O recado para a comunidade de Mangabeirinha, município de Urbano Santos, truncou no caminho. Na primeira etapa do curso “O Cerrado que protege”, ficara acertado que a Ermelinda, conselheira de segurança alimentar, retornaria ao povoado. A sua fala, nessa etapa, para as mulheres da Associação de Parteiras de Urbano Santos e para as mulheres do povoado remontou ao pensador e político pernambucano Josué de Castro. Este empunhou a bandeira do combate a fome e abreviou os malefícios causados pela fome nas comunidades mais pobres de Pernambuco, estado assolado pela monocultura da cana de açúcar que escorraçava e escorraça as populações do interior para a periferia de Recife.
As comunidades tradicionais do Baixo Parnaíba maranhense, durante o processo de licenciamento ambiental das áreas que a Suzano arrendaria para a Margusa, entre os anos de 2005 e 2008, cobraram dos governos federal, estadual e municipais os seus direitos constitucionais e seculares de titulação das áreas onde residem e trabalham. A realidade maranhense se desmistificaria em sua completude caso esses direitos fossem assegurados pelo Estado. Na primeira etapa do curso “O Cerrado que protege”, inquiriram se a comunidade de Mangabeirinha era quilombola. Numa região como o Baixo Parnaíba, apreender-se-ia qualquer comunidade como quilombola ou tradicional.
O processo de arrecadação das terras, por parte do Iterma, para a comunidade de Mangabeirinha mofa em alguma prateleira do órgão fundiário. São quase dois mil hectares de área de Chapada. Os governos de ocasião amorfinam o Iterma em peças orçamentárias ridículas nas quais pouco sobra dinheiro para as vistorias pretendidas pelas comunidades. E quando um funcionário se digna a vistoriar alguma área atende pedidos de algum grileiro de terras.
Na sua segunda ida a Mangabeirinha, Ermelinda falaria um pouco sobre o Programa de Aquisição de Alimentos. Os moradores aguardavam outra pessoa e nem sabiam do assunto. O senhor Crispim, membro da associação e marido de uma parteira, roçava uma área no começo do terreno da comunidade. Quem sabia do seu itinerário guiou o carro até bem perto. Encontraram-no almoçando. Na volta para o povoado, ele mostrou um trecho que está em disputa com grileiros de terra.
Alguns moradores se reuniram na capelinha da comunidade com a Ermelinda que tratou do PAA, mas também explicou o que a associação precisa fazer para acessar este programa e outros, lembrando que todo município é obrigado a suprir a merenda escolar com 30% de alimentos provenientes da agricultura familiar, e com o Alberto Cantanhede, membro do CAPPAM e do Fórum Carajás, que exercitou com eles as questões do associativismo e da sua história.
As grandes questões que pegam para essa comunidade são a perda da tradição e a dissociação das gerações, questões correlatas. Os mais velhos não tem mais a quem repassar seus conhecimentos e porventura esquecem seus conhecimentos e os mais jovens preferem outros caminhos que não a luta pela terra.
Mayron Régis
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