quinta-feira, 29 de outubro de 2020
As horas cegas
Moby Dick é um livro sobre a caça à uma baleia no século XIX e talvez seja o grande romance americano. Nada escrito na literatura americana se compara a esse romance que continua sendo um dos mais lidos. Um romance que trata de imperialismo, tirania, obsessão e violência contra animais. Moby Dick seria uma leitura simbólica do expansionismo do capitalismo americano. E para efetivar essa leitura Herman Melville, autor do livro, dialoga, principalmente, com Shakespeare, teatrólogo inglês do século XVI. “As peças de Shakespeare versam sobre esse mal e como o homem ao ficar “cego” pela paixão, pelo ódio, pelo poder e pelo conhecimento, enlouquece simplesmente para saborear a insanidade” (Suzano e a “cegueira” do Baixo Parnaiba maranhense). A “cegueira” que pode levar o homem a loucura também está presente em Moby Dick, onde o capitão Ahab recruta marujos para comporem a tripulação do seu navio que caçará Moby Dick a baleia branca a qual ele culpa por ter perdido a perna em um confronto. Ahab ficou “cego” pelo desejo de vingança contra a baleia branca. A “cegueira” individual que se depreende das obras de Shakespeare, de Melville e tantos outros resulta diretamente da “cegueira” coletiva que vê naquele individuo o seu modelo de liderança. Uma hora, mais cedo ou mais tarde, a natureza ou o subconsciente cobra preço por essa cegueira. “O mar nunca dorme”, escreveu Elias Canetti em Massa e Poder. Essa sensação de não poder dormir esteve presente numa viagem de barco de São José de Ribamar, região metropolitana de São Luis, ao município de Icatu, litoral leste maranhense. Só a tripulação enxergava(?) noite adentro e mar afora e os passageiros se contentavam em contar as horas cegas.
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