sábado, 27 de junho de 2020

A cultura maranhense nos arredores e nos arrebaldes em Josue Montello




Há uma discussão urgente que deve ser travada e é uma discussão adiada porque entra num terreno espinhoso da cultura e das relações entre segmentos sociais que interpretam e elaboram a cultura. Não escreveria interpretar e elaborar cultura no seu dia a dia porque como qualquer construção ela depende de uma passagem de tempo para que possa se consolidar perante a sociedade.  Uma construção cultural precisa de quanto tempo para que ela possa ser analisada devidamente? Josué Montello, escritor maranhense do século XX, precisou de dez anos para escrever uma crônica em que o assunto principal era o São João (São João maranhense, Baú da Juventude, 1997). Ele retornava do Rio de Janeiro em 1946 e revivia os festejos juninos em São Luis. “Exatamente dez anos depois de ter saído de São Luís, torno a encontrar, numa noite de 1946, a mesma alegria, a mesma animação, a mesma riqueza de ritmos, de cores e de movimentos, nas festas que se realizam no João Paulo, nos arredores da cidade”. Esse trecho faz pensar uma pergunta: antes de mudar-se para o Rio de Janeiro como Josué Montello via os festejos juninos afinal o trecho aludido foi escrito dentro de uma diferença de tempo, dez anos? Pelo discurso de Josue Montello, ele reencontra “a mesma alegria, a mesma animação, a mesma riqueza de ritmos...”. Seria quase uma retomada do ponto de onde ele deixou as festas. A essência das brincadeiras e do São João é a imutabilidade. A essa imutabilidade, ele acresce a sua, pois, passados dez anos, ele vê as brincadeiras como as deixou. Em sua narrativa, nenhum brincante comparece, nenhum brincante se sobressai. Acaso ele se detivesse em algum brincante ou alguma brincadeira especifica, o caráter imutável das brincadeiras se desmancharia, pois um boi não é igual ao outro assim como um brincante não é igual ao outro. Entretanto nem tudo é imutável na crônica de Josue Montello. As pessoas não se dirigem mais a zona rural para presenciar os bois “Antigamente as festas de São João se faziam em arrebaldes distantes de cidade: Anil, Maioba, Turu e São José. Ultimamente, a animação maior é nos arredores de São Luis, no bairro proletário de João Paulo onde existem um ou outro dos velhos sítios e das velhas chácaras, que nos vieram do tempo do Império e do começo da República. O casario, que era quase todo de palha, mudou muito, de uns tempos para cá.”.  O João Paulo é a novidade no cenário das festas juninas e essa novidade é avaliada num contexto de mudanças sociais (bairro proletário) e mudanças no visual urbano (casario mudou muito). Josué Montello reconhece essas mudanças no discurso mas não no conteúdo.  “Mas a festa ainda é a mesma”. A cultura é a festa em si ou todo processo de construção das brincadeiras e da festa? O porque da mudança das festas dos arrebaldes para os arredores de São Luis deveria motivar algum interesse a levantar hipóteses. E a constatação da animação maior como provar? Não só a festa ainda é a mesma, o autor Josué Montello não mudou nada em dez anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário