quinta-feira, 20 de agosto de 2020
As ruas da Liberdade
As ruas da Liberdade
Ele morou no bairro Liberdade por quase quatorze anos. O seu tempo, ele dedicava mais aos estudos. A escola onde estudava ficava no centro de São Luis, não muito distante de sua casa. Dava para ir e voltar a pé pela Camboa e pelo Diamante, bairros vizinhos a Liberdade. Só fizera esse percurso uma vez, em dia de greve de ônibus. A cidade se esvaziava em dia de greve, mas a escola cobrava a presença dos alunos sem nenhuma culpa. A escola presumia que quase todos os seus alunos circulavam de carro. Não se sabia o quanto a escola se equivocava nessa presunção. Nem circulava de carro e nem andava muito a pé, a não ser de casa para a parada de ônibus e outros itinerários curtos (padaria, mercado e igreja). Ainda criança, ele e um amigo brincavam de trinta e um alerta com outras crianças na rua Luis Guimarães. O amigo fora descoberto e sobrara ele para salvar a garotada na brincadeira. Os dois, então, contornaram parte da Liberdade pelo Japão e pela Floresta e bateram trinta e um alerta no poste de energia na rua onde brincavam. Por essa época não conhecia a expressão “Vitoria de Pirro”, vitória que custa muito e não resulta em nada. Os outros participantes, alguns minutos antes, haviam desmanchado a brincadeira e ido para as suas respectivas casas. Até aquela idade, fora a única vez que percorrera ruas em péssimo estado de conservação e vira pessoas das quais não sabia nada e nem saberia. Ele se lembraria muitas vezes do amigo que o guiara por aquela parte imperscrutável da Liberdade. Um amigo mais recente o guiou de novo pelas ruas da Liberdade. “Tu já cruzaste a Inglês de Souza sem olhar para lado algum?” “Qual é a Inglês de Souza? Eu lembro da rua mas não estou seguro” ”É a paralela a rua Emilio de Menezes”. Ajudou muito, pra não dizer o contrário. Teve que apelar para o Google, o pai dos burros. O paraense Inglês de Souza, nascido em Óbidos, foi escritor naturalista e o carioca Emilio de Menezes foi poeta parnasiano. A rua Emilio de Menezes é perpendicular a rua Inglês de Souza (não paralela como supunha o amigo) que corta os bairros Liberdade e Camboa. Onde se vê asfalto e referencias literárias do século XIX “pode crer que havia mangue” (Mundo Livre S/A).
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