sábado, 28 de março de 2020

Ao menos uma vez na vida


Os três programaram o horário de saída da sede de Chapadinha. Almoçariam com Raimundo cuja família terminava de aprontar o almoço. Enquanto o almoço não vinha , eles comiam bolacha água e sal. A mulher de Raimundo, que presidia a comunidade de Jucaral, alertou os do que viria pela frente: " Não estranhem se, por um acaso, convidarem vocês para almoçar. Sei que a minha mãe, nas Laranjeiras, cozinhou uma galinha caipira e que a mãe do meu primo, nos Fernandes, cozinhou uma carne de porco. " Conclusão: eles comeriam três vezes sem reclamar. Quando tem para oferecer, as comunidades rurais superam suas carências e suas adversidades. O desejo de impressionar bem aqueles que por uma alguma razão ou por alguma simples obrigação passam por suas vidas ao menos uma vez. Discutiram qual a estrada que tomariam para Fernandes ? Pela Lagoa Amarela, praticamente impossível, pois o Rio Preto se erguera perante as margens e engolira a ponte. A Lagoa Amarela que em outros tempos antes de receber esse nome abrigara negros revoltosos da Balaiada. A única saída cabível que evitava os estragos causados pelo Rio Preto na Lagoa Amarela passava pelas Chapadas do território quilombola do Bom Sucesso, em Mata Roma, e pelas Chapadas do povoado Jucaral, onde Raimundo nascera, município de Urbano Santos. Quantas horas levariam e quantos quilômetros percorreriam ao povoado Fernandes sem que o ímpeto caisse ? Raimundo garantiu que por Bom Sucesso as coisas fluiriam tranquilamente. Bem, o Rio Preto e seus afluentes, como se veria mais tarde, carregam muito de uma tranquilidade intranquila no mês de março em razão das fortes chuvas que despencam de uma para outra.

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