O filósofo e professor da UFMA Joedson Silva primava pelas boas músicas na sua lista seleta. O carro onde viajava não possuía som próprio e se não fosse por ele a viagem se resumiria a uma troca de conversas entre os ocupantes do carro. As músicas variavam de rock alemão dos anos 70, trip hop dos anos 90 e mangue beat recifense. O Dj filósofo perguntou se o carona reconhecia uma determinada música. O vocal melodioso lembrava a voz de Greg Lake do King Crimson. Errado. Velvet Underground. Banda americana icone dos anos 60. Um folk country urbano depressivo erótico. Uma viagem psicodélica que descomprimiu as impressões da viagem a noite pelo baixo Parnaíba. A manhã do dia seguinte se entregaria ao calor impenetrável. Vicente de Paula, recém recuperado de uma gripe, apresentava a Chapada ao filósofo que o fotografava com sua visão indolente. Ninguém esperava mais chuvas fortes no mês de junho em Buriti ou qualquer outro lugar. Vicente saira cedo dias antes para zelar a sua roça e não é que uma chuva se formou e derramou se rapidamente sem pedir licença e nem por favor. O calor do pós inverno é a norma da casa. Para onde iriam em seguida essa norma era mais cruel. Os agricultores de Brejo e Milagres não foram pareos ao agronegócio da soja. O século XXI não tem nada de ficção científica naquelas chapadas. Surgem máquinas mas não voadoras e sim suplantadoras do Cerrado Leste maranhense. Máquinas que aram (degradam) o solo. Entre tantos espaços vazios deixados pela soja recém colhida, um espaço se destacava pela vegetação e pelo gado que lá se recolhe. Os antigos posseiros aceitaram as propostas dos sojicultores e venderam barato suas posses. Só um não vendeu. Da destruição em massa promovida pela soja os impactos mais evidentes são a diminuição na fabricação de cachaça afinal não há mais madeira na Chapada para queimar nos alambiques e a poluição do Rio Buriti pelos agrotóxicos.
Mayron Régis
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