segunda-feira, 9 de março de 2020
Oligarquias de São Benedito do Rio Preto e de Urbano Santos expulsam comunidades quilombolas e tradicionais de seus territorios
Acaso o município de Urbano Santos não tivesse recebido este nome em homenagem a um politico maranhense do começo do século XX, qual seria o nome dele hoje? As suas feições, dentro dessa perspectiva, de nome diferente, assumiriam outra forma (uma outra cidade)? A Historia oficial aceitaria um município com nome indígena miscigenado, nome de negro escravizado ou nome de branco pobre? O nome Urbano Santos sugere o quanto o segmento politico no começo da republica determinava a vida social de um estado ou de um município. A Historia oficial apresenta Urbano Santos como o governador do Maranhão, vice presidente da republcia entre 1914 e 1918 (governo Venceslau Bras) e nascido em Guimarães na segunda metade do século XIX. Quem escreve biografia sempre procura estabelecer nexos entre a vida social e particular do biografado e as datas históricas de fundo coletivo. Urbano Santos ocupou a vice presidência da presidência de Venceslau Bras durante a primeira grande mundial, na qual o Brasil participou de maneira indireta ou seja não enviou tropas para o front da guerra. É bem provável que a decisão de homenagear o politico tenha se dado em função dos cargos que ocupara na Republica brasileira. E também uma forma de granjear atenção da classe politica maranhense. É fascinante observar e analisar como as relações sociopolíticas de um pais, de um estado e de um município se interligam com homenagens e datas históricas. Deve constar ao longo da Historia de Urbano Santos vários eventos sociais que passaram batidos da maioria das pessoas só recebendo atenção de algum ou outro segmento social diretamente envolvido ao evento. O fato de que nenhum documento oficial os mencione diz muito a respeito de como as classes sociais dialogam ou não dialogam. Pode ate mencionar, contudo a menção parte do ponto de vista de quem se coloca contra aquele evento social ou contra as pessoas que pensaram e articularam o evento. Pegue-se o exemplo dos pedidos de reintegrações de posse impetrados na comarca de Urbano Santos. Quem pede reintegração de posse se utiliza de termos que privilegiam a sensação de ameaça, invasão e violência. Em grande parte dos casos, a utilização desses termos é uma forma de convencer o juiz da veracidade dos acontecimentos e a urgência de uma decisão favorável a quem impetra a ação. Para quem não sabe, o discurso de invasão de terras historicamente é um discurso das elites que se valem desse discurso com o intuito para ou expulsar moradores ou evitar a reforma agrária. Maelson, morador de São Benedito do Rio Preto e da comunidade quilombola Guarimã, relembrou alguns eventos sociais esquecidos da sua cidade e da sua região: parte da Historia das comunidades quilombolas que se adensaram próximo aos rios Preto e Munim. Os quilombolas da comunidade Juçaral dos Pretos aos poucos foram retirados de suas terras por pretensos proprietários que apresentavam documentos fabricados no cartório da cidade. Bebiam muito e causavam problemas, foi a alegação dada para a retirada dos quilombolas. Um dos quilombolas mais velhos de Juçaral dos Pretos, cerca de 90 anos, e um dos que permaneceram morando no povoado, disse que essa historia de proprietários surgiu nos anos 70 e que os quilombolas moravam naquela região desde o século XIX. Afora a questão da grilagem da terra, publica e notória, não só no Baixo Parnaiba, e a conivência do judiciário maranhense em primeira e segunda instancia, vislumbra-se nos atos dos “proprietários” de Juçaral dos Pretos o poder exercido em expulsar pessoas a seu bel prazer. O juiz de Urbano Santos assinou decisão no dia 12 de fevereiro de 2020 em que determina que a comunidade de Santa Rosa dos Garretos saia de suas casas em um mês e, caso a comunidade não atenda a determinação, pede o uso da policia militar. A decisão do juiz atendeu o pedido de reintegração de posse por parte da família Garreto, que mantem influencia na vida politica do muniicipio de Urbano Santos. Ela se especializou em grilar terras e ameaçar trabalhadores rurais do Baixo Parnaiba, de Urbano Santos a Mata Roma, incluindo Anapurus. É uma prática recorrente das elites, impetrar ações de reintegrações de posse como se fossem vitimas de alguma invasão de terras e a ação da família Garreto se espelha nessas ações. Lembrando que os moradores de Santa Rosa passaram a morar no povoado a pedido do Nego Garreto e que eles exercem a posse da terra e não a família Garreto.
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