quarta-feira, 17 de junho de 2020

O frequentador não assíduo nas crônicas de Aldir Blanc


O que um escritor deseja é : que aquilo que ele venha a escrever, em algum momento, encontre-se com a realidade ao redor. Quem lê as crônicas de Aldir Blanc é fácil encontrar as referencias dele espalhadas pelo Rio de janeiro. O mesmo subúrbio, a mesma casa, o mesmo bar, a mesma cerveja, a mesma piada ou as mesmas piadas, as empregadas, o carnaval desse ano e daquele outro, o mesmo bloco carnavalesco, o mesmo tira-gosto e etc. No quesito tira gosto, Aldir ou se mantem fiel ao tira gosto tradicional da mesa de bar ou de sua casa ou arrisca os tira-gostos de Moacir Luz, seu parceiro de musica, em alguma sessão gastronômica no apartamento do amigo alguns andares acima do seu. Por um acaso daqueles da maré da sorte, se é que existe sorte, o segundo nome de Aldir, Blanc(Branco), combina com o segundo nome de Moacir, que é Luz. É uma ótima denominação para a parceria dos dois: a luz branca. Wilson das Neves e Nei Lopes, sambistas cariocas, frequentam Aldir Blanc nos seus lugares de peregrinação musical e etílica e ele os frequenta em suas composições históricas e em suas historias musicais. Quando o assunto é bar, boteco, botequim e outras coisas mais do Rio de Janeiro frequentador assíduo é uma expressão que não falta as crônicas de Aldir Blanc. Jaguar não é um frequentador tão assíduo as crônicas de Aldir, mas encerra um dos livros “Rua dos Artistas e arredores” com um comentário amistoso em que cita outro frequentador implicito das rodas literárias de Aldir Blanc: Sergio Porto “Picardia, Malandragem e principalmente uma carioquice que desde os tempos de sergio Porto não se via”. As crônicas de Aldir Blanc preservam com raro deleite a passagem do Rio de Janeiro dos anos 50 para o Rio de Janeiro dos anos 70. O que esse Rio de janeiro expressava, o que ele deixou de expressar e o que ele passou a expressar. Os melhores momentos das crônicas se expressam em figuras humanas que negam um mínimo de participação social nos rituais de convivência da vizinhança. Uma crônica exemplar: Atropelaram Benevides. Benevides vive da casa pro trabalho e do trabalho para casa. Não cumprimenta os vizinhos, não bebe no boteco e etc. Os vizinhos o olham torto “quem ele pensa que é?” E em um determinado dia Benevides é atropelado e vai parar no hospital. Enquanto estava hospitalizado, um parente vai verificar a situação da casa na qual ele pagava aluguel para morar e conhece os vizinhos que elogiam descaradamente o acidentado como se ele fosse um vizinho admirável. Benevides se recupera e ao passar pelo boteco sem falar com ninguém recebe comentários venenosos da vizinhança como de outras vezes. O Benevides assim como a Zenaide, cartomante da crônica “Medeia da Vila Isabel”, é o frequentador não assíduo dos bares e das casas que constam nas crônicas de Aldir Blanc. Uma hora pode ser que ele apareça na forma de um frequentador atípico de alguma cronica que gira em torno dos costumes e das referências do subúrbio. Esses registros (essas horas) marcam mais do que outros (outras) porque não se sabe como irão terminar

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