domingo, 5 de novembro de 2023

de manhã cedo

De manhã cedo, tirava alguns minutos para caminhar pela estrada e reverenciar a mata que há mais de dez anos se formou na propriedade do Vicente de Paulo na chapada da comunidade carrancas município de Buriti. Viu aquelas árvores pequenas e de pequenas crescerem e virarem jovens, não todas lógico. Pode de calcular o número de árvores num hectare, mas enxergar todas e impossível. Essa e uma das fraquezas e uma das virtudes do ser humano. Por não ter condições de abarcar o todo, o ser humano aprecia os detalhes e vários detalhes na propriedade do Vicente de Paulo saltam aos olhos. Os bacuris transbordam nos galhos dos bacurizeiros como se fossem saltar. Ainda não está na hora. Só daqui a cinco meses com as primeiras chuvas. Nesse trecho das chapadas de Buriti, a propriedade do Vicente de Paulo se conforma como uma das poucas ricas bacuri que restaram. E além da riqueza vegetal há a riqueza climática. Acordar de madrugada e sentir frio em pleno setembro, onde se viu isso? Riqueza climática e riqueza vegetal caminham juntas.

paleontologos

A reunião rolaria domingo na Vila Kauan, município de Araioses. Um gaúcho mandara derrubar a casa de um morador a beira da pista. Um trator veio e derrubou a casa e os cajueiros. O objetivo da reunião seria discutir ações e medidas que se contrapusessem aos projetos do dito gaúcho que pretende desmatar mais de mil hectares. Ficara na dúvida. Ousaria pegar estrada e participar dessa reunião da qual não tinha maiores informações? Pediu a um amigo de São Bernardo que fosse a Vila Kauan e recolhesse informações sobre a reunião e sobre a casa derrubada. O amigo foi. Confirmou a derrubada, mas não confirmou a reunião. Esse amigo se mostrava totalmente descrente quanto ao destino do Cerrado nos municípios de São Bernardo e Araioses. "Jornalista, não demora muito e vai sobrar pouca coisa. Quem eu acreditava que nunca iria vender suas terras pros gaúchos, vendeu. Uma área de quase três mil hectares que pega da Baixa Grande e vai até o Enxu. Deve sobrar poucas areas como a da Vila Kauan, Alto Bonito, Cajueiro, São Miguel e São Benedito. Tudo cercado por plantios de soja. Ah e uma pequena propriedade onde vou plantar pequizeiros". Os plantadores de soja se infiltraram por vários lugares. Compraram áreas em Tutoia e gostariam de comprar uma área de 190 hectares do Chico. Comprar e maneira de dizer. Querem e tira lo de lá. As ameaças a agricultura familiar e comunidades tradicionais por parte da soja perfuram um quadro aparentemente monolítico de paz e tranquilidade nessa região. Paz em termos. Porque mesmo antes da chegada da soja algumas comunidades como a comunidade Baixão da subida sofria pressão do DNOCS departamento nacional de obras contra a seca que administra o perímetro irrigado de frutas e quer aumentar seus plantios. E a mais recente ameaça e a do gás natural vendido como paraíso. A verdade é que os paraísos naturais estão dando lugar a paraísos artificiais criados pelas monoculturas e pelos combustíveis fósseis.

vila kauan

A reunião rolaria domingo na Vila Kauan, município de Araioses. Um gaúcho mandara derrubar a casa de um morador a beira da pista. Um trator veio e derrubou a casa e os cajueiros. O objetivo da reunião seria discutir ações e medidas que se contrapusessem aos projetos do dito gaúcho que pretende desmatar mais de mil hectares. Ficara na dúvida. Ousaria pegar estrada e participar dessa reunião da qual não tinha maiores informações? Pediu a um amigo de São Bernardo que fosse a Vila Kauan e recolhesse informações sobre a reunião e sobre a casa derrubada. O amigo foi. Confirmou a derrubada, mas não confirmou a reunião. Esse amigo se mostrava totalmente descrente quanto ao destino do Cerrado nos municípios de São Bernardo e Araioses. "Jornalista, não demora muito e vai sobrar pouca coisa. Quem eu acreditava que nunca iria vender suas terras pros gaúchos, vendeu. Uma área de quase três mil hectares que pega da Baixa Grande e vai até o Enxu. Deve sobrar poucas areas como a da Vila Kauan, Alto Bonito, Cajueiro, São Miguel e São Benedito. Tudo cercado por plantios de soja. Ah e uma pequena propriedade onde vou plantar pequizeiros". Os plantadores de soja se infiltraram por vários lugares. Compraram áreas em Tutoia e gostariam de comprar uma área de 190 hectares do Chico. Comprar e maneira de dizer. Querem e tira lo de lá. As ameaças a agricultura familiar e comunidades tradicionais por parte da soja perfuram um quadro aparentemente monolítico de paz e tranquilidade nessa região. Paz em termos. Porque mesmo antes da chegada da soja algumas comunidades como a comunidade Baixão da subida sofria pressão do DNOCS departamento nacional de obras contra a seca que administra o perímetro irrigado de frutas e quer aumentar seus plantios. E a mais recente ameaça e a do gás natural vendido como paraíso. A verdade é que os paraísos naturais estão dando lugar a paraísos artificiais criados pelas monoculturas e pelos combustíveis fósseis.

itens de alimentação

A maneira como um povo lida com seus itens de alimentação revela um pouco da sua natureza histórica e revela um pouco também para onde esse povo caminha. O cerrado e um dos biomas que mais pode contribuir para a alimentação dos brasileiros principalmente no âmbito das frutas. A cada dia que passa, o Cerrado perde hectares e mais hectares para as monoculturas e isso depõe muito contra boa parte da sociedade brasileira que prefere a vulgaridade a sofisticação. O cerrado e um bioma sofisticado não desmerecendo os outros. A sofisticação está em vários fatores mas dois são mais esplendorosos: o fato dele crescer pra baixo e isso decorre da necessidade de conservar o solo os nutrientes e os microorganismos (e nem a mais maravilhosa química consegue igualar esse feito) e o fato de sua flora apresentar diversos frutos de inigualáveis sabores. O bacuri e o mais sofisticado de todas as frutas presentes no Cerrado . Uma fruta Amazônica que se adaptou ao Cerrado e nele fez sua morada em grande número . Tanto a polpa que envolve o caroço do bacuri como a casca do fruto se prestam a um suco a um doce e etc combinando muito bem com o leite e o açúcar. O suco de bacuri e um dos mais comercializados em boa parte do Maranhão mas com os desmatamentos nos Cerrados a polpa vem faltando nas lanchonetes e restaurantes.

soja e fracking

E possível estabelecer relação entre a monocultura da soja e os combustíveis fósseis? E possível de diversas formas estabelecer essa relação. O tempo histórico. A ocupação dos cerrados pelas monoculturas acompanha o incremento da indústria petrolífera no Brasil a partir dos anos setenta. Quimica. O que sustenta a soja como monocultura produzida em larga escala são produtos da cadeia de petróleo. A soja e uma cultura envolta em plástico. As mudanças climáticas vão empurrar as monoculturas para fora do Cerrado já que ele ficará mais quente e seco. Sem a soja, o que sobra para os municípios exercitarem como atividade económica? Extrair gás natural ou gás de xisto. Muitas das áreas desmatadas nos últimos anos ou pensadas para serem desmatadas nos próximos vem com o disfarce da soja como destino mas na verdade ficarão de prontidão para receberem investimentos da indústria do gás natural ou do gás de xisto.

antes da chegada

Antes da chegada das grandes empresas e dos plantadores de soja nos Cerrados maranhenses, as comunidades tradicionais e pequenos proprietários se distribuíam por centenas de hectares de baixoes e chapadas. As famílias de agricultores familiares extrativistas e pescadores percorriam as áreas que entendiam como suas pelo uso tradicional. Qual e o tamanho ideal que uma família precisa para poder se dedicar a agricultura a criação de animais a pesca ao extrativismo de frutas e o corte de madeira? O Marcelo morador da comunidade da bacaba município de Buriti vendo que as empresas de monoculturas de soja e eucalipto vinham se aproximando rapidamente das terras da sua família não pensou duas vezes: fez o georreferenciamento e começou a cercar uma área de 80 hectares. Os recursos para essas finalidades poucas famílias de agricultores tem disponível. Sabedores das dificuldades que as famílias têm para regularizar seus territórios, as empresas seguem a risca aquele velho script : intimidação coação ameaça queimada de propriedades licenças ambientais irregulares falsificação de documentos em cartório e etc. A terra que Marcelo quer regularizar consta no cartório como pertencente a sua família e ele ficou sabendo que um parente seu queria vender para as empresas. Portanto teve que iniciar um entrevero com esse parente e mandou um recado para as empresas não se meterem a besta que aquela terra tinha dono. E uma terra rica em Murici cajui espécies frutíferas e rica em candeia madeira de lei nobre que podem ser úteis para seus familiares.

balzac

Todos as personagens de Balzac são geniais. Infelizmente, não recordava qual livro tinha lido esse comentário. E possível que esse comentário venha de Baudelaire. Exageros a parte, um bom número das personagens de Balzac são realmente geniais. A genialidade que força o indivíduo a superar os limites sociais que lhe impõe a realidade e a sociedade. E as personagens de Dostoiévski? Todos com profundo sentimento de inferioridade. Eles não querem superar os limites sociais. Eles tensionam esses limites nas suas imaginações. Raskolnikov assassinou as agiotas e ele só expõe a culpa em seus pensamentos e por meios indiretos. Ele as matou por não poder pagar o empréstimo. Complexo de inferioridade psicológico e financeiro. Crime e castigo e bem mais do que um romance social. As personagens de Dostoiévski não são geniais. Eles não querem ascender socialmente. Eles querem a redenção e a redenção requer em vez de genialidade personagens humildes fracos e emocionalmente instáveis.

numa rapida analise

Numa rápida análise das narrativas escritas por brasileiros, percebe se uma baixa presença de um elemento fundamental para a vida humana. Os escritores se dedicam pouco (pouco tempo e poucas páginas) ao tema dos recursos hídricos. O que se lê geralmente aparece como um problema, caso da chuva. Esse cenário muda quando a análise se desloca para o campo da música. Quando a chuva vem, perguntam de forma implícita Luiz Gonzaga e tantos outros. Dos grandes romancistas, Guimarães Rosa e o que mais se entrega a água e seus ambientes. A sua literatura absorve e se deixa absorver. Grande sertão veredas não e o maior romance por acaso. Ele compreende quase todos os biomas e delícia o leitor com os nomes de vários rios cursos de água alagados e etc. Mesmo em ambientes secos, a narrativa de Guimarães se agoa. E voltando a carência de narrativas voltadas para ambientes aquáticos. Essa carência explica em parte o desleixo e a apatia com o que os maranhenses tratam os recursos hídricos. Vem a mente nesse momento, o desmatamento licenciado pela secretaria de meio ambiente do Maranhão e executado pela família Totel próximo a comunidade quilombola de bom descanso município de São João do soter. Mais de 1000 hectares. O desmatamento ocorre numa área que embreja e predominantemente de babacuais. Não vai embrejar mais. Vem a mente que os Totel barraram o curso de água que corre para o rio Itapecuru e que passa pela comunidade. Não corre mais. E por fim vem a mente que o estado do Maranhão não tem secretaria de recursos hídricos.

radiohead

Muitos disseram que o Kid a era o lado b ou o lado obscuro do ok computer disco ou CD lançado pelo radiohead em 1999. Lado obscuro numa clara referência a dark side of The moon do Pink Floyd de 1973. Poderia se pensar em ok computer kid a e o amnésiac como uma trilogia ou como um disco triplo tipo os discos duplos dos anos 70 que significavam o apogeu o ápice das grandes bandas e grandes artistas. Ummagumma e um dos grandes discos duplos e o grande disco do Pink Floyd. O radiohead no fundo queria fazer um disco duplo referência como ummagumma. Ele fez um disco triplo que e o ápice do rock da música eletrónica do pop do progressivo. E um disco frio da frieza mas também da saudade da perda. E por fim, e um disco que lembra os estudos clássicos de grandes compositores. De música clássica e de jazz. Bach, haeden, miles Davis, John Coltrane e tantos outros.

a historia

A história e duração e a história e permanência. Duração e a jornada por séculos ou milhares de anos. Permanência e o ficar e não querer sair. A história de várias famílias pobres pelo Maranhão e a da permanência o do não desistir do que realizaram no lar na roça e dos laços constituídos. A história de um prédio ou um casarão histórico em São Luís permanece menos pela sua duração de séculos e mais por resistir a deterioração do seu aspecto. Um prédio ou um casarão histórico permanece na mente de uma pessoa quando ela passa várias vezes a sua frente. O conjunto de prédios e casarões da praça de santo Antônio centro de São Luís permanecem com saúde mesmo com muitos séculos na carcunda. Não mantém a feição como foram construídas mas a feição desgastada e envelhecida e íntegra e honesta. Só não deve se deixar deteriorar e desabar porque nem a feição resiste.

todo principio

Todo princípio de dezembro, ele faz seu experimento para descobrir se o inverno será chuvoso ou não. Coloca sal num papel com os nomes dos meses escritos em vários espaços a noite e na manhã seguinte bem cedo pega o papel para ver como o sal se comportou. Se o sal umidificar os meses relativos ao inverno quer dizer que o inverno será bom. Se ocorrer o contrário, quer dizer que o inverno será fraco. Esse experimento e uma das tantas armas que o agricultor possui para se preparar pelo que vem pela frente. E um experimento cujas raízes históricas vem do catolicismo. Ele acontece no dia dedicado a uma santa católica na segunda semana de dezembro. No imaginário popular os santos e santas intercedem pelos desafortunados. Na total carência de informações técnico científicas, há de se precaver de alguma forma. Os modelos da metereologia atendem os interesses das grandes empresas e grandes fazendeiros. Os agricultores familiares buscam seus modelos nos santos e na religião.

perdia de vista

Ele perdia de vista aquele oceano aquela praia e aquela gente que mal se definia por um olhar. Carecia de mais de mil palavras para descrever. Nem conseguia. O seu dicionário era curto comparado com o oceanes daquelas pessoas. Um oceanes de tal largura de tal profundidade e de tal infinitude. Eles saiam para pescar perto e longe. Sururu, sarnambi, pescada, pacamao, caranguejo E etc. Aprende se a pescar como se aprende a falar. Dona Catarina, chamavam na de proprietária de Santa Maria de Guaxenduba porque ela lutava para que o território da resex/quilombo continuasse com os moradores, lembrava dos dias em que se arrastava pela lama para pescar pacamao num lugar não muito perto de onde conversavam olhando para o oceano e para seus netos que brincavam num córrego de água doce. Ela preparou um suculento almoço para aquelas visitas. Não se quer mais nada: pescada e sururu. E muito oceanes. As visitas almoçaram e uma delas notou alguém se movendo por entre as águas do oceano. Élida filha de Dina Catarina decodificou os procedimentos do rapaz a beira mar. "Ele traz sururu dentro da caixa. Deve ter molhado e quando molha fica pesado pra carregar andando pela praia. Melhor empurrar junto com as águas do mar e no ponto certo sai para carregar sobre a areia da praia". Oceanes puro. As visitas queriam entender aquele mundo bem de frente mas queriam entender o mundo deixado pra trás. Durante o trajeto de São Luís para Icatu se esforçaram para decifrar as palavras que formavam a história daquela região. " O que e Icatu? O que e Guaxenduba?". Aquela brincadeira era só pra passar o tempo? Enfim, eles viram o tempo passar na varanda do restaurante de dona Catarina e Élida.

desmatamento novo

E um desmatamento novo?" Desmatamento novo para eles que não percorriam a região dos cocais havia meses. Pelo descampado, o desmatamento contava com meses de intensa atividade e se tornou visível só mais recente. Os caras do agronegócio não brincam em serviço.O desmatamento que eles vislumbraram ficava entre os municípios de Codo e Caxias. Azar que possuía uma imaginação fértil. Passou a imaginar o que os caras desmataram numa rapidez paralisante. Bacuri, pequi, babacu? Que mais? Para plantar soja? Em uma de suas muitas viagens parara em uma barraca a beira da estrada na qual dois homens vendiam mudas de espécies nativas do cerrado. A barraca se inseria no território da comunidade de Buriti Corrente que se tornara assentamento do INCRA graças a coragem dos moradores que peitaram a empresa costa pinto que e proprietária de milhares de hectares e que planta cana de açúcar. Os dois homens indicaram a existência de várias áreas vendidas para produtores de soja e que nelas podia se encontrar vários pés de bacuri e vários moradores. Estes moradores tiveram que deixar essas áreas. Esse seria o caso das famílias de buriti corrente se não houvessem resistido a pressão da costa pinto.

apenas escreva algo

Apenas escreva algo. Algo honesto. Escreva que se perdeu no caminho. Que os caminhos se modificaram ou se moveram com os desmatamentos das Chapadas para os plantios de soja. Ele colhia bacuri de vários tamanhos todos os anos nas chapadas dos seus parentes. Tanto bacuri que juntava gente na safra entre janeiro e abril. Os proprietários brigavam com quem pegava sem pedir permissão. Os que pegavam sem pedir permissão achavam que não faziam nada de mais e nem nada de mal e continuavam colhendo. Nos meses de verão, as pessoas evitavam as chapadas porque elas vertiam secura. Com as chuvas, a feição das chapadas mudava. O número de pessoas aumentava como se não houvesse outro lugar para estarem. Corriam feito ensandecidos para catar bacuri antes dos outros. A questão entre os proprietários de chapada e os catadores de bacuri nunca se resolveu. Quer dizer, resolveu na hora em que os proprietários venderam suas chapadas para os gaúchos derrubarem os bacurizeiros e plantarem soja. Os catadores de bacuri se lamuriam e nada fazem. Afinal, quem venceu a questão?

cada um

Cada um fala como sabe e como pode. Pressionar para que? Com os paciência, a pessoa solta o verbo e fala até o que diz não saber. Não são todos os dias que se acorda de boa vontade para falar com os outros e ouvir palavras da parte deles. "Paz na terra aos homens de boa vontade...". Fica se devendo o contexto dessa passagem da bíblia, mas encontrar homens e mulheres de boa vontade e muito difícil. Deve se contar com sorte e um bom papo. A dona Catarina e a Élida, sua filha, tiveram boa vontade em atende los naquela manhã de segunda feira em seu restaurante a beira do oceano atlântico no povoado Santa Maria de Guaxenduba. Quase uma consulta, por essa razão o verbo atender. Eles as consultariam sobre um possível projeto de hidrogênio verde que poderia se instalar em Icatu. Hidrogênio verde, fracking gás de transição transição energética são termos que entraram de sola na vida das comunidades tradicionais e quilombolas. Eles as consultariam vislumbrando o oceano atlântico. Poucos pessoas o tratavam pelo nome Atlântico. E bom tratar as pessoas e os espaços pelos seus verdadeiros nomes. Daqui a pouco pode ser que queiram mudar os nomes Icatu santa Maria de Guaxenduba por algum nome mais moderno ligado ao hidrogênio verde.

ekes chegavam a noite

Eles sempre chegavam a noite por caminhos que surgiam inesperados entre campos de soja e a vegetação do cerrado. Nos primeiros anos, Vicente de Paulo, agricultor familiar do povoado Carrancas, alertou o que os plantadores de soja gostariam de desmatar mais de três mil hectares nas chapadas do povoado e dos povoados vizinhos. Se a memória não falhou, essa conversa ocorreu no ano de 2011 em frente a casa do Vicente de Paulo e de Dina Rita. Portanto, perfazem doze anos. Muita coisa mudou desde então. Uma das coisas que não mudaram foi a merenda que dona Rita sempre ofertava a eles em suas aparições noturnas. Galinha caipira, carne de gado, arroz, feijão e salada. Por vezes, ela via o tempo passar e não preparava a merenda. Tudo se resolvia com um café e uma farofa de ovo. Essa conversa de merenda veio a tona porque certo dia dona Rita e Vicente de Paulo viajaram para Brejo numa atividade da igreja católica. Como se diz, os amigos ficaram sem pai e nem mãe. Foram procurar a casa de Marcelo na Chapada da Bacaba. Atravessaram a Chapada de Carrancas, do Coruja das Laranjeiras. Tinham em mente um caminho que na prática se deformou as suas vistas. Desmatamentos e tratores revirando o areal para plantar a soja deslocaram os caminhos para outras direções não especificadas. Aquele cenário perdera o sentido para eles e para os moradores que cruzavam os caminhos todos os dias. Tiveram que voltar e dormiram na casa de Sebastiana filha de dona Rita e Vicente. " Tivesse dito preparava uma merenda para vocês", declarou. Sem problema.

Língua e História

Ele lia uma autora russa e um autor norueguês quase ao mesmo tempo. Não em suas respectivas línguas e sim em traduções para o português. Aprender a língua de um povo significa aprender sua história? Os portugueses que vieram morar no Brasil após o descobrimento em 1500 incorporaram os hábitos e as falas dos nativos e disso se valeram para escravizar indígenas e conquistar seus territórios. O que fica desse "aprendizado" das línguas para a história do Brasil e o que desse aprendizado leva em conta a história desses povos? O conto "O homem que sabia falar javanês" de Lima Barreto ironiza bem essa desconexão entre "saber" uma língua ou mais e narrar uma história ou mais. O personagem principal do conto finge saber o javanês e com esse fingimento assume ares de importância perante o cliente que quer contrata ló para traduzir um livro. Ele não se contenta só em fingir.Ele vai narrar a história de seu fingimento em uma língua (português culto) que poucos tinham acesso porque a maior parte da população era analfabeta. Quer dizer, quem aprendia o português no Brasil culto aprendia a mentir. E quando se usa a língua para mentir se desconhece a sua própria história.