Ele não saberia dizer como
se perdera. Algum detalhe o induzira ao erro. Algo saira do lugar ou o lugar
saira da sua mente de uma forma que não dera por si? Por que se perdera nesse
lugar tantas vezes visto, ele se perguntava.
Ficara fora por meses. Um
ano ou mais de um ano. Recordava-se do que Domingos lhe pedira antes de
retornar a São Luis. Pedira-lhe que auxiliasse seu irmão que morava em
Buritizinho, município de Anapurus. Respondera: Tudo dependia de recurso. Caso
chegasse não haveria problema algum em auxilia-lo.
Domingos presidia a
associação de moradores do povoado Capão, município de Santa Quiteria. Os mais
de mil hectares titulados pelo Instituto de Terras do Maranhao em nome da
associação do Capão se localizam na bacia hidrográfica do rio Preguiças. A associação
do Capão e a associação do povoado Coceira pleiteiam uma área de Chapada
situada entre as duas comunidades. O tamanho dessa Chapada excede e muito as
áreas de Chapada das duas comunidades. Não se sabe ao certo a medida em
hectares. Só se sabe que em seu solo caiam milhares e milhares de frutos de Bacuri
e Pequi, apenas citando os mais conhecidos e aproveitados, e que a Suzano Papel
e Celulose e o Gilmar Locatelli, plantador de soja, enfrentavam-se nos
tribunais por sua causa. A incerteza quanto ao real proprietário abriu passagem
para que pessoas de comunidades vizinhas entrassem na Chapada e derrubassem
bacurizeiros e outras espécies nativas do Cerrado. Os desmatadores se valem da
omissão dos órgãos fiscalizadores, que por muito tempo fecharam os olhos para
os crimes praticados pela Margusa, pela Suzano e pelos plantadores de soja, e
se valem também do receio das comunidades em denunciar o corte ilegal de
madeira.
O Cerrado é uma floresta de
cabeça pra baixo. A parte mais evidente não se compara ao que se estende por
debaixo da terra. Quilômetros e quilômetros de raízes se entrelaçam e garantem
que o solo não se empobreça e não se perca pela erosão. Trocar essa multiplicidade
de raízes, que se tocam, pela unicidade de uma raiz apenas representa a
perdição para o Cerrado e para as populações que vivem nele e dele.
Perde-se para que se
possa achar. Iludia-se ao considerar improvável que pessoas de dentro das comunidades
da fazenda Tabatinga, vizinha ao Capão, pudessem derrubar a mata nativa do
Cerrado e vendessem-na sob a forma de carvão vegetal. Esse tipo de trabalho
fazia lembrar os fornos da Margusa que abocanhavam a mata nativa dos municípios
de Santa Quiteria, Anapurus, Urbano Santos e São Bernardo nos anos 80 e 90. Só que
Domingos do Capão revelou que moradores da comunidade da Cabeceira da Tabatinga
desmatavam sem dó e nem piedade o Cerrado e Ivanaldo confirmou a noticia. Para que
o peso da denuncia não ficasse sobre as costas de ninguém das comunidades
afetadas pelo desmatamento ficou decidido que o Forum Carajas elaboraria um
texto explicando o que ocorria na região e pedindo providencias aos órgãos ambientais,
ao ministério publico e ao judiciário de Santa Quiteria e do estado do MaranhãoMayron Regis
Nenhum comentário:
Postar um comentário