sábado, 22 de agosto de 2020
Os bagres do rio Parnaiba
O homem chegou cedo a casa do Vicente de Paula. Ele vendia peixe que transportava numa caixa de isopor. Parou a motocicleta no terreiro e esperou pela dona Maria Rita, esposa do Vicente, que se ocupava dos afazeres da casa desde os primeiros minutos da manhã daquela sexta feira. Ela lavara as louças e passara o café para os membros da família e para os amigos que chegaram a noite e dormiram em redes estendidas na sala e no quarto. A filha de dona Maria Rita trouxe bolo de trigo que ela e o esposo fabricaram no forno que adquiriram. Nesse forno, assavam pizzas que vendiam para os vizinhos do povoado onde moravam e vendiam para os vizinhos de povoados mais distantes. “Falta criar uma página nas redes sociais e divulgar o serviço de pizzas e um telefone celular para contato”, alguém falou serio em tom de brincadeira benevolente. Devido a demora de dona Maria Rita em atender o vendedor de peixe, o Vicente de Paula foi ver os peixes que estavam dentro do isopor. O melhor era um Surumbi, um bagre pescado no rio Parnaiba. A dona Maria Rita cozinharia o peixe no seu forno rustico. “ Fica melhor cozido. Eu como esse peixe que peco”, ela comentou. Olha o pecado da gula. Os bagres são peixes migradores de longa distancia. A pesca dele no rio Parnaiba revelaria a boa saúde deste rio pelo menos no trecho próximo a cidade de Buriti. No ano de 2007, os bagres quase impediram a construção das hidrelétricas no rio Madeira (Jirau e Santo Antônio, estado de Rondônia). Os técnicos do setor de licenciamento do Ibama constataram que o rio madeira era berçário dessa espécie e o direitor do setor, Claudio langone, levou essa preocupação ao presidente Luis Inacio Lula da Silva que respondeu “Jogaram um bagre no meu colo”. As hidrelétricas foram construídas a custa de enormes impactos ambientais para as populações ribeirinhas que viram o desaparecimento ou a diminuição dessa espécie no rio Madeira e nos seus afluentes porque as hidrelétricas representam obstáculos a sua migração e reprodução.
A dona Maria Rita, esposa de Vicente de Paula, acordara nos primeiros minutos
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