terça-feira, 10 de novembro de 2020
Aindal, quem lê Raimundo Correia?
O Monte Castelo, para ele, representava o mundo social com sua igreja, sua praça, sua banca de revista, seu comércio, sua parada de ônibus e seu cinema e tudo isso em poucas ruas pelo qual ele passava em dias de assistir missa ou em dias de comprar revista em quadrinhos. Essa compreensão do espaço urbano começou a se transformar em 1987 quando sua família comprou uma casa em uma rua do Monte Castelo e mudou-se da Liberdade. Nesse processo de mudança, ele foi apresentado ao caminho por onde trafegara o trem São Luis-Teresina. O mundo era um pouco maior do que presumia sua consciência em formação. Vivera treze anos no bairro Liberdade, bairro de origem negra e de pessoas pobres que não tinham saneamento básico , segurança publica e coleta de lixo, e viveria dali em diante num bairro de classe média com mais opções de transporte e de educação. Os primeiros anos no Monte Castelo viram seu mundo se alargar mais um tanto quando visitou um colega do colégio Maristas que morava à rua Raimundo Correia e cujo irmão lhe emprestaria os discos do Black Sabbath. O Monte Castelo não era somente a parte alta como concluira. A rua Raimundo Correia aparentava ser uma rua sem saída, pois para se sair virava-se no sentido Bom Milagre ou virava-se sentido Paulo Frontin. A aparência da rua, nos anos 80 e parte dos anos 90, não condizia com a trajetória do escritor parnasiano Raimundo Correia, a quem ela homenageava (homenagem a um escritor que nasceu em um barco no litoral maranhense e que viveu a maior parte da sua vida longe do Maranhão). Os esgotos corriam a ceu aberto e o pequeno mercado se desmanchava a olhos vistos o que o descredenciava como referência para possíveis compradores do bairro. Intervenções do poder publico (governo do estado e prefeitura) fizeram com que esse lado mais visível se modificasse paulatinamente. A mais recente intervenção vem a ser a reforma do mercado do Monte Castelo depois de anos deixado as traças. Com essa reforma, o mercado se credenciara como espaço de compras para o publico consumidor do Monte Castelo. Um bairro com poucas opções de lazer e de cultura e, ao mesmo tempo, um bairro que pode se gabar de uma homenagem feita a Raimundo Correia. Não se gabou ate hoje. Afinal, quem se gaba de ler Raimundo Correia?
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