quinta-feira, 8 de outubro de 2020
O caminhante do centro de São Luis
O poeta romântico Gonçalves Dias subia a rua de Santana em algum momento do século XIX. Esse caminhar acentuado, por certo, sucedeu em boa parte desse século já que ele morava em um casarão logo no principio da rua. Ele tinha olhos para os casarões que circundavam a rua em todo o seu trajeto, mas os seus olhos atinavam mais para o casarão de Ana Amelia, sua amada. Os passos levavam longe sua imaginação, em direção a lugares mais abertos e mais verdes. Nesses lugares tão pouco frequentados, a imaginação sai de seu corpo para experimentar o ao redor. Ele não queria se equiparar ao poeta Gonçalves Dias. Pouco lera sua obra. Ao ler “Gonçalves Dias sobe a rua de Santana”, escrito pelo escritor Geraldo Iensen, pensou por que não imaginar uma cena em que simulava o poeta andando pela rua de Santana com os pensamentos voltados para Ana Amelia, cujos pais criavam obstáculos ao relacionamento por conta do sangue mestiço de Gonçalves Dias. Para que essa imaginação toda não caisse no vazio, decidiu sair do Reviver e pegar o beco da Pacotilha, onde se extasiou com a visão de um consertador de ventilador que escutava Roberto Carlos em algum sistema de som que não se via. Seguiu a rua Grande ou o caminho Grande. Por um acaso, topou com uma amiga professora e cozinheira que planejava acompanhar a inauguração da feira da Praia Grande, prometida pelo prefeito para aquele dia. Não disse, mas sentia saudade do caldo de sururu e do caldo de sarnambi que ela vendia em sua banca. Como faria para se esquivar dos raios solares que incidiam fortemente sobre as pessoas à rua de Santana? Naquele momento, fazia muito calor para uma cidade naturalmente calorenta pra diabo. Caso tivesse tempo de sobra, poderia passar alguns minutos à praça da Alegria. As praças, em geral, não são espaços de aglomeração e sim espaços de distanciamento. A partir delas e nelas, o indivíduo pode enxergar o que está a sua volta e o que está dentro de si. Deslumbrantes são as visões da igreja de São Pantaleão e dos telhados dos casarios à rua do Mocambo tendo por base a rua de São Pantaleão. Além de Ana Amélia, o que mais Gonçalves Dias pensava e com o que ele mais se deslumbrava ao caminhar pelas ruas e pelas praças do centro de São Luis?
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário