Por
desconhecerem algum outro caminho para o povoado Carrancas, eles rumaram direto
para a cidade de Buriti. Nesse percurso,
entre a Palestina, município de Brejo, e Buriti, a realidade dissolvia-se em
campos intermináveis de soja e fragmentos de Cerrado. Eles mal dispunham do
dinheiro para a gasolina e para as refeições. Assim, transcorriam as viagens e
os rumores pelo Baixo Parnaiba maranhense. As viagens correm para um lado e os rumores
correm em sentido contrário. O Vicente de Paula ouvia rumores de que o André
Introvini, plantador de soja e proprietário da fazenda São Bernardo, preparava
seus tratores para desmatar a área em frente a sua. Ele fizera negócio nessa área
com o tio de Vicente, o Adão, depois que a comunidade de Carrancas bloqueara os
seus tratores. O Adão trocou sua área de Chapada por uma área de Baixo que o
André comprara baratinho. Adivinha quem saiu ganhando com o negócio. Desde então,
o André peleja para esvaziar os 110 hectares de sua vegetação única de Cerrado
Amazônico em Buriti. Os bacurizeiros se distribuem por esses 110 hectares e, na
época, isso empatou o desmatamento, segundo o Vicente de Paula. Quem diz que
esse revés refreou o André em seus projetos de alargar a fazenda São Bernardo
em mais hectares? Ele liberou alguém para cortar os bacurizeiros. Dessa forma,
a densidade de bacurizeiros por hectare diminui o que facilita a liberação do
desmatamento. Vicente de Paula e família decidiram pela única solução capaz de
barrar qualquer projeto que acarrete desmatamento nessa parte da Chapada. A
Raimunda, filha do Vicente, resolveu construir a sua casa nos 110 hectares. Aos
pouquinhos, eles juntaram o material de construção. O André enviou emissários
que deram o seguinte recado: caso prosseguissem, ele mandaria a policia para
derrubar a casa. Eles continuaram a construção e o próprio André apareceu na
casa do Vicente. Ele disse que considerava Vicente o seu pior inimigo e que
traria o delegado de Buriti. Por enquanto, ele não cumpriu a ameaça.
Mayron Régis