As
narrativas surgem e ressurgem como algo inesperado, sem sala de espera e sem
pedir licença. Elas partem com urgência como uma noticia partida na noite. Vá.
Não descanse. Parece sussurrar a narrativa no ouvido do seu mensageiro. Não
duvide do conteúdo. Às vezes, o conteúdo se compõe de imperfeições. Uma palavra
ou uma letra falta. Uma palavra se afasta da outra. Mesmo assim, ela prossegue
próximo ao leito do rio. Havia um carro obstruindo o caminho, ela nem deu
trela. Ela mapeou o espaço noturno. A narrativa não se agastou pela noite sem
luar. Fica difícil transitar em uma noite dessas. As pessoas acenam para a
narrativa sem saber o que exatamente viram. Alguém sair uma noite assim, só
pode ser algo sério. A narrativa se apressa. Algo ou alguém a fustiga. Quer
impedir que ela tenha sucesso. Ela retoma o folego na encruzilhada. As últimas
horas a extenuaram. Como percorrer distâncias homéricas sem descansar um
minuto? Em algumas passagens, ela estanca para não se confundir com o começo,
com o meio e com o fim. A noite amedronta. Alguém reza sozinho em seu quarto. Homens
armados cercam as casas. A luz da vela se esvai. Ninguém assoprou. A narrativa
ultrapassa essa comunidade a toda. Basta o que presenciou em poucos minutos.
Ela se arrepiou com a sensação de violência iminente. A violência dos homens a
tirou do sério. Quem usa da violência, escarnece das pessoas. Diogo Cabral,
advogado da Fetaema, esteve no quilombo de São Pedro, município de São Luiz
Gonzaga. O fazendeiro botou capangas e policiais militares para intimidar os
quilombolas. Através do seu celular, ele enviou uma mensagem que despertou essa
narrativa.
Mayron Régis
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