quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022
Cedro
Se não fosse pelas informações obtidas, aquelas paisagens os tranquilizariam. Tranquilizar talvez fosse pedir ou esperar muito. As paisagens em nenhum ponto do trajeto os intimidariam. Precisavam de uma prova cabal de que corriam perigo. Tudo parecia em seu devido lugar. Onde não se via presença humana tambem parecia estar tudo ajustado. Algo, porém, não estava em seu devido lugar a partir do momento em que perguntaram para a frentista do posto de gasolina da cidade de Arari como chegariam ao povoado quilombola Cedro, município de Arari. A frentista, do lado de uma outra mulher, esclareceu o caminho: “Voces vão nessa rua direto. Atrás da igreja a rua a direita”. Ela deu um alerta: “é longe”. A fala dela os deixou desconfiados. Os amigos a quem pediram informações garantiram que o povoado se distanciava pouco da sede do município. Estranho. A frentista dava a entender a eles que melhor caçarem mais o que fazer. Impressionou-se? Ficou longe de se impressionar. No caminho, a impressão de que a visita ao povoado Cedro ocorreria num péssimo dia se fortaleceu. Um rapaz parara com sua bicicleta numa beira de campo. Pedia-se que uma criatura de Deus desse as caras para que pudessem se informar se Cedro estava longe ou perto; O jovem que levava consigo uma criança e que descansava por alguns instantes apreciando a vista dos campos forneceu mais detalhes logísticos do quanto faltava para Cedro, incluindo um pequeno detalhe: “Subirão e descerão cinco ladeiras e na ultima ladeira verão o povoado. Ainda está longe”. “Eguas, como assim, um deles pensou, melhor voltar, deixar para outro dia”. Aquelas paisagens inundavam seus olhhos e suas mentes de imaginação. Elas pertenciam a quem as cercasse. E os quilombolas lutavam contra as cercas e contra os pistoleiros que assassinavam suas lideranças. Enfim, chegaram em Cedro, onde pistoleiros assassinaram várias lideranças, e concluíram que as pessoas queriam mesmo que não dirigissem o carro pelos campos que circundam a comunidade, os campos que motivam os conflitos entre as comunidades quilombolas e os fazendeiros.A própria comunidade do cedro os recebeucom indiferença “mais um que vem aqui e nada se resolve”.
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