sexta-feira, 2 de julho de 2021
"Olha pra mim"
Nas suas módicas lembranças, a casa onde morou por treze anos se diferenciava das demais por uma singularidade: fora um posto de saúde antes deles morarem nela. Essa descoberta faria no inicio da adolescência, revelada por uma garota negra que o apresentou a família, moradora de uma rua vizinha a sua. Uma outra lembrança, ele carregaria pela vida. Lia com vigor e paciência. qualquer livro ou revista que caía em suas mãos delicadas. A sua família colecionava basicamente a enciclopédia Barsa e a Delta Larousse. Ele colecionava quadrinhos da Marvel e da DC Comics. Uma coleção que mal cabia numa caixa de papelão e da qual se orgulhava. A leitura não o cansava de maneira alguma e talvez, por conta de várias leituras que fez, passou a colecionar passagens de sua vida e da vida de amigos para relembrar anos mais tarde. A mais recente dessas (re)lembranças aconteceu no Chico Discos, um misto de café, bar, sebo e livraria incrustado na confluência da rua dos Afogados com a rua São João. Marcara com amigos que demoravam a chegar. Pois então, reencontrou uma amiga no Chico Discos. Ela entregou uma encomenda ao Chico e foi a sua mesa para reatar conversas perdidas. Não é tão simples reatar conversa passados anos de falta de contato. A conversa beira a formalidade e num determinado momento o que era um simples converse se converte numa conversa complexa sobre s origens. Ela morou na Floresta, bairro vizinho a Liberdade. Eles foram vizinhos e só naquela tarde ficaram a par desse cruzamento. A família dela provinha de Codó: a avó chegou nos anos 30 em São Luis para trabalhar na fábrica Canhamo, o avô foi estivador e a mãe tentara trabalhar como empregada, mas não se adaptou. A avó então determinou que ficasse “olhando a casa” enquanto saia para trabalhar. “Eu vou sair para trabalhar. Olha pra mim”, esse olhar era tomar de conta da casa e depois dar satisfação ao proprietário. A linguagem transparece as relações de posse “Ei tu que não estas fazendo vem aqui fazer alguma coisa”. Apagou-se esses usos incorretos da linguagem. A (re)lembrança desses usos, contudo, não se apagou
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