domingo, 30 de agosto de 2020
O cruzamento da rua São João com a rua da Paz
O real não se revela de imediato. O filosofo e fotografo Joedson fotografava a praça João Lisboa numa tarde de quarta feira. Eles subiram uma escadaria que dava acesso a Praça João Lisboa. Joedson acabara de almoçar no bar do Deco e planejava tomar um café no Chico Discos na rua São João. O amigo jornalista avalizou a proposta do filosofo. Joedson era formado em filosofia pela Universidade Federal do Maranhão, mas só duas pessoas o aclamavam pelo qualificativo filosofo: os jornalistas Ed Wilson e José Reinado Martins. Propuseram o Chico Discos para bebericarem um café ou mais de um e o trajeto a ser desenhado passaria pela Praça Joao Lisboa e pela rua da Paz, onde desceriam a rua São João. “Por que subir a rua da Paz?”, analisou o jornalista que costumeiramente ou subia ou descia a rua do Sol. “Que se há de fazer? Se o filosofo fotografo quer assim, que seja”. O filosofo mirava e mantinha o foco de sua maquina fotográfica e captava fotos inusuais. A rua da Paz, como boa parte do centro de São Luis, parece um despenhadeiro em que a qualquer momento os pedestres ou os motoristas podem cair ou sugerirem quedas em seus pensamentos mais absortos. Joedson fotografou um papelão que protegia o para brisa de um carro. Fotografar um carro seria comum. Ele fotografou o papelão de um carro. Deve significar algo. O jornalista apontou para inscrições acima de um portão atrás da igreja do Carmo que se encontrava fechado. O nome Rua da Paz e o numero da residencia sobressaiam naquela parede. A igreja do Carmo se abre tanto para o largo do Carmo como para a rua da Paz. As igrejas em geral tem duas entradas: a que recebe os fieis para rezarem e a que recebe pessoas para se acomodarem em suas dependências. Também se pensaria essas saídas do fundo como rotas de fuga em momentos de batida policial. No caminho, elucubrava-se. O filosofo capturou a belíssima foto de três homens exercendo seus ofícios de carregadores numa rua da Paz ensolarada. O olhar do filosofo fotografo se fixou no ato em si de carregar, na fisionomia dos carregadores ou no espaço sobrecarregado de transeuntes que os carregadores desafiavam para alcançarem seus objetivos? O cruzamento da rua Paz com a rua São João pode se afirmar sem medo de errar retrata a decadência em que se tornou os prédios históricos de São Luis. O prédio da Faculdade de Odontologia fechou para uma reforma que não se iniciou e as torres da igreja São João perderam as cores sem que ninguém saiba onde foram parar. O jornalista pediu ao filosofo fotografo que fotografasse as torres. Queria deixar marcada essa visão da decadência histórico cultural em sua memoria.
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