sábado, 1 de maio de 2021
O projeto tosco das elites
Não saberia afirmar se “Istambul”, livro do escritor turco Omar Parmuk, é lindo. Bastante duvidoso qualificar uma obra literária como linda. Essa duvida também atinge outras obras que pretendam ser artísticas. Para ser honesto, “Istambul” é mais um livro que se refere a perdas. A literatura moderna se contrapõe a modernidade enquanto processo de aceleração da vida social e vida urbana. “A Istambul cosmopolita que eu conheci na infância já desaparecera quando cheguei a idade adulta. Em 1852, Gautier, como também outros viajantes de seu tempo, assinalara que nas ruas de Istammbul ouvia-se turco, grego, armênio, italiano, francês e inglês ( e, mais ainda que as duas ultimas línguas, o ladino – o espanhol medieval dos judeus que tinham acorrido a Istambul depois da Inquisição).” A Turquia que Omar Parmuk exalta no livro, cosmopolita, literária, monárquica, poliglota, anárquica e exótica, contrapõe-se a Turquia republicana, ultranacionalista, pouco afeita a literatura e xenófoba. Houve mais perdas ou mais ganhos no processo de modernização vivenciado pela Turquia entre os séculos XIX e XX? Do ponto de vista material, para a sociedade turca, é provável que houve mais ganhos. Do ponto de vista simbólico, pelo que conta Omar Parmuk, houve perdas consideráveis como a extinção de modos de falar, destruição de monumentos, poluição, politicas antiminorias etnicas e etc.
Pesando os prós e os contras, a modernização fez com que a Turquia. A função da literatura moderna é bem maior do que se contrapor ao processo destrutivo desencadeado pela modernidade. A função da literatura moderna é reconectar discursos soltos e perdidos na historia e fazer com que façam sentido. A Istambul histórica e romântica, desfigurada pela modernização estatal e capitalista, que Parmuk sonha em recuperar tem o que ensinar a países como o Brasil que cultivam projetos incessantes de modernização por toda sua historia? Por detrás do discurso modernizante das elites, subjaz um discurso tosco e deseducador. As elites e seus apaniguados tem pressa em modernizar o pais e não toleram as diferenças. No Brasil, a comunidades que se afirmam como comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas recebem ataques constantes em sua cultura (valor simbólico) e em seus territórios (valor material) como vem acontecendo na comunidade quilombola Centro do Diamante, município de Matões.
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