quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Estado e agronegócio desrespeitam direitos constitucionais de comunidades quilombolas no Maranhão

O deputado baiano Tom é um sujeito ganancioso. Ele não se contenta com pouca terra. Comprou 500 hectares de um grileiro dentro do território quilombola Melquides no município de Matões. Esse território se associa ao território quilombola Tanque da Rodagem numa grande extensão de terras que empresas de eucalipto como a Suzano papel e celulose e plantadores de soja cobiçam se apossar para desenvolver seus projetos com apoio da classe politica municipal e estadual. O governador Flavio Dino, em reunião com os representantes do Tanque da Rodagem, declarou que não poderia titular o território porque havia dois documentos nessa área: um da associação do Tanque e outro da Suzano Papel e Celulose. Mesmo que esse documento da Suzano seja verdadeiro e a empresa nunca apresentou qualquer documento para a comunidade, o governador Flavio Dino deve saber que há toda uma legislação que protege os direitos dos remanescentes de comunidades quilombolas. Ao afirmar que não poderia titular o território quilombola de Tanque da Rodagem, ele não quis se indispor com a empresa e com políticos da região que são da sua base de sustentação. A Suzano papel e Celulose impetrou uma ação de reintegração de posse contra os quilombolas do Tanque da Rodagem em 2010 no começo do seu projeto de plantar 600 mil hectares de eucalipto no Maranhão e Piaui e essa ação vira e mexe perturba a constrange a comunidade. Outras comunidades quilombolas na região sofrem assedio moral politico econômico e ambiental para abrirem mão de seus territórios para favorecerem projetos do agronegócio. Na comunidade de melquides, citada acima, o deputado Tom não tem a menor ideia de onde sejam os quinhentos hectares mas como já pagou ele vai com a fina força dos tratores desmatar o Cerrado e as áreas de roça dos trabalhadores sem hesitar. Mais recente, a comunidade de Paiol do Centro, território do Jabuti, município de Parnarama, foi impedida pela policia militar do Maranhão de roçarem suas áreas de trabalho. Os policiais alegavam uma reintegração de posse. Adivinhem quem impetrou a ação? O deputado Tom da Bahia que quer dois mil hectares, onde roçam 80 familias que nunca foram notificados de que essa ação corria na justiça.

domingo, 27 de dezembro de 2020

Meninos eu vi

“O que aconteceria se pudéssemos lembrar de tudo que vivemos?” ”Não é possível, porque se fosse possível passaríamos a vida toda lembrando, não faríamos mais nada e enlouqueceríamos a nós e aos outros.” Essa conversa serve para entrar no assunto deste texto que é um pouco o ato de lembrar e é muito um bando de outras coisas que não se lembra de imediato ou é melhor fazer de conta que não se lembra. Em 1989, a rede globo transmitiu a novela “Salvador da pátria” cujo elenco era Otávio Augusto, Lima Duarte, Maitê Proença e Lucinha Lins. O enredo contava a trajetória de Sassa Mutema, personagem de Lima Duarte, um boia fria que se elege prefeito de uma cidade do interior do Brasil. Um dos personagens mais interessantes da novela era Juca Pirama, um radialista de direita desejo de chegar ao poder, interpretado por Otavio Augusto, que iniciava seu programa com a seguinte frase: “Meninos, eu vi.” O autor Lauro Cesar Muniz construiu uma historia que antecipou a disputa eleitoral para presidente da republica naquele ano em que a direita e a esquerda disputaram o segundo turno e Fernando Collor de mello, representante da oligarquia alagoana e dos interesses empresarias, elegeu-se com uma margem apertada de votos a frente de Luis Inacio Lula da Silva. Para construir e desenvolver o enredo da novela, Lauro Cesar Muniz se utilizou de vários artifícios do oficio de escritor e um deles foi a citação. Juca Pirama é o personagem principal do poema escrito em 1851 por Gonçalves Dias, poeta maranhense romântico, I Juca Pirama e “Meninos eu vi” é um dos versos desse poema. Poucos devem ter se dado conta dessas citações visto que o propósito da novela é divertir o espectador e não dar aula de literatura. Porém, um determinado espectador pode prestar atenção aos nomes, meses depois ler um trecho do poema no livro da escola, juntar as peças do quebra cabeça e concluir que o autor da novela homenageou um autor romântico da sua terra, o Maranhão.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Infra estrutura e igreja Catolica em São Luis

As igrejas fizeram parte de sua vida mais do que gostaria de admitir. Na igreja de Santo Antonio, centro de São Luis, recebera a primeira comunhão em 1983. Crismara em 1988 na igreja Nossa Senhora da Conceição, igreja do Monte Castelo (seu bairro); o ultimo grande evento de sua vida católica. Assistir missa era um dever a ser cumprido e caso faltasse acarretaria recriminações pela semana, algo que você não desejaria nem para seu pior inimigo. A igreja que mais assistira missa fora a Nossa Senhora da Conceição; todo domingo angariava paciência para ouvir o padre e sua pregação por cerca de uma hora. A igreja do Monte Castelo substituira a versão antiga da Nossa Senhora da Conceição, localizada a rua Grande, que a prefeitura de São Luis ordenara a derrubada para dar vez a um prédio moderno nos anos 50, o edifício Caiçara . No eixo da avenida Getulio Vargas, além da igreja Nossa Senhora da Conceição, outra igreja recebe os fieis católicos dia após dia nas suas missas: a igreja São Vicente de Paula. Nesse eixo, o bairro Monte Castelo domina os dois lados da avenida por alguns quilômetros. Ele é um bairro central pelo qual trafegam várias linhas de ônibus. No ponto em que a avenida Getulio Vargas vira a esquerda e recebe o nome de Avenida dos Franceses, o Monte Castelo passa o seu domínio para o Apeadouro, que é um dos bairros mais antigos de São Luis. A igreja São Vicente de Paula se firmou nos anos 40 exatamente no Apeadouro do lado direito com o intuito de acolher os católicos deste bairro como também acolher católicos desgarrados da vizinhança. Monte Castelo, João Paulo, Bairro de Fátima e Bom Milagre não se configuravam como bairros e as pessoas para assistirem missas rumavam em direção as igrejas do centro. Caso pudessem, é claro, pois o transporte coletivo em São Luis se resumia a bonde elétrico. A construção, portanto, da São Vicente de Paula disseminaria ainda mais o domínio da igreja Catolica por partes da cidade pouco tocadas pelo seu discurso. E por partes da cidade com pouca oferta de infraestrutura. As pessoas do bairro Bom Milagre viviam em extremas dificuldades com relação a transporte, saúde, saneamento básico, educação e moradia. Tendo em vista que a cidade de São Luis crescia em termos populacionais para essas bandas o que chegaria a esses lugares antes da infraestrutura seria a igreja Catolica.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

O Show de uma vida

“O que você sabe a respeito de Raimundo Soldado?” A pergunta disparou um alarme no fundo do seu cérebro. O que responderia ao seu amigo que se sentara em uma mesa ao lado da sua? Poderia mentir e responder que esse nome não dizia nada a sua pessoa ou poderia responder uma verdade pobre que Raimundo Soldado cantava brega e nascera em Santa Inês. Para ele, responder a pergunta com a verdade pobre demonstrava uma falta de respeito com o cantor e com a musica brega que não era o seu forte, mas para muitos maranhenses cantar musica brega significava retornar a uma adolescência com pouco dinheiro e muitos sonhos. Enfim, respondeu com pouca ênfase: “Raimundo Soldado, cantor de musica brega, sei sim.” O amigo relatou o dia em que por um acaso assistira um show de Raimundo Soldado na cidade de São Mateus. Anunciava-se um show que promoveria musica de qualidade. Ele chegara a cidade no dia anterior pela estrada e ao ouvir o anuncio resolveu fincar os pés por mais tempo do que pretendia. Pela sua expectativa, o cantor viria num carro de luxo e sua banda viria atrás em outro carro. Não foi bem o que viu. Um caminhão chegou e dentro dele e na carroceria se via um grupo de homens. O Raimundo Soldado vinha na boleia ao lado do motorista que ficou se sabendo tocava bateria. O amigo desacreditou no que vira. O motorista era o baterista, o carona era o cantor/produtor e o restante da banda viajava na carroceria tomando de conta dos instrumentos. Se os cálculos de tempo e espaço estiverem corretos, esse show deve ter ocorrido nos anos 80. A chance de chegar um show de qualidade nos interiores do Maranhão era mínima, então o espetáculo improvisado que Raimundo Soldado praticava supria essa carência. O cantor saia de sua terra natal Santa Inês para cantar a noite toda nas cidades de beira de estrada do Maranhao. Nesse dia, em São Mateus, Raimundo Soldado começou a cantar as dez horas da noite e parou as cinco da manhã do dia seguinte. “Foi o show da minha vida”, confidenciou o amigo.

domingo, 20 de dezembro de 2020

A São Luis displicente e rustica

Por vários meses, a praça da Misericordia seguiu fechada para a população de trabalhadores, comerciantes e moradores que a cruzavam ou circulavam por ela todos os dias de suas vidas. Os únicos que adentravam em seu recinto cumpriam deliberações de entreterem-se com seus objetos de trabalho e com as formas obtidas em horas ininterruptas de esforço físico indispensável. A reforma obedecia um cronograma de obras desencadeado pela prefeitura que se estendia por toda a cidade ou parte dela. Com o fechamento da praça, os usuários costumeiros sumiram da praça a não ser claro os moradores das casas ao redor que não podiam sumir nem se quisessem. Sem as casas ao redor, o numero de pessoas que frequentam a praça seria bem menor e com outro perfil um pouco semelhante ao publico que frequenta a praça da Alegria. E se não houvesse o hospital à sua frente, a praça teria um outro nome porque o nome do hospital é da Misericordia e não receberia pessoas que se sentam em seus bancos por alguns minutos solenes como forma de descanso solitário para retornarem aos seus postos ao lado de seus parentes. A praça da Misericordia é um cruzamento mais de pessoas do que de carros e essa percepção/conclusão faz você pensar num bairro de zona rural a quilômetros de distancia do centro de São Luis no qual as famílias passeavam no fim de tarde com os filhos e com os amigos. A zona rural de São Luis a cada dia que passa perde esse charme interiorano para ganhar em troca os benefícios da modernidade. Portanto, essa percepção/conclusão da praça da Misericordia se refere não a atualidade e sim a uma época em que perto do que se convencionou chamar centro as pessoas se comportavam e viviam sob formas mais displicentes e mais rusticas de existencia. Ficar sentado à calçada e beber uma cerveja por um bom tempo como se não tivesse de importante para fazer é uma forma das mais displicentes e das mais rusticas de existencia. A praça da Misericordia, pelo tempo que durou a reforma, ficou sem expor essa e outras formas: o rapaz que vende a laranja cortada de um jeito impraticável para o cidadão comum, o idoso que disputa com o bar a audição dos bebedores de cerveja ao colocar seu som em cima da mesa e o senhor que responde a uma questão mesmo sem fazer parte da conversa.

sábado, 19 de dezembro de 2020

Urbanismo e discurso politico

O discurso politico é um discurso genérico e repetitivo. Não dá para pensar outra coisa ao escutar o prefeito Edivaldo Holanda em sua tarefa de inaugurar obras publicas recém concluídas. “O centro de São luis está ficando cada vez mais bonito...”, essa frase é o preambulo para que o prefeito discorra sobre a construção do largo em frente a igreja de São João. Nada a colocar empecilhos com relação a obra cuja área se destinava a estacionamento de carros e como declarou uma pesquisadora “os flanelinhas faltavam estacionar os carros dentro da igreja”. Afirmar que a cidade ficou mais bonita pelo simples ato de encher de cimento esse ou aquele outro trecho é uma outra historia. A obra devolveu um espaço que pertencia a igreja e que fora tomado pelo asfaltamento dessa intersecção da rua São João com a rua da Paz. Nada mais do que isso, pois quem em sã consciência vai defender que uma obra é bonita por se constituir só de cimento? Na historia de São Luis, houve inúmeros outros casos mais escabrosos de derrubada de construções historicas que deram lugar a construções modernas. E dessas construções/destruições pouco há registros. A igreja de Santaninha, construída a rua Santaninha, foi demolida nos anos 40 e em seu lugar surgiram casas, comércios e o prédio da Caixa Econômica Federal. Para o major Taborda, personagem principal do livro “Largo do Desterro” de Josue Montello, parecia inacreditável não encontrar a igreja de Santaninha onde ela deveria estar. Ele que morara tanto tempo fora de São Luis, ao retornar de Itapecuru na década de 40, espera rever a mesma cidade que deixara. Não a encontrou, pois as transformações urbanas e econômicas experimentadas no âmbito da modernidade capitalista aniquilaram as referências histórico-estéticas de toda uma geração. Infelizmente, a “grande” obra do largo da igreja de São João no governo Edivaldo Holanda não repõe a História em seu devido lugar.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

O centro de cada um

Caso alguém quisesse pegar informações a respeito do centro de São Luis aquele era o cara. Assim disseram num celebre bate papo. Ele não se fazia presente no instante. Chegaria alguns minutos após a assertiva. O seu dia se iniciava no bairro São Francisco, onde estabelecera morada. Batizava a manhã com um café reforçado no mercado central. O narrador desta historia se pergunta porque mercado central já que o mercado fora construído numa baixa propicia a alagamentos e distante dos casarões aristocráticos típicos do tão falado centro histórico da capital maranhense. O que interessa, por enquanto, não é saber os porquês de construir um mercado nesse ponto geográfico, mas sim saber o porque de alguém subir num ônibus tão cedo e tomar um café num mercado a quilômetros de sua moradia. Se bem que, os mercados de São Luis escondem maravilhosos (será?) pratos que se revelam tão somente aqueles insatisfeitos com a modorra dos self services. Um café com leite e cuscuz com ovo frito de manhã cedinho se pode comer em qualquer padaria minimamente qualificada. Um mocotó requentado do dia anterior só dá para comer com segurança no café da manhã de determinados estabelecimentos e o mercado central é um desses lugares. Não se sabe ao certo o que lhe atrai no café do mercado; o cuscuz de milho, o café com leite, os ovos fritos na manteiga ou o mocotó (seria um atrevimento perguntar na bucha). Quem sabe seja só fato de retornar as suas origens de um centro particular (de suas memorias), afinal nascera e criara-se na rua Godofredo Viana também conhecida como beco do Teatro. Para os ludovicenses natos, é tão típico dar mais de um nome a um logradouro, não é mesmo?

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Pensar

O dia nublara no meio da tarde. A tarde consistia numa praça, num bar, num hospital e uma lanchonete. O filosofo fotografo apelidara o jornalista de escritor de what zapp. Quanta maledicência!!! A praça jorrava água de suas profundezas. Se pudesse beijava a água em preto e branco. Gosto e desgosto. Duvide para crer. As crianças brincavam com seus imaginários brinquedos. O tempo corria desenvolto. Por nada desse mundo, esperava aquilo. O filosofo fotografo escolhia a melhor cena para fotografar. Nada seguia adiante. Pensar equivale a uma pequena adivinhação

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

O casarão

A chuva destacava a praça. Uma chuva que beliscava as pessoas desavisadas que conversavam sozinhas desgovernadas e desalentadas. Queria que nada odetivesse em seu percurso pela praça esqualida de tantas reformas imperfeitas. O casarão azulado o assombrava pelos livros lidos e csrcomidos. A beleza aprisionava quem a via só pelo lado de fora. O declínio escorria pelos casarões escarnecedores.

domingo, 6 de dezembro de 2020

As praias

Quem vai pela primeira vez a cidade de Alcantara, acredita que se deslocou no tempo e não no espaço. As pessoas se locomovem internamente mais com os pés e menos em automóveis e motos que são mais utilizados para os que saem fora dos limites da cidade. Eles, após a reunião no STTR de Alcantara, almoçariam galinha caipira no restaurante da Têca; para acharem o restaurante foram perguntando para um e outro. O um não sabia e o outro respondeu pelo um e no final ficou tudo bem. A sensação de um deslocamento temporal não se desfez e intensificou-se nos minutos que se dedicaram as praias de Alcântara. Demora uma hora para chegar a praia de Mamuna de carro. O tempo que se leva para chegar se diferencia do tempo que se leva para permanecer. No carro, conversou-se sobre politica e economia brasileiras. Na praia, conversou-se sobre as praias da região e sobre pesca. A população de Alcãntara se alimenta basicamente de pescado e a região de Mamuna, que o Centro de lançamento Aeroespacial quer ocupar, é a que rende mais peixe no município. A instalação do Centro de Lançamento Aeroespacial nos anos 80 impactou a segurança alimentar de comunidades quilombolas que foram remanejadas de seus territórios a beira da praia. Sem praia, sem peixe e sem historias para contar. Inesperado (?), portanto, que essas historias apagadas pelo progresso tecnologico ressurjam parcialmente em outras historias. Como num passe de mágica, o artista Tom Bezerra, originário do litoral maranhense, reviu pela lente de sua memoria os barcos de pescadores atravessando o mar por fora da costa em direção a São Luis. Uma viagem que levava dias e que por vezes parava nas praias de Mamuna, São João de Corte, Aruoca, Outeiro, pericaua, Porto Rico, Guajerutiua, Mungunça, Caçacueira, Valha-me Deus, Prainha, estandarte, Turiaçu, Cunhã cuema, Ponta grossa, Bate-Vento. Quase tudo nome indígena. O tempo leva e o tempo traz. Assim é a historia.

O pirão de parida da Têca em Alcântara

Sabem aquela galinha caipira que, de tão boa, no final da comedoria, a pessoa joga um pouco de arroz e farinha na panela onde sobrou um pouco de caldo e faz uma gororoba daquelas? Ou, então, lambuza o pão com o caldo, pois para alguns o caldo da galinha caipira é tão importante quanto qualquer pedaço? A galinha preparada pela Têca em seu restaurante no centro de Alcantara possibilitava essas manifestações efusivas de gulodice para aquele cara de pau que não se envergonha à frente de ninguém. Galinha caipira que se preze é magra porque come de vez em quando e cisca muito o dia todo para comer o suficiente a ponto de encher o papo. O caldo da galinha caipira é encorpado. Diferente da galinha de granja que come muito, engorda rápido e seu caldo é ralo. A Têca prepara bem uma galinha capira, mas não come a galinha que prepara (tem cozinheira desse jeito). Como assim, não come? Por certo que ela aprendeu a cozinhar com a mãe, senhora de mais de 80 anos que mora na zona rural de Alcantara. Ela desaprendeu com a mãe foi comer o prato e os seus assessórios como o pirão de parida, o qual a Têca garante ser afrodisíaco devido a experiência de sua mãe, genitora de doze filhos. Uma coisa que se aprende no restaurante em relação a galinha caipira: para apreciar é preciso encomendar com algumas horas de antecedência se não fica chupando dedo. A própria Têca encomenda no começo da semana uma quantidade X de caipira aos seus contatos, na zona rural; o suficiente para servir a sua clientela que dependendo da época varia. Umas épocas aparecem mais turistas e em outras aparecem menos. Então, a primeira coisa a fazer, para quem chega numa cidade de interior e não quer passar fome, é localizar os restaurantes disponíveis e encomendar uma galinha caipira ao molho pardo naquele que houver uma cozinheira que faça lembrar a Têca e suas historias de pirão de parida em Alcantara.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Misterio do Samba

Homenageia-se o samba no dia dois de dezembro. Ele escutara um articulista da Globo News tecer loas a Cartola, Noel Rosa e a Paulinho da Viola, do qual era devoto. Por que o samba precisa de um dia de homenagem? O samba, enquanto gênero musical e literário, forma-se a partir da mistura de gêneros musicais, principalmente, o maxixe, no final do século XIX. Por muito tempo, o samba foi um ritmo balizado pelos instrumentos de corda e de sopro e, geralmente, o local de ensaio acontecia no fundo de quintal de residências e terreiros de candomblé por conta do samba ser mal visto, mal falado e perseguido pelo Estado e seu aparato repressivo. O samba não nasceu pronto e nem se sabe ao certo onde, dia e em que condições. O antropólogo Hermano Vianna, em seu livro “O mistério do samba”, argumenta que a consolidação do samba se deu pelos contatos de sambistas com compositores clássicos como Villa Lobos nos anos 30. O samba nasceu de encontros como esse ou esses encontros cumpriram uma etapa de sociabilizar e de tornar palatável o gênero? Os grupos musicais de origem africana, aí incluindo o samba, enfrentavam dificuldades de serem aceitos pelas elites que governavam as cidades. O geografo Luis Eduardo Neves relatou o caso de um grupo maranhense que tocou bumba meu boi, que no caso do Maranhão dialoga com o samba, na surdina em uma chácara construída no antigo Caminho Grande, município de São LUis. O João Paulo, zona rural de São Luis no final do século XIX e começo do século XX, era o máximo que as brincadeiras podiam chegar.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

O mercado das Tulhas e o mocotó

A chuva aproximou as pessoas que almoçavam na parte interna do Mercado das Tulhas. As nuvens escuras se aglomeraram por sobre o centro de São Luis no final da manhã de segunda feira. Quem parava para ver as nuvens, logo duvidava que delas saísse uma gota de água ou se saísse seriam poucas. Mãe e filha (negras) pediram mocotó e fígado para almoçarem ao redor de uma mesa de madeira. Além delas duas, havia um casal nesse mesmo restaurante. O dono do restaurante (o Deco) saira com a intenção de entregar quentinhas. A sua esposa e uma assessora cozinhavam e recepcionavam os clientes. Elas foram rápidas na cozinha e, dentro de vinte minutos, servia-se o mocotó e o fígado. E veio a chuva. A mãe não esperou os pingos aumentarem e mudou-se de mala e cuia para debaixo das telhas do mercado. A filha assegurava que a chuva não passaria de um chuvisco. A chuva não esmoreceu por vários minutos. De pertinho, dava para ver o que cada uma comia. A senhora comia o mocotó e a moça comia o fígado (em determinado momento comentou que fígado só prestava bem quentinho). A conversa das duas se arrastava por um mercado que não existia mais: “Será que ainda se vende carne de cutia e carne de paca por aqui?”. Não se vendia mais esse tipo de carne nem ali e nem outro mercado de São luis então, provavelmente, aquela senhora botara os pés no Mercado das Tulhas numa época em que as populações ludovicense e de cidades vizinhas (Alcantara, Paço do Lumiar, Ribamar e Raposa) consumiam pouca carne de gado e para suprir suas necessidades de proteína apegavam-se a carne de caça e mariscos. O mercado das Tulhas não vendia mais carne de caça, mas continuava vendendo camarão. Ela se recordava de caminhar do hospital Djalma Marques (Socorrão) ao mercado e comprar camarão para seus colegas almoçarem. Devia ser anos 80, numa cidade de São Luis com poucos recursos financeiros e com muita fome de comer e viver. Quarenta anos passados, ela traçava um mocotó num mercado bem diferente do que vivenciara e com a filha a tiracolo.