sexta-feira, 30 de outubro de 2020
Negros pobres e solitarios
A Vera, responsável pela Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, explicava a estrutura da igreja; “Antes, no século XVII, aqui era a igreja do Carmo. A frente, onde fica a calçada, era o largo, que tanto pode significar uma praça onde desembocam varias ruas ou a extensão de um espaço a que esse largo se refere.” No ano de 2010, o IPHAN reformou a igreja Nossa Senhora dos Rosários, contudo quem a mantem e quem a administra é a Associação Nossa Senhora dos Rosários que substituiu a irmandade responsável pela administração nos séculos anteriores. Quem escuta ou lê o nome irmandade pensa logo em uma instituição cuja existência se inseria na realidade dos séculos XVII e XVIII, que são séculos tipicamente reinóis de rei e tipicamente religiosos. Essa impressão é justificável pois nos séculos XIX e XX os cidadãos ou se individualizam ou se organizam em instituições sóciopoliticas. A conversa com Vera desfez essa impressão, pois ela própria fez parte da Irmandade, extinta por volta do ano de 2008. Segundo ela, quem fazia parte da Irmandade tomava conta da igreja, ou seja, varria, limpava e etc. Não tinha nada demais. Por dentro, ele discordava. As irmandades foram instituições que administraram igrejas e capelas de São Luis por séculos e se estas não foram derrubadas para em seu lugar construírem prédios modernos se deve em parte as Irmandades e pessoas negras e pessoas pobres. A igreja Nossa Senhora do Rosario quase foi derrubada e caso tivesse sido o que se ergueria em seu lugar? Sob o chão da igreja se escondia ossos e cabelos. Não de pessoas ricas, como se suporia, e sim de negros escravizados que não tinham onde serem enterrados. Os brancos ricos frequentavam a igreja e assistiam a missa sentados enquanto os negros assistiam a missa em pé na parte alta da igreja. Com a construção da igreja do Carmo, os ricos deixam de assistir missa na igreja Nossa Senhora dos Rosários e passa a ser frequentada apenas por pessoas negras, pobres e solitárias.
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