sexta-feira, 28 de janeiro de 2022
A retalho
A praia se encontrava deserta. Os restaurantes começavam a abrir sus portas para possíveis consumidores. Algo no ar ameaçava aqueles predispostos a andar pela praia ou simplesmente se sentar nas cadeiras. O tempo ainda não amadurecera por completo. Estavam no inverno ou no verão? Seu editor cobrava dele uma pauta para aquele dia. “Que tal escrever algo que lembre a prática dos comércios de antigamente de vender manteiga de uma quarta?” Não só a manteiga. Em tempos idos, comprava-se vários produtos a retalho. “Uma quarta de manteiga”?!!! Não dava pra medir e nem pesar uma quarta de manteiga. Quem quiser que tente pesar uma quarta de manteiga. Quer dizer, o dono do comércio da esquina despejava a manteiga numa tira de papel jornal e ai daquele que duvidasse da quantidade despejada. Se era difícil pesar ou medir uma quarta imagine como deve ser difícil contabilizar uma dose de cachaça ou de conhaque. O que é uma dose para fins de comercio de acordo com a visão do comerciante? Não se sabe. Nem queira saber. O que se sabe é que num dia morrendo de tédio, daqueles dias que nem os amigos salvam, o individuo procurava o que fazer no boteco do bairro ou no boteco do povoado. “Bote uma dose”. O comerciante bem obediente lascava uma dose de qualquer coisa no copo. Uma dose que valia um real, dois reais e assim via. Essa prática de comprar a retalho remete a uma época de pouca circulação de dinheiro. Os tempos mudaram. O individuo chega e pede logo uma manteiga inteira e uma garrafa de cachaça completa. Pra que perder tempo?
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