Escrever ou dizer “interior” do
Maranhão deveria ser uma coisa obvia. Para qualquer um. Óbvia pelo simples fato
que conhecimento e autoconhecimento se dão pelo interior e nunca pela superfície.
As pessoas insistem em escrever ou dizer “interior” ou “interiores” do Maranhão
sem designar que interior é esse ou que interiores são esses. Para muitos, “interior”
era uma coisa só. Não valia a pena detalhar a que interior se referiam. Convencionou-se
que quem conhecia um “interior” conhecia todos os outros “interiores”. O
discurso de um “interior só” favoreceu a ideia de um “interior” que seja
decorativo como as manifestações folclóricas tipo bumba-meu-boi. A maioria dos municipios
do “interior” do Maranhão não é decorativa do ponto de vista folclórico. Só há
espaço para poucos municípios nesse tipo de decoração. Os outros municipios acolheram
outras formas decorativas de expressão socioeconômica. Nada que colocasse em xeque
a ideia de “interior”. A soja é uma
dessas formas decorativas de expressão socioeconômica que foram abraçadas nas
ultimas décadas pela elite maranhense. A monocultura da soja reviu a ideia de “interior”
maranhense como fora disponibilizado pela elite. Antes, o “interior” do
Maranhão se restringia a fazendas de gado e a alguns núcleos populacionais que
se recordava na época de férias. Como se vê, um Maranhão pastoral. A partir do
momento em que a soja avança, o “interior” vira um grande plantio dessa
monocultura e os núcleos populacionais ampliam suas áreas para receberem gente
de vários lugares diferentes. Como se vê, um Maranhão capitalista. A ideia de
um Maranhão pastoral se sustenta no discurso que o maranhense é pobre, mas essa
pobreza se tornou parte da cultura, ou seja, virou folclore. A
ideia de um Maranhão capitalista se sustenta no discurso que o maranhense é
preguiçoso e, como tal, mostra-se incapaz para trabalhar com culturas como a
soja.
Mayron Régis
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