quarta-feira, 7 de outubro de 2020
Grilagem de terras e lavagem de dinheiro ameaçam comunidade quilombola de Cocalinho
Os caminhões carregados de eucalipto cortavam a cidade de Presidente Dutra no ano de 2019. O destino não estava estampado, mas se presumia que rumavam para a fabrica da Suzano em Imperatriz, região oeste do Maranhão. Quase chegaria a afirmar mesmo sem provas porque podia se inferir a partir da quantidade de caminhões e a partir do volume de eucaliptos visualizados que o seu destino era um grande empreendimento que no caso só podia ser a fábrica da Suzano. Só faltava esclarecer de onde provinham os caminhões e os eucaliptos. Como não se via nenhuma placa indicativa na estrada, a pergunta ficou no ar, pergunta esta que seria respondida meses mais tarde em setembro de 2020, na comunidade quilombola de Cocalinho, município de Parnarama. A comunidade de Cocalinho é uma comunidade quilombola reconhecida pela fundação Palmares. No começo dos anos 80, os quilombolas ocupavam uma área de mais de seis mil hectares de Cerrado e babaçual. Ele foram forçados a deixar parte desse território e migrar para áreas próximas a brejos em razão de grilagem de terras praticadas por políticos da região. Essa grilagem de terras deu origem a três fazendas que cercam o território quilombola de Cocalinho e o território de Guerreiro. A fazenda Crimeia e a fazenda Cana Brava, que plantam soja, e a fazenda Nomasa, que plantava eucalipto. E o eucalipto que passava pelo município de Presidente Dutra era justamente proveniente dessa fazenda que a Suzano Papel e Celulose arrendou e desmatou em 2009. Suspeitava-se que o projeto de plantio de eucalipto para sua fábrica de celulose em Imperatriz contemplava um lado de lavagem de dinheiro e lavagem de terras griladas em todo o Maranhão. O arrendamento da fazenda Nomasa comprovaria essa lavagem porque como justificar um plantio de eucalipto a mais de seiscentos quilômetros de distancia da fabrica (para uma fabrica de celulose ser viável o ideal é que os plantios fiquem a menos de duzentos quilômetros). E por que não comprar a fazenda e sim arrenda-la já que o empreendimento em Imperatriz tinha futuro garantido? Atualmente, os eucaliptos, que antes viajavam para Imperatriz, tem destino mais próximo que são os fornos das olarias da região de Presidente Dutra. Os eucaliptos da fazenda Nomasa, com o tempo, abrirão espaço para o plantio de soja como já acontece nas fazendas Crimeia e Cana Brava, também arrendadas para investidores do sul do Brasil e para investidores paraguaios. Esses empreendimentos não só lavam dinheiro e lavam grilagem de terras; eles também cometem crimes socioambientais como não possuirem reserva legal, iniciarem incêndios que devastam o território quilombola e ameaçar de cercamento áreas de extrativismo dos moradores.
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