A região de 21 municípios do
Baixo Parnaíba – na mesorregião leste do nosso estado, grande parte das áreas
em sua maioria chapadas é um espaço de disputas fundiárias no que se diz
respeito à questão “terra”. O território de descendência cultural das
comunidades tradicionais: quilombolas, ribeirinhos, brejeiros e chapadeiros, elas
vem sofrendo um impacto ecológico e social causado diretamente pelo agronegócio
do eucalipto e soja. O capitalismo selvagem e devastador puxado e financiado
pelo setor agroexportador é na verdade o grande responsável e vilão por essas
mudanças socioculturais e a “discriminação” das comunidades rurais.
Intolerante além da conta, o agronegócio
avança sobre as chapadas do Baixo Parnaíba, muitos assentamentos e áreas que
estão em processo de titulações e regularizações para fins de Reforma Agrária são
vítimas do veneno diabólico das imensas plantações de eucalipto e soja. Viajando
para o município de Santa Quitéria saindo de Urbano Santos passa-se por alguns
povoados como Mangabeirinha, Lagoa dos Costa e Bom Fim; naqueles caminhos o
calafrio bate n`alma atravessando léguas e léguas de eucalipais. É triste ver
as lamentações dos pouquíssimos pés de bacuris e pequis dentro dos campos dos
monstros verdes e os disfarces enganosos das miúdas reservas detectadas pelo “EIA
RIMA” que nunca funcionou. No fio de comparação é simples entender a realidade,
basta respostas para as seguintes perguntas como: Qual é a diferença entre uma
comunidade tradicional e a ganancia extrapolada das empresas plantadoras de
eucaliptos que usam do poder e da violência para a expropriação das
terras? Entre um campo de eucalipto ou
soja quem tem mais utilidade para o equilíbrio da vida e da biodiversidade? As
populações se alimentam de produtos vindos da agricultura familiar ou dos
sistemas monocultivistas destruidores dos ecossistemas? Fica mais que óbvio as
respostas para tais perguntas. Os muitos problemas agrários e conflitos ainda
não foram resolvidos, eles se arrastam e são frutos dos desacatos aos direitos
humanos. Cemitérios são cercados por arames, os camponeses tem que pedir
licença para enterrar seus mortos dentro de suas áreas sagradas. Os tratores e
correntões operam todos os dias cortando árvores do baixo ao auto, assustando e
botando pânico nos animais silvestres e nos homens e mulheres defensores e
defensoras das chapadas como é o caso do recém-assentamento Bracinho que
infelizmente apesar de já ser reconhecido pelo ITERMA, enfrenta pelejas
acirradas com a empresa nos arredores dos picos e fronteiras demarcadas. Os
trabalhadores rurais herdaram dos seus avós e bisavós as áreas de chapadas,
matas e brejais, pois desde tempos bem remotos que estas populações
tradicionais conseguiram dominar as práticas no extrativismo, pesca e
agricultura, conhecem os capões de mato, os buritizeiros, as mangabeiras, puçazeiros
e terrenos bons para a casa de subsistência, que não é predatória. Pode-se
imaginar que essas terras não tinham fronteiras geográficas como as modernas de
hoje em dia, mas possivelmente já existia naquele tempo o chamado respeito. Esses
respeito que não se ver mais nesses nossos dias; enxerga-se apenas a ganancia,
a globalização e desacatos constantes. As técnicas e saberes culturais das
comunidades tradicionais devem ser mais valorizadas, a palavra é essa
“valorização”, os produtos da roça são os que sustentam as mesas dos
brasileiros, mas infelizmente os recursos destinados aos homens e mulheres do
campo são resumidíssimos e quando chegam a valer; já os grandes planos para a
monocultura, estes tem um olhar especial dos governos.
Esta realidade hedionda de maltrato em
relação aos camponeses e camponesas só pode ser combatido com um grito
alarmante dos movimentos sociais do campo, em Brasília com a Marcha das Margaridas,
Grito da Terra Brasil, Grito da Terra Maranhão, espaços e seminários, encontros
de comunidades rurais, lutas das dioceses e paróquias, centros de defesas da
vida, CPT, STTRs e acima de tudo a militância por concretizações de direitos
sociais vinte e quatro horas lideradas pelos próprios membros das comunidades
junto aos órgãos competentes. O Território Livre do Baixo Parnaíba foi criado e
desenvolvido há milhares de anos. Quem dele vive, viveu e sobreviveu... com
certeza sonhou e sonha que seus filhos e filhas viveriam e sobreviveriam como
pessoas dignas de respeito e direitos.
José Antonio
Basto
Militante em Defesa dos Direitos Humanos e da Vida
Email: bastosandero65@gmail.com
(98) 98890-4162
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