domingo, 13 de setembro de 2020
O extrordinario acontece
Ele mora à rua Couto Magalhães, bairro Monte Castelo, por razoáveis anos. Mudara-se para o numero 68 da Couto Magalhães em 1987. Acabara de entrar à adolescência e nesses treze anos o seu mundo se resumia aos amigos da escola, do bairro Liberdade, onde morara antes da mudança, e da Cohab. O Monte Castelo, um dos bairros centrais de São Luis, comparecia como um componente aleatorio da sua vida periferica porque nele, apenas, frequentava a igreja Nossa Senhora da Conceição aos dias de sábado. A decisão da família de se mudar para o Monte Castelo talvez tivesse por base a figura central da Igreja do Monte Castelo. Ficar mais perto do catolicismo oficial e longe de qualquer paganismo tão frequente à vida social do bairro da Liberdade. Sem nenhum amigo com quem pudesse conversar, optou pelo mero acompanhamento da vizinhança ou optou por ler algum livro. Em tantos anos, a observação da vida social da rua Couto Magalhaes não capturou nenhum acontecimento extraordinário. Dificilmente, via-se moradores se locomovendo em grupos que excedessem o numero máximo de cinco pessoas pelas ruas do Monte Castelo. Para passar o tempo, incluiu na sua lista de prioridades beber em algum boteco, dos poucos que ainda resistem. O extraordinário pode ser que apareça entre uma cerveja e um livro. E o extraordinário aconteceu numa tarde em que ele lia “Talvez, Esther”, da escritora russa Katja Petrowskaja, quando viu subir a rua um grupo de mulheres, crianças, jovens e adolescentes. Que cena. Um grupo de quase vinte pessoas subia a rua com claro proposito de pegar um ônibus que o levasse a alguma praia. Admirou-se, pois o grupo obedecia a um centro operacional que mulheres coordenavam. Possivelmente da mesma família ou quase todos da mesma família a qual amigos se agregaram. Não criticou em nenhum momento a alegria que os membros do grupo transpareciam. Aquela alegria genuína de sair aos domingos para voltar bem no final da tarde.
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