quinta-feira, 5 de novembro de 2020
o Espaço Privatizado
Um grupo de jovens se sentava ao canto norte esquerdo da parte interna do Mercado das Tulhas. Os jovens vestiam camisas que traziam a marca de um curso. Eles se sentavam em cadeiras de madeira ao redor de uma mesa também de madeira. Esse tipo de cadeiras e esse tipo de mesa faz parte de um projeto de padronização proposto pela prefeitura de São Luis para os permissionários do Mercado das Tulhas. Um pouco de chuva os forçou a procurarem refugio sob o telhado que cobre os boxes. Outros consumidores também se refugiaram pelo curto espaço de tempo que a chuva durou. A juventude retornou ao canto onde retomaram com mais afinco as suas conversas, os seus goles de cerveja, os seus namoricos e suas fumaças de cigarro. A idade diferenciava este grupo de outros grupos que frequentam o mercado em dias diversos como também diferenciava o fato deles serem estudantes e as camisas indicavam isso. Eles estavam na sua hora de lazer e viram na parte interna do Mercado das Tulhas uma opção de diversão descomprometida ou comprometida, dependendo do ponto de vista. Quem quiser comer uma refeição e beber uma cerveja no centro de São Luis não precisa bestar a toa por ai porque o Mercado das Tulhas é prodigo em boxes que fornecem almoço. Pelo que se via, o grupo de jovens dispensava o almoço pois queriam mesmo era beber, fumar, conversar e namorar. Um comportamento condizente com a ideia de modernização do mercado proposta pela prefeitura de São Luis. Porem, para jovens que tanto prezam pelo ambiente frequentado quais seriam as reações ao saberem que o espaço, onde bebiam, correspondia no século XIX e na primeira metade do século XX aos fundos das lojas que compunham a estrutura do mercado? Esse espaço só passou a ser frequentado nos primeiros anos da segunda metade do século XX quando feirantes o ocuparam. Quem se senta e quem se locomove pela feira da Praia Grande pensa viver a experiência de um espaço publico típico do século XIX o que é um engano. Os jovens, na verdade, viviam uma experiência de espaço privatizado típico do final do século XX e começo do século XXI em São Luis ou em qualquer lugar do planeta.
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