segunda-feira, 9 de agosto de 2021
Um sonho de bacuri
Dona Maria Rita disse na bucha: “Seu Mayron hoje não fiz jantar pro senhor. Tantas vezes deixei janta pronta e o senhor chegava de bucho cheio”. Ele não fez nenhuma objeção a sua fala. Ela tinha razão mesmo. Por sorte, ele e os outros dois que o acompanhavam pararam no bar social um misto de bar e restaurante familiar construído as margens da rodovia por onde eles trafegariam a noite saindo de Palestina no sentido-municipio de Buriti. O dono do bar estava recolhido por conta de um mal estar e a sua mulher os recepcionou. Na descida do carro, perguntaram se havia algo para comer. Optou-se por pasteis com queijo, mas a senhora veio com uma surpresa. “Todos vocês comem galinha caipira?”. “Ora não.”, foi a resposta. Ela cozinhara a galinha caipira para o marido que não quis comer. Vendo-os no salão de seu bar, resolveu oferecer como refeição. E não cobraria nada. A vida tem dessas coisas inesperadas. Na casa de dona Rita, pediram a dormida cedo em duas redes e em uma cama. Embrulharam-se com esperança de sentirem o frio característico do mês de agosto sobre a Chapada. O Vicente de Paulo, marido de Dona Rita, explicou, no dia seguinte, que a sua família comera boa parte das suas criações de frango caipira. Os donos do gado que abasteciam a zona rural demoraram a abater seus animais o que encareceu ainda mais a carne. A dificuldade em obter carne se espalhara por todo Buriti, só que no caso da família de Vicente e Dona Rita os frangos apareceram como alternativa. Eles não correram risco de passar necessidade ou fome. Os frangos que eles comeram eram, em parte, resultado de projetos apoiados pelo Fundo Casa e pela agencia de cooperação alemã ASW que vem aportando recursos na região do Baixo Parnaiba desde o ano de 2007. As instituições também financiaram a compra de bolas de arame que cercaram áreas de extrativismo de bacuri na propriedade da família do Vicente. Com os recentes desmatamentos em Buriti executados pela famila Introvini de produtores de soja, as comunidades pobres ficaram sem áreas de bacuri para coletar e quem sabe vender a polpa ou comer. O Vicente mantem em sua propriedade vários pequenos núcleos de bacuri como prova que essa fruta existiu realmente em Buriti antes dos desmatamentos ocasionados pela soja e pelo eucalipto.
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