sexta-feira, 31 de julho de 2020
Um angelim de outros tempos
O ambiente em que a pessoa vive diz muito sobre ela. Aspectos recônditos da vida social da pessoa, porem, são desvendados no ambiente de trabalho. Próximo aos campos de soja do André Introvini, o povoado Cacimba, município de Buriti, é ambiente de moradia para algumas pessoas e em tempos atuais e foi ambiente de trabalho para outras pessoas em tempos passados. O assunto aqui a ser tratado passeia pelas voltas que o mundo dá e que as pessoas nem sempre se dão conta disso. O Vicente de Paula, morador do povoado Carrancas, indicou o caminho que levaria ele e os amigos ao povoado Cacimba. Ele e sua filha Santana, uma das mais novas, roçaram a Chapada do povoado Cacimba em 2002; ela completara quinze anos. Vicente e Santana se mudavam de ambientes assim que eles se esgotavam para a agricultura familiar em direção a outros ambientes com pouca presença humana e pouca atividade econômica. Essa dinâmica exigia muito esforço físico da parte deles (caminhar, roçar, plantar e carregar a colheita sob sol bruto). Era pegar ou largar. Onde dava, eles pegavam a oportunidade de roçarem e, se possível, coletarem frutos. O quintal da casa de um dos proprietários da Cacimba se enchia de mangas de tantas mangueiras que se comprimiam por lá.
Vicente e os amigos queriam conversar com o Alberto, herdeiro de um dos antigos proprietários, e com o Deusdetih, genro de Manoel Carlos, amigo de Vicente. Alberto herdara 120 hectares da mãe e administrava a propriedade como aprendera com seus parentes. Os pequenos e médios proprietários concluíram que eles não precisavam inovar nem na administração da propriedade e nem no trato dos seus agregados. Agregado não é bicho que se conta a não ser na hora de pagar renda para o proprietário. O Deusdetih não é proprietário e não é agregado pois detem uma posse de 11 hectares. Então, não paga renda para o proprietário e não paga impostos para o Estado. Está por sua conta e risco. Os dois estranharam a presença do jornalista Mayron Régis e do engenheiro agrônomo Edmilson Pinheiro que, juntos com Vicente, explanariam sobre os projetos de criação de frango caipira que o Fórum Carajás oferecia a eles. O Alberto parecia pensar “o que esses caras vieram fazer aqui, eu não chamei eles”. Pensaria na proposta e daria resposta ao Vicente de Paula, foi sua resposta. O Deusdetih sofria de uma perna menor que a outra o que dificultava o seu movimento como se viu no momento em que se levantou da cadeira para falar com a esposa. Na sua posse de 11 hectares, moravam ele, a mulher, os filhos e o sogro Manoel Carlos, que se recuperava de um derrame cerebral. Os frangos que a família criava morriam de gogo e Deusetih achou melhor não receber o projeto devido a essas mortes.
A passividade era inerente ao ambiente e as pessoas. Essa passividade contribuiu com a entrada do agronegócio em Buriti. Os agregados faziam parte do mobiliário objetivo e do mobiliário subjetivo dos proprietários. Os proprietários mudavam a posição dos agregados conforme os seus projetos e conforme os seus humores. Inúmeras foram as famílias de agregados que os proprietários relegaram a menos de dez hectares, após venderem suas proprieddes para os plantadores de soja. O Alberto mantém duas famílias de agregados em sua propriedade. As familias de agregados, por enquanto, não correm riscos de sairem dos terrenos onde construiram suas casas porque o Alberto não pretende vender a propriedade que herdou para os "gaúchos". Os agregados de Alberto vivem do outro lado do rio Preto. De tanto ver o rio Preto baixo, consequência de uma década de invernos fracos, Vicente se impressionou ao ver como as águas do rio subiram. Vicente também se impressionou com uma arvore chamada Angelim, madeira nobre: “E um Angelim de outros tempos”.
terça-feira, 28 de julho de 2020
O bar da baixinha
De todos os ambientes de São Luis que frequentara, aquele era o mais negro. Negro e masculino. Sem escapatória e sem exageros. Quem entra bem cedo no recinto do ambiente dá de cara com um homem negro dando expediente. Quanto mais tarde for, mais homens negros serão vistos tanto dentro como fora. Eles caminham pela avenida ou param ao pé da escadaria do ambiente. Entrar neste ambiente não é tão simples. Para chegar ao portão, sobe-se uma escadaria de granito. A subida se torna difícil para quem carrega garrafas de cerveja. O ambiente é o bar da Baixinha e é neste bar que ela mora com seu filho, sua nora e sua neta. O bar ocupa uma posição privilegiada. Quem nele bebe ou apenas conversa se sente “por cima da carne seca” de tão suspenso se construiu o prédio. Em quase todos os momentos, a presença massiva é de homens que não param de beber, conversar e escutar musica. De preferência, reggae ou musica brega. É possível escutar outros ritmos. Não é proibido. Só que rola uma negociação com a proprietária e com os clientes diários para que concordem em mudar as musicas de um ritmo para outro. Uma dia, a maioria concordou com a mudança e alguns rocks clássicos tocaram no aparelho de som. Durou pouco tempo a mudança. Eles, por serem clientes fiéis, tinham a primazia para assumirem o aparelho de som. A proprietária (Baixinha) exige respeito dentro do ambiente e quem falta com respeito ou desobedece as regras ela bota pra fora só no gogó. O PC é um dos que ela bota pra fora porque ele pede com insistência para encherem seu copo de cerveja. Por mais que a Baixinha o expulse, ele não desiste e retorna. No seu intimo, sem que ninguém saiba, a Baixinha também não desiste dele e de quem mais for beber uma cerveja no bar.
segunda-feira, 27 de julho de 2020
Seu garçom faça o favor
Não se nasce com um nome. O nome vem após o nascimento. O pai e a mãe entram em um acordo e lá se vão registrar em cartório. Um nome deve cair bem como cai bem um vestuário sobre o corpo. Alguns seres tem sorte e os nomes lhes caem bem assim como as roupas que vestem a qualquer hora do dia. Noel Rosa teve sorte com o nome que os pais lhe deram e dava mais sorte com as roupas que vestia. Tudo ficava bem nele como se vê pelas fotos da epoca. O cigarro era um acessório indispensável para matar o tempo “não se esqueça de me dar palitos e um cigarro para espantar mosquitos”(Conversa de Botequim). A fumaça do cigarro espantava os mosquitos num Rio de janeiro que crescia sem parar e sem respeitar as suas áreas úmidas o que acarretava o aumento do calor e do numero de mosquitos. Antes de Noel Rosa pedir um cigarro para espantar os mosquitos, ele pede “uma boa média que não seja requentada Um pão bem quente com manteiga à beça
Um guardanapo e um copo d'água bem gelada” para espantar a fome, o calor e a sede.. Noel é esperto, pois ele quer espantar um bando de coisas da sua vida, mas não quer espantar o garçom “Seu garçom faça o favor...” que pode ser o intermediário para conseguir o que deseja. Noel Rosa não pede uma cachaça ou uma cerveja como se espera de alguém que senta na mesa de um botequim. A forma de pedir uma bebida alcoolica se difere da forma de pedir algo para matar a fome ou matar a sede. Ele introduz “Seu garçom faça o favor...” porque se não fosse assim ele não obteria a atenção do garçom e nem obteria algo para comer e para beber.
sábado, 25 de julho de 2020
Radio Samba
Depois de tanto tempo, esquecera por completo o local exato onde ficava a agencia do Banco do Nordeste na rua Grande, centro de São Luis. Caso não estivesse redondamente enganado, dirigira-se a essa agencia por três vezes de 1998 a 2000. Nas duas primeiras vezes, propunha-se a sacar cheques que recebera como forma de pagamento da Associação Agroecologica Tijupá por serviços de assessoria de comunicação em um encontro da Rede Abelha, articulação de entidades que desenvolviam projetos com abelhas. A imprecisão em apontar qual daqueles prédios no final da rua Grande chegara a ser a sede do Banco do Nordeste em São Luis o mortificava. Das idas para sacar os cheques, pouca coisa se resguardou na sua memória. Essas idas, com certeza, não foram as causas determinantes na tentativa frustrada de adivinhar com precisão o prédio. É mais provável que a ultima ida a agencia, no ano de 2000, configure-se como a causa determinante. Ele descobrira um possível comprador para o cd “Radio Samba”, da Nação Zumbi. Esse possível comprador trabalhava em um dos setores do banco do nordeste como estagiário. O cd Radio Samba era o primeiro cd oficial da Nação Zumbi pós morte de Chico Science em 1997 e havia muitas expectativas quanto ao futuro da banda e quanto a saber se ela manteria a pegada dos primeiros cds. Por ter contatos em Recife, ele pôde escutar o cd em primeira mão o que fez pedir ao dono da loja que enviasse cópias via correio para que vendesse em São Luis aos amigos chegados. Dessa forma e por outras, o “Radio Samba” passou a circular pelos mangues e pelas dunas da ilha. Essa circulação de informação o levou ao estagiário no Banco do Nordeste. Cruzou o portão da agencia pronto para mais uma etapa da sua vida de vendedor de cds. Antes de concretizar a venda, porém, um outro estagiário o interpelou. ‘Onde você arranjou esse cd?”. Não dava pra dizer quem dos dois se surpreendera mais. O estagiário que se maravilhara ao ver a capa do Radio Samba ou o vendedor que não esperava encontrar no mesmo espaço de trabalho dois apreciadores da Nação Zumbi e do mangue beat.
Uma comparação
É possível estabelecer uma comparação entre a obra O violeiro pintada pelo brasiliero Almeida Junior em 1899 e a obra Almoço na Relva pintada pelo frances Edouard Manet em 1863? Almeida Junior é categorizado como um pintor acadêmico. Ele desenvolve em seus quadros temas rurais e segue direitinho as regras de enquadramento e de uso de cores preconizados pela Academia. Os titulos das obras de Almeida Junior compreendem bem os sentidos que ele dá a essas obras. Quem lê “O Violeiro” não duvida que o quadro de Almeida Junior se trata de alguém com uma viola. O caso de Manet é bem diferente. A sua obra desenvolve temas urbanos em que se destacam figuras burguesas e o enquadramento não é centralizado, pois os indivíduos representados na obra parecem estar em movimento físico ou movimento mental. O uso das cores por Manet provoca essa impressão de movimento. Quem lê “Almoço na Relva” não deve esperar a simples representação de um almoço. O almoço não é central no quadro. Manet pinta o almoço (revirado) à esquerda e os burgueses ao centro numa situação de conversa, de olhares trocados e de banho no rio. Por certo que a obra “O Violeiro” é academica em comparação com ‘Almoço na Relva”, mas por que não admitir que as personagens de “O violeiro” procuram passar momentos divertidos como o fazem as personagens de “Almoço na Relva” sem se preocuparem com nada? A diversão vista na obra de Manet é uma diversão burguesa (a natureza é para seu deleite) enquanto que a diversão vista na obra de Almeida Junior é uma diversão de caipiras (moradores da roça).
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quinta-feira, 23 de julho de 2020
Outros quinhentos
Ele estudou perto da praça e poucas vezes brincou nela. Quase chegou a brincar com um colega de bairro que frequentava a escola publica, vizinha da praça, no final de uma manhã. A escola em que estudava distinguia-se por ser uma das escolas de melhor qualidade de ensino na cidade. Se alguém perguntasse a diferença entre escola publica e escola privada ele emudeceria. Em 1986, transferiu-se da sua escola para outra particular com mais status e com mais recursos. Não duvidava que a aprovação no vestibular se devia aos anos nessa escola. Por alguma razão, a escola onde fizera os primeiros anos figurava em seus bons momentos de infância. A escola fora fechada pelas proprietários, duas descendentes de franceses, em anos posteriores a sua transferência. A rua em frente a porta de saída cabia um carro e muito mal. Nada diferente das demais ruas do centro de São Luis pelas quais as pessoas disputavam espaço com carros e ônibus. A convite de um amigo, caminhara pelas ruas do Centro puxando o fio da meada e da memoria que se emaranhara por fiações telefônicas e fios de eletricidade expostos a tudo. O amigo degustava as encardidas e descascadas aparências das casas e predispunha-se a comprar aquela que estivesse a venda. A casa que por décadas vendeu livros usados, um sebo de livros, revistas e discos, encerrara os negócios e cerrara suas portas. Deu para ler um anuncio de vendas e um numero de telefone. O amigo ligou para saber o preço e as condições de pagamento. Tamanho voluntarismo o deixou passado. O preço que a imobiliária cobraria era uma coisa. Os valores para reformar a casa e para mantê-la em condições eram outros quinhentos. Assim pensava.
quarta-feira, 22 de julho de 2020
Os sentidos historicos de São Luis
Quais sentidos da historia que a cidade de São Luis personifica? A moça negra percorre o corredor da feira improvisada do lado de fora do mercado da praia grande que fechara para uma reforma urgente. Os seus braços levavam pratos e talheres que ela lavaria na pia da barraca de plástico onde dividia espaço com sua chefe também negra. A negritude daquelas mulheres pobres e trabalhadoras o desperta da sua distração. Ele se distraia com o casal de proprietários da barraca onde pedira uma cerveja. Era bom se distrair com aquelas pessoas. Desperdiçar alguns instantes de sua vida e não esperar troco e nem devolução. As ruas da Praia Grande requerem movimentos lentos dos seus transeuntes para que os sentidos históricos personificados pela cidade de São Luis não mudem bruscamente. Um desses sentidos históricos que pode passar imperceptível é a ida dos ludovicenses as feiras dos bairros e as feiras do Centro um dia ou dois dias na semana. Nas feiras, contemplam-se as mulheres negras pobres que comercializam alimentos em seus boxes ou barracas ou vendem quilos de camarão e de farinha de água. Nessa contemplação, o ludovicense vasculha a feira a fim de achar o camarão e a farinha de água com os melhores preços, um hábito que conquista os que vem a São Luis de muito perto e os que vem de muito longe.
terça-feira, 21 de julho de 2020
A esquina dos amigos que não se vêem mais
O amigo só quis dar uma volta. Vivia trancado dentro de casa. Ele vagava como um sonambulo que não despertava de um sonho bem particular. O mundo para além dos muros ficava fora de sua vista. A senhora em frente mandava beijos do alto do castelo para que ele agarrasse. O filho mais novo dela se exilara em residências diminutas porque fora despachado da casa familiar. O filho mais novo se exaltara desde então e os percalços foram tantos e tamanhos que uma parte dele definhava a olhos vistos. O filho mais novo e o amigo a cada troca de olhares afagavam-se e afogavam-se em ternura. O que era deles que não podia ser usurpado? Sei não, o meio da rua? Não. A resposta é a esquina onde se ouve os amigos que não se vêem mais.
ficção cientifica
Em nenhum outro pais a ficção cientifica prepondera tanto como nos Estados Unidos. Isso tem a ver com uma certa visão distópica da realidade. Para um pais que exterminara os indigenas e escravizou os negros antecipar o futuro premiava a sua existencia. A prosa americana é distópica por excelencia. Melville em Moby Dick. Poe em Histórias Fantásticas. Faulkner em O som e a fúria. Comarc Mccarthy em Meridiano Sangrento. Philip K Dick em O homem do castelo alto.
segunda-feira, 20 de julho de 2020
Geração de renda e segurança alimentar nos projetos apoiados pelo Fundo Casa no Baixo Parnaiba maranhense
Não se tem certeza, mas é quase certo que o projeto “ As Carrancas do senhor Onésio” foi o primeiro projeto que o Fundo Casa financiou na região do Baixo Parnaiba maranhense que consagrava em seus objetivos a geração de renda e a segurança alimentar. O projeto nasceu em discussões do Fórum Carajás com os pequenos e médios proprietários e posseiros do povoado Carrancas, também conhecido por Valença, município de Buriti de Inácia Vaz. O nome “As Carrancas do senhor Onésio” tem suas explicações. As pessoas denominavam o povoado de “Carrancas” devido a aparência carrancuda das florestas que se adensaram sobre as Chapadas ou, em outras palavras, era mata fechada mesmo. O senhor Onésio foi o elo de ligação da equipe do Fórum Carajas com os moradores do povoado nas discussões que deram partida ao projeto e dele partiram sugestões para o seu pleno funcionamento.
A leitura que se fazia a respeito da realidade do município de Buriti e de outros municípios da região do Baixo Parnaiba maranhense era que só o discurso de preservação ambiental não seria suficiente para motivar a resistência dos proprietários e das comunidades frente ao avanço do agronegócio que já ocupava vários cantos e recantos do município. O Fórum Carajás vindo de uma experiência no povoado de São Raimundo, município de Urbano Santos, propôs ao seu Onésio e aos demais proprietários e posseiros a realização de um projeto que incentivasse a preservação do Cerrado cujas bases estariam na posse da terra, na produção, na geração de renda e na garantia de alimentação saudável. Dois pontos nevrálgicos do projeto eram o combate ao desmatamento das Chapadas para o plantio de soja e o reflorestamento de áreas degradadas com espécies nativas especialmente o bacurizeiro, espécie fundamental para a regulagem do micro clima, para a regulagem dos reservatórios de agua no subsolo, para a geração de renda e para a alimentação. Essas qualidades se devem as suas raízes que alcançam distancias impressionantes num raio de quilômetros e aos seus frutos cuja polpa serve para comer em natura ou serve para produção de sucos, doces, cremes e etc, o que é muito apreciado pela população local e pelos compradores de polpa vindos de grandes centros.
O projeto “As Carrancas do senhor Onésio” foi administrado pela Associação dos Amigos de Buriti (AMIB), ONG sediada no município de Buriti, e demorou um pouco mais de um ano para ser concluído. Foram realizadas várias oficinas balizadas pelos objetivos do projeto: oficina de artesanato, oficina de produção de mudas e oficina de manejo de colmeias de abelhas nativas, um item prioritário para a conservação da biodiversidade. Essas oficinas eram desenvolvidas em comum acordo com os participantes do projeto para que não ficasse parecendo uma imposição vinda da coordenação. Um dos resultados mais pronunciáveis e visíveis do projeto foi o fechamento de uma área de mais de dois hectares na propriedade do senhor Vicente de Paula em que vicejavam brotações de bacurizeiros para todo que é lado. Vicente e seu genro João cercaram a área com bolas de arame farpado, comprados com dinheiro do projeto, demonstrando a intenção de proteger os bacurizeiros, que ainda estavam na fase de crescimento, de qualquer perigo de queimada. Uma vez Vicente comentou que a sua propriedade de 160 hectares apresentava mais de dez hectares de bacurizeiros.
O tempo que durou o projeto permitiu ter consciência de outras carências que se infligia aos agricultores familiares pela falta de politicas publicas provenientes do Estado. A mais terrível dessas carências era a insegurança alimentar que as pessoas sentiam em seus domicilios em boa parte do ano e que contribuía para que os plantadores de soja avançassem sobre os terrenos dos agricultores que não viam outra saída a não ser vende-los para obterem algum rendimento. Uma mudança nesse quadro passava pela produção sustentável e agroecológica de pequenos animais, no caso frango caipira e capote. Antonio Anisio, técnico agropecuário e ex funcionário da Associação Agroecologica Tijupá, desenvolvera um projeto de criação de frango caipira para agricultores familiares de acordo com os recursos naturais que podiam ser encontrados no meio ambiente ao redor. Para todos os efeitos, seria um galinheiro rustico, pois os materiais que entravam na construção do galinheiro eram palha de babaçu, talo de buriti e estacas de madeira do Cerrado.
Propôs-se que o Fundo Casa financiasse outro projeto no município de Buriti sob os auspícios da AMIB e com a coordenação técnica do Fórum Carajas com a justificativa que o projeto anterior fora realizado dentro da previsão e com os relatórios aprovados pela instituição financiadora. Com a aprovação do projeto pelo Fundo Casa, o Vicente de Paula passou a ser o olheiro responsável pela escolha das famílias que seriam beneficiadas com a construção dos galinheiros rústicos. Nesse momento, foram escolhidas famílias das comunidades da Bacaba, Mato Seco, Santa Luzia e Brejinho que dispunham de poucos recursos financeiros para iniciar um pequeno projeto que seja de produção. Esse projeto foi desenvolvido no ano de 2013 e mais outros projetos foram apoiados em mais de sete anos pelo Fundo Casa em Buriti e em outros municípios do Baixo Parnaiba maranhense que garantiram a geração de renda e a segurança alimentar de inúmeras famílias. Uma dessas famílias é a do Antonio José, morador da comunidade de Mato Seco, que vive como agregada no território da comunidade de Belem. É uma família de agricultores familiares (ele, a mulher, as filhas e os netos) e que criava galinha caipira da maneira tradicional, criando soltas, alimentando-as de vez em quando e etc. Com o projeto, Antonio José e a família criavam o frango caipirão que é um hibrido, um individuo com características da caipira e do frango de granja. Eles alimentavam os frangos duas vezes por dia, davam medicamentos e limpavam o galinheiro diariamente. O tempo de crescimento e de engorda durava três meses e a partir dai os frangos podiam ser vendidos ou consumidos pela família. A criação de frangos com apoio do Fundo Casa tirou do aperto financeiro e alimentar a família do Antonio Jose e muitas outras famílias.
O apoio do Fundo Casa aos projetos indicados pelo Forum Carajas também contribuíu para a diminuição dos desmatamentos da floresta no Baixo Parniba maranhense (Cerrado, Babaçu, Floresta Amazonica, Caatinga e restinga) e para a contenção do avanço da fronteira agrícola (soja, eucalipto e cana de açúcar).
domingo, 19 de julho de 2020
O conflito agrário em Gostoso município de Aldeias Altas e as intenções do poder judiciário e da empresa Costa Pinto em negá-lo
O conflito agrário em Gostoso município de Aldeias Altas e as intenções do poder judiciário e da empresa Costa Pinto em negá-lo
O advogado Waldemir que defende os direitos dos trabalhadores rurais postou uma foto de membros da comunidade Gostoso no Facebook, comunidade de agricultores familiares do município de Aldeias Altas que luta contra o grupo Costa Pinto, empresa que planta cana de açúcar em Codó, Aldeias altas e outros municípios da região dos Cocais. A empresa Costa Pinto gasta seus cartuchos jurídicos, políticos e econômicos para tirar a comunidade de Gostoso do seu território para que ela possa desmatar toda área e plantar cana de açúcar. Praticamente, a comunidade de Gostoso vive nessa área e é a única comunidade que resistiu e resiste aos planos da Costa Pinto de devastar o município de Aldeias Altas e parte do município de Codó. Em quase dezessete anos, foram inúmeras as investidas da empresa em cima da comunidade se utilizando de decisões judiciais, intimidações policiais e desmatamentos. A foto que Waldemir postou mostrava uma plantação de melancia e dois agricultores segurando melancias. Esse plantio de melancias da comunidade motivou um bate boca entre os agricultores e funcionários da Costa Pinto que exigiam dos agricultores a suspensão dos plantios. Imagina qual foi a resposta proferida por um dos agricultores. Que não suspenderiam o plantio e eles rebateram os funcionários bem na cara na mesma hora.
No dia 17 de julho de 2020, o desembargador Ricardo Duailibe decidiu negar provimento de ação da Associação dos Pequenos Produtores Rurais dos Povoados Pati e Gostoso que pedia o efeito suspensivo da decisão do Juiz da Comarca de Caxias que concedia reintegração de posse a Costa da área de Gostoso. Tanto a decisão em primeira instancia como a decisão do desembargador não são decisões definitivas e serão levadas ao plenário do tribunal de justiça para uma decisão definitiva. Os agricultores de Gostoso sabem dessa circunstancia e não aceitaram que os funcionários da Costa Pinto botassem moral em seu território. No tocante a decisão do desembargador Ricardo Duailibe, vale analisar alguns trechos que indicam uma intencionalidade. Eis o primeiro trecho: “ não restou efetivamente demonstrada a presença de conflito agrário coletivo”. Com esse trecho, o desembargador Ricardo Duailibe corrobora a decisão em primeira instancia. Como se demonstra a presença de conflito agrário coletivo?
A empresa Costa Pinto certamente não quer que um conflito agrário ganhe proporções demasiadas ainda mais no seu caso que vende açúcar e álcool para o mercado interno. Pensa se os compradores ficam sabendo que a empresa concentra terras, desmata ilegalmente, polui córregos e ameaça trabalhadores. A empresa atenua o conflito “é só uns gatos pingados” e o poder judiciário aceita a versão empresarial dos fatos. Seria bom perguntar o porquê do poder judiciário aceitar essa versão. Nessa pergunta incide um termo chamado intencionalidade. A decisão do desembargador Ricardo Duailibe vem carregada de intenção. Intenção de negar que é um caso de interesse coletivo. Ele negou a inclusão da defensoria publica e do Incra no caso porque não ficou comprovado a versão da Associação, mas a versão de que a associação esbulhou a posse da empresa ele aceitou. Quer dizer que uma pequena associação do interior do Maranhão tomou a posse de uma grande empresa do setor sucroalcooleiro. Impressionante a capacidade dos agricultores familiares. Só falta que o desembargador Ricardo Duailibe esclareça que posse a Costa exercia no Gostoso “os elementos de prova ate então indicam posse anterior da agravada sobre a área...”; Quais as provas que a empresa apresentou, afinal os agricultores moram no Gostoso tem mais de dezessete anos e pelo que se saiba exercer a posse é morar, plantar, criar naquele lugar e a Costa Pinto não tem nada disso demonstrado nesse território?
sábado, 18 de julho de 2020
a destruição do patrimonio (ou a fata de amor incondicional) em São Luis
A opinião a respeito da praça Deodoro nunca foi favorável. Morrer de amores por aquela praça quem quiser que o faça. Por falar em amores, São Luis agregou a sua personalidade o titulo ilha do amor e uma das suas praças divide sua personalidade concreta em duas nomeações: praça Gonçalves Dias e Largo dos Amores. Os casais de namorados que juraram amor nessa praça devem ser incontáveis e de tão incontáveis que são e foram o nome Largo dos Amores faz sentido, mas por esse nome as pessoas que caminham pela praça deveriam amar incondicionalmente os casarões históricos, a Igreja dos Remédios, os bancos, todo o aparato arquitetônico e a vista maravilhosa para a beira mar e para a baia. O amor em São Luis pela sua historia, pela sua cultura e pela sua arte não é incondicional porque se fosse o caso a promotoria de meio ambiente não teria direcionado o dinheiro de uma compensação ambiental da Vale do Rio Doce referente aos danos causados pela empresa na área da comunidade do Gapara, região do Itaqui Bacanga, para investir na reforma da praça. O visual da e o visual proporcionado pela praça Gonçalves Dias só são comparáveis ao visual da Praça João Lisboa. A praça Deodoro é a praça central de São Luis mas o seu patrimônio arquitetônico se inferioriza bastante em termos visuais aos patrimônios da Gonçalves Dias e da João Lisboa. Quem entra na praça João Lisboa pela rua do Sol tem sua visão perpendicular da esquerda preenchida pelo prédio dos Correios e por metade da Praça, em que se encontra o monumento a João Lisboa, e sua visão perpendicular da direita é preenchida por vários prédios que oscilam em tempo histórico de oitocentistas a modernos. O monumento a João Lisboa é de uma expressividade atordoante que não submergiu perante a Historia e os fenômenos físicos e que se mantem sólido em sua estrutura metálica. Não há sinais de abalo em décadas de existência do monumento. Dizer ou escrever o mesmo a respeito dos prédios históricos que circundam o largo do Carmo não é possível. Daria para prestar juramento a figura de João Lisboa em cima daquele pedestal. O livro aberto sobre sua perna é o “Jornal de Tímon” ou é “A festa de Nossa Senhora dos Remédios”, santa que dá nome a igreja da praça de Gonçalves Dias? As duas principais praças ou largos de São Luis (sem esquecer claro da praça Benedito Leite e da Praça Pedro II), por vias que só a historia é capaz de decifrar, interligam a obra de João Lisboa que esmiúça a vida social e politica da sociedade maranhense. E se um leitor experiente leitor reparar Largo do Carmo é uma aliteração de Largo dos Amores. A praça João Lisboa ou Largo do Carmo, numa leitura histórico urbanistico, em vez de concentrar o fluxo da cidade de São Luis como faz a praça Gonçalves Dias ou Largo dos Amores, dispersa esse fluxo em inúmeras vias que a trespassam. A rua do sol não se extingue assim que chega ao Largo do Carmo: ou ela continua na forma da rua de Nazaré, ou ela se vira e desvira-se no exotismo da Rua do Egito. Será que a reforma do piso da praça João Lisboa que a prefeitura de São Luis leva a feito nesses dias recuperará alguma fração do tempo histórico submerso por toneladas de asfalto e de cimento? A conservação de parte do patrimônio histórico vale a destruição de outras formas de patrimônio como o patrimônio ambiental? O corte de uma arvore ou duas arvores indigna parte da sociedade ludovicense que se comporta com indiferença quanto a destruição ambiental provocada pelo boom imobiliário em vários bairros de São luis. O jornal que João Lisboa escreveria, caso vivesse em pleno século XX, manteria o nome de Tímon, filosofo grego, ou mudaria o nome para atualizar a critica as elites maranhenses e a seus projetos de modernização? O que João Lisboa escreveria teria que dar conta de um todo que se despedaçou e que não se refaz nem com projetos de revitalização urbanística e nem com miragens de um meio ambiente intacto.
sexta-feira, 17 de julho de 2020
O terreno em disputa da Literatura
“Não quero falar de mim mas seguir de perto o século o rumor e a germinação do tempo. Minha memória e hostil a tudo que é pessoal. Se dependesse de mim eu me limitaria a franzir o cenho ao recordar o passado. Nunca consegui entender os Tolstois os Aksqkov todos esses netos Bagrov apaixonados pelos arquivos familiares carregados de lembranças épicas domésticas. Repito: minha memória não é amorosa mas hostil e não trabalha a reprodução mas o descarte do passado. Um raznotchinietz não precisa de memoria, basta-lhe falar dos livros que leu e sua biografia está pronta.” Quantos e quais livros serão lidos durante uma vida? Ossip Mandelstam, poeta judeu russo do começo do século XX, passou a vida estudando, lendo e escrevendo. Essa dinâmica de vida não arrefeceu nem mesmo em tempos do stalinismo que proibia os escritores e intelectuais de exercitarem seus ofícios. A vida de um judeu que quisesse ascender socialmente em países antissemitas como a Russia precisava se dedicar a leitura e a escritura pois ocuparia um cargo na estrutura burocrático administrativa do Estado russo, cargo indesejado pelas classes dirigentes. Quem passou a vida lendo como Mandelstam ”basta lhe falar dos livros que leu e sua biografia está pronta.” Qual filho das classes dirigentes russas ou de qualquer outro pais alegaria tal feito para sua biografia bastar? Um jovem brasileiro da elite, caso quisesse escrever sua biografia, bastaria falar dos livros que leu? Um jovem brasileiro da elite caso quisesse aparentar ser um bom partido exporia os livros que leu ou as propriedades que herdará de sua família? Um jovem brasileiro da elite que quisesse impressionar uma jovem lhe compraria um livro ou lhe daria um vestido? A construção textual é uma disputa ideológica e semântica entre as classes sociais e é o terreno onde o escritor/intelectual é mais fiel a si mesmo.
quinta-feira, 16 de julho de 2020
Austerlitz
Austerlitz foi a batalha que elevou a França napoleônica a grande potencia militar das duas primeiras décadas do século XIX. Nessa batalha, Napoleão, devidamente coroado imperador da França, com um exercito bem inferior em numero, derrotou o exercito do imperador da Russia e o exercito do imperador da Austria. A batalha de Austerlitz, que fica na republica tcheca, ficou conhecida como a batalha dos três imperadores. Para o mundo moderno, essa parte da historia da europa deve despertar pouco interesse e interesse despertado mais em crianças que para passar o tempo devoram livros de heróis e livros de Historia. W.G Sebald, escritor alemão, escreveu um livro cujo titulo é “Austerlitz” e a personagem principal atende por esse sobrenome. Esse é o livro que quem lê vai desejar não ter lido porque não se consegue parar a leitura e ao termina-lo, com certeza, irá atrás dos outros livros do autor. A literatura de língua alemã, há aqui uma diferença entre “literatura de língua alemã” e “literatura alemã”, em seus grandes propósitos e em seus grandes momentos se atira e esparrama-se sobre o que se imagina foi a infância. A personagem Austerlitz esqueceu suas origens em algum ponto obscuro da historia recente da humanidade e aos poucos vai montando e remontando o que não se lembrava e o que ele de proposito bloqueara como defesa psicológica. “Austerlitz” é um livro de formação que em moldes clássicos significaria que o individuo se descola das suas origens coletivas para originar significados puramente individuais de acordo com a ideologia burguesa. Contudo, a personagem Austerlitz, compreende-se isso durante a narrativa, sabe quem foi ( o seu nome, o nome de seus pais, onde viveu parte da infância e etc). O que ele não sabe e vai investigar é o mundo que o pos para fora do seu mundo de criança. Como qualquer processo de formação, esse é um processo traumático que provocará dores sociais e psicológicas no seu eu e nas relações que estabelecerá ao longo de sua vida. Os exemplos máximos de escritores de língua alemã que se enxergam como desmistificadores da infância foram Robert Walser, Kafka e Elias Canetti. Sebald é uma grata surpresa nessa seara.
quarta-feira, 15 de julho de 2020
"maria cagona" ou a ignorância relativa
Ele era um péssimo guardador de nomes (pessoas e ruas) e feições (pessoas). Verdade, verdade, ele era péssimo guardador em tudo. O pai cuidava de plantas no quintal, no terraço e na calçada. O pé de acerola carregava de frutas e o pai ou a mãe quase suplicava para que ele apanhasse as frutinhas. Fazia questão de tomar o suco, mas se meter pelos galhos do pé de acerola não lhe aprazia. Irritava a pele. O amor platônico pelas plantas era inquestionável. O amor carnal ou o contato físico com as plantas, ele evitava. Não era um plantador nato. O seu pai tanto era que dava plantas, galhos e folhas para os vizinhos. Por conta da pandemia, para proteger os pais, ele transmitia mensagens, comprava remédios e entregava as plantas que seu pai lhe pedia. Entregou um pé de cajá para a senhora Vitória e perguntou das goiabas a pedido do pai. “Ah, as goiabas amadureceram bem, estavam parrudas. Aí as rolinhas bicaram as frutas tanto que estragaram todas”. Pensou em dizer tudo bem, os animais têm direito a se alimentar das frutas, recuou porque, certamente, a dona Vitoria discordaria. Caso alguém lhe pedisse uma referência, ele diria uma planta cumpridona com flores brancas na calçada de sua casa. O máximo que guardava de referências botânicas no espaço urbano até aquele momento porque de uma hora para outra aprendeu uma outra planta. Terça feira é dia do carro do lixo passar pelo bairro e nesse dia o vizinho evangélico parou em frente a planta de flor branca com o olhar em direção a um plano mais embaixo. “Seu pai se encontra em casa? ” ” Não, foi caminhar” “ Essa planta de flores branca e roxa no chão se chama “”Maria Cagona”’. Por um acaso a sua propagação se dá por semente ou por galho? ” “Rapaz, não sei. O meu pai não demora a chegar. “ O vizinho, que mexia com remédios naturistas, interessava-se por plantas rasteiras nascidas espontaneamente em calçadas. “Eu li na internet que ela é medicinal.” “Sim, mas ela é boa pra quê? ” “ Planta medicional, não dizia mais nada. ” A ignorância, por mais relativa que seja, não é uma propriedade de apenas um homem...
segunda-feira, 13 de julho de 2020
Gorillaz
O cenário do ônibus desolara o passageiro que pedira parada. O motorista abriu a porta da frente e ele pôde ver o corredor, as cadeiras, os passageiros e a cobradora. Os passageiros se mantinham separados por quilômetros de existências sofriveis e indesejáveis. Cada um em seu canto. Ele pagou a passagem e a cobradora deu o troco. As moedas couberam fácil na mão. Ela não lhe perguntou o que pretendia com aquele passeio pelo centro e ele não lhe perguntou a que devia aquela sua mudez infinita. Uma musica beliscava sua audição imprecisa. Ele se impacientava por não poder toca-la em seu intimo. Eles(ele e a musica) estavam longes socialmente porque a musica provinha do celular de um rasta que vestia uma camisa da seleção brasileira. Não podia ser ou podia? O grande ato do rasta para a plateia do ônibus fora pegar uma garrafa de vinho e leva-la a sua boca. O celular não parava de tocar musica e finalmente ele descobria que som era aquele. “Clint Eastwood”, musica do primeiro cd da banda inglesa Gorillaz. Quase que ele ia falar com o rasta. Como assim, alguém escuta Gorillaz em um ônibus urbano de São Luis e fica por isso mesmo. Precisaria contar a historia daquele homem vestido de camisa da seleção brasileira cujo celular tocava Gorillaz.
Nunca disse adeus
Nunca te disse adeus
Nunca te disse Deus te acompanhe
Nunca te disse va com Deus
Nunca cantei Roberta Miranda
Nunca rezei pra Deus
Nunca pedi um favor a Deus
Nunca vi Deus
Nunca apertei a mao de Deus
Nunca disse Deus tenha pena de nos
A pena de Deus descreve o mundo
Em que Deus acredita?
Nunca disse meu Deus
Decerto Deus disse venha meu filho
Em meus sonhos que nunca disse
domingo, 12 de julho de 2020
oficio aldeias altas
Ofício 07/2020 Teresina, 06 de julho de 2020
Exmo. Sr. Promotor de Justiça de Meio Ambiente de Caxias-MA
José Carlos Farias
A Rede Ambiental do Piauí-REAPI, uma entidade da sociedade civil que trabalha pela preservação da Bacia Hidrográfica do Rio Parnaíba desde 2007, vem através deste, denunciar ao Ministério Público do Maranhão, a possível pratica de um crime ambiental grave na sede do município de Aldeias Altas onde uma empresa não identificada vem construindo um posto de combustível, no bairro Gonçalves Dias, em possível área de nascente e ou olho d´água, conforme relatos de moradores do entorno da área.
A REAPI entrou em contato com o engenheiro responsável pela obra para tentar obter maiores informações referente as licenças ambientais mas, não obtivemos retorno. Também não localizamos no site da Prefeitura e nem nenhum outro órgão da administração municipal, o responsável pelo o licenciamento ambiental no município.
Desta forma, solicitamos a Promotoria responsável por investigações de crimes ambientais que se utilize do principio de precaução ambiental para identificar o possível crime contra o recurso hídrico identificado como uma das nascentes que alimenta o açude Limpeza localizado na região.
Atenciosamente,
Rede Ambiental do Piauí-REAPI
O bom o mau e o feio
Arthur Xexeo, critico cultural da Globo News, declarou que a única coisa que se recordava do filme Tres Homens em Conflito, de Sergio Leone, era a trilha sonora de Ennio Morricone, musico que compos boa parte das trilhas sonoras dos filmes do amigo Sergio Leone. A declaração de Xexeo tem muito de mitificadora. O mito é a forma como o ser humano encontrou para explicar o mundo antes que a consciência sobrevenha.
No caso dos western, gênero de três homens em conflito e outros filmes de leone, o mito é a forma que o ser humano encontrou para encarar a morte. Se a morte é a única verdade que existe na face da terra, o mito é a mentira que finge que a verdade não existe. Os Estados Unidos, fundamentalmente, tem dois mitos: o da fundação do pais e o mito da conquista do oeste. O principal mito que se ve nos filmes de Sergio leone é o da conquista do oeste com o qual ele brinca, os heróis não são bem heróis, os vilões não são bem vilões, as mocinhas não são bem mocinhas, os duelos não são disputas entre bem e o mal , a guerra não faz sentido e etc.
Em Três em Conflito o mito da conquista do oeste se faz presente só que de maneira trágico cômica, explicito na figura do personagem “tuco” ou “feio”, personagem de Eli wallach que tem uma parceria com “Lourinho” ou “bom”, personagem de Clint Eastwood. O “lourinho” entrega o Feio aos homens da lei e recebe a recompensa. Na hora do enforcamento do “feio”, o “lourinho” o salva para repetirem o estratagema em outras cidades. Eles escrevem a sua mitologia por cima da mitologia tradicional da conquista do oeste. Essa parceria, ao longo do filme, viverá seus altos e baixos e sendo constantemente ameaçada por um terceiro elemento “o mau”, personagem de lee van Cleef.
Contudo, a mitologia da conquista do oeste se coloca abaixo da mitologia da fundação dos estados unidos no século XVIII e a guerra da secessão (guerra entre o norte e o sul) é a “refundação” desta mitologia e “lourinho” e o “feio” viverão sua parceria mitológica em choque com essa “refundação” da nação, principalmente, nas cenas finais em que para chegarem ao lugar onde está um tesouro roubado do exercito confederado eles destroem uma ponte cuja posse é disputada pelo exercito nortista e pelo exercito sulista. Sem a ponte, os exércitos se desinteressam pela batalha e vão embora. Eles impediram que a batalha continuasse e o caminho para o tesouro estava desimpedido. A parceria, portanto, poderia ser desfeita. O “feio” sai na frente e tem-se a dimensão do esconderijo do tesouro: um cemitério de nortistas e sulistas. O duelo final entre o “bom”, “o feio” e “o mau” se dará num circulo e a plateia será os mortos que lutaram para refundar o pais. O mito da refundação da a volta por cima e o mito da conquista do oeste paga seu pedágio na forma do duelo entre os três e no repartir do tesouro entre o lourinho, que matou o “mau”, e “o feio” que teve o trabalho de desenterrar o tesouro na cova de um soldado desconhecido.
sábado, 11 de julho de 2020
Fazenda símbolo de grilagem sofre derrota “emblemática” e perde área para geraizeiros
Um dos maiores casos de grilagem de terras do Brasil, a Fazenda Estrondo, no Oeste na Bahia, sofreu uma derrota emblemática. No dia 30 de junho, a 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) negou o último recurso do empreendimento e determinou que 43 mil hectares do terreno são de posse coletiva das 120 famílias que vivem nas comunidades geraizeiras de Formosa do Rio Preto.
A decisão foi considerada “um marco na luta contra o agronegócio” por Samuel Britto, representante da Comissão Pastoral da Terra (CPT) do Centro-Oeste da Bahia. “Ter uma decisão dessa, nesta conjuntura, contra um empreendimento que representa o poderio econômico desse setor, com grandes grupos agrícolas que produzem dentro do condomínio Estrondo é importante. Saber que comunidades negras e pobres conseguiram essa vitória, é de extrema relevância”, avalia.
Apesar da vitória nos tribunais, o clima na região ainda é de apreensão. Isso porque os geraizeiros e entidades que atuam em defesa da comunidade, acusam a Estrondo de não cumprir as determinações judiciais.
“Essa notícia rapidamente se espalhou nos nossos grupos de conversa. Eu percebi o entusiasmo e satisfação das comunidades. Mas sabemos que a Fazenda Estrondo vem agindo e pressionando as comunidades”, afirma Abner Mares Costa, da Agência 10senvolvimento, ligada à Diocese de Barreiras, que até a pandemia do coronavírus, estava nas comunidades geraizeiras.
A primeira derrota da Estrondo ocorreu em maio de 2017. Porém, após recorrer na Justiça, o empreendimento conseguiu reduzir a área reservada à comunidade para 9 mil hectares, mas o TJ-BA suspendeu a decisão e manteve os 43 mil hectares. Desde então, a violência aumentou na região.
Em agosto de 2019, seguranças armados abordaram Fernando Ferreira Lima, um geraizeiro que trabalhava com o gado da comunidade, e o pediram para descer do cavalo. Quando o homem saltou, foi atingido por um tiro que pegou na perna e o animal foi alvejado com outros três disparos. O rebanho foi levado pelos funcionários da Estrondo.
Maurício Correia, advogado da Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais (AATR), que representou os geraizeiros contra a Estrondo, lembra que a fazenda mantinha oito bases dentro do território da comunidade, onde ficavam os seguranças armados. As guaritas foram destruídas em dezembro de 2019. “Esses agentes agiam, inclusive, com apoio da polícia local”, afirma.
Apesar do histórico de violência que acompanhou o processo judicial, Correia celebra a sentença do TJ-BA. “Eu acho que é uma decisão emblemática e paradigmática, porque existe uma disparidade de força quando você tem um conglomerado, um grupo empresarial poderoso, que opera a grilagem desde a época da ditadura. Então, uma decisão contra esse grupo cria um ambiente favorável no judiciário para que outras decisões como essa sejam tomadas, que considerem a posse tradicional.”
História de ilegalidades
Considerada um dos maiores casos de grilagem de terras do Brasil, o Agronegócio Condomínio Cachoeira do Estrondo foi incluída no Livro Branco da Grilagem de Terras do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em 1999. A publicação reunia o histórico de terras ocupadas ilegalmente por particulares no país.
De acordo com o site da Estrondo, sua área é de 444 mil hectares. Lá, funciona um condomínio de 23 fazendas, que agrega 24 empresas do agronegócio, de diversos setores, em uma área útil de 305 mil hectares, sendo 150 mil hectares dedicados ao plantio.
Entre as empresas que possuem fazenda dentro do condomínio da Estrondo estão gigantes do agronegócio como a holandesa Bunge e a americana Cargill. O conglomerado faz com que Formosa do Rio Preto seja a segunda maior produtora de soja e a sexta maior de algodão do país.
Em 2009, uma operação conjunta do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Polícia Federal (PF) resgatou 91 trabalhadores em condições análogas à escravidão em duas fazendas da Estrondo, a Indiana e a Austrália. Na primeira, 52 pessoas colhiam algodão em condições precárias. Na segunda, 39 funcionários recebiam R$ 60 por mês na produção de soja.
A Estrondo nunca pagou uma multa milionária, de R$ 55 milhões, aplicada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Retornáveis (Ibama) em 2003. O condomínio desmatou 40 mil hectares em Formosa do Rio Preto sem autorização do governo federal.
Sociedade
O Agronegócio Condomínio Cachoeira do Estrondo é administrado por três empresas, a Delfim Crédito Imobiliário S/A, a Cia de Melhoramentos do Oeste da Bahia (CMOB) e a Colina Paulista.
Fundador da Estrondo, Ronald Levisohn, sócio da Delfim Crédito Imobiliários S/A, morreu em 27 janeiro deste ano, por falência múltipla dos órgãos, no Hospital Copa Star, no Rio de Janeiro. O empresário é figura repetida no álbum de escândalos financeiros e políticos no país.
Levisohn levou o Grupo Delfin à falência em 1983, após tentar fraudar o pagamento de uma dívida de R$ 79 bilhões de cruzeiros com o BNH, banco que foi extinto e incorporado pela Caixa Econômica Federal.
Em julho de 2016, o empresário foi preso no âmbito da Operação Recomeço, uma extensão da Lava Jato. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), ele era acusado de “crimes contra o sistema financeiro pela venda de debêntures (títulos mobiliários) aos fundos de pensão Postalis (Correios) e Petros (Petrobrás).”
Outro lado
Em nota, o Agronegócio Condomínio Cachoeira do Estrondo informo que não considera o caso encerrado e que aguarda um posicionamento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para saber se poderá recorrer da decisão. O empreendimento defende que “até hoje, o vínculo territorial não foi comprovado na Justiça.”
Com que roupa
“Com que roupa eu vou pro samba que você me convidou?” Começou bem a amanha com esse clássico de Noel Rosa de 1930. O pai sintoniza na radio senado que em seu repertorio musical sobressai o melhor da musica brasileira. De uns tempos para cá, o dia todo é assim, ouve-se radio senado. Escutara pouco Noel Rosa e lera um pouco mais a respeito da obra e da vida dele na revista Istoe e numa revista que trazia junto um cd com musicas cantadas somente por ele. Por conta da curta carreira (Noel Rosa morreu cedo de tuberculose), os seus sambas ficaram mais conhecidos na voz de interpretes. Um destes interpretes foi Ze renato que gravou um cd com musicas de Noel Rosa e Chico Buarque. Uma das musicas que ele gravou de Noel Rosa foi “Com que roupa” no estilo leve e adorável característico de Ze Renato. Ele canta como seguisse um mestre sem se indispor com a tradição. A interpretação de Noel Rosa, contudo, é puro deboche pois a música remete ao dia em que a mãe esconde as suas roupas com o propósito de impedi-lo de ir ao samba.
sexta-feira, 10 de julho de 2020
uma recordação de moçambique
Uma das recordações de Moçambique sucedeu num pequeno município interiorano ao norte do pais. É uma recordação cheia de lacunas. Por que não uma recordação cheia de falhas? Não seria oportuno escrever falha no lugar de lacuna. Quando se trata de recordar não é uma falha que não se recorde completamente do fato recordado. É bem provável que a recordação venha incompleta. As vezes falta o som, falta a iluminação, falta a decoração, faltam diálogos, faltam movimentos e falta uma lógica. Não recordava o nome do município, não recordava o nome do hotel, não recordava o nome do bar. Recordava, apenas, que o bar ficava do lado do hotel e era a única opção de diversão naquele município. Que qualquer busca por bares e restaurantes pelas ruas adiantaria muito pouco porque se mostraria infrutífera. Contentar-se-iam com o bar posto colado ao hotel que pela fachada congregaria uns poucos municipes moçambicanos. Eles se compenetraram em uma mesa e pediram quatro cervejas pequenas( o gosto e o nome?) ao dono do bar. Em outra mesa, bebiam duas mulheres. Quatro estrangeiros (um holandês, uma portuguesa e dois brasileiros) bebiam cerveja moçambicana sob os olhares atentos e curiosos de três moçambicanos em uma noite de poucos assuntos e poucas palavras. A presença estrangeira em boa parte da África gera desconforto em razão da época do colonialismo. Os quatro estrangeiros falavam português o que liberou as mulheres para perguntarem quem eram e o que faziam ali. Os moçambicanos falam o português como língua de relacionamento oficial do Estado e principalmente nas zonas urbanas, mas na zona rural os moçambicanos se comunicam através de dialetos. Uma das mulheres gostou de saber que havia brasileiros entre eles (morria de amores) e elogiou as novelas brasileiras. A recordação de uma delas, a mais atenciosa, era bastante nítida.
a panela preta
Na hora da foto ela ficara com vergonha de sua famosa "panela preta" ser vista por outras pessoas, além da gente que é acostumada em sua casa. E ainda mais, quando se trata de postagens na internet que mais tarde pode virar domínio público. Explicava então que tomaria todos os cuidados necessários caso permitisse a publicação do texto e da imagem da panela, pois muita gente gosta de ler e apreciar as tradições e coisas da roça. Mas ela não sabia da importância de se possuir uma [panela preta] daquelas que tem seus mais de meio século de existência, pertencera sua avó, depois seus pais, ultrapassara as barreiras do tempo até a terceira geração. Panela de ferro no fogo de lenha, o tempo lhe deixara preta pelo excesso de fumaça das "trempes de pedras" - (três grandes pedras que servem de fogão). Pensara-se numa prosa, quando o Viajante voltasse de seu ofício. Há dias não caminhara por aquelas bandas. Resolveu então mudar o trajeto da viagem, saíra do leste e fora para o oeste. Regiões diferentes pelo clima e pelas vistas, matas e florestas... lagoas e alagadiços... opostos, com situações socioambientais incomuns. O objetivo da escrita não era aquele, os desafios fazem parte da vida humana desde a criação do homem; mas as vezes é preciso falar de novas esperanças para um mundo novo - mesmo que esse pensamento seja utópico ou venha cair num romantismo. A prosa se ensaia em direção às vivências dos povos tradicionais, sua cultura e tradições que alimentam a vida, seus problemas agrários, as belezas naturais numa dose de poetização sociocultural e socioambiental. O Viajante abancara ali naquela moradia, seus anfitriões o convidara para degustar um prato de "quibebe de abobora", feito na velha panela de ferro. [Quibebe é um prato de origem africana, típico da culinária brasileira preparado principalmente nos quilombos rurais e comunidades tradicionais da Região Nordeste. É um purê de abóbora que acompanha, geralmente, carne, frango, camarão ou peixe. A palavra "quibebe" é um termo originário da língua (“quimbundo kibêbe” -, que significa angu ou massa de tubérculos, mandioca, abóbora, batata...etc...). Esta língua ainda é falada em algumas regiões da África Oriental. Chegou ao Brasil com os negros que foram escravizados. Um dedo de prosa! Enquanto os pratos esfriavam na mesa. Falava-se nas roças de verão, na produção e preços da farinha de puba que teve suas elevações pelos fenômenos anteriores. A hora era chegada, ouvia-se o chamado, a carne e o peixe seco estavam na brasa... chiando... acompanhariam o quibebe, o cheiro era bom. Cedo da manhã, uma dose de energia certa após uma "pratada"- de mingau de abóbora com leite de coco babaçu e carne assada. Lembrava-se dos tempos antigos quando tudo era diferente nas comunidades rurais do interior; quando os mais velhos se alimentavam bem com produtos naturais e orgânicos; viviam longo tempo porque sabiam disso. Alguns modos de vida foram caindo no esquecimento ao longo das décadas, infelizmente, uma perda para a cultura. Deve-se manter o que ainda restou. E a panela preta? Uma foto apenas com o purê de abóbora que estava ao fundo. Ela não sabia da repercussão e valorização dos que visualizaram a imagem da panela e do quibebe! A famosa panela que também torra café de coco, esquenta a água para pelar leitão, cozinha peixe ao leite de coco e arroz na palha de banana. Incrível suas utilidades... orgulho de sua dona. Após a merenda extraordinária o Viajante seguira rumo aos campos arenosos em busca de novas aventuras e conteúdos para seus pedaços de prosa. Ele voltaria para mostrar aquela Senhora a curta, simples e modesta matéria, fruto do seu talento e manutenção dos modos de vida dos povos que moram, trabalham e vivem nas comunidades tradicionais.
José Antonio Basto
quinta-feira, 9 de julho de 2020
Novo ataque aos Quilombolas do Maranhão
A Comunidade Quilombola Peixes, localizada no município de Colinas/MA denuncia invasão de terras por grileiros e um forte clima de tensão na região após a destruição de suas roças por máquinas pagas pela grilagem da região.
De acordo informações máquinas foram usadas para destruir roçados em área judicialmente protegida. A ação da grilagem toma força na região a partir da morosidade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma – INCRA, em finalizar o processo de titulação do Quilombo. O INCRA, que hoje completa 50 anos de criação, está completamente inoperante na gestão Jair Bolsonaro. O presidente aprofunda o sucateamento da entidade para atender os interesses do agronegócio.
Os conflitos na região se prolongam no tempo. De acordo com a comunidade, são inúmeras as denúncias sobre a violência, a perseguição e o boicote dos fazendeiros contra o povo quilombola. O INCRA finalizou o laudo antropológico. Nele, segundo a Comunidade Peixe, restou comprovado que os quilombolas habitam o território há aproximadamente 186 anos. A comunidade aguarda a publicação do estudo pelo órgão federal, enquanto resiste ao avanço da grilagem.
A depender do presidente Jair Bolsonaro que vetou a inclusão das comunidades quilombolas do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA) e dificultou o acesso dessa população ao auxílio emergencial a morosidade do INCRA tende a continuar. A demanda por inclusão dos descendentes de escravos no Programa Nacional de Reforma Agrária foi vetada pelo presidente a pedido da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a ruralista Tereza Cristina (DEM-MS). Conforme previa o projeto de lei, a participação no programa asseguraria o cadastramento das famílias na Relação de Beneficiários para acesso às políticas públicas.
A justificativa de Bolsonaro ao veto diz que a proposta de inclusão dos quilombolas no programa de reforma agrária “contraria o interesse público por estar em descompasso com a determinação que condiciona a concessão das modalidades de créditos de instalação aos beneficiários do PNRA que tenham firmado Contrato de Concessão de Uso (CCU), Contrato de Concessão de Direito Real de Uso (CCDRU) ou Título de Domínio (TD)”. O posicionamento de Bolsonaro e Tereza Cristina é criminoso. Aprofunda a violência no campo para garantir lucro para a grilagem e agronegócio. A Comunidade Peixe encaminhou a denuncia para a Superintendência do INCRA no Maranhão e aguarda o posicionamento da entidade.
balaiada.com
quarta-feira, 8 de julho de 2020
Saudade
Por que Almeida Junior em sua obra “Saudade” pintou uma mulher lendo um papel com o corpo encostado a janela de um quarto? A luz é a resposta. O ato de ler é solitário por isso ela se dá no quarto, só que ela não pode se trancar sozinha no quarto para ler o papel porque a perspectiva de Almeida Junior é a de um intruso, a mulher concentrada na leitura não percebe que alguém a observa. E o ato de ler precisa de luz e no final de século XIX a única luz possível para ler bem era a luz do sol. Um pequeno detalhe dessa pintura que escapou em analises é que para ler o papel que não se sabe se é uma carta ou um bilhete, a mulher envolve parte do rosto com um pano o que talvez indique que o conteúdo da carta lhe cause uma sensação dolorosa ou tensa que a forçaria a exclamar palavras imprudentemente.
A critica politico-social na obra de Machado de Assis
Sabe como é a historia. Fascina-se pelo método de um autor e o jeito é comprar os livros que ele escreveu, que ele organizou ou os em que ele é citado. Assim aconteceu com Sidney Chalhoub, historiador brasileiro, e com John Gledson, critico literário americano. Sidney tem suas pesquisas voltadas para assuntos relacionados a escravidão e John Gledson tem sua analise voltada para a obra de Machado de Assis. A obra literária de Machado ganha um contorno histórico em dois livros de Gledson e também em um livro de Sidney. Os dois ressaltam a critica político-social presente, principalmente, nas obras maduras de Machado como também nas obras românticas que antecedem a fase realista. Geralmente, Machado é visto como um autor pessimista e a margem das discussões politicas do pais na época. Uma das criticas mais fortes que é feita a Machado e sua obra é o não se posicionar aberta e declaradamente em situações determinantes para a sociedade brasileira como foram a escravidão e a campanha abolicionista. Ledo engano. A passagem amplamente conhecida e citada por Raymundo Faoro é a que Bras Cubas, personagem de Memorias Postumas de Bras Cubas, ao caminhar pelas ruas do Rio de janeiro reencontra um negro que ele libertara e que naquele instante batia em outro negro que ele comprara. A analise de Faoro é que o negro para se sentir completamente liberto num pais escravagista precisa escravizar outro negro.
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terça-feira, 7 de julho de 2020
Guarimã
A comunidade de Guarimã é uma comunidade de pequenos produtores rurais e extrativistas do município de São Benedito do Rio preto. Produzem arroz, feijão, mandioca e juçara e criam peixes em tanques, galinhas caipiras e porcos. Desde o ano de 2013 a comunidade é reconhecida pela Fundação Palmares como comunidade quilombola.a A constituição de 1988 reconhece os direitos das comunidades quilombolas ao seu território, a sua cultura e ao seu modo tradicional de viver. Esses direitos vem sendo ameaçados e desrespeitados com a chegada de plantadores de soja que compraram a propriedade e compraram outras ao redor. A comunidade de Guarimã e banhada por três córregos que desaguam no rio Preto. Esses córregos vem recebendo os resíduos dos plantios de soja (produtos químicos e fertilizantes) e areai resultado da erosão provocada pelos desmatamentos e pelo revolver a terra. Até 2013 a qualidade da água era excelente nos três córregos. Isso mudou consideravelmente. Da pra ver na superfície dos córregos a piora. Uma prova da responsabilidade dos plantios de soja quanto a perda de quantidade e qualidade dos recursos hídricos em Guarimã é que em vários trechos pode se ve pezinhos de soja a beira dos córregos. Além deste crime ambiental há outros causados pelos plantadores de soja. A morte da vegetação das margens do córrego que recebe os resíduos provenientes dos plantios e o desmatamento dessa vegetação por pessoas que se suspeita sejam funcionários da fazenda e que praticam esse desmatamento para denunciar a comunidade como se ela fosse a responsável. Então, a comunidade de Guarimã pede aos órgãos responsáveis as garantias dos seus direitos constitucionais e a investigação dos impactos ambientais e crimes ambientais praticados pelos plantadores de soja.
segunda-feira, 6 de julho de 2020
João do Rio
Outro dia se comemorou o aniversário de João do Rio. Uma amiga fez questão de enviar uma página do facebook relativa a data. O interesse pela obra de João do rio nasceu no bojo de outros interesses literários e ensaísticos que diziam respeito ao modernismo brasileiro e sua intersecção com a republica e com a cidade. O modernismo brasileiro é uma expressão limitante e limitada. A data máxima do modernismo brasileiro seria o ano de 22, ano em que ocorreu a semana de arte moderna na cidade de São Paulo. A historia oficial tem uma predileção por datas , eventos históricos e rupturas politico sociais. A obra de João do Ri não prima por datas, eventos e rupturas. Ele escrevia no Rio de janeiro do começo do século XX em que a cidade se transformava pela modernização econômica social e de costumes já que ela deixara de ser capital do império para se tornar capital da republica. A sua pena revirava as páginas da inconstância dos novos costumes cariocas. Ele revirava as ruas atrás de temas capitais para a sua arte e as ruas se configuravam como um desses temas: “A rua é a transformadora das línguas. Os Cândido de Figueiredo do universo estafam-se em juntar regrinhas para enclausurar expressões; os prosadores bradam contra os Cândido. A rua continua, matando substantivos, transformando a significação dos termos, impondo aos dicionários as palavras que inventa, criando o calão que é o patrimônio clássico dos léxicons futuros. A rua resume para o animal civilizado todo o conforto humano. Dá-lhe luz, luxo, bem-estar, comodidade e até impressões selvagens no adejar das árvores e no trinar dos pássaros”.
domingo, 5 de julho de 2020
Cidades invisiveis
Se uma cidade é invisível como provar que ela existe ou existiu ? Essa, com certeza, não foi a premissa de onde partiu ítalo Calvino ao escrever “As cidades invisíveis”. “Se cada cidade é como uma partida de xadrez, o dia em que eu conhecer suas regras finalmente possuirei meu império apesar de nunca conhecer as cidades que ele contém”. Pelas páginas de “Cidades Invisiveis”, lê-se vários diálogos erráticos entre o conquistador mongol Kublai Kahn e o viajante italiano Marco Polo e várias descrições de cidades por espaços inverossímeis. Ou seriam descrições de cidades impossíveis ? Italo Calvino escreve cidades inexistentes ou quase existentes pelo menos nas longas apresentações de Marco Polo a Kublai Kahn. “As descrições das cidades visitadas por Marco Polo tinham esse dom: era possível percorre-las com o pensamento, era possível se perder parar para tomar um ar fresco ou ir embora rapidamente”. A descrição das descrições de Marco Polo ressalta sutilmente que as cidades descritas pelo discurso só existem na mente e não na memoria porque seria impossível ele ter passado por tantas cidades e te-las memorizado para depois recria-las em seu intimo. Marco Polo não recria cidades e sim as cria na sua imaginação para o deleite de Kublai Kahn. Só uma cidade não é criada em sua imaginação e portanto é recriada por sua memoria.”Todas as vezes que descrevo uma cidade digo algo a respeito de Veneza”.
Bar do Leo
Eles acertaram o horário no dia anterior. Com relação ao local onde conversariam ainda duvidavam de qual escolher. “Cara, fui ontem ao bar do Leo e senti-me um bolsonominion” “é uma sensação passageira, vamos lá” “Meio-dia, então”. Ele aproveitava essas ocasiões para deixar o celular e desapegar um pouco dele. A idosa se benzia dentro do ônibus incontáveis vezes. Ela enxergava a cidade esparramada pelos manguezais. A cidade que sonhou ser indestrutível e invencível e que joga fora seus pesadelos no leito do rio. Ele chegou adiantado alguns minutos no mercado do Vinhais. Adiantara a sua chegada para conferir a quantidade de fregueses no bar ( cheio, meio cheio ou vazio) e puxar rumo de prosa com o Leo. Entre os dois havia perspicácia de tanto tempo que nada passou.
sexta-feira, 3 de julho de 2020
Papeis velhos
Pouco se saia de casa. O dia se perpetuava em poucos espaços e em poucas aberturas para deslocamento. As pessoas se deslocavam para o trabalho e para a escola no centro da cidade e retornavam para almoçar. Novamente saiam em direção ao centro com objetivos escolares e objetivos trabalhistas. A vida no bairro se comprazia nos comércios de esquina em que se comprava uma manteiga que se enrolava e pães que se enrolavam em papéis velhos para o café da manhã e nas feiras onde se comprava um litro de juçara e um quilo de farinha seca para a sobremesa do almoço. O comercio aglomerava compradores de bens de consumo não duráveis e espectadores do espetáculo cotidiano que davam um tempo no local para procurar o que fazer em outro canto. A feira dispensava aglomeração dentro e fora dela. Comprava-se rápido e com pouca exigência. Não podia ser diferente. Quem trabalhava como feirante naquelas condições sanitárias não queria estar lá. Ganhava-se pouco, uma miséria para falar a verdade. Tirando um outro privilegiado, a maioria da população ganhava o insuficiente para sobreviver. Quem trabalhava na feira, trabalhava não porque queria, mas sim porque nesse espaço se podia atender as exigências da sociedade que eram poucas para esse tipo de trabalho. As pessoas não queriam saber de brincadeiras. Eram espaços muito adultos, o comercio, a rua e a casa. A noite se vislumbrava uma abertura e um afrouxamento na vigilância. As crianças brincavam juntas porque praticamente passavam o dia sozinhas em seus afazeres domésticos e em seus afazeres escolares. A rua à noite era o espaço de aglomeração e de perdição de poucas horas. Coisa que não se permitia no restante do dia.
quinta-feira, 2 de julho de 2020
Um rio e um conto
Um rio e um conto
Deus não lhe deu o direito de escrever certo por linhas tortas. Ele mal escreve errado por linhas áridas. Ele ri ou ele conta? Se ele estiver nervoso, melhor rir; se ele estiver sério, melhor contar. Antes rir do que chorar um rio ou um vale de lágrimas. A tristeza não conta nesse final de história. De quantos contos ele precisa ? Ele conta o que sabe e mente sobre o que não sabe. A mentira ri de suas pernas curtas e conta a verdade inculta. Quem conta não esquece jamais.
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