vento em popa no município de Colinas
Por mais que se pense o contrario, a Historia não é um monólito e nem é uma sequencia de fatos em linha reta. A historia da comunidade quilombola de Peixe, município de Colinas, não é uma linha reta. Se o fosse, a historia da comunidade estaria se direcionando para o abismo resultado das inúmeras arbitrariedades e omissões que ela recebeu da parte dos poderes político-econômicos da cidade de Colinas e do estado do Maranhão. No município de Colinas, Peixe talvez seja a comunidade quilombola mais impactada pelas ações do agronegócio que comeu quase todo seu território tradicional no afã de plantar soja, milho, eucalipto e capim para alimentar gado. Parte dessa destruição se deve a inercia do Incra que não cumpriu a tempo com suas obrigações constitucionais e regularizou o território de Peixe impedindo assim que os grileiros o desmatassem. A culpa principal da destruição do territorio de Peixe cabe a Jaldo Henrique, secretario da prefeitura municipal de Colinas, cuja familia se apossou irregularmente do território nos anos setenta e oitenta e vem vendendo pedaços a empresários locais que ordenam o desmatamento do cerrado e de babaçuais para no lugar plantarem soja e outras monoculturas. A intenção principal, entretanto, é dificultar o processo de regularização fundiária iniciado no Incra em 2006. A historia de Peixe se inicia com o senhor Teutonio que chegou a região em 1903. Ele chegou para ficar uns dias e ficou para sempre. Constituiu família que deu base para a comunidade de Peixe da atualidade. Um dos principais problemas enfrentados pelas comunidades quilombolas em qualquer parte do Maranhão é a distancia o que obriga os quilombolas a sujeitarem-se a quem possui meios de transporte. O pai de Jaldo Henrique transportava os quilombolas para Colinas em qualquer necessidade e sob qualquer quadro de emergência. O pagamento ele requeria não em dinheiro e sim nas terras dos quilombolas, pois chegava e cercava o terreno. Em função das relações politicas que possuía no município, o velho Jaldo forjou documento no cartório que comprovaria que era o proprietário de Peixe. Por ser o proprietário da terra, passou a comprar renda dos quilombolas sobre a produção que eles obtinham em seu território tradicional. Proibia-se que os quilombolas quebrassem o coco babaçu e tirassem o azeite a fim de vender. O coco babaçu era todo para ele e sua família. Essa situação mudou um pouco pelo menos n teoria em 2006 com o reconhecimento por parte dos moradores da sua condição de comunidade remanescente de quilombo. A parte teórica é bonita mas a parte pratica é terrível. Mesmo com o auto reconhecimento e com o Incra agindo de vez em quando o Jaldo Henrique vendeu quase todo o território o que deixou a comunidade sem nenhuma área para cultivarem sua roça. O direito dos quilombolas aos seus territórios tradicionais não entrou na cabeça dos fazendeiros do município de Colinas.
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