segunda-feira, 21 de setembro de 2020
Os flaneurs
Eles não tinham endereço certo. Pousariam num café, num sebo de livros, num restaurante, quem poderia saber? O almoço de um deles transcorreu em dos vários restaurantes da Feira do reviver. Ele cobiçava um cozidão. O dono do restaurante respondeu que faltava o cozidão e que se quisesse podia servir um mocotó. Os dois aprovaram o mocotó servido. É bom relembrar que o mocotó virou iguaria sofisticada e cara recentemente. Antes, os negros escravizados e os brancos pobres comiam o mocotó. As famílias aristocráticas do Maranhão desprezavam as vísceras do gado que iam para o lixo. O que provocava desprezo em alguns, provoca em outros gulodice. O amigo, que não almoçara cedo, deleitou-se tanto com o Mocoto que só deixou um pedaço de línguiça para o companheiro. Os dois aguardavam um amigo jornalista que encerrara seu expediente e encaminhava-se para o restaurante onde eles estavam. O amigo jornalista caminhou rápido pelas ruas singelas do centro histórico de São Luis e decidiu não comer no restaurante do mocotó. Não tinha aptidão para o mocotó. Acalentava um restaurante self service recém aberto de frente para a praça João Lisboa. Eles (dois jornalistas e um filosofo) pararam o seu périplo gastronômico alguns minutos com a intenção de perguntarem a um espanhol se era verdade que desejava vender a sua casa ou parte dela. O espanhol botou o preço da parte de baixo do sobrado em tanto. O sobrado do espanhol comportara um bar alternativo (rock, anarquistas e quadrinhos) o qual desativara por dar muito trabalho para administrar. “Como viviam os antigos moradores dos sobrados do centro histórico de São Luís?”. Enquanto flanavam pela rua de Nazaré, perguntavam-se. Walter Benjamin, filosofo judeu-marxista, apegou-se muito ao termo flaneur em suas analises sobre a obra do poeta francês Charles Baudelaire e sua relação com a cidade de Paris que se modernizava violentamente na segunda metade do século XIX. Flaneur é aquele que vaga sem objetivo pelas ruas da cidade. O filosofo trouxe a baila esse termo para explicar a eles próprios o que faziam no centro. O centro é o casario histórico do século XIX e as casas modernistas do século XX e os personagens que as construíram e que nelas viveram. Uma breve parada em um sebo de livros, revistas e discos à rua Santo Antonio pode desencadear compras imprevistas como o livro “Neurose do medo e 100 artigos” do escritor modernista maranhense Nascimento Moraes, desafeto do intelectual Antonio Lobo, homenageado com um busto na praça da igreja Santo Antonio. O centro também é homenagens (bustos) e brigas literárias (artigos) que ninguém mais se lembra como e porque nasceram.
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