terça-feira, 30 de março de 2021
O ato de xingar
Em toda sua existência, se xingara dez vezes fora muito. Nem os amigos que fazia xingavam. Quem xingava vivia a margem, pensava dessa forma. Vivia a margem como a família do Capitão Caverna, uma casa em um dos cantos da rua Luis Guimarães, bairro Liberdade, uma casa na qual ninguém entrava. Ele conversava amenidades e elogiava os vizinhos, mas bem no fundo sentia vontade de soltar um palavrão ou um xingamento. Divertia-se com essas expressões que violentavam os ouvidos e os bons modos. Associava essas expressões a figuras marginalizadas que não dispunham de um vocabulário rico. Uma injustiça linguística social porque xingar e praguejar independia de classe social e poder econômico. Mais do que qualquer outra coisa, essas expressões significavam se libertar daquilo que o segurava em seu intimo. Tinha essa percepção, percepção que adiantava nada, afinal fazer o que com a liberdade (fazendo um jogo de ideias com o nome do bairro)? Não soube o que fazer com a liberdade. Soube aprecia-la no devido tempo. Um amigo xingou de leproso um politico, um xingamento das antigas que os mais novos evitariam de ter contato. O ato de xingar se perdeu. Não para sempre, com certeza. Chamar um amigo de canalha faz bem pro coração e fortalece os laços de amizade.
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