domingo, 12 de julho de 2020
O bom o mau e o feio
Arthur Xexeo, critico cultural da Globo News, declarou que a única coisa que se recordava do filme Tres Homens em Conflito, de Sergio Leone, era a trilha sonora de Ennio Morricone, musico que compos boa parte das trilhas sonoras dos filmes do amigo Sergio Leone. A declaração de Xexeo tem muito de mitificadora. O mito é a forma como o ser humano encontrou para explicar o mundo antes que a consciência sobrevenha.
No caso dos western, gênero de três homens em conflito e outros filmes de leone, o mito é a forma que o ser humano encontrou para encarar a morte. Se a morte é a única verdade que existe na face da terra, o mito é a mentira que finge que a verdade não existe. Os Estados Unidos, fundamentalmente, tem dois mitos: o da fundação do pais e o mito da conquista do oeste. O principal mito que se ve nos filmes de Sergio leone é o da conquista do oeste com o qual ele brinca, os heróis não são bem heróis, os vilões não são bem vilões, as mocinhas não são bem mocinhas, os duelos não são disputas entre bem e o mal , a guerra não faz sentido e etc.
Em Três em Conflito o mito da conquista do oeste se faz presente só que de maneira trágico cômica, explicito na figura do personagem “tuco” ou “feio”, personagem de Eli wallach que tem uma parceria com “Lourinho” ou “bom”, personagem de Clint Eastwood. O “lourinho” entrega o Feio aos homens da lei e recebe a recompensa. Na hora do enforcamento do “feio”, o “lourinho” o salva para repetirem o estratagema em outras cidades. Eles escrevem a sua mitologia por cima da mitologia tradicional da conquista do oeste. Essa parceria, ao longo do filme, viverá seus altos e baixos e sendo constantemente ameaçada por um terceiro elemento “o mau”, personagem de lee van Cleef.
Contudo, a mitologia da conquista do oeste se coloca abaixo da mitologia da fundação dos estados unidos no século XVIII e a guerra da secessão (guerra entre o norte e o sul) é a “refundação” desta mitologia e “lourinho” e o “feio” viverão sua parceria mitológica em choque com essa “refundação” da nação, principalmente, nas cenas finais em que para chegarem ao lugar onde está um tesouro roubado do exercito confederado eles destroem uma ponte cuja posse é disputada pelo exercito nortista e pelo exercito sulista. Sem a ponte, os exércitos se desinteressam pela batalha e vão embora. Eles impediram que a batalha continuasse e o caminho para o tesouro estava desimpedido. A parceria, portanto, poderia ser desfeita. O “feio” sai na frente e tem-se a dimensão do esconderijo do tesouro: um cemitério de nortistas e sulistas. O duelo final entre o “bom”, “o feio” e “o mau” se dará num circulo e a plateia será os mortos que lutaram para refundar o pais. O mito da refundação da a volta por cima e o mito da conquista do oeste paga seu pedágio na forma do duelo entre os três e no repartir do tesouro entre o lourinho, que matou o “mau”, e “o feio” que teve o trabalho de desenterrar o tesouro na cova de um soldado desconhecido.
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