sexta-feira, 23 de abril de 2021
O papel do intelectual/escritor na sociedade de Urbano Santos
Por um bom tempo, ele alimentou a ideia de escrever um pequeno ensaio no qual analisaria a figura do intelectual/escritor na cidade de Urbano Santos. Alimentou não como alguém que experimenta uma fome voraz. Alimentou como quem sente um desejo de tomar um suco de bacuri ou morder um picolé. Essa comparação não procura minimizar o papel do intelectual/escritor na vida social da cidade de Urbano Santos e sim procura dar um caráter menos problemático a uma relação que em geral é bastante problemática. Os primeiros contatos que foram efetuados em 2008, 2009 e 2010 com o meio social urbanosantesse se circunscreviam ao ambiente dos movimentos sociais e da representação sindical. Não havia porque pleitear contatos fora dessa roda social, afinal o seu trabalho se destinava aos grupos socais afetados pelas empresas de reflorestamento com eucalipto, no caso Suzano papel e Celulose e Margusa. Esse intenso contato com liderança sindicais, presidentes de associação de moradores e representantes de organizações da sociedade civil, contraditoriamente, desencadeou um processo de elaboração e produção de material intelectual que tratava das questões fundiárias e ambientais do município de Urbano Santos (A dona Teresinha, agente de saúde, comentou com sua neta que não entendia como ele era capaz de escrever um artigo imenso sem anotar uma informação sequer). Uma coisa ficou claro para ele. Pela pena de um urbanosantense, quase nada se produzira nas ultimas décadas com relação aos impactos do agronegócio na vida das comunidades de agricultores familiares e extrativistas. O que se produzira ficara guardado intocável em alguma gaveta a espera do momento certo da sua divulgação e quem sabe publicação. Ele se defrontava com uma vida social e humana fantástica sem que essa vida resultasse no surgimento de uma produção intelectual/literária de responsabilidade. Essa realidade, para ele, mudou quando leu a produção artística de Jose Antonio Bastos, funcionário do STTR de Urbano Santos. O jovem negro de estatura média lhe enviava seus poemas e artigos cujos conteúdos remexiam temáticas sociais, românticas e historicas. Em seus artigos, Jose Antonio perseguia a imagem de um Baixo Parnaiba negro, quilombola e insubmisso. Uma imagem que se relacionava com a revolta da Balaiada que ocorreu nos estados do Maranhão, Piaui e Ceará entre os anos de 1838 e 1841. Jose Antonio redescobre uma Urbano Santos histórica que parecia inerte perante os projetos de desmatamento do Cerrado e de plantios de eucalipto. Historia, meio ambiente e direitos sociais se abraçam na obra de Jose Antonio e no trabalho de conclusão de curso da historiadora Ana Paula. Ela não se intimidou com a falta de documentação histórica relativa aos anos em que as empresas começaram a entrar no município. Assumia a tarefa de decodificar as praticas e os discursos que as empresas construíram e dos quais se utilizaram para tomarem de conta das terras de Urbano Santos. A tarefa se constituía num compromisso histórico pessoal visto que passara parte de sua vida acompanhando a mãe que fez parte dos movimentos sociais e religiosos que combateram o desmatamento em Urbano Santos e municípios vizinhos.
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