domingo, 27 de fevereiro de 2022
Por alguma razão
A sua bisavó, uma vez por mês, recebia na cozinha de sua casa um grupo de agricultores familiares que provinham dos povoados da zona rural de Governador Eugenio Barros. Eles saiam de madrugada de suas casas a fim de serem os primeiros a chegarem no órgão responsável por seus processos de aposentadoria. Aquela senhora de quase oitenta anos passava café e fritava massa de tapioca os quais serviria aos agricultores. Ela, sozinha, cozinhava para um grupo de vinte pessoas que saíram de casa sem botar nada na boca e viajaram duas horas com o propósito de resolver seus problemas previdenciários e retornar o quanto antes. Os bisnetos que acordavam no horário em que ela cozinhava o café e fritava a tapioca se perguntavam o que aquelas pessoas faziam ali tão cedo e em grande numero. Inconcebível para crianças que a vida começasse tão cedo. A bisavó acordava de madrugada todos os dias e a sua rotina compreendia vários compromissos pela casa, então aquela recepção aos agricultores fazia parte dos seus hábitos costumeiros de fazer comida e arrumar casa. O que ficou claro anos mais tarde é que a sua bisavó fornecia alimentos para aquele numero de gente como forma de ser paga com alguns cruzeiros no final dos anos setenta. Ela precisava daquele dinheiro e de qualquer outro que recebesse para comprar carne, arroz, feijão e o fumo pro seu cachimbo. Por alguma razão, ele associava aquela cena a luz de lamparina aos primeiros quadros de Van Gogh como “Os comedores de batata”. Por alguma razão...
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