segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021
A decadencia bonita do samba
A música “Domingo no Parque” é uma das músicas modernistas da década de 60 que comunicará aos grandes centros urbanos e industriais os efeitos que a tradição, o trabalho artesanal e as manifestações culturais sentiam devido aos sucessivos processos de modernização. Os nomes João e José dos personagens masculinos que disputam Juliana referenciam-se no texto bíblico o que pressupõe uma releitura jornalistica da Bíblia na qual são encontrados diversos relatos casos de violência. A letra da musica começa o enredo com uma apresentação dos dois personagens masculinos. José, que trabalhava na feira, é o rei da brincadeira e João, que trabalhava na construção, é o rei da confusão. José e João personalizam sob formas diferentes como as manifestações folclóricas eram vistas pela imprensa, especialmente, o samba que tanto recebia elogios por ser uma brincadeira popular como recebia criticas por descambar por brigas entre grupos de sambas. Pela lógica presente na sociedade pre capitalista brasileira, brincadeiras populares e violência não se separavam. A letra também situa as origens arcaicas do samba na confluência rural (feira) e urbano (construção). Segundo Gilberto Gil, João não quis saber mais saber de brigar e nem de jogar capoeira (pratica associada a brigas) ”saiu apressado,...para namorar”. Ou seja, o samba para se modernizar (não ser mal visto pela imprensa e pela sociedade) teria que abandonar suas raízes históricas de conflito interno (grupos de samba) e externo (forças policiais). Um dos resultados mais flagrantes da modernização é a pressa; ele “saiu apressado...para namorar” Juliana. A letra discorre bem sobre Jose e João, mas quase nada se sabe de Juliana. O que se sabe: Juliana é o sonho e a ilusão de José. Foi José quem decifrou os sonhos do rei do Egito. Então, José não decifrou o seu próprio sonho que o iludia. A ilusão é a forma como a subjetividade dialoga com o mundo externo. A visão de João com Juliana na roda gigante faz com que o diálogo da subjetividade de José com o mundo externo se rompa. Sem o saber, João rompe esse equilíbrio interno da cultura brasileira a fim de atender o seu desejo de namorar Juliana (opinião publica), observadora do mundo capitalista, nem que seja no alto da roda gigante. Circunscrever-se-ia a proposta de Gilberto Gil e do Tropicalismo na “Modernização do Samba” e essa modernização passava pela dissociação do ritmo das suas origens histórico-sociais, atualização do discurso e a renovação da base rítmica. O jornalista Pedro Alexandre Sanches, no começo dos anos 2000, renomeou esse processo modernizador de “Decadência Bonita do Samba”.
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