A morte de Aldir Blanc fez com
que descobrisse o talento dele para escritor de crônicas. Acreditava que
o seu talento dependia somente das composições musicais em parceria com João
Bosco, Moacyr Luz e tantos outros. Leu duas crônicas (dois contos?) que comprovariam
a qualidade da sua arte. Fica a pergunta: por que não se descobriu esse lado de
Aldir Blanc antes de sua morte? A capa do disco 50 anos em que ele aparece
sentado e onde se vê a perna de Luiza Brunet esticada a sua frente veio a sua memoria por
alguma razão que não saberia explicitar. Quis lembrar a revista musical onde
leu a critica do disco e onde presenciou a capa esplendida. Quis lembrar muito
quem escrevera a critica e a fundamentação dessa critica. Talvez tenha sido a
Bizz, a revista mais comercial a cobrir o cenário da musica brasileira.
Não resta dúvida. Qualquer referencia
a Aldir Blanc passa pela musica ( o que veio a ser a musica popular brasileira
na década de 70). A literatura esteve presente na sua vida pela via da crônica
ou do conto, como se ve em seus livros, mas, primordialmente, o seu apelo
literário maior é entregue nas letras musicais. A qualidade inquestionável das
suas letras obriga o ouvinte a notar e a compreender os sentidos expressos e os
sentidos inquietos (ou quietos) que se revelam no texto. O texto se revela
quieto, uma quietude que não se apavora no ato de escrever. A inquietude do
texto jorra quando ele rompe o fecho.
Para muitos, nada mais “ultrapassado” que analisar
a realidade social brasileira tendo em mente a obra de Aldir Blanc ou quem quer
que seja. As letras musicais (alguém ainda escreve letras musicais?) de Aldir
se estruturam na presunção de que o brasileiro se relaciona com a realidade
sempre tendo em vista a musica. É a música
que organiza o movimento “eu organizo o movimento, Tropicália, Caetano Veloso”;
contudo no caso de Aldir a musica organiza o pensamento que desencadeia o
processo literário. O processo criativo de Aldir em termos literários musicais
necessita se basear na crônica porque historicamente a musica (o samba) e a crônica
nasceram na mesma época (final do século XIX e começo do século XX) e
desempenharam papeis semelhantes na historia social do Brasil. Por vários
motivos, a musica (o samba) se sobrepôs a crônica como forma de obtenção de
conhecimento da realidade por determinados setores. A obra de Aldir Blanc é uma
recomposição entre musica(samba) e crônica literária sob o prisma dos anos de chumbo.
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