O escritor e seu problema com o tempo que ele faz questão de frisar “tinha a impressão de estar ali há horas, mas nem quarenta minutos haviam se passado”. Engraçado, para um começo de livro esse trecho carrega a marca de uma duração. Esse trecho não é o começo de Sepsis, novela do escritor Geraldo Iensen. O trecho faz parte do ponto de partida, não é ponto de partida em si, portanto não há problema em que seja o que poderíamos dizer o prenuncio da narrativa principal que deve se caracterizar pela eternidade. Sim, a narrativa pretende o tempo mítico em detrimento ao tempo cronológico. “Cheguei a São Luis numa tarde em que as verdades procuravam novos casulos. Resposta a uma era de partidas...”, assim se abre a partida da narrativa. A chegada “Cheguei a São Luis...” é o reverso a “uma era de partidas” e como o escritor quer dá a entender é o fim de uma era. Quantos anos tem uma era? Nesse caso a pergunta melhor a ser feita é: que era de partidas foi essa? O tom é bastante eloquente. O que se fazia mais era partir, afirma, não importando aonde chegaria. A chegada é a resposta inevitável a pergunta que ensejou a partida? Se fosse, a personagem teria viajado a São Luis meses antes “Passou a brigar comigo porque disse que viria encontra-la em uma semana e demorei sete meses...”. O escritor tem problemas com o tempo (ele escreve como se o tempo fosse inenarrável), mas tem problemas com datas especificas. A namorada, primeiro esperou uma semana e afinal se passaram sete meses. Esses sete meses estão dentro da “era de partidas” então o que ele faz é confundir o tempo cronológico no tempo imemorial, como se fosse uma coisa só. Tempo e narrativa se fundem em Sepsis, novela de Geraldo Iensen.
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