Os bacurizeiros
quase não se conta. Não porque sejam incontáveis. Não porque sejam difíceis de
visualização. Os bacurizeiros se posicionam pelos vários caminhos da Chapada. Eles
marcam o ambiente com seu tronco, seus galhos, sua folhagem e com seus frutos. Numa
floresta de árvores de grande porte, os frutos do bacurizeiro se confundem com
as folhas da árvore e só alguém com um senso de visão muito bom para as coisas
da natureza que é capaz de distingui-los no alto da copa onde geralmente eles
se desenvolvem.
Certa vez assisti um clássico filme
de ação “Rambo III” -, o mesmo que animava as tardes da garotada na Sessão da
Tarde dos anos noventa. O enredo trata do veterano de guerra Rambo, que
após a Guerra do Vietnã se refugia num mosteiro em um vilarejo da
Tailândia. Vivendo em paz e sobre as disciplinas dos monges budistas; ele tenta
esquecer o mundo de guerra – mas se surpreende com a visita de seu coronel de
pelotão Trautman que lhe convida para mais uma missão – desta vez, na fronteira
do Afeganistão: com o intuito de tentar bloquear as ações dos soviéticos
naquele país com a ajuda dos rebeldes afegãos. A sinopse do filme mostra: “O ex-soldado John Rambo que recusa um pedido de seu
coronel Trautman, antigo líder de pelotão, para uma nova missão, pensando
apenas em continuar com o seu novo estilo de vida, baseado na crença budista.
No entanto, quando Trautman raptado pelos russos na fronteira e o
governo americano é incapaz de intervir oficialmente, Rambo decide agir por sua
conta e risco”. Já
assistir o filme várias vezes. Uma passagem me chama a atenção é quando o guia
que leva Rambo até o forte soviético conta sobre a história dos afegãos; onde
muitos tentaram conquistar seu país: primeiro “Alexandre O Grande”, depois
Gengis Khan, a Inglaterra e agora a Rússia – mas eles nunca se renderam. O Guia
contara uma velha lenda afegã que um certo rei impôs que cinco mil soldados
deveriam ir para uma batalha, depois estudou que estes cinco mil, a maioria
estava com medo, então dos cinco mil soldados ele elegeu os cinco melhores de
todo aquele exercito. E os cinco soldados venceram a guerra naquele vale -
campo de batalha que ficara conhecido como o “Vale dos cinco leões”.
Isso também lembra a história do personagem bíblico Gideão que liderava uma
guerra com milhares de soldados – dali, em uma batalha a maioria dos homens
estavam com medo, ele pediu a Deus que ficasse só com os corajosos, restou
destes, apenas trezentos e dezoito (318) guerreiros que alcançaram a vitória.
A narrativa tende objetivar a coragem
das pessoas em certos desafios da vida. Nem sempre se vence uma guerra com
legiões de soldados, muitos não tem coragem de agir, normal. No dia cinco de
setembro de 2019, foi realizado o tradicional desfile das escolas da cidade de
Urbano Santos – Maranhão. O Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras
Rurais resolveu botar em prática um velho pedido de nosso Bispo
Diocesano e militante dos Direitos Humanos Don Valdecir. A ideia foi participar
do evento com o “Grito dos Excluídos”. Fizemos uma convocação para todos
os participantes que viajaram conosco para a Marcha das Margaridas – em
Brasília, de 11 a 16 de agosto, os dois dias na Capital Federal foram 13 e 14.
Infelizmente dos que foram, quase ninguém confirmou a participação em nosso
chamado, não paramos com o projeto! Construímos uma faixa com os dizeres “GRITO
DOS EXCLUÍDOS: A Amazônia pede socorro”. Pela manhã cedo estávamos na
concentração, achávamos que vinha mais pessoas para nossa ala, que por mera
conscidência fomos colocados pela organização do evento na última posição da
fila, ironicamente excluídos mesmo! Mas talvez não fora por isso, foi porque
decidimos comunicar já na véspera da atividade. Lembrando o filme do trecho
acima, apareceu naquele momento somente “5 guerreiros” – estávamos dispostos e
otimistas de mostrar nosso trabalho, ideologia e sentimento para com os
excluídos e desprovidos de direitos deste país, como dizia Lula! Os povos e
comunidades tradicionais que tanto sofrem. Nosso povo da zona rural, humilde,
quase que esquecidos da sociedade, os que estão perdendo seus direitos
conquistados com sangue e luta. A problemática da situação caótica da Floresta
Amazônica nos dias atuais sendo devastada pelo fogo, por grileiros e grandes projetos
de mineração e barragens. Os índios, quilombolas e caboclos que moram e vivem
da terra e das águas. Esta foi a mensagem que os “Cinco Leões” mostraram para
os espectadores.
Muitas das vezes a coragem das pessoas é medida de acordo a ocasião.
Muitos pensamentos nos ensina a lição dos que ousam e tem coragem de vencer.
Numa guerra, nem todos tem coragem – isso muito depende do sistema genético de
cada um de nós. As vezes o sangue ferve nas veias – então a coragem aparece do
nada, fica escondida somente por algum momento, surge como um tiro de
espingarda no estampir da fumaça. Alguém escrevera e nos deixou a lição no
estandarte da história. “A coragem é a primeira das qualidades
humanas porque garante todas as outras qualidades”. “Saber o que é correto e não
o fazer é falta de coragem”. “Coragem é a resistência ao medo,
domínio do medo, e não a ausência do medo”. “A coragem cresce com a
ocasião”. Por fim a melhor delas diz: “A coragem não é ausência do
medo; é a persistência apesar do medo”.
Um conhecido
falou do projeto do seu pai em uma conversa casual em meio a tantas conversas
casuais. Não restou nenhuma recordação das demais conversas casuais (o conteúdo
delas) e não restou nenhuma recordação de como essas conversas se iniciavam e
com quem travava esse tipo de conversa propensa ao esquecimento. A conversa do
projeto não cairia no esquecimento. Quem
saberia dizer o porquê? Algum dispositivo secreto da memória guardou a por
quase dez anos em algum recinto fechado. Ela (a conversa) não representava nada
de especial para o conhecido. Ele se achegara ao grupo por transparecer simpatia e por querer ser simpático com uma das moças ou com todas as moças. Uma conversa rolava entre eles antes da
sua chegada. De alguma forma, a conversa permitiu a ele que tocasse no nome do
seu pai e no seu projeto pessoal. O pai fotografava e planejava publicar um
livro que retratasse com fotos a situação atual do município onde nascera e
onde erguera parte de sua vida pessoal. Depreendia-se pela conversa que o
fotografo corria contra o tempo. Quem sabe, poderia auxilia-lo, afinal
necessitava de alguém para escrever o texto que serviria de legenda a cada
foto. O município em questão: Buriti de Inácia Vaz. As fotos: capturavam
imagens da natureza e da destruição do Cerrado causada pelos plantios de soja. Não
pensou duas vezes e pediu o endereço do pai-fotografo. Ele residia no Caiçara,
prédio da rua Grande, principal rua comercial do Centro de São Luis. Mudara-se havia muito tempo para São Luis, justamente
num momento de modernização social e econômica da cidade e isso significava
destruir o que tivesse pela frente e o que tivesse ficado à distância. Habitua-se
com a destruição e com a reconstrução da memória (o passado não pode ser destruído).
A fotografia promete ocupar com imagens o vazio deixado pelo processo destrutivo
despertado e desencadeado pelo capitalismo. O fotografo mostrou algumas fotos do município
de Buriti naquele momento crucial para a sua cidade, começo dos anos 2000, em
que os plantios de soja ocupavam as Chapadas. A soja representaria um divisor
de águas para a sociedade buritiense. Dali em diante, nem as Chapadas e nem as
águas de Buriti seriam mais as mesmas.
Bem ou mal, o maracujazeiro do Cerrado não se nota de sopetão. Ele se enrama dos pés de um pequizeiro ao seu tronco com letargia. O pequizeiro, numa Chapada, encarna o movimento milimétrico. Cada milímetro de crescimento corresponde a um determinado tempo. Não conseguiria discernir quantos anos aquele pequizeiro levou para alcançar a fase adulta com tanto esplendor sobre a Chapada. De tantos pequizeiros, ele sobreviveu ao evento crucial das ultimas décadas: a troca da vegetação nativa pelas monoculturas. Os Cerrados não existem em uma dimensão paralela e os efeitos da destruição deles se sente e pressente-se todo santo dia ao redor do cenário da destruição. O maracujazeiro faz companhia ao pequizeiro porque outros como este não existem mais num raio de quilômetros
Antes
ninguém se tomava pelo outro. Poucos sabiam redigir os nomes de lugares tão
calmos e tão puros. Os caminhos, quase sempre, carregavam a solidez da solidão.
Que horas o povo virá buscar o de comer? Não se envergonhem; abram as panelas,
peguem os pratos e colheres e comam sem pena. Todos nesta casa comeram o suficiente
para aguentar o dia. A senhorita cozinhou esse de comer tão simples e tão bom
que não se quer mais nada. Ela acordara bem cedo para arrumar a casa. Assistiria
a partida do pai para a sede do município e assistiria a partida da mãe para a
casa do tio. A manhã exigia urgência nos propósitos das pessoas e exigia
incerteza no horário da volta. O pai se
mantinha firme a frente da associação de moradores do povoado. A frente do povoado (vegetação nativa) se
mantem como uma barreira natural que protege os moradores do povoado dos
impactos causados pelos plantios de soja (agrotóxicos e poeira). A associação
do povoado disputa a frente do seu território com grileiros e sojicultores,
cerca de 100 hectares os quais foram requeridos para regularização ao órgão fundiário
do Estado em nome da associação. Os 100 hectares requeridos pela associação nem
se comparam em tamanho às fazendas de soja que ocupam diversos quilômetros quadrados
da área do município de Brejo. Os caminhos mantidos pelos sojicultores destoam
completamente do caminho mantido pela prefeitura de Brejo e que passa por
diversas comunidades da zona rural do município. Os dos sojicultores são
corrigidos enquanto o da prefeitura é só pedra. Para se chegar as comunidades
de Pacoti e São Raimundo, é preciso percorrer os caminhos abertos pelos sojicultores
e perguntar aos motoqueiros apressados a que altura do caminho se deveria
trocar de estrada. Quando visse um cemitério
seria o momento de virar a direita. Então, só a visão de um cemitério faria o
caminho se endireitar saindo dos plantios de soja para se chegar as comunidades
tradicionais e quilombolas de Brejo. Mayron Régis
O almoço se atrasaria na casa de Luzimar no povoado Caxingó, município de Buriti. Haviam marcado para o começo da tarde do dia 21 de novembro de 2019. Pedira a Edmilson, presidente da Associação do Araça, que levasse o recado do almoço ao Antonio José, morador do Mato Seco. A filha deste morava do lado da Luzimar. Então, bastaria uma ligação de celular de Antonio José, morador do Mato Seco, à sua filha, moradora do Caxingó, que informaria a Luzimar. Dependendo de qual estrada se queira seguir, o tempo que se leva de Mato Seco ao Caxingó vai de dez minutos a meia hora. O caminho mais longo é o mais interessante porque desliza pela Chapada. Vê-se os caminhos que se direcionam para a comunidade do Belem e uma roça recentemente aberta, aproveitando a chuva sem paradeiro que caira depois de tantos dias secos. A pequena posse de Antonio José se encrava no território do povoado Belém, uma localidade que correu o risco de ser riscada do mapa de Buriti em função do conflito com o grupo João Santos nos anos 90. Os mais velhos se recordam bem desse conflito em que os moradores do Belem se escondiam dos pistoleiros do grupo João Santos nos alagados (como Edivan, militante do MST, mostrou em 2015) ou no povoado vizinho Araça. Os moradores do Araça abrigaram seus parentes do Belem por bastante tempo e, além de abrigar, davam-lhes comida. Transportava-se quantidades e quantidades inimagináveis de comida no lombo de animais para alimentar um grande numero de pessoas que não faziam a menor ideia se um dia retornariam ou não as suas casas. Não podiam lhes negar casa e nem comida. Nem que fosse só um local para esticar a rede e nem que fosse só servido um prato de arroz feijão e farinha por dia. Quem olha para as casas onde as pessoas moram e para o que elas comem na atualidade nem imagina o que era morar e o que era comer (pouco, quase sempre) nos anos 90. O grupo João Santos nessa época primava pela intimidação no trato com aqueles que se opunham aos seus projetos os quais eram desmatar o Cerrado, secar os córregos de água e plantar cana de açúcar ou bambu. Caso os moradores de Belem não tivessem rechaçado o grupo João Santos e caso os moradores do Araça não tivessem lhes auxiliado talvez aquela Chapada não existisse mais como lugar de refugio para os animais e de moradia para as pessoas. Restaria somente uma tênue lembrança na cabeça das pessoas do que fora a convivência com a Chapada.
O Antonio Jose mora sobre essa Chapada com a mulher e os filhos. A sua mulher cita os pes de manga e outras frutas que eles plantaram nesses anos. Ela nem pensa em se mudar dali, afinal se mudar quer dizer reconstruir toda uma vida em outro lugar onde, quem sabe, obter água será mais difícil do que ali tão próximo de um afluente do rio Parnaiba. E porque eles se mudariam afinal se sentiam tão bem naquele terreno? A possibilidade do Ze Vilar, politico e proprietário de terras em Buriti, vender o Caxingó e uma parte da Chapada para o Andre Introvini. A concretização da venda pode resultar no desmatamento da área bem em frente a casa do Antonio José o que traria despejo diário de agrotóxicos, o aumento de calor e o aumento da poeira. A venda ou não da Chapada so ocorre se o ze Vilar comprovar a legalidade do documento que atesta a propriedade do Caxingó em seu nome. “Como assim ele é o dono do Caxingó?”, questiona Luzimar. Minha família mora aqui há mais de cem anos e essa terra nunca teve dono.
Os 900 hectares desmatados na
Chapada do Brejão, município de Buriti, ocorreu em sua maior parte devido a politica
do governo do Maranhão em flexibilizar e agilizar o licenciamento ambiental,
principalmente, para os plantios de soja. Não houve um direcionamento explicito
até porque isso é ilegal. Agora, sendo a soja a cultura que traz mais retorno
financeiro para o estado do Maranhão, chegar a conclusão de que qualquer
politica de flexibilização do licenciamento tende a favorecer em grande medida,
justamente, esse setor é quase inevitavel. É claro que não se deve esquecer que
alguns grupos empresariais que lidam com a soja plantam outras culturas depois
da colheita. As elites dirigentes e econômicas do estado do Maranhão fizeram
sua escolha em relação a soja tem bastante tempo. Elas foram empurradas a essa
escolha e outras decorrentes desta pela necessidade de captar moeda
estrangeira, principalmente o dólar, em curto prazo e assim financiar a estrutura
estatal e certas demandas da sociedade como um todo. Uma dessas demandas é o
consumo. Não custa nada lembrar a lei Kandir dos anos 90 que liberou a soja de pagar impostos com a desculpa de que
ela assim seria mais competitiva. Essa liberação de impostos ocorre com o
proposito de complementar a implantação do plano real, politica econômica que
por um certo passe de mágica equiparou o real ao dólar. Ora o que precifica a comercialização
da soja a nível mundial é o dólar. Quanto mais se abate os impostos em real
mais o produto ganha em dólar e o pais aumenta suas reservas financeiras. Como é
um dinheiro de curto prazo em todos os sentidos a lógica de quem o administra é
investi-lo novamente em negócios de ganho rápido na especulação financeira e na
compra ininterrupta de terras. Como se diz “Não pode deixar o dinheiro parado”.
Caso fique parado, perde-se uma oportunidade que, de repente, tem tudo para ser
a “genial”. O projeto de desmatamento da Chapada do Brejão idealizado pela família
Introvini provavelmente era visto como “genial” tanto por esta família como
pelo grupo João Santos que repassou a terra. “Genial” por que? Os Introvini
iriam receber e desmatar mais de três mil hectares o qual pagariam 500 reais
por hectare só após as primeiras colheitas. E por que eles pagariam apenas 500
reais o hectare ao grupo João Santos imaginando que com o tempo o hectare
valeria muito mais? O Grupo João Santos fraudou documentação no cartório para
passar a certeza de que a Chapada do Brejão lhe pertence. Provavelmente, os
Introvini, sabedores da fraude cartorial, impuseram o preço e as condições de
pagamento e o grupo João Santos em estado de falência aceitou sem pestanejar.
Os bacurizeiros tremulavam em toda a Chapada do Brejão. Eles assumiram os seus lugares na Chapada bem antes do que se imagina. A presença humana se iniciou por onde? Houve um ponto único ou ela se originou em vários pontos? O ser humano se conformou à Chapada e aos Baixões (A Chapada é privilegiada pelas incontáveis espécies de madeira enquanto que os Baixões se aferram aos cursos de água e aos babaçuais). Os nomes das comunidades ligadas ou interligadas a Chapada do Brejão dão boas pistas dos relevos nos quais elas se estabeleceram. Brejão e Brejinho, nomes de duas comunidades, indicam proximidade com os veios de água que nascem ao pé da Chapada e descem pelo vale ou pelos baixões, ou seja, a água vai se abaixando até chegar ao nível do relevo. Causa estupor que o técnico responsável pelo projeto de desmatamento da fazenda Belem, projeto da família Introvini, tenha afirmado em 2017 à frente do então promotor de Buriti, o senhor Clodoaldo, que não havia nascentes nem do rio Munim e nem do rio Preto na área prevista para o desmatamento. Com o desmatamento de mais de 900 hectares não “haveria” mais nascentes em canto algum da Chapada do Brejão o que afetaria diretamente as comunidades citadas assim como as comunidades do Belem, Araça e Capão. Na verdade, afetará porque o desmatamento foi realizado com licença concedida pela Secretaria de meio Ambiente do Maranhao e mesmo com as denuncias de irregularidades o órgão garantia a legalidade do licenciamento. Entretanto, por conta da pressão da sociedade civil, uma equipe de fiscalização da SEMA vistoriou o local de desmatamento e constatou inúmeras irregularidades. Uma delas é o fato de que a área do desmatamento apresentada a SEMA está a cinquenta quilômetros de onde ele realmente aconteceu. Mayron Régis
O rio
Gengibre é permanente. Outros rios do Baixo Parnaiba maranhense também o são,
portanto não é o único rio permanente seja em Santa Quiteria ou seja no Baixo
Parnaiba como um todo. O que pega é o numero considerável de riachos que secam
antes do reinicio do inverno. O numero de riachos aumenta ano após ano. Não há
um dado preciso de nenhuma parte. É o caso de enumerar e nomear os rios que
secaram, os que estão em processo de diminuição do volume e os que seguem
volumosos. Um dos rios que secaram por completo, na altura do mês de novembro,
corta a área da comunidade do Riachinho
que principia a sequencia de comunidades presentes ao longo da estrada
que vai da sede do município de Santa Quiteria a zona rural. O leito do riacho
por debaixo da ponte aflige quem gostaria de ver água ocupando aquele espaço. Em
que momento exato a água some? O único rastro que ela deixou foi uma poça. Os animais,
que bebiam da água do riacho, transferem-se para regiões onde a água segue
abundante. O ser humano continua no povoado Riachinho ou em outro povoado com o
mesmo problema. Cavou-se um poço que abastecerá a casa ou a comunidade. A água permanece
no subsolo e com o poço ela reaparece. Não em forma de riacho que assume várias
formas em seu trajeto. Sim na forma de um circulo que é a forma de um poço. mayron regis
Quantas
páginas foram precisas para iniciar a viagem? Com certeza, só uma página
responde a contento essa pergunta. Entretanto, outras perguntas precisam ser
respondidas antes de iniciar a pagina e a viagem. O dia amanhecera do mesmo jeito
para todos? Em alguns lugares chovera, umas gotas que seja, um chuvisco mais
demorado, nada a comemorar no caso de uma chuva mais intensa. A chuva se
precipitou volumosa em trechos mais longínquos do centro da cidade que ainda
dormia em seus sonhos e sonhava em seu sono. Nesses locais de precipitação demasiada,
as pessoas acordam bastante cedo porque suas rotinas as obrigam a se deslocarem
para trabalharem em regiões opostas a onde residem. A chuva caia grossa nesses
recantos não tanto cobertos de vegetação, sobretudo descobertos pela
precariedade de infraestrutura e pela precariedade de serviços públicos de
qualidade. Para onde essas pessoas se dirigiriam, a chuva se revelou apenas na
molhadura das ruas e de alguns espaços das casas. Caso alguém perguntasse ao do
centro como começara o dia, o perguntado responderia “preguiçoso”. Caso alguém perguntasse
ao da periferia como começara o dia, o perguntado responderia “complicado”. A chuva
atrapalhara o deslocamento das pessoas por alguns quilômetros, na saída de
casa, no aguardar do ônibus, nas ruas esburacadas e encharcadas e nos
engarrafamentos. Não é essa viagem a que nos referimos. Ela ainda não iniciou
como se previa. O motorista não dera partida no carro. A água do café fervia na
chaleira. A padaria só abriria sete horas. Um ou outro dormia no sonho e no
sonho dormia. Quem dormia sonhava com a chuva ou simplesmente sonhava o
esquecimento da chuva? Chovia para onde iriam? A chuva venceria a secura e as
queimadas? No dia seguinte, em São Raimundo das Mangabeiras, Francisco,
presidente do STTR, anunciaria que a chuva estava por vir. Os incrédulos perguntaram
como. Os pequis no chão da Chapada indicavam. mayron regis
O desmatamento
da Chapada do Brejão, município de Buriti, perpetrado pela família Introvini em
conluio com o grupo João Santos, foi embargado na terceira semana de outubro de
2019. Aparentemente, o assunto morreu, isso claro depois de um mês de atividade
continua dos tratores que derrubaram bacurizeiros, pequizeiros e babaçuais. A licença
conferida pela Secretaria de Meio Ambiente do estado do Maranhão permitia o
desmatamento de 900 hectares na Area de Proteção Ambiental Morros Garapenses,
unidade de conservação que abrange os municípios de Buriti, Duque Bacelar,
Coelho Neto e Afonso Cunha.
Como se vê, a criação
da APA Morros Garapenses em 2008 não impediu os desmatamentos das Chapadas de
Buriti e de Afonso Cunha pelos plantadores de soja e pelas empresas de
eucalipto nos anos posteriores. Na época, qual era a principal razão para que
se criasse uma unidade de conservação nessa região? Se fosse apenas preservar
algum sitio arqueológico no município de Duque Bacelar perante a ameaça
protagonizada pelo grupo João Santos essa razão seria insuficiente. Não precisaria
incluir os outros municípios de Buriti, Afonso Cunha e Coelho Neto. Entretanto,
esses municípios foram inclusos na área da APA Morros Garapenses e não por uma
razão qualquer. Os municípios de Buriti, Afonso Cunha e Coelho mantem em seus territórios
vários trechos de alta relevância para biodiversidade e várias nascentes dos
rios Munim e Parnaiba. Boa parte da área desses municípios foi tomada pelo
agronegócio da soja, do eucalipto, da cana e do bambu. O que não foi tomado e destruído
se deve a presença de comunidades tradicionais (extrativistas, agricultores
familiares e quilombolas) que defendem seus territórios tradicionais.
Não se sabe ao
certo quem embargou o desmatamento da Chapada do Brejão. O Ibama não destina
mais equipes para o leste maranhense e a SEMA se mostrava arredia a enviar uma
equipe de fiscalização a área devido as relações da secretaria com a ultra
poderosa família Introvini. Quem embargou, certamente, cometeu esse ato por
pressões e criticas da sociedade civil como as que foram feitas em reunião com órgãos
do governo do estado na secretaria de direitos humanos. Além das criticas
exercidas a frente dos órgãos do governo, é importante salientar o papel interpretado
pela associação do Araça que cobrou do ministério publico e do Iterma
informações sobre a veracidade dos documentos do grupo João Santos que repassou
as terras para a família Introvini. O Iterma, a pedido do ministério publico de
Buriti, analisou a documentação e assegurou a sua falsidade. Com essa informação,
pediu-se a anulação da documentação cujo pedido se encontra em analise na corregedoria
do Tribunal de Justiça. O cartório de Buriti respondeu aos questionamentos da corregedoria
de forma bem singular ou cínica, (depende do ponto de vista): “Por que o Iterma quer anular essa
documentação se a quase totalidade dos documentos de terras no Maranhão são do
mesmo jeito? ”.
As instituições
republicanas devem se esmerar pelo respeito no trato entre si e com referencia
a sociedade. Não que apenas o respeito seja o norteador das relações
institucionais. Contudo onde não há respeito da parte de um relação ao outro,
isso leva a crer que as instituições se pautam pela falta de diálogo e pela
falta de transparência. Em recente reunião na secretaria de direitos humanos do
governo do Maranhão, a secretaria de meio ambiente nas pessoas da secretaria
adjunta e de funcionários da fiscalização se comprometeram a rever a licença
ambiental que a secretaria concedeu em 18 de julho de 2019 ao senhor Gabriel
que possibilitou o inicio do desmatamento da Chapada do Brejão, município de
Buriti, Baixo Parnaiba maranhense. Nessa audiência se faziam presentes representantes
da Diocese de Brejo, Fórum Carajas, do Iterma, da Secretaria de Direitos
Humanos e outros órgãos que respondiam as demandas da sociedade civil no
tocante aos direitos humanos e sociais da região do Baixo Parnaiba maranhense.
A secretaria adjunta de Meio Ambiente e os fiscais da secretaria desconheciam
os porquês da audiência e logo foram postos a par de que a secretaria havia
licenciado de forma irregular o desmatamento de 900 hectares no município de
Buriti. Irregular porque os documentos de titularidade da terra foram forjados
pelo grupo João Santos e irregular porque a área desmatada se encontrava na
Area de proteção ambiental Morros Garapenses e o órgão para dar essa licença
não consultou o conselho da APA. Segundo o fiscal da SEMA era possível que o
empreendedor (Gabriel Introvini) para obter a licença tenha apresentado
informações inverídicas e que não é responsabilidade do órgão licenciador verificar
a licitude dos documentos e que por conta das boas relações entre instituições
(órgão licenciador e empreendedor) a sema tem que acreditar na boa fé do
empresário ou da empresa. Por conta da boa fé e da incapacidade de fiscalização
da SEMA que até o dia 15 de outubro de 2019 não enviara nenhuma equipe ao
local, o senhor Gabriel Introvini desmatou 900 hectares de Cerrado intacto da
Chapada do Brejão, desmatou 300 hectares do assentamento Belem,
responsabilidade do Iterma, e desmata o povoado Brejão como forma de ameaçar os
moradores deste povoado e como forma de força-los a deixarem suas propriedades.
Num
processo de licenciamento ambiental deveriam ser analisados todos e quaisquer
atos e declarações que de alguma forma ou outra tenham relação com o referido
processo. Isso seria o ideal, mas para a secretaria de meio ambiente do
Maranhão a análise deve se restringir aos documentos exigidos pela secretaria ao
empreendedor. Deve-se acreditar na boa fé do empreendedor, segundo a Secretaria
do Meio Ambiente. Conclui-se então, por essa assertiva, que a aprovação do
empreendimento só dependeria da célere apresentação documental. O licenciamento
ambiental se dá entre o órgão ambiental que licencia e o empreendedor que quer
licenciar o seu empreendimento. A análise e a aprovação quase certa deveriam
levar seis meses. Essa tese é quase geral, ou seja, serve para qualquer
empreendimento de pequeno, médio e grande porte. Essa definição
de seis meses como prazo máximo segue algum critério técnico ou segue apenas
uma diretriz política do governo do Maranhão que atende os interesses do setor
produtivo seja estatal ou privado? Regular o prazo de análise de um empreendimento
em seis meses dá a entender que os impasses ambientais serão resolvidos dentro
de uma lógica temporal e de uma lógica documental. O empreendedor chega com o
projeto na secretaria, a secretaria mostra seu check list de documentos, o
empreendedor corre para obter e entregar os documentos e a secretaria de meio
ambiente licencia sem maiores problemas. Por essas lógicas, o licenciamento
ambiental é apenas uma etapa a ser cumprida pelo órgão licenciador e pelo
empreendedor. Essa visão de licenciamento ambiental tem guarida em vários
setores da sociedade brasileira que veem no meio ambiente um empecilho ao
desenvolvimento econômico. Não é novidade essa visão. A novidade é que essa visão
encontre ressonância em setores da sociedade civil organizada e setores do meio
ambiente. Talvez porque os governos, em vários casos, tenham entregue as pastas
ambientais a setores economicamente ativos que depredam o meio ambiente sem
medir as consequências para a sociedade como um todo. A secretaria do meio
ambiente do Maranhão foi entregue ao deputado Josemar de Maranhãozinho que
defende os interesses de madeireiros e de garimpeiros. Essa pratica se tornou
recorrente em outros estados e a nível nacional. Além disso tudo, o
licenciamento ambiental se tornou uma forma do órgão ambiental se financiar
porque os recursos são escassos. As informações dão conta que a licença de
desmatamento de 900 hectares no município de Buriti dada pela SEMA a família Introvini
passou pela doação de R$50.000. Quer dizer a “proteção do meio ambiente” passa
pela apropriação irregular do patrimônio natural e ambiental por setores
produtivos que financiam campanhas politicas tanto no município de Buriti como
no estado do Maranhão.
Uma palavra
proferida no momento certo diz muito sobre a realidade circundante. É difícil escapar
a sensação de fracasso que assola o cotidiano. Talvez algum feito heroico ou
alguma conquista do dia a dia configurem sucessos. Por pouco tempo. Por pouco é
sempre pouco “Estamos quase sempre otimistas/tudo vai dar quase certo/pois o
ano esta quase acabando/depois de termos quase certeza/.../ por pouco não
trouxemos o penta...” (Por pouco, Mundo Livre). A letra de “Por pouco” estrutura
situações dispersas na memoria coletiva as quais a sociedade brasileira deseja
esquecer porque significam fracassos. As
músicas do Mundo Livre releem a historia e a cultura brasileiras através dos
fracassos sociais que o Estado brasileiro institucionalizou como por exemplo o
samba que a ditadura de Getulio Vargas elegeu maior expressão cultural
brasileira num claro processo de apropriação. Pode-se dizer que o Estado
brasileiro em todas as suas facetas e esferas fracassou em seu projeto de dar
coesão social ao Brasil e fracassou em responder e corresponder as demandas por
politicas publicas da sociedade. O fracasso em não atender questões estruturantes
e estruturais exigidas pela sociedade corresponde ao atendimento de questões
não urgentes do ponto de vista social e econômico. A apropriação da cultura pelo
Estado brasileiro e a reelaboração dessa cultura por grupos econômicos com aval
desse mesmo Estado desvia a atenção da sociedade do que realmente importa para
o que menos importa. Construiu-se uma imagem quase inesgotável que o maranhense
é receptivo solicito e educado.Nenhuma
generalização pretende chegar a verdade. A generalização qualquer que seja é
uma forma de encobrir as verdades desagradáveis que vicejam. Quem nunca escutou
a expressão antiga “ela é pretinha mas é educada”. Ou seja, o preconceito
racial e social enraizado só é refreado pelas boas maneiras e pela boa
educação. Então, como o maranhense ébem
educado dentro de um certo prisma ele deve seguir as boas maneiras e não
receber mal suas visitas mesmo que elas venham com grosserias e com violência. O
que é o avanço das monoculturas sobre as florestas maranhenses se não atos de
grosseria e de violência por parte de setores majoritários economicamente com
aval do governo do estado so que reelaborados através do discurso de olha como
os maranhenses são bonzinhos bem educados e bem dispostos?Os plantadores de soja (família Intronivi e Strobel)
que compõem o conselho da área de proteção ambiental Morros Garapenses ao serem
denunciados pelo desmatamento da Chapada do Brejão em Buriti responderam que
não mereciam tais denúncias porque se sentiam maranhenses.
Antes a economia de um municipio se resumia a alguns projetos de criação de gado, projetos de manejo florestal e venda de babaçu e seus subprodutos. em geral circulava pouco dinheiro pela economia e prevalecia uma economia de escambo. Os agricultores trocavam suas produções de farinha e de babaçu por produtos industrializados nos comercios. Os comercios nos pequenos povoados se consagraram como locais de morada e de poder para os proprietários, de subserviencia para os moradores das vizinhanças e de hospedagem para os viajantes. As pessoas davam mais importancia aos comercios do que aos seus proprios lares. Essa importancia se refere ao fato de que só nos comercios surgia algo diferente do cotidiano empobrecido das comunidades rurais do Maranhão. Era tambem porque nesses espaços se ficava a par do que acontecia nos circuitos politicos do municipio e da região. Correto afiançar que a palavra importava para o que desse e viesse. Os moradores não sabiam ler e escrever portanto subtendia-se que dar a sua palavra a alguem cumpria um requisito imprescindivel em qualquer situação. Quantos deram suas palavras sem esperar nada em troca ou só esperar apenas uma congratulação? Talvez a resposta seja mais dura do que se gosria. As classes subalternas se atinham e ainda se atem as questões de honra e de palavra. As classes dirigentes, por outro lado, na primeira oportunidade renegam seus compromissos e discursos historicos. As Chapadas, por muito tempo, foram os espaços consagrados de convivencia pacifica entre a agricultura familiar e os criadores de gado. O lado bom ninguem mexia com ninguem. O lado ruim ninguem se preocupou em regularizar sua situação fundiária. A Chapada era mal vista por muitos. Isolamento, quentura, seco, trabalhosa e etc. Só para soltar gado e olhe lá. Os vaqueiros interpretavam o papel de conquistadores da Chapada assim como de zeladores da garantia fisica do gado dos seus patrões. As Chapadas se mantiveram vazias em parte pelos preconceitos despreendidos contra elas e esses peconceitos favoreceram os criadores de gado e comerciantes na hora que resolveram vendê-las aos plantadores de soja , afinal ninguem morava nas Chapadas que só serviam para soltar o gado e nada mais. Qual foi o preço pago pelas Chapadas? Os "proprietários" não avaliavam as Chapadas pelo que elas poderiam trazer e sim pelo que não trouxeram. Qualquer dinheiro calhava de aceitarem. No transcurso da história, como e onde ficaram as comunidades tradicionais que tambem viviam dos recursos obtidos da Chapada (madeira, frutose etc)? Algumas delas conseguiram regularizar seus territorios. Entre os anos de 2005 e 2018, o Incra desapropriou 15 propriedades, o Iterma regularizou 5 territorios tradicionais e o ICMBIO criou uma reserva extrativista no Baixo Parnaiba maranhense. Impediu-se o desmatamento de mais de 50 mil hectares de Cerrado pelo agronegócio. Entretanto criadores de gado, empresas e empresarios do agronegocio mantem suas investidas sobre as áreas de Chapada pelo Baixo Parnaiba inteiro. Eis alguns casos
Urbano Santos - povoados São Raimundo, Capãozinho e Santa Rosa dos Garretos
Belagua - Estiva do Cangati
Buriti - Brejão, Carrancas, Areias
Brejo - Saco das Almas
Anapurus - Formiga e Buritizinho
Milagres - Borrachudo
Santa Quiteria - Fazenda Tabatinga, Baixão da Coceira 2, Barra da Onça, Vertentes
Chapadinha - Chapada do Sangue, barro vermelho
São Benedito do Rio Preto - Guarimã
Barrerinhas - Andreza, Rio Grande dos Lopes, mamede, Jurubeba, Passagem do Gado
São bernardo, Araioses e Magalhaes de Almeida - Pau Ferrado, Faveira, Baixão das Vassouras, Baixão da Subida.
essas comunidades de uma forma ou de outra recebem assessoria tecnica do Fórum Carajas em parceira com a SMDH, Diocese de Brejo, Fetaema e STTRs. ao todo as areas dessas comunidades chegam a mais de 30 mil hectares de Cerrado, babaçual, caatinga, restinga e floresta amazonica.
O filósofo e professor da UFMA Joedson Silva primava pelas boas músicas na sua lista seleta. O carro onde viajava não possuía som próprio e se não fosse por ele a viagem se resumiria a uma troca de conversas entre os ocupantes do carro. As músicas variavam de rock alemão dos anos 70, trip hop dos anos 90 e mangue beat recifense. O Dj filósofo perguntou se o carona reconhecia uma determinada música. O vocal melodioso lembrava a voz de Greg Lake do King Crimson. Errado. Velvet Underground. Banda americana icone dos anos 60. Um folk country urbano depressivo erótico. Uma viagem psicodélica que descomprimiu as impressões da viagem a noite pelo baixo Parnaíba. A manhã do dia seguinte se entregaria ao calor impenetrável. Vicente de Paula, recém recuperado de uma gripe, apresentava a Chapada ao filósofo que o fotografava com sua visão indolente. Ninguém esperava mais chuvas fortes no mês de junho em Buriti ou qualquer outro lugar. Vicente saira cedo dias antes para zelar a sua roça e não é que uma chuva se formou e derramou se rapidamente sem pedir licença e nem por favor. O calor do pós inverno é a norma da casa. Para onde iriam em seguida essa norma era mais cruel. Os agricultores de Brejo e Milagres não foram pareos ao agronegócio da soja. O século XXI não tem nada de ficção científica naquelas chapadas. Surgem máquinas mas não voadoras e sim suplantadoras do Cerrado Leste maranhense. Máquinas que aram (degradam) o solo. Entre tantos espaços vazios deixados pela soja recém colhida, um espaço se destacava pela vegetação e pelo gado que lá se recolhe. Os antigos posseiros aceitaram as propostas dos sojicultores e venderam barato suas posses. Só um não vendeu. Da destruição em massa promovida pela soja os impactos mais evidentes são a diminuição na fabricação de cachaça afinal não há mais madeira na Chapada para queimar nos alambiques e a poluição do Rio Buriti pelos agrotóxicos.
Marquei uma pescaria no rio dos
pretos – entre São Benedito e Urbano Santos – quase nos limites de Chapadinha,
terra de criadores de porco e bode. Saira da sede da cidade as 14:00h, viajava
pela chapada do meio – na estrada que dá acesso aos povoados Prata e Riacho
Seco. O Bacabal de Santa Rosa era o ponto final. “A pescaria numa terra proibida” prometia.
Bacabal e Santa Rosa são duas
comunidades vizinhas, áreas que estão em conflitos fundiários – de um lado a
família Garreto e do outro os moradores. Bacabal nasceu de Santa Rosa – a
Associação de moradores fora criada com o objetivo de entrar com um processo de
desapropriação no Incra e arrecadar no Iterma o restante da chapada para as
mais de trinta famílias camponesas que lá moram e trabalham de roça. Conheço o
pessoal de Bacabal desde quando se iniciou o conflito há quase uma década atrás.
Um povo hospitaleiro que vive no dia a dia do trabalho pesado da lavoura e da
pesca artesanal, além de outras tarefas e práticas como o extrativismo.
Participei de muitas reuniões de
organização, preparação e orientação da luta pela terra. Mas naquele dia a
tarefa era outra – divertir-se um pouco com a arte da “pesca numa terra
proibida onde quem chega por lá é indagado pelos moradores” e, interrogado
sobre o que anda fazendo por aquelas bandas. É claro que essas interrogações
não foram me dirigidas. Eles estão fazendo certo, pois a terra é seu bem maior,
muitos visam aquela região de chapadas, babaçuais e matas virgens / poucos
sabem seu importante valor econômico e social, cansaram de serem colonos e
escravos dos que ainda se “dizem senhores”. A poeira da estrada estragaraminha garganta, rendendo mais de duas semanas
de gripe forte e muita tosse. Mais de uma hora de viagem pelos “campos do
gaúcho”. Este deu uma melhorada na estrada que vai para sua fazenda. Menos mal,
mas não fizera a estrada para facilitar a vida dos moradores de Bacabal e Santa
Rosa, mesmo assim eles a utilizam frequentemente, pois a outra estrada via
Marçal é bem mais longe a distância para a cidade. Ao chegar, deixei a
motocicleta em baixo do pé de jatobazeiro – arvore centenária que fornece uma boa
sombra nas horas de reunião e também frutos para a meninada matar a fome. O
enorme pé de jatobá é uma prova viva da existência e formação histórico-social
daquela comunidade que se criara a partir das adjacências do campo de futebol –
muito parecida com umaaldeia indígena.
Antes de ir para o rio, conversei um pouco com o presidente da associação sobre
algum tipo de novidades, quase nada me dissera a respeito da questão que vem se
arrastando, apenas falou da eleição da nova diretoria da associação que alguns
dias tinha acontecido. As horas iam passando e eu tinha que pescar. A fome
apertara também, pois não almocei nada naquele dia, esperava pegar algum peixe
para comer assado com farinha lá mesmo na beira do rio. Segui para a ponte que
liga o outro povoado vizinho, o rio baixara suas águas e, muito – notou-se a
diferença de outras datas. Os anzóis e as redes foram pra dentro d´água, pouco
beliscava, mas as redes fizeram a festa com as baranas e freixeiras, apesar das
piranhas estragarem com seus afiados dentes. Anoitecia e outras iscas foram
botadas para ferrar as catanas, tudo calmo – as horas passavam lentamente, se
ouvia gritos de caçadores e latidos de cachorros ao longe, tiros de
espingarda... as estrelas do céu eram a minha companhia. O pensamento viajava,
concentrado lembrava de minha casa e decidia voltar ainda naquela madrugada.
Fiz uma fogueira na beira do rio, botei alguns peixes para assar, depois
jantei-os, bebi a água do rio preto e estava alimentado. Por volta de1:00h hora da manhã decidi voltar pra casa,
tinha pegado o suficiente para o almoço. No trajeto até o vilarejo de Bacabal
Deus e a luz da lanterna eram meus guias. Chamei o morador da casa para pegar a
chave da moto, não quis incomodá-lo, despedi-me e acelerei na volta para casa,
subindo a ladeira até a planície da chapada. Viajar a noite não é uma boa experiência
e ainda mais sozinho por aquelas brenhas. Os campos de eucaliptos faziam
fronteiras com os carrascos e chapadas, a poeira ardia nos olhos. Mais de dois
quilos de peixes vinha no côfo. O medo me apavorava.
Após horas de viagem, avistava-se
os primeiros sinais das luzes da cidade. O medo foi passando assim que se
aproximava da civilização. Chegava em casa as 3:00h da manhã, cansado, com
peixe e uma bagagem para mais um ensaio literário... uma prosa sobre este tema
que quase não tem tanto sucesso para muitas pessoas, mas para outras é de
grande e estimável valor.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais-Sema, em cumprimento ao disposto no art. 10, VII, Resolução 237 do CONAMA, torna público que indeferiu o pedido de Autorização de Supressão da Vegetação – ASV protocolado por meio do Processo SIGLA nº 16010015175/2016, que teve como requerente Jaquesson Introvini - CPF/CNPJ 638.434.551-04. São Luís, 21 de janeiro de 2019. MARCELO DE ARAUJO COSTA COELHO Secretário de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais
A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais-SEMA, em cumprimento ao disposto no art. 10, VII, Resolução 237 do CONAMA, torna público que indeferiu o pedido de Autorização para Utilização de Matéria Prima Florestal – AUMPF protocolado por meio do Processo SIGLA nº 15110041914/2015 , que teve como requerente Jaquesson Introvini - CPF/CNPJ 638.434.551-04 . São Luís, 17 de janeiro de 2019. MARCELO DE ARAUJO COSTA COELHO Secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Estudo desenvolvido na pós-graduação em Ciências Florestais mostra a relação entre desmatamento e alteração climática
Ela é responsável por deixar o clima mais agradável, contribui para a preservação de espécies animais e vegetais, além de ser uma importante parte do ciclo hidrológico, abastecendo rios e mananciais e consequentemente as cidades. A chuva tem o poder de manter e transformar a vida na Terra. Mas para que essas pequenas partículas de água caiam do céu, são necessários vários processos, que envolvem desde a transpiração de árvores e plantas, a evaporação da água dos rios pela incidência solar, a condensação do vapor de água na atmosfera até o encontro das massas de ar.
Quando há interferência em algum desses mecanismos, a alteração das dinâmicas de precipitação é uma das consequências. No Cerrado, essa situação acontece há algumas décadas. Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais (PGEFL) da Universidade de Brasília concluiu que houve redução de 8,4% nas chuvas em 33 anos (de 1977 a 2010). Isso quer dizer que 125,8 milímetros de chuvas deixaram de cair no intervalo, correspondendo a 3,7 mm de perda a cada ano.
O Distrito Federal é um ambiente propício para esse monitoramento, já que a atual crise hídrica enfrentada pela região tem, como uma das possíveis causas, a redução das chuvas no Cerrado. O estudo reúne indícios que apontam como causa o desmatamento e a reutilização do solo em atividades de agronegócio.
“Muito recentemente, diversas pesquisas têm chamado a atenção sobre a relação entre desmatamento e alterações climáticas”, explica a mestranda Juliana Campos, que explorou o tema em sua dissertação. Intitulado Variabilidade da precipitação no Cerrado e sua correlação com a mudança no uso da terra, o trabalho foi orientado pelo professor Henrique Chaves, do Departamento de Engenharia Florestal.
A pesquisadora analisou dados de 125 estações pluviométricas, distribuídas em nove estados onde o bioma Cerrado é encontrado, para verificar a variabilidade na dinâmica de precipitações. A tendência de diminuição nas chuvas foi observada em 89 estações, sendo que, em 18 delas – ou seja, 14% do total –, a mudança foi mais significativa.
Segundo Juliana, as maiores quedas no volume de precipitações foram registradas nos meses de janeiro e maio. No primeiro mês do ano, essa variação costuma ser menos sentida, por ser estação chuvosa. Em maio, entretanto, quando se inicia o período de estiagem, as consequências da menor incidência de chuvas costumam ser drásticas.
“Esse mês é muito importante para o Cerrado, porque é o mês de transição de estações. Se em maio há uma queda da precipitação muito abrupta, prolonga-se a estação seca, acarretando efeitos muito mais danosos”, explica a pesquisadora, referindo-se a prejuízos causados sobre o ciclo de águas e sobre a própria manutenção das espécies.
CAUSA – Apesar de as evidências não permitirem uma conclusão definitiva, Juliana Campos sugere que há uma correlação entre a variabilidade nas precipitações e a mudança nos usos da terra em função do desmatamento para a implementação de atividades agrícolas.
O cenário ficou evidente a partir do cruzamento de dados das estações sobre a frequência das chuvas e análises espaciais das áreas desmatadas: as alterações mais significativas se deram em regiões onde houve intensa retirada da cobertura vegetal. Simulações de modelos climáticos realizadas em outras pesquisas também foram utilizadas para embasar o estudo. A conclusão é a mesma: o desmatamento influencia diretamente as mudanças climáticas do bioma.
Em territórios do Cerrado mais ao sul, que incluem Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso, a variação negativa no regime de chuvas chegou a 10,6% no período estudado. Em estações específicas, os dados encontrados são ainda mais alarmantes. “Uma estação no Mato Grosso registrou redução de 60% no nível de precipitações ao longo desses 33 anos”, destaca a mestranda.
A porção ao sul da região é justamente onde ocorre maior desmatamento do bioma. Ali, apenas 35% da vegetação nativa ainda se encontra preservada. “O desmatamento do Cerrado se iniciou no século XVIII, mas o ápice foi nas décadas de 1960 e 1970, após a construção de Brasília e a Marcha para o Oeste, época de grandes incentivos agrícolas”, analisa Juliana Campos. Atualmente, quase metade das áreas de Cerrado em todo o Brasil já foi devastada, sendo a produção agrícola o motivo principal.
AGRAVAMENTOS – Diferentemente das culturas implantadas, a vegetação nativa apresenta maior eficácia no processo de reciclagem das águas. As folhagens mais escuras das árvores do Cerrado, por exemplo, são essenciais na absorção de energia solar, diferentemente das gramíneas utilizadas em pastagens, que deixam a superfície na terra mais clara e refletem a luz do Sol.
Quando há retirada de espécies nativas, perde-se essa capacidade de captação, necessária ao processo de formação das chuvas, aponta Juliana: “A falta de energia na superfície terrestre impacta os processos de evapotranspiração e convecção”.
Outros aspectos, como a rugosidade aerodinâmica das árvores do Cerrado – altura a partir da superfície onde ocorre a turbulência do ar – e o potencial de bombeamento das águas do subsolo pelas raízes vegetais, sobretudo durante a seca, também contribuem na evapotranspiração.
Plantações e pastagens comuns à atividade agropecuária, basicamente compostas de espécies rasteiras, dificultam a turbulência do ar, responsável pela circulação da umidade. Além disso, essas plantas rasteiras não possuem raízes tão profundas para recolher as águas subterrâneas.
O retorno da água à atmosfera após a reciclagem do solo e das plantas é um dos pilares do ciclos de chuvas e do sistema de reabastecimento dos aquíferos (Confira no infográfico abaixo). “Dependemos muito da evapotranspiração da vegetação para a umidade do ar e, sobretudo, para as poucas chuvas que ocorrem na estação seca”, ressalta.
Para Juliana, é necessário pensar em possibilidades menos degradantes de desenvolvimento agrícola, aliadas à redução do desmatamento. “Vários estudos buscam soluções de agriculturas alternativas que não impactariam tanto na evapotranspiração, como a agrofloresta e o plantio direto”, indica.
Mais do que perceber os danos ambientais trazidos por esses desequilíbrios, a pesquisadora considera importante dimensionar os impactos socioeconômicos.
Aonde já se viu ? A terra dos papagaios. Como você sabe que esta e a Terra deles ? Viste algum deles ? Qual era a cor ? Escutei o som de um e perguntei ao Manoel se era um papagaio preso. Ele respondeu que não portanto um papagaio nativo. As terras de papagaio desciam para a beirada do Rio Boa Hora mais apropriadamente para as beiradas da fonte do Riachinho pertencente aos povoados Capaozinho e Riachinho, municipio de Urbano Santos. Os papagaios vivem soltos sobre os galhos das árvores frutíferas com destemor. Antes as Chapadas os animais e as pessoas se soltavam. De tanto viverem soltas as pessoas quiserem experimentar a desoltura. Os membros da associação de moradores de Capaozinho e Riachinho pretendiam desmatar mais de 300 hectares para plantar soja. Só que desistiram bem no começo da empreitada. Não foram adiante. Em uma conversa com o Fórum Carajás, Manoel, presidente da associação, foi tácito em afirmar que recuaram, pois prevaleceram a prudência e o entendimento da total inexperiência em lidar com a soja com os custos de produção e com sua comercialização. Por enquanto não mudam a fisionomia do lugar e os papagaios que cantam livremente. Mayron Régis
A juíza Oriana Gomes, da 8ª Vara Criminal de São Luís, aceitou,
no último dia 20, denúncia oferecida pela promotora de Justiça Márcia Lima
Buhatem, da 2ª Promotoria de Justiça em Defesa do Meio Ambiente, contra a WPR
São Luís Gestão de Portos e Terminais. Também foram denunciados os representantes legais da WPR, Walter Torre Júnior e Paulo Remy Gillet Neto, respectivamente, presidente do conselho da WTorre e ex-sócio da empreiteira.
De acordo com a
assessoria do Ministério Público do Maranhão, a denúncia é baseada em
inquéritos da Polícia Civil e investigações do próprio Parquet,
e aponta que os envolvidos praticaram diversas condutas enquadradas na Lei de
Crimes Ambientais, como: morte de animais silvestres; danificação de floresta
em área de proteção permanente e manguezais; retirada de grande extensão de
vegetação; irregularidades no processo de licenciamento ambiental.
Indica também o
descumprimento das condicionantes impostas nos documentos de licença prévia,
licença de instalação e autorizações para supressão de vegetação e captura e
transporte de fauna silvestre.
“A construção do
Terminal Portuário será sobre localidade que possui como parte de sua vegetação
o manguezal, gerando, assim, grande impacto e promovendo a destruição e
danificação do bioma na região”, argumenta Márcia Buhatem, no documento.
Por determinação
da magistrada, a WPR, Walter Torre Júnior e Paulo Remy Neto têm o prazo de 10
dias, contados a partir da data de citação, para se manifestarem a respeito da
denúncia.
A
primeira reunião não dera certo. Não por causa da chuva, foi pelo contratempo.
Estava quase tudo certo para a reunião do Fórum Carajás no P.A Baixão / Bacaba,
zona rural de Urbano Santos. Os membros do Fórum Carajás conversariam com os
moradores do assentamento naquele dia, com o intuito de ajudá-los através de um
pequeno projeto de galinha caipira financiado pela ONG – “ASW da Alemanha”.
Esses projetos espalhados por toda região do Baixo Parnaíba tem como principal objetivo
fortalecer a renda familiar e a segurança alimentar das famílias camponesas –
principalmente aquelas que vivem próximos às plantações de eucaliptos e soja - vítima
do impacto direto do agronegócio. Visam também dá uma injeção de ânimo naqueles
que lutam pela permanência física e cultural em seus territórios tradicionais,
ou melhor dizendo, os que lutam pela terra. Uma iniciativa muito importante
onde se trabalha com pouco, mas o suficiente para levantar e manter erguida a
bandeira da agroecologia na região. Os desafios são grandes; experiências que
dão certo e as vezes não. A intenção de ajudar os menos favorecidos gera “ciúmes”
em alguns momentos, em algumas situações. Entidades como o Fórum Carajás são
consideradas importantes para as comunidades tradicionais, outra reunião fora
marcada com o mesmo objetivo. Informar aos assentados do Baixão/ Bacaba sobre a
situação da realidade agraria no Brasil. Os problemas de acesso aos projetos
para assentados e assentadas da Reforma Agrária. Conversaríamos sobre a questão
do “Programa Minha Casa Minha Vida Rural”, donde eles tem demandas. É só uma
questão de tempo. Além do Programa “Pronaf Mulher” e Projeto Agroextrativista na Reserva Ecológica separada pelo INCRA –
obedecendo a lei. A Comunidade Baixão dos Loteros tem uma historia voltada para a colonização dessas terras,
assim como a maioria das comunidades tradicionais habitadas por sertanejos há
séculos neste pedaço de chão que é o Baixo Parnaíba maranhense. Quando o Baixão
começou a ser colonizado partiu da construção de um curral para botar gado,
depois veio a casa de fazenda que foi feita por uma das “famílias influentes”.
Conta-se que possivelmente fora um “Quilombo de Negros” escravizados no
passado. Por ficar em uma área estratégica entre a chapada e a mata – por onde
passa um riacho batizado com o mesmo nome do povoado. Ali se desenvolvera a
cultura de criação de gado e a produção de farinha – esta ultima, permanecendo e
transformando o Baixãoem um vilarejo
dos mais respeitados na fabricação de farinha de puba em Urbano Santos. Os
conflitos sempre existiram nesta região. O saudoso Nonato Valentim na década de
80 foi um dos líderes da luta pela terra. Período esse um tão pouco difícil por
ser ainda na ditadura militar. Os Camponeses tinham o apoio das Comunidades
Eclesiais de Base- (CEBs), que até
então surgia na historia como um “Novo Sujeito Popular” e orientação
sociopolítica e religiosa da Igreja Católica. A história se contradiz nas
entrelinhas de quem a escreve. Poucos se escreve sobre conflitos fundiários –
muito menos colocando o campesinato como figura importante no cenário político
de transformação social e econômica. Mas na verdade quem assegura o alimentando
na mesa dos brasileiros? Quem protege o pouco que resta das matas e cabeceiras
de rios? Quem está preocupado com a água que abastece as comunidades e as
cidades? A agricultura tem ajudado no entendimento de muitos em saber que a
saída para melhoria de nossas vidas é a conquista, ocupação e produção da terra.
Reunião dera certo – 27/02/2019. Avisava-se com tempo. Apesar da chuva foi
possível uma reunião com os moradores do Baixão dos Loteros. Para melhores
esclarecimentos sobre a vida da comunidade e a parceria de ajudar nesse
processo de solidariedade e esperança.
Dona Eva -, moradora da comunidade formiga - zona rural de Anapurus, convidava os companheiros do STTR de Urbano Santos para participar de uma reunião sobre Direitos Humanos. Dona Eva, o Izaias e a Francisca fazem o "Curso de Formação de Agentes Populares de Direitos", eles convidariam o José Antonio Basto, militante social para ajudar na transmissão das informações burocráticas sobre o que é "Direito Humano". Os três concluíram o “II Módulo do Curso”, este que é organizado pela SMDH - Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos. A Associação preparou o ambiente com símbolos ligados à luta da comunidade pela posse da terra, materiais importantes como: coco babaçú, palhas, cofos, cabaça, fruto do buriti, linho do buriti e muitas frases coladas no painel sob o fundo de um banner com o nome do evento.
A Comunidade Formiga é um dos povoados mais isolados de Anapurus, por ficar exatamente numa linha de transição entre dois municípios – Urbano Santos e Anapurus, seguindo o nível do rio que passa pelo Povoado Bom Fim. Ali se desenvolveu o patriarcado de famílias influentes que tinha como poderio o domínio das terras e o comercio local. Durante toda história, os agregados levavam uma vida de servidão e consideravam comum.
Preparação antes do Seminário.
O Coronel e/ou fazendeiro, proprietário dominava seus agregados que viviam humilhados e trabalhando em situações análogas à escravidão. Formiga compõe o conjunto de fazendas do século XIX, "Ciclo das Fazendas", assim como as fazendas vizinhas Bom Fim, Boa União e Palmira. Alguns posseiros e pequenos proprietários das heranças se vê hoje acusados pelo programa do agronegócio. São proibidos de exercer suas atividades rurais e de colher os frutos da chapada. A terra está em questão e existe um processo jurídico tramitando na justiça envolvendo famílias camponesas a Empresa Suzano Papel e Celulose. Os agricultores pretendem construir um
Ornamentação do Seminário.
campo agrícola dentro da área para melhorar a produção, mas estão com medo da Suzano barrar o serviço. Nesse caso somente eles devem manter a resistência, assim como fez a vizinha Comunidade Bracinho em 2011.
Pequizeiro do Pov. Bela Vista.
Os moradores da Formiga são desprovidos de uma série de direitos mínimos, como educação e saúde, a comunidade já teve um caso de despejo de famílias. Eles trabalham na agricultura, criam gado e pequenos animais. O interessante é que quase todas as famílias produzem o linho do buriti, extraem dos brejais, secam no sol, armazenam e vendem para compradores de Barreirinhas. Eles ajudam no comércio sustentável do artesanato que movimenta uma grande renda no setor de turismo na região dos lençois, no país e no exterior. Talvez, os tiradores de linhos de buriti nem sabem disso, pois a maioria são analfabetos e vendem um quilo de linho no valor de R$ 8,00 reais. Durante a roda de conversa discutia-se os pormenores principais do entendimento sobre o que é "Direitos Humanos": partindo para os assuntos da Declaração Universal dos Direitos Humanos que completou 70 anos em 2018, Constituição Federal de 1988, Direitos e Deveres dos cidadãos, Reforma Agrária, Direitos Coletivos, Direitos Individuais, Pedagogia da Proteção e Direitos Socioambientais. Uma injeção de ânimo na luta camponesa que durante séculos conquistara seus direitos,
J. A. Basto, Sr. Calixto e Dona Maria - "Pov. Bebedouro".
hoje ameaçados pelas reformas trabalhista e da previdência. Foi feito uma reflexão sobre a luta dos primeiros líderes nesta região, a exemplo dos Balaios liderados pelo vaqueiro Raimundo Gomes, o agricultor Francisco Manoel dos Anjos (Balaio) e o quilombola Negro Cosme Bento das Chagas. Estes que diga-se de passagem, deram os primeiros passos em busca da Reforma Agrária, conquista de direitos fundamentais para os sertanejos do interior do Maranhão e sobretudo a liberdade.
A reunião terminava meio dia. Um almoço fora oferecido pelos donos da casa: porco caipira, com sobremesa de jaca tirada fresquinha do pé no quintal. Nós ainda tínhamos um compromisso de ir buscar um
"P. A Bebedouro dos Calixtos".
bode no “Assentamento Bebedouro” que ficava do outro lado do rio. Nos despedimos e seguimos caminho, uma chuva tinha caído naquela madrugada daí as estradas estragava o diferencial da caminhonete. Cortamos as chapadas voltando pelo Bom Fim, passava em Centro Velho, Bela Vista, Bacaba, São Cosme, Cajazeiras, Todos os Santos até o Bebedouro. Visitava os amigos de luta: Dona Raimundinha - Delegada Sindical, seus filhos que lhe ajudam na luta e o Velho Calixto - patriarca da comunidade. Negociava-se o preço do bode, depois de muita conversa com o Seu Ananias decidimos comprar o animal.
Zé do Bebedouro, alimentando seus animais.
Que vai dá fruto a um "artigo" em prosa mais na frente. Já estava anoitecendo e tínhamos que voltar para casa e, ainda mais pelos caminhos aplainados da Suzano, mas os campos de eucaliptos estão passando pelo corte e os caminhos ficam invisíveis, facilitando a desorientação e até em alguns casos os viajantes se perderem. Voltamos pela estrada do Quilombo Bom Sucesso, Pedra Grande, Lambuso, Surrão, Raiz, Santa Maria e Fortaleza até chegar em nossas residências. Mais um dever cumprido.