sábado, 30 de janeiro de 2021
O maior escritor maranhense
Aluisio Azevedo é o maior escritor maranhense. Uma afirmação dessas requer uma analise, mesmo que rapida, afinal nas bibliotecas de vários ludovicenses Josué Montello ocupa várias prateleiras com sua produção desmesurada como que exclamando: “Eu escrevi dezenas de romances e livros de ensaios, portanto sou o maior escritor maranhense”. Aluizio Azevedo é o maior escritor maranhense não porque escreveu muitos livros (escreveu poucos), mas sim porque a maior parte da sua obra sobreviveu a passagem do tempo e isso quer dizer sobreviveu a critica literária, as escolas literárias que surgiram no século XX, aos leitores e as reimpressões das sua obra que nem sempre prestigiaram da maneira certa a obra e o autor. Ninguém há de questionar que “O Cortiço”, escrito por Aluisio Azevedo em 1890, é uma das grandes obras da literatura brasileira que se formava no final do século XIX sob as ruinas da monarquia e sob os efeitos da modernização socioeconômica preconizada pela nascente republica. “O Cortiço” tem como foco as péssimas condições em que viviam a maior parte da população carioca, principalmente os negros e os trabalhadores imigrantes. Não apenas as péssimas condições de vida, pois a narrativa desencrava um Rio de janeiro que convivia dubiamente com relações de trabalho capitalistas (trabalhadores imigrantes) e relações de trabalho escravagistas. E nessas relações o corpo compõe uma parte da mercantilização da cidade que se transformava para melhor se oferecer e ofertar-se a quem se dispunha a consumir com muito ou pouco dinheiro. Uma das facetas da mercantilização é transformar o corpo em mercadoria sexual. Bom explicitar que “O Cortiço” foi escrito em 1890, dois anos após a abolição da escravatura e um ano após a proclamação da republica, então a análise de Aluisio não é só das condições materiais em que viviam os trabalhadores formais e informais da Republica como também uma analise fria de como a abolição da escravatura e a passagem da monarquia para republica não significaram melhorias nessas condições materiais e nem melhorias na subjetividade dos cidadãos. Dentro dessa análise, “O Cortiço” recupera a critica presente em “O Mulato”, escrito por Aluisio em 1881.
A chuva
A chuva cobria a noite com suas nuvens de silencio absoluto. Os pingos colocavam os pingos nos is. Pingavam pouco como se fossem cafés pequenos ou gatos diluídos. Era momento de dormir para quem sabe acordar sem vontade. Deu nó em pingo de agua e quase a chuva se despediu. O barulhinho da chuva acertava direitinho as palhas por sobre a casa. Plantou-se o arroz para que nasça e cresça sob sol e chuva. A chuva não contestou. Os patos desajeitados andavam pesados como a agua empoçada. A chuva veio e os trovões também. Lembrou de grandes batalhas sem explosões e sem tiros. A sentença de execução caiu no esquecimento da estrada solitária.
As incertezas
As incertezas em “Almas Mortas” fazem parte do leque de incertezas que acometem o escritor na concepção e na criação da obra. Como tratar de um tema tão delicado como a servidão e trata-lo de uma forma que o leitor não se enfastie? A textura de “Crime e Castigo” revela seriedade. Raskolnikov se equipara a Napoleão Bonaparte e por isso assassina as agiotas que emprestaram dinheiro a ele. A equiparação para por aí. Nem em termos de crime, Raskolnikov se consagraria como Napoleão se consagrou. As condições históricas divergem completamente entre um e outro. A ascensão da burguesia na França que catapultou Napoleão como exemplo de liderança para a Europa não se verificou na Rússia. A Rússia era a antítese da França revolucionária ou mesmo da França napoleônica. Raskolnikov nasceu na zona rural da Rússia e fez o percurso que muitos jovens franceses fizeram para ganhar a vida em Paris. Contudo as personagens de Dostoievsky, no fundo, não pretendem realizar atos heroicos que imitem ou relembrem fatos ou feitos históricos. A História em Dostoievsky se arrasta. Bem diferente do que se encontra na “Comédia Humana” de Honore de Balzac na qual a História atropela os indivíduos.
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sábado, 23 de janeiro de 2021
As três fontes
“Quais são as fontes historicas mais importantes de São Luís?”. Vez ou outra, a historia de São Luis humilhava os moradores da cidade que, por conta da pouca leitura de livros ou textos históricos, não se sentiam obrigados a saber quando e como se desenrolaram determinados fatos ou acontecimentos que norteavam os estudos da história dita maranhense. “Por que estudar historia e geografia maranhenses?”, não perguntara nenhuma vez aos seus professores do ensino médio, se bem que a pergunta fazia sentido, pois o ensino de historia do Maranhão resumia a expulsão dos franceses, revolta de Beckman, papel do Maranhão na independência do Brasil e a revolta da Balaiada. No intimo, ele desprezava, e seus colegas também desprezavam, a forma como a historia do Maranhão se apresentava nas salas de aula. Beckman se revoltara contra a coroa portuguesa e contra os jesuítas porque não deixavam que ele e os senhores de engenho de cana de açúcar escravizassem indígenas. A leitura tradicional da Historia relacionava a revolta de Beckman com a revolta dos Mascates, a inconfidência Mineira e etc, os ditos movimentos nativistas, sem estabelecer conexão com a situação especifica do Maranhão no século XVIII. Será que os senhores de engenho maranhenses, caso alguem perguntasse, saberiam responder quais eram as principais fontes de São Luis? E quantas eram? Imagine um viajante recém-chegado de Portugal a São Luis perguntar a um senhor de engenho onde encontraria uma fonte de agua capaz de refresca-lo devido ao calor. O senhor de engenho, certamente, olharia o pobre coitado com uma dose de indiferença, nada responderia e ainda por cima diria pra si mesmo “ Esse ai pensa que sou o quê?”. O radialista José Raimundo Rodrigues, apresentador de um programa de auditório televisivo nos anos 80, fez essa pergunta aos participantes de uma gincana. Nesse dia soube que as fontes eram três: Fonte do Ribeirão, Fonte das Pedras e Fonte do Bispo. As fontes de água servem de marcos para que os cidadãos possam reconhecer neles os primeiros sinais da fundação da cidade e os primeiros sinais de como ela se formou em termos urbanísticos e sociais.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2021
Eles não foram feitos um para o outro
Eles não foram feitos um para o outro. Lembrava-se das muitas vezes em que ela estiva a seus pes. Os seus mundos se limitavam a uma praça, a uma igreja e algumas ruas das quais só sabiam os nomes. A escuridão empatava a visão dos frequentadores da praça que esperavam o tempo passar vazio. Um grupo de mulheres se sentara no banco para que suas vozes soassem irrefletidas naquele momento. Elas se convenceram de que ele andava sozinho pelos quatro cantos. Nem elas e nem ele foram longe. As ruas se fingiam de mortas e a igreja conversava sozinha na noite interminável.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2021
Incra investiga compra de terras por empresas de fundo americano parceiro da Cosan
No centro da investigação está a Tellus Brasil Participações SA, controlada pela Cosan SA
Por Bloomberg
17 dez 2020 13h09 - Atualizado 1 mês atrás
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(Bloomberg) — Um importante fundo de aposentadoria dos Estados Unidos e um grande produtor de açúcar estão implicados em uma investigação sobre possíveis violações das regras de compra de terras no Brasil.
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) concluiu em relatório preliminar que o envolvimento indireto do Teachers Insurance and Annuity Association of America (TIAA) em aquisições de propriedades representa uma violação das restrições de compra de terras por estrangeiros.
Embora o TIAA e seu parceiro local, a gigante de açúcar Cosan (CSAN3), digam que estão em conformidade e refutem as acusações, o caso coloca em alerta vários investidores estrangeiros que encontraram maneiras de contornar as restrições de controle para comprar ou arrendar propriedades agrícolas no Brasil, o maior exportador mundial de soja, açúcar, café e carne bovina.
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No centro da investigação está a Tellus Brasil Participações SA, controlada pela Cosan SA e que também tem como acionistas empresas brasileiras controladas pelo TIAA. De acordo com o relatório do Incra, ao qual a Bloomberg teve acesso, várias aquisições da Tellus violam a legislação brasileira. Com isso, a empresa não teria plenos direitos sobre fazendas que somam cerca de 32.000 hectares nos estados do Mato Grosso, Maranhão, Piauí e São Paulo.
O Incra afirma que a Tellus faz parte de um grupo econômico que tem como principais acionistas companhias internacionais, o que torna a firma brasileira equivalente a uma empresa estrangeira. O TIAA e a Cosan Ltd, que tem sede nas Bermudas e controla a Cosan SA, aparecem como acionistas em uma rede de empresas por trás da Tellus.
Entre os integrantes do grupo investigado estão a Cosan SA e a Radar SA, empresa controlada pela Cosan e TIAA, especializada em negócios de terras. Em novembro de 2012, a Radar possuía 392 fazendas em 151.468 hectares, dos quais 43.285 hectares foram comprados naquele ano, segundo outro relatório do Incra.
Embora o parecer de 2010 da Advocacia Geral da União (AGU) tenha limitado a compra de terras por estrangeiros na última década, alguns investidores encontraram maneiras de comprar ou arrendar propriedades rurais. O TIAA possui a maioria das ações preferenciais da Radar, mas apenas 49% das ações ordinárias com direito a voto, dando o controle da Radar à Cosan.
“Os sócios criaram uma rede nebulosa de empresas brasileiras com o propósito de comprar terras”, segundo relatório da GRAIN, organização com sede na Espanha que monitora compras globais de terras, da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos e da Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais (AATR).
Representantes dos trabalhadores afirmam que o relatório do Incra tem implicações para outros casos semelhantes investigados pela agência.
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O TIAA disse que conduz diligência prévia completa e que suas estruturas de negócios estão de acordo com as leis brasileiras. “Continuamos transparentes, prestando contas e responsáveis em nossos investimentos em terras agrícolas”, disse o fundo por e-mail.
Em resposta por e-mail à Bloomberg, o Incra confirmou a denúncia e a investigação, que começou em 2016 e tem avançado lentamente. O órgão aguarda parecer da Procuradoria Federal Especializada, vinculada à AGU, para dar continuidade ao processo administrativo após recurso apresentado pelas empresas em julho. Segundo a regulamentação brasileira, as medidas possíveis incluem a anulação dos títulos de propriedade.
A AGU informou por e-mail que a análise judicial do caso ainda não foi iniciada, porque está no aguardo de um parecer de uma área técnica do Incra após a defesa das empresas ter sido incluída no processo.
A Cosan disse que o Incra fez apenas uma análise preliminar da questão, em vez de oferecer um parecer conclusivo. O grupo disse ainda ter detalhado seu posicionamento no processo administrativo, tendo apresentado uma lista das empresas envolvidas nas aquisições de terras e respectivas estruturas de investimento, demonstrando que “seu controlador é brasileiro nato e que, portanto, todas as aquisições imobiliárias estão de acordo com as condições previstas no parecer da AGU”.
sábado, 16 de janeiro de 2021
A rua do Norte
Quem se atreve a escrever a respeito de um lugar deverá se munir de todo um conjunto de materiais artísticos históricos e culturais capazes de superar toda uma estrutura ideológica discursiva que, geralmente, dificulta a leitura que precisa ser feita a fim de decifrar a cidade em seus meandros. A cidade é bem mais que uma sequencia de construções habitacionais e comerciais interligadas por vias de transporte ou vias de comunicação. A cidade que aparece em fotos do começo do século XX, uma novidade para época, alguns anos depois se modificará não só pela construção de novos estabelecimentos como também se modificará pela destruição dos espaços sociais consolidados ao longo da História. A Historia não é complacente com os personagens que vagam por suas páginas. Ela é a testemunha implacável de todos os atos e falas executados e a eles se aterá para descrever o que ocorreu. Inconcebivel pensar Historia além da escrita e do suporte (livro). O papel impresso expressa uma propositura que no principio soava inexpressivo para a maioria das pessoas. O escritor decidiu escrever pegando um caminho pouco frequentado. É bem mais simples escrever seguindo o senso comum na esperança que os personagens cheguem a um final feliz. O caminho pouco frequentado não leva a um final feliz porque ele é um caminho incompleto e em construção que pode levar a nada ou a um abismo. É bom pensar nas ruas e nas avenidas de São Luis como vias de interligação e de comunicação que se desligam e que são incomunicáveis para os que adotam o senso comum como forma de apreensão do conhecimento. A rua do Norte norteia parte do trafego do subúrbio para o centro de São Luis. Possivel afirmar que mais cedo ou mais tarde a pessoa trafegará por essa rua no sentido da Madre Deus pretendendo chegar ao bar Ponto de Fuga. Possivel que nesse perambular reconheça um amigo ou um parente distante. Reconhecimento facial a longa distancia é banalidade em São Luis. Naquele dia, porem, a pessoa não foi ao Ponto de Fuga e nem reviu alguém próximo. Apenas escutou uma musica que lhe pareceu ser um sucesso de Ivan Lins. Moveu o rosto para adivinhar de onde vinha o som. Não obteve sucesso. Em seu retorno, alguns minutos depois, pelo mesmo local, escutou Ed Motta (grata surpresa). Um senhor idoso guardava a porta da casa que sediava o som. A rua do Norte norteia o trafego de carros e pessoas assim como norteia a boa musica naquele pedaço de São Luis.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2021
A Praça digna
O raio x da sua visão se movia de um lado para outro da praça. A praça que se consagrou como a praça da Misericordia. Em algum momento da Historia, São Luis nomeou dignamente seus logradouros. A cidade perdeu essa capacidade de nomear com poesia dando prioridade a nomes de políticos e de famílias tradicionais maranhenses. A enfermeira que fumava seu cigarro antes de voltar ao batente no hospital em frente à praça não se deu conta, mas as posturas dela enquanto fumava e no instante que se erguia transpareciam dignidade. A dignidade de sair alguns minutos, fumar seu cigarro e pensar na vida. Faltou o cafezinho para acompanhar o cigarro e os balões de pensamento por cima da sua cabeça. A lanchonete do lado direito da praça se excede em gostosuras e segundo dizem “vende a melhor esfirra da praça”. É uma lanchonete digna, de pequeno porte em que mal cabem duas mesas para atender os fregueses, então se ela estiver lotada o freguês para não perder a viagem faz seu pedido rapidamente e vai se embora. Do lado esquerdo, os vendedores de frutas ocupavam a calçada da casa vizinha a praça. Contou-se dois vendedores e esses dois ( um homem e uma mulher negros) exerciam um domínio daquele minimo espaço através dos seus produtos e de suas falas dignas de vendedores solitários.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
A Estátua
Afinal, o que é a beleza? Essa pergunta não surge de imediato na vida de uma pessoa. Ela emerge aos poucos e a sua emersão total acontece quando a pessoa está pronta para faze-la. A beleza não nasce. Ela não é um fenômeno natural, embora tenha quem associe natureza e beleza como ao ver o irromper da manhã. As pessoas querem que o amanhecer transmita beleza. Nem todo mundo confere beleza a um amanhecer que é um fenômeno natural como outro qualquer. Por que as pessoas precisam qualificar algo ou alguém como belo? A beleza seria um sinal de destaque dentro de um contexto anódino. Destaca-se um aspecto estético para que este algo ou alguém ganhe projeção maior do que ganharia numa situação normal. A beleza não tem nenhuma utilidade prática. Ela é inútil. A pessoa avalia algo ou alguém como belo para em seguida deixar de lado esse veredito. O que importa a beleza para o mundo? Faça um exercício de excluir a beleza d sua forma de compreender o mundo ao seu redor. O mundo se enfeiaria? Ele viveria a mesmice eterna? Não há de se negar que São Luis vive um déficit de espaços públicos qualificados e que esse déficit decresceu com as recentes reformas e reconstruções executadas pela prefeitura e pelo governo do estado do Maranhão. Essas reformas e reconstruções obedeceram, em sua maioria, obedeceram a um padrão de cimento, bancos de madeira, equipamentos esportivos e etc. Nada que se destaque. Uma praça é igual a outra na monotonia do projeto. As praças do centro de São Luis apresentavam uma diversidade estética em comparação com outras praças e esse fato se deve muito as experiências estético culturais que a cidade vivenciou a partir do começo do século XX. A praça da Misericordia se destaca pela familiaridade que oferece aos transeuntes e pela estatua que dá um charme ao chafariz. O que seria da praça da Misericordia caso a estatua desaparecesse? Essa experiência, provavelmente, os moradores das casas ao redor e os transeuntes não querem ter.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2021
Os algozes da agricultura familiar
Numa reunião na sede do ministério publico em Buriti, cuja conversa se desenrolava em torno da área do Brejão, grilada pelo grupo João Santos e que a empresa vendera para a família Introvini, o velho Gabriel Introvini respondia as inquirições do promotor de justiça com a argumentação de que o agricultor no Brasil não podia trabalhar em sua terra porque o perseguiam. O velho não especificou quem o perseguia pois não só o promotor perguntava detalhes da compra da terra como também representantes do Forum Carajás e da comunidade Araçá. Na fala ardorosa do Introvini algo saltou aos olhos; havia um quê de psicopata na maneira como ele se expressava e essa psicopatia se refletia em seu filho Andre Introvini cuja resposta básica se resumia a “meu pai responde por tudo”. Realmente, o pai assumiu no lugar do filho a administração da fazenda e também as ameaças contra a família do Vicente de Paula que resistia as investidas dos introvini. Quase que o velho Gabriel Introvini ouviu a pergunta: “ O senhor se vê perseguido, pois e o que senhor faz com o Vicente e a família dele?”. Essa reunião ocorreu em 2017 e em mais de três anos os Introvini não deram descanso para várias famílias de pequenos agricultores familiares de Buriti com ameaças e compras irregulares de terras. O Manoel Carlos, agricultor familiar, teve um acidente vascular cerebral e foi morar com a filha e o genro num povoado vizinho. Deixou o terreno sozinho e um sujeito que não tinha nenhuma relação com a terra se colocou como herdeiro, derrubou a casa do Manoel Carlos e vendeu a terra para os Introvini que atualmente derrubam o Cerrado da Chapada. A família Intorvini se fazem de vitimas mas eles são os algozes da agricultur familiar em Buriti.
domingo, 3 de janeiro de 2021
Benzedeiras
A Historia das comunidades quilombolas, comunidades rurais e povos indígenas é uma historia oral que corre risco de ser esquecida e perdida por não estar documentada em forma de textos e livros. Fica a se pensar essas coisas quando se ouve historias de benzedeiras em São Luis e em Viana. A irmã do pai de santo Jorge Babalo, o Jorge da Fe em Deus, cujo terreiro viceja no bairro Fe em Deus, subúrbio de São luis, era benzedeira e por conta das influencias familiares virou evangélica. Os evangélicos em sua maioria abominam os cultos afros e exigem que os recém convertidos as religiões evangélicas abandonem e repudiem suas práticas. A benzedeira bem que tenta abandonar a sua ancestralidade para não ofender sua neta evangélica. Só que o cantar é mais forte que a repressão e ela canta os seus cânticos ancestrais e isso irrita os evangélicos que elevam suas vozes para abafarem a idosa. A filha, também evangélica, foi praticante de cultos afros e pede a criançada da Fé em Deus que vá se benzer com sua mãe como forma de respeito e como forma de não perderem a historia que viveram. A Mãe Cota também foi benzedeira em Viana no povoado Jitine. Lá pelo final do século XIX e e começo do século XX. Contam que o gado dos fazendeiros enfrentava bicheira e outras doenças que podiam levar a morte se não recebesse tratamento e tratamento adequado era praticamente impossível numa região afastada, pobre e esquecida como a região de Viana. A mãe Cota exercia o papel de benzer as pessoas e os animais, contudo enquanto se levava as pessoas em rede para o benzimento presencial os animais ficavam nas fazendas e a benzedeira apontava suas mãos em direção aos animais e dizia pronto pode ir ao fazendeiro.
sexta-feira, 1 de janeiro de 2021
Os inferninhos de São Luis
Ele convidou uma amiga para almoçarem peixe. Habituara-se a saborear um peixe duas vezes por semana no mercado da Praia Grande. Dessa vez, mudaria o local do almoço porque não almoçaria sozinho. Mudaria o ambiente, mas se manteria na região da Praia Grande que naquela manha vivia apinhada de turistas. O restaurante onde almoçariam recebia um bom numero desses turistas que se esbaldavam com os pratos típicos da culinária maranhense (pescados e mariscos). “Como será teu ano novo? Eu vou passar em casa” “Devo fazer o mesmo, o pai do meu neto nos convidou para passarmos o ano novo no Maracujá. Minha mãe recusou o convite” ”Maracujá é longe, fica na zona rural” ”Eu sei, caminhei muito do Coroadinho para o Maracujá por matas fechadas e parando em um ou outro povoado como o do Mamão” “Provavelmente, esses povoados desapareceram sem deixar vestígio”. A conversa o fez recordar o dia anterior no qual folheara o álbum do fotógrafo Gaudencio Cunha com fotos de São Luis do ano de 1908. Ele e o dono do sebo que planejava vender o álbum trocavam impressões a respeito das fotos e de uma São Luis esquecida. Uma das fotos correspondia ao atual bairro da Jordoa. Notou trilhos na foto que poderiam ser de uma linha ferroviário ou de uma linha de bonde. ‘Creio que esses trilhos fossem da ferrovia por onde transitava o trem que viajava de São Luis a Teresina. Minha mãe veio de Timon nesse trem nos anos sessenta”, a amiga comentou. Ele se comovera com a foto da igreja de Santaninha, demolida pela administração publica de São Luis em 1939. Soubera de sua demolição pelo livro “Largo do Desterro”, de Josue Montello, e desde então procurara saber mais dessa igreja do qual poucos leram e escreveram. Qual o mal que ela causava a cidade para que a administração publica autorizasse sua demolição? A cidade de São Luis viu parte de seu patrimônio histórico ser demolido nos anos 30 e anos 40 num processo de modernização das vias urbanas. Ela volta a experimentar a modernização do centro com a reforma de praças, reforma do mercado da Praia Grande e a retirada das casas de prostituição do espaço conhecido como Oscar Frota. “Ainda tem alguns inferninhos funcionando, mas boa parte das prostitutas faz ponto numa rua do lado do Mercado Central”, revelou a amiga.
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