sábado, 16 de abril de 2022
Hibridismo
As construções no Brasil, construções sociais, estéticas, construções politicas e etc, sempre foram temporárias, precárias, instáveis e hibridas. Essas características se cruzam e ajudam a explicar uma as outras. O hibridismo talvez seja dessas características todas a que mais deve ser ressaltada. Do ponto de vista estético. “O Brasil é um pais de famintos. Um pais que (como já dizia Gilberto Gil) só conhece raiz se for de mandioca. Um pais que, para saciar sua enterna fome, pode até misturar maracatu rural com heavy metal. Tudo isso com molho de caranguejo mutante. Do mais profundo mangue.” Hermanno Vianna, antropólogo, escreveu tipo uma apresentação, do qual aquele trecho faz parte, para o cd “Radio samba”, gravado em 2000 pela banda pernambucana Nação Zumbi. O titulo da apresentação é “Fome X tecnologia” e discorre sobre vários temas concernentes a globalização, principalmente, a tecnológica. o que mais chama atenção nesse texto é o encerramento em que Hermano Vianna pontua a questão do hibrido “caranguejo mutante”. É uma figura de linguagem, uma justaposição de palavras de universos diferentes como se propuseram as bandas que compunham o mangue beat. Por que destacar a questão do hibridismo entre tantas características? Porque é uma característica totalmente relacionada com a produção cultural e a produção artística. O samba não nasceu pronto e acabado. Ele resulta da confluência de vários gêneros musicais que transitavam pelo Brasil nas primeiras décadas do século XX. O samba é ungido como principal expressão musical brasileira num projeto de identidade nacional executado pelo governo Vargas de 1930 a 1945. A centralidade que o samba passou a ocupar no cenário da cultura nacional fez com que ele deixasse de ser hibrido? Não, mas fez com que ele assumisse outros aspectos que esmaeceram o hibridismo. Esse processo de esmaecimento da presença do hibrido não se deu apenas no caso do samba. Constata-se na produção literária, nas artes plásticas, na produção intelectual e etc. Ao promover determinados aspectos da produção estética como centrais e vitais para o projeto nacional a republica brasileira evita tocar em pontos cruciais da historia politica e social do pais como a questão das minorias raciais. As produções estéticas do Mangue Beat, entre outros, vem no sentido de rever o papel do samba e de outras expressões estéticas no conformismo que assolou o Brasil em vários momentos de sua historia.
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