segunda-feira, 18 de maio de 2020
A cidade libia de Zuila
A porta
da sala ficava aberta. As pessoas circulavam pela casa e fora dela. Do terraço
ou da garagem se via parte da rua (as pessoas que subiam e desciam) e algumas
casas (as pessoas que vinham as portas ou que saiam em seus carros). Quem caminha
pela rua não quer saber o que se esconde atrás dos muros das casas. Ou quem
sabe queira saber só não faz admitir. Nesses anos todos em que a sua família se
estabeleceu no Monte Castelo trocara poucas palavras com os vizinhos. Sabia um
pouco do vizinho da direita. Ele possuía uma casa em Anajatuba, município pequeno
colado a Itapecuru. As suas lembranças, entretanto, ganhavam força e ritmo quando
se referia a Barreirinhas. Uma vez, ao redor de uma mesa de bar, contou sua
versão da vez em que junto com a mãe cavalgou de um povoado em Primeira Cruz
até a sua cidade Barreirinhas. Eles cavalgaram mais de um dia por caminhos de
muita areia e muita agua para vencerem a distância. Uma das razões para que
pouco soubesse da vida alheia dizia respeito ao seu habito de ler sem parar. Lia
tanto que quase não falava. Um dia se pegou com vontade de assistir televisão. O
seu senso critico logo o repreendeu. Desde que se fechara em casa com seus pais
por conta da pandemia do Coronavirus, pelo calendário se passaram mais de dois
meses, ele não bebera nenhuma gota de álcool e lera e relera mais de trinta
livros. Quem le muito, não tem escapatória, acaba escrevendo. Uma ideia que
surgiu foi escrever sobre a cidade libia de Zuila, no norte da Africa.
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