sábado, 13 de fevereiro de 2021
Comida de “gente pobre” nos quilombos do Maranhão
Uma lembrança que permaneceu dos anos 80 em São Luis foi a das quitandas (pequenos comércios familiares) dos bairros que se formavam nos subúrbios da cidade a partir da chegada de maranhenses (não só) vindos da zona rural do Maranhão. O final da década de setenta e o começo da década de oitenta promoveram a saída de várias famílias das suas cidades de origem, onde viviam em situação de pobreza, em direção a capital, onde rezava a lenda de que havia mais trabalho, mais comida, mais empregos, mais circulação de dinheiro e melhores condições de vida. As quitandas, de um certo ponto de vista, agregavam todos esses elementos e mais alguns outros como uma boa conversa acompanhada de uma rodada de cervejas e um bom tira gosto que nesses anos pouco variava. Na verdade, “bom tira gosto” era o que tinha na quitanda ou então a solução era mandar um menino comprar torresmo numa “invasão” vizinha. Em termos de “bom tira gosto”, o bebedor de cerveja que contava com a sorte podia ser servido com um prato de curimatá, peixe de agua doce. Pode-se dizer que foi o tira gosto mais sofisticado em anos e anos de cerveja e de quitandas. Com o decorrer do tempo, a curimatá desapareceu das cozinhas e dos pratos de São Luis. As pessoas não deram e não se deram conta porque se consumia mais carne e produtos industrializados que empurrou o consumo de peixes nativos e outros produtos tradicionais para as comunidades rurais e comunidades quilombolas do interior do Maranhão. Comida de pobre, subtendia-se. A visita ao quilombo Peixe, município de Colinas, em novembro de 2020, propiciou rever e provar essa comida de “gente pobre”, no caso um pratada de Curimatá frito na casa do Ironis, presidente da associação. O quilombo Peixe foi encurralado por fazendas de soja e eucalipto que grilaram seu território em vários pontos o que acarretou a perda de áreas de roça e áreas de extrativismo. Os fazendeiros/grileiros (políticos locais) desdenham da historia dos quilombolas “Nunca ouvi falar dessa historia” e continuam desmatando babaçuais e o cerrado.
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