A chuva parecia findar ao final
da tarde. Não era pouco a Chuva. Imaginem quilômetros de estrada completamente
encobertos por inúmeros pingos de água caindo sem cessar por horas e horas. Um
barulho incontestável (o limpador de para brisa de la pra ca). De vez em
quando, o carro freia por conta de outros carros que desaceleram. A chuva
requer atenção. Acaso ela tivesse avisado que cairia será que as pessoas
sairiam de casa para iniciarem uma viagem de várias horas. A resposta não
nasceu pronta e nem veio a morrer logo.
Dormirão em Buriti, com certeza,
mais segura num tempo de chuva como esse ou seguirão noite adentro por caminhos
indivisíveis e quase invisíveis pelas Chapadas buritienses até o povoado
Carrancas. A cidade de Buriti abraçou a noite com doçura após quatro horas de
chuvas ininterruptas. Uma cidade decente, sem maiores apelos e atropelos de irreverencia.
Quase certo não se hospedarem nela. O Vicente de Paula e Dona Rita os esperavam
com redes estendidas e com um jantar pronto. Sem decepção, por favor. A noite os
enfiara em meio a plantios de milheto recém bombardeados com dissecante o usual
preparativo para os plantios de soja. Queriam se estirar nas redes o quanto
antes e para isso não mediram esforços para sua chegada ser menos repentina a
casa sobre a Chapada. A casa de Vicente, a casa de sua filha e a casa de seu
irmão roubavam a cena do quadro oficializado pela monocultura da soja no município
de Buriti. Em algum momento, eles reclamam de algo que falta (o liquidificador
que não funciona), mas no final dá tudo certo. O suco de bacuri fica pronto. O Vicente
revela os pontos de coleta do fruto que sobraram sobre aquelas Chapadas tão
castigadas nesses últimos tempos. Algumas horas na casa de Vicente e sua família
e a pessoa sai restabelecida, pronta para mais uma Chuva pela estrada afora.
Mayron Régis
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