sábado, 5 de setembro de 2020
O arrodeio das mulheres quilombolas
As mulheres a rodeavam. O verbo é a parte principal de uma frase. Uma frase sem o verbo ou com o verbo impreciso não faz sentido para o leitor. A Caroline de Padua foi escalada para ministrar uma oficina de culinária para mulheres quilombolas no povoado Graça, município de Matinha, Baixada maranhense. Alessandro Lamar, coordenador do projeto Rede Quilombola, financiado com recursos do Fundo Casa, escalou-a por terem trabalhado juntos no restaurante/escola culinária que o Alessandro administra. Um dos objetivos da oficina seria ensinar as mulheres quilombolas que a cozinha além de ser um espaço de preparar comida também é um espaço de desenvolvimento de aptidões/conversas. Ela desenvolveu sua aptidão para a cozinha em vários espaços gastronômicos além da Cooking, onde ela conheceu o Alessandro, como foi o caso do curso que fez no Senac. Cozinhar e ensinar culinária não são a mesma coisa, mas claro que para ensinar algo a alguém a pessoa necessita ter aptidão para aquilo. Não basta ter a predisposição, ela deve se aprimorar constantemente e a Caroline faz questão de estudar mais e mais tudo relativo a culinaria. O curso de culinária comporia uma série de oficinas que se desenvolveriam na comunidade da Graça (oficinas de hortas, oficina de criação de pequenos animais, oficina de plano de negócios e etc). A oficina de Culinária se moveria em torno de materiais e elementos que poderiam ser encontrados em qualquer lugar da comunidade da Graça (arroz, carne de porco, galinha caipira, farinha, verduras, frutas e etc). Dar uma outra perspectiva ao cozinhar que não é só preparar os alimentos para a família comer. Para apreenderem melhor a aula de Caroline, as mulheres a rodeavam. Como cortar a carne de porco, como temperar a galinha caipira, como usar a água e etc. Tudo era um arrodeio para chegar ao ponto dos pratos serem servidos. O arrodeio da conversa das mulheres quilombolas a respeito das suas vendas na Feira da agricultura familiar em matinha nos dias de sábado. O arrodeio da conversa em que Caroline contatou que suas raízes familiares provinham dos municipios de São Bento e São Vicente de Ferrer, também municípios da Baixada, e que, portanto, ela poderia ser vista como mulher quilombola tanto quanto aquelas mulheres que a rodearam naquela manhã de sexta feira.
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